quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Quando os católicos são menos católicos que os não católicos




A Igreja católica não define as suas questões de doutrina com base no voto da maioria. Mesmo assim, são feitas constantes pesquisas de opinião pública entre os católicos para descobrir o que eles pensam sobre uma ampla quantidade de assuntos, em geral polêmicos. Acontece que os pesquisadores contabilizam como “católicas” as respostas de qualquer entrevistado que simplesmente se identifique como católico, mesmo sem ser praticante. Assim, não temos muitos números confiáveis ​​que nos mostrem o que fiéis católicos praticantes realmente pensam.
Há pesquisas, no entanto, cujos resultados são interessantes em si mesmos, inclusive quando a sua autenticidade como “opinião católica” é altamente questionável. Este é o caso de um levantamento recém-publicado pelo Instituto de Pesquisas da Universidade Saint Leo [São Leão, ndr].

De acordo com a pesquisa da Saint Leo, 68% dos católicos norte-americanos acreditam que os católicos divorciados que voltaram a se casar deveriam ser autorizados a receber a comunhão, contra 18% que acham que não e 14% que se dizem indecisos. O placar, também esmagador, fica em 66% contra 21% para os que acham que a Igreja deveria aceitar a contracepção artificial. A sólida maioria dos entrevistados que se disseram católicos (50% contra 33%) também acabaria com a proibição do sexo extraconjugal. E uma ligeira maioria também aceitaria o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Eu sei, eu sei. Você já conhece esse tipo de pesquisa (e vai ver muitas outras iguais a elas no ano que vem). O que você pode (e deve) se perguntar é de que modo as perguntas foram formuladas e de que maneira os resultados foram registrados. Mais importante ainda: você deve questionar a própria amostragem. Afinal, se as mesmas perguntas fossem dirigidas a católicos praticantes, os resultados seriam bem diferentes. Mas de tudo isso você já sabe.

Ciúme e incompreensão desmembram a Igreja, diz Papa



 CATEQUESE Praça São Pedro – Vaticano Quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Queridos irmãos e irmãs, bom dia,

Quando se quer evidenciar como os elementos que compõem uma realidade estão estreitamente unidos uns aos outros e formam juntos uma só coisa, usa-se muitas vezes a imagem do corpo. A partir do apóstolo Paulo, esta expressão foi aplicada à Igreja e foi reconhecida como o seu traço distintivo mais profundo e mais belo. Hoje, então, queremos nos perguntar: em que sentido a Igreja forma um corpo? E por que é definida como “corpo de Cristo”?

No Livro de Ezequiel, é descrita uma visão um pouco particular, impressionante, mas capaz de infundir confiança e esperança nos nossos corações. Deus mostra ao profeta um vale de ossos, separados uns dos outros e ressecados. Um cenário desolador.. Imaginem toda uma planície cheia de ossos. Deus lhe pede, então, para invocar sobre eles o Espírito. Naquele momento, os ossos se movem, começam a se aproximar e a se unir, sobre eles crescem primeiro os nervos e depois a carne e se forma assim um corpo, completo e cheio de vida (cfr Ez 37, 1-14). Esta é a Igreja! Recomendo hoje que peguem a Bíblia em casa, no capítulo 37 do profeta Ezequiel, não se esqueçam, e leiam isto, é belíssimo. Esta é a Igreja, é uma obra-prima, a obra-prima do Espírito, que infunde em cada um a vida nova do Ressuscitado e nos coloca uns próximos aos outros, um a serviço do outro e como apoio do outro, fazendo assim de todos nós um só corpo, edificado na comunhão e no amor.

A Igreja, porém, não é somente um corpo edificado no Espírito: a Igreja é o corpo de Cristo! E não se trata simplesmente de um modo de dizer: mas o somos realmente! É o grande dom que recebemos do dia do nosso Batismo! No sacramento do Batismo, de fato, Cristo nos faz seus, acolhendo-nos no coração do mistério da cruz, o mistério supremo do seu amor por nós, para nos fazer depois ressurgir com ele, como novas criaturas. Assim nasce a Igreja, e assim a Igreja se reconhece corpo de Cristo! O Batismo constitui um verdadeiro renascimento em Cristo, torna-nos parte dele, e nos une intimamente entre nós, como membros do mesmo corpo, do qual ele é a cabeça (cfr Rm 12, 5; 1 Cor 12, 12-13).

Em Consistório, Papa fala dos cristãos no Oriente Médio



PALAVRAS DO PAPA Consistório Ordinário Público Sala do Sínodo Segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Eminências, queridos patriarcas e irmãos no episcopado,

Após o fechamento da terceira Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos sobre família, quis dedicar este Consistório, além de algumas causa de canonização, a uma outra questão que está muito no meu coração, ou seja, o Oriente Médio e, em particular, a situação dos cristãos na região. Agradeço-vos pela vossa presença.

Temos em comum o desejo de paz e de estabilidade no Oriente Médio e a vontade de favorecer a resolução dos conflitos através do diálogo, da reconciliação e do empenho político. Ao mesmo tempo, queremos dar a maior ajuda possível às comunidades cristãs para apoiar sua permanência na região.

domingo, 19 de outubro de 2014

Papa Francisco destaca devoção mariana do beato Paulo VI



 ANGELUS Praça São Pedro – Vaticano Domingo, 19 de outubro de 2014

Queridos irmãos e irmãs,

Ao término desta solene celebração, desejo saudar os peregrinos provenientes da Itália e de vários países, com um pensamento atencioso para as delegações oficiais. Em particular, saúdo os fiéis das dioceses de Bréscia, Milão e Roma, ligadas de modo significativo à vida e ao ministério do Papa Montini. Agradeço a todos pela presença e exorto a seguir fielmente os ensinamentos e o exemplo do novo beato.

Ele foi um incansável apoiador da missão ad gentes; testemunha isso, sobretudo, na Exortação apostólica Evangelii nuntiandi, com a qual quis despertar o ímpeto e o empenho pela missão da Igreja. Esta exortação ainda é atual, conserva toda a sua atualidade! É significativo considerar este aspecto do Pontificado de Paulo VI, justamente hoje que se celebra a Jornada Missionária Mundial.

Homilia do Papa: fechamento do Sínodo e beatificação de Paulo VI



HOMILIA Santa Missa por ocasião do fechamento da
Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos
com o rito da beatificação do Papa Paulo VI Praça São Pedro – Vaticano Domingo, 19 de outubro de 2014

Acabamos de ouvir uma das frases mais célebres de todo o Evangelho: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21).

À provocação dos fariseus, que queriam, por assim dizer, fazer-Lhe o exame de religião e induzi-Lo em erro, Jesus responde com esta frase irônica e genial. É uma resposta útil que o Senhor dá a todos aqueles que sentem problemas de consciência, sobretudo quando estão em jogo as suas conveniências, as suas riquezas, o seu prestígio, o seu poder e a sua fama. E isto acontece em todos os tempos e desde sempre.

A acentuação de Jesus recai certamente sobre a segunda parte da frase: “E [dai] a Deus o que é de Deus”. Isto significa reconhecer e professar – diante de qualquer tipo de poder – que só Deus é o Senhor do homem, e não há outro. Esta é a novidade perene que é preciso redescobrir cada dia, vencendo o temor que muitas vezes sentimos perante as surpresas de Deus.

Ele não tem medo das novidades! Por isso nos surpreende continuamente, abrindo-nos e levando-nos para caminhos inesperados. Ele renova-nos, isto é, faz-nos “novos” continuamente. Um cristão que vive o Evangelho é “a novidade de Deus” na Igreja e no mundo. E Deus ama tanto esta “novidade”!

“Dar a Deus o que é de Deus” significa abrir-se à sua vontade e dedicar-Lhe a nossa vida, cooperando para o seu Reino de misericórdia, amor e paz.

Aqui está a nossa verdadeira força, o fermento que faz levedar e o sal que dá sabor a todo o esforço humano contra o pessimismo predominante que o mundo nos propõe. Aqui está a nossa esperança, porque a esperança em Deus não é uma fuga da realidade, não é um álibi: é restituir diligentemente a Deus aquilo que Lhe pertence. É por isso que o cristão fixa o olhar na realidade futura, a realidade de Deus, para viver plenamente a existência – com os pés bem fincados na terra – e responder, com coragem, aos inúmeros desafios novos.

Vimo-lo, nestes dias, durante o Sínodo Extraordinário dos Bispos: “sínodo” significa “caminhar juntos”. E, na realidade, pastores e leigos de todo o mundo trouxeram aqui a Roma a voz das suas Igrejas particulares para ajudar as famílias de hoje a caminharem pela estrada do Evangelho, com o olhar fixo em Jesus. Foi uma grande experiência, na qual vivemos a sinodalidade e a colegialidade e sentimos a força do Espírito Santo que sempre guia e renova a Igreja, chamada sem demora a cuidar das feridas que sangram e a reacender a esperança para tantas pessoas sem esperança.

Pelo dom deste Sínodo e pelo espírito construtivo concedido a todos, – com o apóstolo Paulo – “damos continuamente graças a Deus por todos vós, recordando-vos sem cessar nas nossas orações” (1 Tes 1, 2). E o Espírito Santo, que nos concedeu, nestes dias laboriosos, trabalhar generosamente com verdadeira liberdade e humilde criatividade, continue a acompanhar o caminho que nos prepara, nas Igrejas de toda a terra, para o Sínodo Ordinário dos Bispos no próximo Outubro de 2015. Semeamos e continuaremos a semear, com paciência e perseverança, na certeza de que é o Senhor que faz crescer tudo o que semeamos (cf. 1 Cor 3, 6).

Discurso do Papa no encerramento do Sínodo dos Bispos



 DISCURSO 15ª Congregação Geral: discurso do Papa Francisco 
pela conclusão da 3ª Assembleia Geral Extraordinária 
do Sínodo dos Bispos Sábado, 18 de outubro de 2014

Queridas Eminências, Beatitudes, Excelências, irmãos e irmãs,

Com um coração pleno de reconhecimento e de gratidão, gostaria de agradecer, junto a vós, ao Senhor que nos acompanhou e nos guiou nos dias passados, com a luz do Espírito Santo!

Agradeço de coração Sua Eminência o senhor Cardeal Lorenzo Baldisseri, Secretário Geral do Sínodo, Sua Eminência Dom Fabio Fabene, Sub-Secretário, e com eles agradeço o Relator, Sua Eminência Cardeal Peter Erdö que trabalhou tanto, mesmo nos dias de luto familiar, e o Secretário Especial, Sua Eminência Dom Bruno Forte, os três Presidentes delegados, os escritores, os consultores, os tradutores e os anônimos, todos aqueles que trabalharam com verdadeira fidelidade nos bastidores e com total dedicação à Igreja, sem parar: muito obrigado de coração!

Agradeço igualmente a todos vocês, Padres Sinodais, Delegados Fraternos, Ouvintes e Assessores para vossa participação ativa e frutuosa. Levarei vocês na oração, pedindo ao Senhor para recompensar-vos com a abundância da graça dos seus dons!

Eu poderia tranquilamente dizer que – com um espírito de colegialidade e de sinodalidade – vivemos realmente uma experiência de “Sínodo”, um percurso solidário, um “caminho juntos”.

E tendo sido “um caminho” – e como em todo caminho -, houve momentos de corrida veloz, quase correndo contra o tempo prá chegar logo à meta; em outros, momentos de cansaço, quase querendo dizer basta; outros momentos de entusiasmo e de ardor. Houve momentos de profunda consolação, ouvindo os testemunhos dos pastores verdadeiros (cf. João 10 e Cann. 375, 386, 387) que levam no coração sabiamente as alegrias e as lágrimas dos seus fieis. Momentos de consolação e graça e de conforto escutando os testemunhos das famílias que participaram do Sínodo e partilharam conosco a beleza e a alegria de sua vida matrimonial. Um caminho onde o mais forte sentiu o dever de ajudar o mais fraco, onde o mais esperto se apressou em servir os outros, mesmo por meio dos debates. E sendo um caminho de homens, com as consolações houve também outros momentos de desolação, de tensão e de tentações, das quais se poderiam mencionar algumas possibilidades:

- Uma: a tentação de enrijecimento hostil, isto é, de querer fechar-se dentro do escrito (a letra) e não deixar-se surpreender por Deus, pelo Deus das surpresas (o espírito); dentro da lei, dentro da certeza daquilo que conhecemos e não daquilo que devemos ainda aprender e atingir. Desde o tempo de Jesus, é a tentação dos zelosos, dos escrupulosos, dos cuidadosos e dos assim chamados – hoje – “tradicionalistas” e também dos “intelectualistas”.

- A tentação do “bonismo” destrutivo, que em nome de uma misericórdia enganadora, enfaixa as feridas sem antes curá-las e medicá-las; que trata os sintomas contra os pecadores, os fracos, os doentes (cf. Jo 8,7), isto é, transformá-los em “fardos insuportáveis” (Lc 10,27).

- A tentação de descer da cruz, para acontentar as pessoas, e não permanecer ali, para realizar a vontade do Pai; de submeter-se ao espírito mundano ao invés de purificá-lo e submeter-se ao Espírito de Deus.

- A tentação de negligenciar o “depositum fidei”, considerando-se não custódios, mas proprietários ou donos ou, por outro lado, a tentação de negligenciar a realidade utilizando uma língua minuciosa e uma linguagem “alisadora” (polida) para dizer tantas coisas e não dizer nada”. Os chamavam “bizantinismos”, acho, estas coisas…

sábado, 18 de outubro de 2014

Mensagem final da III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos




 Vaticano, sábado, 18 de outubro de 2014
14ª Congregação Geral
“Os desafios pastorais sobre a família 
no contexto da evangelização”
 


Nós, Padres Sinodais reunidos em Roma junto ao Santo Padre na Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, nos dirigimos a todas as famílias dos diversos continentes e, em particular, àquelas que seguem Cristo Caminho, Verdade e Vida. Manifestamos a nossa admiração e gratidão pelo testemunho cotidiano que vocês oferecem a nós e ao mundo com a sua fidelidade, fé, esperança e amor.

Também nós, pastores da Igreja, nascemos e crescemos em uma família com as mais diversas histórias e acontecimentos. Como sacerdotes e bispos, encontramos e vivemos ao lado de famílias que nos narraram em palavras e nos mostraram em atos uma longa série de esplendores mas também de cansaços.

A própria preparação desta assembleia sinodal, a partir das respostas ao questionário enviado às Igrejas do mundo inteiro, nos permitiu escutar a voz de tantas experiências familiares. O nosso diálogo nos dias do Sínodo nos enriqueceu reciprocamente, ajudando-nos a olhar toda a realidade viva e complexa em que as famílias vivem. A vocês, apresentamos as palavras de Cristo: "Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo” (Ap 3,20). Como costumava fazer durante os seus percursos ao longo das estradas da Terra Santa, entrando nas casas dos povoados, Jesus continua a passar também hoje pelos caminhos das nossas cidades. Nas vossas casas se experimentam luzes e sombras, desafios exaltantes mas, às vezes, também provações dramáticas. A escuridão se faz ainda mais densa até se tornar trevas, quando se insinuam no coração da família o mal e o pecado.

Existe, antes de tudo, os grandes desafios da fidelidade no amor conjugal, do enfraquecimento da fé e dos valores, do individualismo, do empobrecimento das relações, do stress, de um alvoroço que ignora a reflexão, que também marcam a vida familiar. Se assiste, assim, a não poucas crises matrimoniais enfrentadas, frequentemente, em modo apressado e sem a coragem da paciência, da verificação, do perdão recíproco, da reconciliação e também do sacrifício. Os fracassos dão, assim, origem a novas relações, novos casais, novas uniões e novos matrimônios, criando situações familiares complexas e problemáticas para a escolha cristã.

Entre estes desafios queremos evocar também o cansaço da própria existência. Pensemos ao sofrimento que pode aparecer em um filho portador de deficiência, em uma doença grave, na degeneração neurológica da velhice, na morte de uma pessoa querida. É admirável a fidelidade generosa de muitas famílias que vivem estas provações com coragem, fé e amor, considerando-as não como alguma coisa que é arrancada ou infligida, mas como alguma coisa que é doada a eles e que eles doam, vendo Cristo sofredor naquelas carnes doentes.

Beatificação de Paulo VI – o Papa que instituiu o Sínodo dos Bispos



Na manhã deste domingo, dia 19, pelas 10.30h de Roma, será celebrada na Praça de S. Pedro a Beatificação do Papa Paulo VI. Pontifice de grande inteligência e cultura teve uma ação absolutamente fundamental na conclusão do Concílio Vaticano II iniciado por João XXIII. A sua Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi publicada em dezembro de 1975 é considerada pelo Papa Francisco o mais importante documento da Igreja sobre pastoral.

Em entrevista ao nosso colega da redação italiana da Rádio Vaticano Alessandro Gisotti, o Padre Angelo Maffeis, presidente do Instituto Paolo VI, considera que o Papa Montini interpretou o Concílio como um exame de consciência que devia afinar a consciência da Igreja, da sua identidade e missão e renovar o modo de propor a mensagem evangélica, as estruturas e o modo de agir da Igreja.


O Padre Maffeis sublinhou ainda nesta entrevista a feliz coincidência da Beatificação de Paulo VI acontecer no dia em que se encerra o Sínodo sobre a Família, pois foi o Papa Paulo VI quem instituiu este organismo da Igreja. Foram estas as suas palavras: