quarta-feira, 9 de março de 2016

Frei Antônio Moser morre assassinado no RJ, durante assalto


Frei Antônio Moser, frade da Província da Imaculada Conceição, foi morto a tiros na manhã desta quarta-feira, 9 de março, após ser abordado por assaltantes na Rodoviária ia Washington Luiz, na altura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

O crime aconteceu por volta das 6h10 na pista sentido Rio de Janeiro. Mesmo ferido, o religioso, de 75 anos, ainda conseguiu dirigir o carro até o acostamento. Os bandidos, que estariam de moto, conseguiram fugir. Equipes da Concer foram até o local e chegaram a chamar uma ambulância, mas o frade já estava morto.

Agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) isolaram o local para a realização da perícia. O caso será investigado pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF).

O Ministro Provincial, segundo informou o site dos Franciscanos no Brasil, Frei Fidêncio Vanboemmel, pediu orações e lamentou a morte trágica de Frei Moser:

“A dura realidade que povoa com frequência os nossos noticiários bate à nossa porta. Com susto e tristeza recebemos a notícia da partida repentina de um irmão, vítima da violência que infelizmente tem se tornado cada vez mais comum. (…) Hoje, infelizmente, devolvemos a Deus a vida deste irmão, vítima de assassinato na mesma Baixada que tanto amou”. 

5ª Dor de Nossa Senhora: Maria aos pés da Cruz


1. Maria assistiu à agonia de Seu Filho na cruz 

Aqui temos a contemplar uma nova espécie de martírio. Trata-se de uma Mãe condenada a ver morrer diante de Seus olhos, no meio de bárbaros tormentos, um Filho inocente e diletíssimo. "Estava em pé junto à cruz de Jesus, sua Mãe " (Jo 19,25). É desnecessário dizer outra coisa do martírio de Maria, quer com isso declarar S. João; contemplai-A junto da cruz, ao lado de Seu Filho moribundo e vede se há dor semelhante à Sua dor. 

Demoraremo-nos a considerar essa quinta espada de dor que transpassou o coração de Maria: a morte de Jesus. 

Quando nosso extenuado Redentor chegou ao alto do Calvário, despojaram-nO os algozes de Suas vestes, transpassaram-Lhe as mãos e os pés com cravos, não agudos, mas obtusos (segundo a observação de um autor), para maior aumento de Suas dores, e pregaram-nO à cruz. Tendo-O crucificado, elevaram e fixaram a cruz e O abandonaram à morte. Abandonaram-nO os algozes, mas não O abandonou Maria. Antes ficou mais perto da cruz para Lhe assistir à morte, como Ela mesma revelou a S. Brígida. 

Mas de que servia, ó Senhora minha, irdes presenciar no Calvário a morte de Vosso Filho? pergunta S. Boaventura. Não Vos deveria reter o vexame, já que o opróbrio dEle era também o Vosso, que Lhe éreis a Mãe? Pelo menos não deveria reter-Vos então o horror ao delito de criaturas que crucificavam o Seu próprio Deus? Mas, ah! o Vosso coração não cuidava então da própria, e sim da dor e da morte do Filho querido. Por isso quisestes assisti-lO e acompanhá-lO com Vossa compaixão. Ó Mãe verdadeira, diz o Vulgato Boaventura, ó Mãe amante, que nem o horror da morte pode separar do Filho amado! 

Mas, ó meu Deus, que doloroso espetáculo! Na cruz, agonizando, está o Filho e junto à cruz a Mãe agoniza também, toda compadecida das penas desse Filho. O lastimoso estado em que viu Seu Jesus moribundo na cruz, revelou-o Maria a S. Brígida, dizendo: "Estava Meu Jesus pregado ao madeiro, saturado de tormentos e agonizante. Seus olhos encovados estavam quase cerrados e extintos; os lábios pendentes e aberta a boca; as faces alongadas, afilado o nariz, triste o semblante. Pendia-lhe a cabeça sobre o peito; Seus cabelos estavam negros de sangue, o ventre unido aos rins, os braços e as pernas inteiriçados, e todo o resto do corpo coalhado de chagas e de sangue". 

Todas essas penas de Jesus eram outras tantas chagas no coração de Maria, observa o Pseudo-Jerônimo.

Aquele que então estivesse presente no Calvário, diz Arnoldo de Chartres, veria dois altares onde se consumavam dois grandes sacrifícios: um era o corpo de Jesus, outro era o coração de Maria. Mais me agradam, porém, as palavras de S. Boaventura, declarando que só havia um altar: a cruz do Filho onde a Mãe era sacrificada juntamente com o Cordeiro Divino. Por isso, pergunta-Lhe: "Ó Maria, onde estáveis? Junto à cruz? Ah! com muito maior razão digo que estáveis na mesma cruz, imolando-Vos crucificada com Vosso Filho". O Pseudo-Agostinho assevera: A cruz e os cravos feriram ambos, o Filho e a Mãe; juntamente com o primeiro foi também crucificada a segunda. O que faziam os cravos no corpo de Jesus, prossegue o Vulgato Bernardo, operava o amor no coração de Maria. De modo que, enquanto o Filho sacrificava o corpo, a Mãe sacrificava a alma, como se expressa S. Bernardino.

2. Maria não pode aliviar as penas de Seu Filho

Fogem as mães da presença dos filhos moribundos. 

Quando, porém, uma mãe é obrigada a assistir um filho em agonia, procura dar-lhe todo alívio possível. Ajeita-o na cama, para que fique mais a gosto, e dá-lhe algum refresco. Desse modo a pobrezinha vai disfarçando sua dor. Ah! Mãe de todas a mais aflita! ó Maria, a Vós é imposto assistir Jesus moribundo, mas não Vos é facultado procurar-Lhe alívio algum. 

Maria ouve o Filho dizer que tem sede, sem que Lhe seja permitido dar-Lhe um pouco de água para dessedentá-lO. Pode dizer-Lhe apenas, conforme as palavras de S. Vicente Ferrer: Meu Filho, tenho tão somente a água de minhas lágrimas. Vê como Seu pobre Jesus, pregado àquele leito de dores por três cravos de ferro, não podia achar repouso. Queria abraçá-lO para consolá-lO, e para que ao menos expirasse em Seus braços, mas não o podia fazer. Nota que Seu Filho, mergulhado num mar de angústias, procura quem O conforte, segundo a predição de Isaías: Eu calquei o lagar sozinho... Eu olhei em roda e não havia auxiliar; busquei e não houve quem me ajudasse (63, 3 e 5). Mas que consolação podia Ele achar entre os homens, se todos Lhe eram inimigos? Mesmo pregado na cruz, uns blasfemavam dEle e outros O escarneciam: E os que iam passando blasfemavam dele (Mt 27, 39). Outros Lhe diziam no rosto: Se és Filho de Deus, desce da cruz (27, 40). Desafiavam-nO alguns:Salvou a todos e a si mesmo não se pode salvar... Se é o rei de Israel, desça agora da cruz (27, 42). 

Além disso, a Santíssima Virgem revelou a S. Brígida: "Ouvi alguns dizerem do Meu Filho que era um ladrão; outros, que era um impostor; outros, que ninguém merecia tanto a morte como Ele. Esses insultos eram para Mim espadas de dor". 

O que mais aumentou, contudo, a dor de Maria, na Sua compaixão para com o Filho, foi ouvir-Lhe a queixa: Meu Deus, meu Deus, por que me desamparastes? (Mt 27, 46). Palavras foram essas que nunca mais Me saíram da mente, disse a divina Mãe a S. Brígida. Assim a aflita Mãe via Jesus atormentado por todos os lados. Queria aliviá-lO e não podia fazê-lo. Maior era ainda o sofrimento, ao ver que com Sua presença aumentava a pena do Filho. Daí, pois, a frase do Vulgato Bernardo: "A plenitude das dores do coração de Maria derramou-se como uma torrente no Coração de Jesus. Sim, Jesus na cruz sofria mais pela compaixão de Sua Mãe, que por Suas próprias dores. Junto a cruz estava a Mãe, muda de dor; vivia morrendo, sem poder morrer".

Jesus Cristo, assim refere Passino, revelou à Bem-aventurada Batista Varano de Camerino, que nada O fez sofrer tanto como a comiseração de Sua Mãe ao pé da cruz, e que por isso morreu sem consolação. E conhecendo a bem-aventurada, por uma luz sobrenatural essa dor de Jesus, exclamou: Senhor, não me faleis dessa Vossa pena, que eu não posso mais!  

A misericórdia do Senhor para com os pecadores que se convertem


Os pregadores da verdade e os ministros da graça divina, todos os que, desde o princípio até os nossos dias, cada um a seu tempo, expuseram a vontade salvífica de Deus, dizem que nada lhe é tão agradável e conforme a seu amor como a conversão dos homens a ele com sincero arrependimento.

E para dar a maior prova da bondade divina, o Verbo de Deus Pai (ou melhor, o primeiro e único sinal de sua bondade infinita), num ato de humilhação que nenhuma palavra pode explicar, num ato de condescendência para com a humanidade, dignou-se habitar no meio de nós, fazendo-se homem. E realizou, padeceu e ensinou tudo o que era necessário para que nós, seus inimigos e adversários, fôssemos reconciliados com Deus Pai e chamados de novo à felicidade eterna que havíamos perdido.

O Verbo de Deus não curou apenas nossas enfermidades com o poder dos milagres. Tomou sobre si as nossas fraquezas, pagou a nossa dívida mediante o suplício da cruz, libertando-nos dos nossos muitos e gravíssimos pecados, como se ele fosse o culpado, quando na verdade era inocente de qualquer culpa. Além disso, com muitas palavras e exemplos, exortou-nos a imitá-lo na bondade, na compreensão e na perfeita caridade fraterna.

Por isso dizia o Senhor: Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão (Lc 5,32). E também: Aqueles que têm saúde não precisam de médicos, mas sim os doentes (Mt 9,12). Disse ainda que viera procurar ao velha desgarrada e que fora enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel.

Do mesmo modo, pela parábola da dracma perdida, deu a entender mais veladamente que viera restaurar no homem a imagem divina que estava corrompida pelos mais repugnantes pecados. E afirmou: Em verdade eu vos digo, haverá alegria no céu por um só pecador que se converte (cf. Lc 15,7).

Por esse motivo, contou a parábola do bom samaritano: àquele homem que caíra nas mãos dos ladrões, e fora despojado de todas as vestes, maltratado e deixado semimorto, atou-lhe as feridas, tratou-as com vinho e óleo e, tendo colocado em seu jumento, deixou-o numa hospedaria para que cuidassem dele; pagou o necessário para o seu tratamento e ainda prometeu, dar na volta, o que porventura se gastasse a mais.

Mostrou-nos ainda a condescendência e bondade do pai que recebeu afetuosamente o filho pródigo que voltava, como o abraçou porque retornara arrependido, revestiu-o de novo com as insígnias de sua nobreza familiar e esqueceu todo o mal que fizera. Pela mesma razão, reconduziu ao redil a ovelhinha que se afastara das outras cem ovelhas de Deus e fora encontrada vagueando por montes e colinas. Não lhe bateu nem a ameaçou nem a extenuou de cansaço; pelo contrário, colocando-a em seus próprios ombros, cheio de compaixão, trouxe-a sã e salva para o rebanho.

E deste modo exclamou: Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo (Mt 11,28-29). Ele chamava de jugo os mandamentos ou a vida segundo os preceitos evangélicos; e quanto ao peso, que pela penitência parecia ser grande e mais penoso, acrescentou: O meu jugo é suave e o meu fardo é leve (Mt 11,30).

Outra vez, querendo nos ensinar a justiça e a bondade de Deus, exortava-nos com estas palavras: Sede santos, sede perfeitos, sede misericordiosos, como também vosso Pai celeste é misericordioso (cf. Mt 5,48; Lc 6,36). E: Perdoai, e sereis perdoados (Lc 6,37). Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles (Mt 7,12).


Das Cartas de São Máximo, o Confessor, abade
(Epist. 11: PG91,454-455)
(Séc.VII)

Significado das invocações na Ladainha de Nossa Senhora.

 

Espelho de Justiça — Justiça, aqui, entende-se em seu sentido mais amplo de santidade. Nossa Senhora é chamada assim, porque Ela é um espelho da perfeição cristã. Toda perfeição pode ser admirada nEla, do mesmo modo como podemos admirar uma luz refletida na água.

Sede da Sabedoria — Nosso Senhor Jesus Cristo é a Sabedoria, pois, enquanto Deus, tudo sabe e tudo conhece. Ora, Nossa Senhora durante nove meses encerrou dentro de si seu divino Filho; Ela foi, portanto, a sede da Sabedoria. E continua a sê-lo, pois é nEla que encontramos infalivelmente a Nosso Senhor.

Causa de Nossa Alegria — a verdadeira alegria não é o riso. Rir muito nem sempre significa felicidade. É muito mais feliz a mãe carregando amorosamente seu filho do que um papalvo que ri à toa. E a maior alegria que um homem pode ter é a de salvar-se e estar com Deus por toda a eternidade. Ora, antes da vinda de Nosso Senhor, o Céu estava fechado para nós. Foi o sacrifício do Calvário que nos reconciliou com o Criador e nos proporcionou a verdadeira e eterna felicidade. Como foi por meio de Nossa Senhora que o Redentor da humanidade veio à Terra, Maria Santíssima é, pois, a causa de nossa maior alegria.

Vaso Espiritual — Nada tem mais valor do que a verdadeira Fé. Na Paixão e Morte de Nosso Senhor, quando até os Apóstolos duvidaram e fugiram, foi Nossa Senhora quem recolheu e guardou, como num vaso sagrado, o tesouro da Fé inabalável.

Vaso Honorífico — Em nossa época, a honra quase não é considerada. Pelo contrário, muitas vezes a falta de caráter e a sem-vergonhice são louvadas. Mas a honra e a glória, na realidade, valem muito. E Nossa Senhora guardou cuidadosamente em sua alma todas a graças recebidas, e manteve a honra do gênero humano decaído. Se não tivesse existido Nossa Senhora, ficaria faltando na criação quem representasse a perfeição da criatura, fiel até o extremo heroísmo.

Vaso Insigne de Devoção — Devoto quer dizer dedicado a Deus. A criatura que mais se dedicou e viveu em função de Deus foi Nossa Senhora, tendo-o realizado de forma tal, que melhor é impossível. 

Santa Catarina de Bolonha


Santa Catarina de Bolonha viveu no século XV. Nasceu em Ferrara em 1413, Itália. Filha de um agente diplomático do Marquês de Ferrara, aos onze anos foi indicada como a dama de honra da filha do Marquês. Com isso, compartilhou com ela o seu treinamento e ensino. Quando a filha casou-se ela quis que Catarina continuasse ao seu serviço, mas Catarina abandonou a corte para ser uma Franciscana. Tinha apenas catorze anos.

Catarina estava decidida a viver uma vida de perfeição e era admirada pelas companheiras. Ela começou a ter visões de Cristo e escreveu as suas experiências. Através dos esforços do Papa Nicolau Quinto, o convento das Clarissas em Ferrara erigiu uma clausura e Catarina foi indicada como Irmã Superiora. A reputação da Comunidade pela sua santidade e austeridade era largamente difundida. Enfim, ela foi indicada como Superiora em um novo convento em Bolonha.

A sua vida chegou até nós envolta de fatos extraordinários. Assim, contam que no Natal de 1456 recebeu, das mãos de Nossa Senhora, o Menino Jesus.

Sua maior preocupação era cumprir a vontade de Deus e servir os irmãos, especialmente os mais necessitados. É considerada uma das grandes místicas da Idade Média.

Em 1463 Catarina ficou muito doente e veio a falecer. Morreu plenamente reconciliada com Deus.

Seu corpo foi exumado 18 dias mais tarde por causa de curas a ela atribuídas e ainda por causa de um doce perfume exalado de seu túmulo. Seu corpo foi encontrado incorrupto e até hoje permanece perfeito na Capela do convento das Clarissas Pobres em Bolonha. Foi canonizada em 1712.  

ORAÇÃO


Senhor nosso Deus, que deste Santa Catarina de Bolonha como modelo e guia a numerosas virgens, concedei que conservemos sempre bem vivo aquele espírito seráfico, que ela ensinou com sabedoria e confirmou com magníficos exemplos de santidade. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

terça-feira, 8 de março de 2016

Homilética: 5º Domingo da Quaresma - Ano C: “Acusados pela própria consciência”


No Evangelho (Jo 8, 1-11) temos uma comovente cena da vida de Jesus: os mestres da Lei e os fariseus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério! Segundo a Lei de Moisés tais pessoas deviam ser apedrejadas. Aproveitaram a situação, para deixar o Cristo numa situação embaraçosa: “Mestre, que vamos fazer dessa mulher, perdoá-la ou apedrejá-la, como manda a nossa lei?” Para os escribas e fariseus, era uma oportunidade para testar a fidelidade de Jesus às exigências da Lei. Para Jesus, foi a oportunidade para revelar a atitude de Deus frente ao pecado e ao pecador. Perguntaram ao Mestre: “Que dizes?”(Jo 8,4).

O Salvador faz uma coisa absolutamente inédita, não prevista na lei antiga: não pronuncia qualquer sentença mas, após uma pausa silenciosa, um momento de tensão deveras emotiva, tanto por parte dos acusadores como da acusada, afirma simplesmente: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra” (Jo 8,7). Todos os homens são pecadores; por isso ninguém tem o direito de se arvorar em juiz dos outros. Só um tem esse direito: o Inocente, o Senhor, mas nem sequer usa dele, preferindo exercer o Seu poder de Salvador: “Ninguém te condenou?… Também Eu não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8, 10-11). Somente Cristo, que veio para entregar a Sua vida pela salvação dos pecadores, pode libertar a mulher do seu pecado e dizer-lhe: “não tornes a pecar”. A Sua palavra é portadora da graça que nasce do Seu sacrifício

Ao dizer: quem de vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra; foi como se Jesus tivesse tirado a tampa da consciência de cada um; Jesus sabia o que estava no coração de cada um.

O silêncio se tornou pesado e insuportável; os mais velhos começaram a se retirar em silêncio, talvez por medo de que Jesus começasse a cavar em sua vida passada, para ver se estavam realmente sem pecado, sem aquele pecado que no Decálogo chamava-se “desejar a mulher do próximo”. Foi o silêncio, não o fato de Jesus escrever no chão que os deixou inquietos.

A mulher adúltera foi percebendo que estava diante de alguém que a compreendia de verdade, mas não aprovava o seu pecado. “Ninguém te condenou?”, diz Jesus à mulher. Responde ela: Ninguém, Senhor! E Jesus: Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar.

Cristo é o único sem pecado; o único portanto, que podia arremessar a primeira pedra…, mas renuncia ao direito de condenar porque, como o Pai, não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva” (Ez 33,11). Quanta nova confiança deve ter infundido, na mulher, aquele Vai, pois significa: volta a viver, a esperar, volta para a casa; retoma a tua dignidade; dize aos homens, com tua presença entre eles, que não há somente a Lei, há também a Graça.

Podemos estar certos: a experiência daquele perdão, daquela compreensão infinita por parte de Jesus, reergueu aquela mulher, lhe encheu o coração com a experiência de um amor novo, tão diferente daquele que a tinha iludido em seu adultério.

Não tenho dúvida que o irmão que tem esse texto diante dos olhos nesse exato momento sabe o que é o exame de consciência. Ao examinarmo-nos todos os dias, deveríamos pedir ao Senhor que nos ajude a ver as nossas atitudes como ele as vê: os nossos pensamentos, as nossas palavras, os movimentos mais íntimos do nosso coração e todas as nossas ações. Desta maneira, a acusação que a consciência provoca em nós diante duma ação má, começará e terminará em Deus provocando uma espécie de tristeza salutar: “a tristeza segundo Deus produz um arrependimento salutar de que ninguém se arrepende, enquanto a tristeza do mundo produz a morte” (2 Cor 7,10).

O exame de consciência, especialmente para os que começam a fazer essa prática piedosa, poderia reduzir-se a três perguntas. A primeira: o que eu fiz de bom no dia de hoje? Essa pergunta ajuda não só a dar glória a Deus por todo o bem que ele nos fez, mas também a ser otimistas e não ficar pensando que tudo vai mal. Não é falta de humildade reconhecer os nossos talentos e dons se esse reconhecimento vai acompanhado de ação de graças: obrigado, Senhor! Segunda pergunta: o que eu fiz de mal? Neste momento veremos, com calma e dor de amor, que ofendemos o nosso Deus que é amor, que somos ingratos, que pecamos: perdão, Senhor! A terceira pergunta inclui o desejo de alcançar algumas metas na vida espiritual: o que eu posso fazer melhor? Muitas coisas, mas é preciso especificar: amanhã não xingarei, terei mais paciência com o meu patrão, não ficarei olhando as mulheres que passam pela rua, não darei “patadas” nos outros etc.

Na caminhada rumo à Páscoa, nesse tempo da Quaresma, façamos um bom exame de consciência! Olhemo-nos com o olhar com que Deus nos vê e, então, sentiremos, sim, a necessidade de correr a Jesus, mas para pedir o perdão para nós e não a condenação para os outros. O perdão para si mesmo também, e sobretudo, daquela culpa – se , por acaso, alguém se encontra culpado – que Jesus perdoou à adúltera; esta é uma culpa devastadora, um cristão não pode conviver tranquilo e longamente com este peso de consciência sem arruinar com ele, além da própria família, também a própria fé. Peça: ajuda-me, Senhor! Termine com um ato de contrição: “Senhor Jesus, Filho de Deus, tende piedade de mim, que sou um pecador.” Amanhã, será um dia melhor. Ah, se você percebeu que precisa se confessar, não perca tempo: peça o Sacramento da Confissão, ainda hoje se possível.

4ª Dor de Nossa Senhora: Encontro com Jesus a caminho do Calvário


1. Como o amor é também o sofrimento de uma mãe 

Para avaliar a grandeza da dor de Maria perdendo Seu Filho pela morte, devemos - na frase de S. Bernardino representar-nos vivamente o amor que a tal Mãe consagrava a tal Filho. Todas as mães sentem como próprias as dores dos filhos. A mulher cananéia, quando pediu ao Senhor lhe livrasse a filha do demônio, disse tão somente: Senhor, tem compaixão de mim; minha filha está atormentada pelo demônio (Mt 15, 22). Que mãe, porém, jamais amou a seu filho, quanto Maria amou a Jesus? Era-Lhe Jesus Filho e Deus ao mesmo tempo. Que viera ao mundo para atear em todos os corações o fogo do amor divino, foi o que o próprio Salvador protestou: Eu vim trazer fogo à terra; e que quero senão que ele se acenda? (Lc 12, 49). 

Ora, de que chamas devia ter Ele abrasado o coração de Sua santa Mãe, tão puro e limpo de todo o afeto mundano? Em suma, como o disse a Santíssima Virgem a S. Brígida, Seu coração, pelo amor, estava unido completamente ao de Seu Divino Filho. Este misto de serva e Mãe, de Filho e Deus, ateou no coração de Maria um incêndio composto de mil incêndios. Porém em mar de dores converteu-se toda essa fogueira de amor, quando chegou a dolorosa Paixão de Jesus. Escreve por isso S. Bernardino:Se ajuntássemos as dores do mundo, não igualariam todas elas às penas da Virgem gloriosa. Segundo a sentença de Ricardo de S. Lourenço, tanto maior foi o Seu sofrimento vendo padecer o Filho, quanto maior Lhe era a ternura com que O amava. E isso especialmente ao encontrá-lO com a cruz às costas, rumo ao Calvário. Vamos contemplar agora essa quarta espada de dor. 

2. Agonia da Virgem no começo da Paixão de seu Filho 

Inundados de lágrimas andavam os olhos de nossa Mãe, ao ver chegar o momento da Paixão e ao notar que faltava pouco tempo para perder o Seu Filho. Um suor frio Lhe cobria o corpo, causado pelo vivo terror que a assaltava à idéia do próximo e doloroso espetáculo. Assim lemos nas revelações de S. Brígida.* 

* A passagem fala propriamente do Salvador. Algum texto mutilado é que levou o santo autor  referi-lo a Nossa Senhora (Nota do tradutor).

Finalmente chegou o dia marcado e Jesus despediu-Se, chorando, de Sua Mãe, antes de ir ao encontro da morte. O Oficio da Compaixão de Maria, que figura entre as obras de S. Boaventura, assim descreve o procedimento da Santíssima Virgem na noite em que foi preso o Salvador: "Passastes em claro a noite, enquanto repousavam os outros". Pela manhã, vieram os discípulos, uns após outros, trazer-Lhe notícias de Jesus, cada qual mais aterradora. Verificaram-se então as palavras de Jeremias:Chorou sem cessar durante a noite, e as suas lágrimas correm pelas faces; não há quem a console entre todos os seus amados (Jr 1, 2). Quem Lhe falava dos maus tratos feitos a Seu Filho, em casa de Caifás. Quem Lhe descrevia os desprezos recebidos no palácio de Herodes. Mas deixo tudo para chegar ao nosso ponto. Finalmente veio João e anunciou a Maria que o iníquio Pilatos tinha condenado Jesus à morte da cruz. De juiz injustíssimo o chamo eu, porque o iníquio condenou o Senhor com os mesmos lábios que Lhe reconheceram a inocência, diz S. Leão Magno. Ah! Mãe dolorosa, disse-Lhe João, já Vosso Filho foi condenado à morte; já O levam para o Calvário carregando Ele mesmo a cruz aos ombros. 

Assim escreveu depois no seu Evangelho: E levando a cruz aos ombros, saiu para aquele lugar que se chama Calvário (Jo 19, 17). Se quereis vê-lO, Senhora, e dar-Lhe o último adeus, vinde comigo à rua por onde deve passar.  

O bem da caridade


Diz o Senhor no Evangelho de João: Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros (Jo 13,35). E também se lê numa Carta do mesmo Apóstolo: Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. Quem não ama, não chegou a conhecer Deus, pois Deus é amor (1Jo 4,7-8).

Examine-se a si mesmo cada um dos fiéis, e procure discernir com sinceridade os mais íntimos sentimentos de seu coração. Se encontrar na sua consciência algo que seja fruto da caridade, não duvide que Deus está com ele; mas se esforce por tornar-se cada vez mais digno de tão grande hóspede, perseverando com maior generosidade na prática das obras de misericórdia.

Se Deus é amor, a caridade não deve ter fim, porque a grandeza de Deus não tem limites.

Para praticar o bem da caridade, amados filhos, todo tempo é próprio. Contudo, estes dias da Quaresma, a isso nos exortam de modo especial. Se desejamos celebrar a Páscoa do Senhor com o espírito e o corpo santificados, esforcemo-nos o mais possível por adquirir essa virtude que contém em si todas as outras e cobre a multidão dos pecados.

Ao aproximar-se a celebração deste mistério que ultrapassa todos os outros, o mistério do sangue de Jesus Cristo que apagou as nossas iniquidades, preparemo-nos em primeiro lugar mediante o sacrifício espiritual da misericórdia; o que a bondade divina nos concedeu, demo-lo também nós àqueles que nos ofenderam.

Seja, neste tempo, mais larga a nossa generosidade para com os pobres e todos os que sofrem, a fim de que os nossos jejuns possam saciar a fome dos indigentes e se multipliquem as vozes que dão graças a Deus. Nenhuma devoção dos fiéis agrada tanto a Deus como a dedicação para com os seus pobres, pois nesta solicitude misericordiosa ele reconhece a imagem de sua própria bondade.

Não temamos que essas despesas diminuam nossos recursos, porque a benevolência é uma grande riqueza e não podem faltar meios para a generosidade onde Cristo alimenta e é alimentado. Em tudo isso, intervém aquela mão divina que ao partir o pão o faz crescer, e ao reparti-lo multiplica-o.

Quem dá esmola, faça-o com alegria e confiança, porque tanto maior será o lucro quanto menos guardar para si, conforme diz o santo Apóstolo Paulo: Aquele que dá a semente ao semeador e lhe dará pão como alimento, ele mesmo multiplicará vossas sementes e aumentará os frutos da vossa justiça (2Cor 9,10), em Cristo Jesus, nosso Senhor, que vive e reina com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.


Dos Sermões de São Leão Magno, papa
(Sermo 10 de Quadragesima, 3-5: PL 54,299-301)
(Séc.V)