segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Santa Justina e São Cipriano de Antioquia (ex-bruxo)


A figura de São Cipriano mago é lendária. Deve ter sido criada no século IV e na Ásia Menor para ilustrar um tema caro aos antigos: a do feiticeiro que vende a sua alma ao diabo, mas se converte a Cristo. A figura de Cipriano mago a lenda associou a da Justina, virgem a mártir, também para ilustrar um tema muito estimado pelos cristãos: a da virgem que supera as armadilhas do homem que a quer seduzir. O autor da lenda deu ao mago convertido o nome de Cipriano, que era a de famoso bispo de Cartago martirizado em 258. O recurso a este nome obteve mais estima e crédito para a lenda, que na Idade Média foi corroborada pela introdução de S. Cipriano e S. Justina no calendário litúrgico (aos 26/09). O "Livro poderoso de S. Cipriano" tem seu núcleo já no século IV, quando se difundiam as "Preces de Cipriano", utilizadas quase como fórmulas mágicas. Popularmente fala-se muito do um São Cipriano mago, que teria deixado um "Livro Poderoso": "lido para a frente, lido para trás", esse livro provocaria fenômenos estranhos: as vacas parariam de dar leite, os animais adoeceriam, os homens seriam prejudicados. Daí as perguntas: quem foi S. Cipriano mago? Quando viveu? Que Livro Poderoso deixou? É o que vamos examinar.

Santa Justina e São Cipriano[1]


No começo do século IV, em Antioquia da Síria o diácono Prailio pregava as verdades da fé, quando uma bela e rica jovem chamada Justa o ouviu a partir de uma janela e ficou impressionada. Seu pai Edésio, sacerdote dos ídolos, e sua mãe Cledônia a educaram nas tradições pagãs. 

Ela contou o fato à sua mãe, que, por sua vez, o relatou a seu marido Edésio. A família ficou perplexa, sem saber a que faria; todavia na noite seguinte apareceu-lhes Jesus Cristo com seus anjos e lhes disse: "Vinde a mim e eu vos darei o reino dos céus". 

Em consequência, chegado o dia, pai e mãe levaram a filha ao diácono Prailio, que os apresentou ao bispo Optato. Este os batizou e ordenou sacerdote Edésio, pai de Justa, que com o batismo, passou a ser chamada de Justina (que quer dizer: justiça). 

Justina entrementes frequentava assiduamente a igreja, dedicando sua vida às orações, consagrando e preservando sua virgindade, onde um jovem, de nome Aglaidas, a via muitas vezes passar e se apaixonou por ela. Pediu-a em casamento; os pais da donzela, agora já convertidos à fé cristã, concederam-na a ele por esposa, mas Justa recusou-se, dizendo-lhe: "Meu esposo é Cristo, a Ele sirvo, é por causa dele que eu preservo a minha pureza. Ele preserva tanto a minha alma e meu corpo de todas as impurezas".

Então Aglaidas, acompanhado do amigos, colocou-se no seu caminho, vedando-lhe a passagem; queria raptá-la. Mas as mulheres que acompanhavam Justa, puseram-se a gritar tanto que os servidores e vizinhos acorreram, pondo os agressores em fuga.



Cipriano de Antioquia, o feiticeiro, assim denominado para distinguir-se de Cipriano de Cartago, era filho de pais pagãos muito ricos. Nasceu em 250 d.C. na Antioquia, região situada entre a Síria e Arábia, pertencente ao governo da Fenícia. Desde a infância, Cipriano foi induzido aos estudos da feitiçaria e das ciências ocultas como a alquimia, astrologia, adivinhação e as diversas modalidades de magia.

Após muito tempo viajando pelo Egito, Grécia e outros países aperfeiçoando seus conhecimentos, aos trinta anos de idade Cipriano foi à Babilônia a fim de conhecer a cultura ocultista dos Caldeus. Encontrou a Bruxa Évora e intensificou seus estudos e aprimorou a técnica da premonição. Évora morreu em avançada idade deixando seus manuscritos para Cipriano, o que foi de grande proveito para ele. O feiticeiro logo se tornou conhecido, respeitado e temido por onde passava.

Aglaidas não havia desistido do seu intento. Sabia que existia um mago poderoso chamado Cipriano; foi procurá-lo, prometendo-lhe dois talentos (grande quantia) caso conquistasse o coração de Justa para o seu pretendente. 

Cipriano iniciou o ataque contra Justina: usou um pó que despertaria a luxúria, ofereceu sacrifícios aos demônios e empregou diversas obras malignas. Mas Justina se defendia redobrando as orações a Deus, e das profundezas do seu coração clamava a Cristo, seu Noivo: "Ó Senhor, meu Deus, Jesus Cristo! Eis quantos inimigos se levantaram contra mim e têm preparado uma rede, a fim de me pegar e tirar a minha alma. Mas lembrei-me do teu nome no meio da noite e me rejubilo,  agora, quando eles estão lutando contra  mim, recorro a Ti e tenho esperanças que o meu inimigo não triunfará sobre mim. Porque tu sabes, ó Senhor meu Deus, que eu, tua escrava, tenho preservado a ti a pureza do meu corpo e tenho confiado a minha alma a ti. Preservai tua ovelha, ó bom pastor; não a dês para ser comida pelo monstro que tenta devorar-lhe, dai-me a vitória sobre o mau desejo da minha carne", e fazendo o Sinal da Cruz a cada novo ataque do demônio, e as magias não obtinham resultado. 



Cipriano então evocou um demônio... Este lhe entregou um veneno, que devia ser espalhado em torno da casa da moça. Quando esta se levantou para rezar, sentiu o ataque do Maligno; mas logo fez o sinal da Cruz sobre si e sobre a casa e orou fervorosamente ao Senhor. À vista disto, o demônio comunicou a Cipriano que a tentativa fora malograda. O mago, querendo salvar sua fama, chamou outro demônio, mais poderoso; também este foi vencido, mas não quis revelar a Cipriano o artifício que o desbaratara.

O mago, ainda mais ardoroso, evocou o pai dos demônios, que lhe apareceu, prometendo-lhe entregar a moça dentro de seis dias. Apresentou-se o tentador a Justa sob a aparência de uma jovem... Esta declarou a Justina que Jesus Cristo a enviara para levar com ela uma vida perfeita. E acrescentou: "Que recompensa esperas receber por guardares a virgindade? Vejo-te esgotada pelos jejuns". Ao que Justa respondeu: "O fardo é leve, mas a recompensa é enorme". Prosseguiu o Maligno ainda disfarçado: "No começo Deus abençoou Adão e Eva, dizendo-lhes: “Crescei, multiplicai-vos, e enchei a terra'. Parece-me que, se perseverarmos na virgindade, desprezaremos a palavra do Deus e seremos tratadas como rebeldes no dia do juízo final'. Justina sentiu-se abalada por esta observação, mas recuperou-se e, fazendo o sinal da cruz com oração, soprou sobre o demônio, que fugiu.


  
Cipriano então pediu ao Maligno que lhe dissesse por que e como fora derrotado. O demônio só consentiu em falar depois que Cipriano lhe jurou que permaneceria sempre fiel ao demônio que lhe revelou a verdade: "Nós não podemos contemplar o sinal da cruz, mas fugimos dele, porque ele nos castiga como o fogo e expulsa-nos longe". Isto enfureceu Cipriano, que tratou o diabo de mentiroso; mandou-lhe que se retirasse; quando o Maligno quis pular sobre Cipriano para sufocá-lo, não encontrando defesa em qualquer lugar, e não sabendo como ajudar a si próprio de ser entregue nas mãos do feroz demônio, Cipriano, já quase sem vida, lembrou do sinal da cruz, pelo poder do qual se opôs Justina ao poder  de todos os demônios, e clamou: "Ó Deus de Justina, me ajude!" Então, levantando a mão, ele fez o sinal da cruz, e o diabo imediatamente saltou para longe dele como uma flecha de um arco. 

Ganhando coragem, Cipriano tornou-se mais ousado, e invocando o nome de Cristo, assinalou-se com o sinal da cruz e destemidamente repreendeu e amaldiçoou o demôniodizendo: "Ó destruidor e enganador de tudo, fonte de toda impureza e corrupção! Agora eu descobri tua enfermidade. Porque, se você tem medo até da sombra da cruz e treme ao nome de Cristo, então o que você fará quando o próprio Cristo vier a ti? Se você não pode derrotar aqueles que se assinalam com o sinal da cruz, quem é que você vai arrancar das mãos de Cristo? Agora eu entendi o que é uma entidade não ter poder, você nem sequer é capaz de se vingar, e eu acreditei nos seus truques... Afasta-te de mim, maldito, a fim de que eu deva implorar aos cristãos para que tenham piedade de mim. Afasta-te, inimigo da verdade, adversário e inimigo de todas as coisas boas!". 

A ineficácia dos feitiços fez com que Cipriano caísse em si e se desiludisse profundamente de sua fé pagã e se voltasse contra o demônio. Ele foi ter com o bispo contando-lhe tudo o que havia acontecido, protestando sincero arrependimento e pedindo-lhe que o instruísse na fé cristã e, ao voltar para casa, destruiu os seus ídolos.

No dia seguinte, que era Sábado Santo, Cipriano voltou à igreja, onde ouviu leituras sagradas e a homilia do bispo. No momento em que o diácono Astério convidava os catecúmenos para se retirar,[2]Cipriano ficou na igreja para grande surpresa do diácono, que insistiu dizendo: "Cipriano, levanta-te e sai". Replicou Cipriano: "Tornei-me servidor de Cristo e tu me expulsas!" 



Então Cipriano pegou todos os seus livros de magia e foi até o bispo Anthimus. Caindo aos pés do bispo, ele pediu que tivesse misericórdia dele e desse-lhe o Batismo. Sabendo que Cipriano foi um grande mago, temido por todos, o bispo achava que ele tinha chegado a ele com algum tipo de truque e, portanto, ele se recusou, dizendo: "Você faz muito mal entre os pagãos,  deixe os cristãos em paz, para que nenhum pereça”. Então, com lágrimas, Cipriano confessou tudo ao Bispo e deu-lhe seus livros para serem queimados. Vendo a sua humildade, o Bispo instruiu-lhe e ensinou-lhe a santa fé, e, em seguida, ordenou-lhe para se preparar para o Batismo. Assim, o bruxo se converteu ao Cristianismo. Deixando o Bispo com um coração contrito, Cipriano chorou por seus pecados, polvilhado cinzas sobre a cabeça, e sinceramente arrependido, queimou seus manuscritos de feitiçaria, distribuiu seus bens entre os pobres e chamou o Deus verdadeiro para a limpeza de suas iniquidades. 



Cipriano avançou tanto no conhecimento da doutrina como na vida cristã que oito dias depois, deu-lhe o ministério do leitor; vinte e cinco dias mais tarde, fê-lo ostiário e subdiácono; cinquenta dias depois, diácono e, finalmente, no fim do ano, presbítero. Passados dezesseis anos, Antímio estava para morrer e obteve que Cipriano lhe sucedesse na função episcopal. Feito Bispo, Cipriano promoveu a jovem Justina à frente de um grupo de muitas virgens ao cargo de diaconisa; trocou seu nome pelo de Justina e a fez Superiora de uma comunidade monástica. O resto da vida de Cipriano foi dedicado a combater as heresias.

São Cipriano enviava muitas cartas aos mártires fortalecendo-os no combate até que chegou ao conhecimento do governador romano daquela região a fama de Cipriano e de Justina. Baseando-se no decreto do imperador Diocleciano, que perseguia os cristãos, ordenou que fossem presos, torturados e forçados a negar a Fé Cristã.



Diante do governador Justina foi chicoteada e Cipriano açoitado com pentes de ferro, mas não cederam. Irritado com esta resistência, o governador ordenou que Cipriano e Justina fossem lançados numa caldeira cheia de banha e cera ferventes. Eles não só não renunciaram à Fé, como sentiam muito frescor em vez de qualquer suplício.

O sacerdote dos ídolos supôs que as torturas não produziam resultado devido a algum feitiço lançado por Cipriano. Desafiando-o, ele invocou os demônios e atirou-se na caldeira. Em poucos segundos seu corpo foi destruído.

O governador então ordenou que Justina e Cipriano fossem decapitados. Vendo a morte desses inocentes mártires, um certo Theoctistus, que estava lá presente, sentindo muita pena deles e inflamando em seu coração para com Deus, caiu junto de São Cipriano, beijando-o, e declarou-se cristão. Também ele foi imediatamente condenado a ser decapitado.



Santa Justina e São Cipriano foram introduzidos por São Beda em seu Martirológio, e por meio dos martirológios históricos passaram para o Martirológio Romano, onde são comemorados no dia 26 de setembro. 


Ó Deus Onipotente e Eterno que por meio da Vossa serva Justina, com quem vou perder a vida temporal para alcançar a eterna, eu Vos peço humildemente perdão de todos os malefícios que cometi durante o tempo que o meu espírito esteve preocupado com o dragão infernal; em pagamento do sacrifício de minha vida, suplico-Vos que as minhas preces sejam ouvidas a favor de todos aqueles que de bom coração, Vos suplicarem a saúde do seu corpo e alma, recordando-Vos, Senhor, que com uma só palavra tiraste o maligno espírito daquele santo varão de que nos fala a Escritura, que ressuscitastes Lázaro, morto há três dias, que devolvestes a vista ao santo Tobias, cego por instigação de Satanás, que sois o soberano Dominador de vivos e mortos; compadecei-Vos, Senhor, de todos aqueles que sabeis serem Vossos por sua fé, esperança e boas obras, e Vos suplico que aqueles que estejam ligados com feitiços, bruxarias ou possuídos do espírito maligno, os desateis para que possam, com toda liberdade, Vos servir com tantas e boas obras e que os desenfeiticeis para que possam usar do seu arbítrio ao Vosso serviço; que os desembruxeis para que o lobo raivoso não possa dizer que tem domínio sobre alguma ovelha do Vosso rebanho, comprada a custo do Vosso preciosíssimo sangue derramado no monte do Gólgata; livrai-nos, Senhor Todo Poderoso, do anjo rebelde, para que, já livres do inimigo comum Vos louvemos, bendigamos, adoremos, exaltemos, santifiquemos e confessemos a Vós, ao Pai e ao Espírito Santo, com todo o coro de Anjos Patriarcas, Profetas, Santos, Santas, Virgens, Mártires; Confessores da Vossa santa glória. E Vos suplico, Senhor, que em nome de Santa Justina preserveis o Vosso servidor (citar o nome da pessoa) de todos os malefícios, perfídias, enganos e ardis de Lúcifer e de perseguir o Vosso santo nome que para sempre louvado seja; preservai a vista, o pensamento, as obras, os filhos, os bens, animais, semeaduras, árvores, comestíveis e bebidas, não permitindo que o Vosso servidor (citar o nome da pessoa) sofra nenhuma investida do demônio; antes, iluminai-o, dando-lhe a vista conveniente para ver e observar Vossas maravilhas na obra da Natureza; retificai o meu entendimento para que possa contemplar os Vossos favores e dirigir os negócios a um bom fim; desatai a minha língua para cantar os louvores da Vossa bondade, dizendo: Louvado sejais, Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, três pessoas em um só Deus, que tudo criou do nada; se tenho preguiça nas ações, dignai-Vos fazer que a preguiça de mim fuja para me poder empregar em ações da Vosso agrado; se má direção houver nos bens, filhos e demais dependentes deste Vosso servidor (citar o nome da pessoa), suplico-Vos, Senhor, a troqueis em boa para empregá-la em todo o Vosso santo serviço; e finalmente, aceitai, ouvi e concedei-me o que eu Vos vou pedir em paga do sacrifício que fizeram de suas vidas os Vossas mártires Cipriano e Justina, com as seguintes preces:

Senhor, tende piedade de mim.
Jesus Cristo, tende piedade de mim.
Senhor, ouvi-me.
Jesus Cristo, ouvi-me.
Deus Pai que estais no Céu, tende piedade de mim.
Deus Filho, redentor do mundo, tende piedade de mim.
Deus Espírito Santo, tende piedade de mim.
Santa Trindade, tende piedade de mim.
Todos os Santos Apóstolos, Evangelistas e Discípulos do Senhor, rogai por mim.
São Sebastião, S. Cosme e S. Damião. S. Roque, Santa Lúcia e S. Lourenço, rogai por mim.
Todos os Santos Sacerdotes, Levitas, Religiosos, Anacoretas, Virgens, Viúvas, Santos e Santas intercedei por mim.
De todo mal, livrai-me, Senhor.
De todo pecado, livrai-me, Senhor.
Da Vossa ira, livrai-me, Senhor.
De morte repentina, livrai-me, Senhor.
Dos laços do demônio, livrai-me, Senhor.
Da ira, ódio e má vontade, livrai-me, Senhor.
De relâmpagos, trovões e tempestades, livrai-me, Senhor.
De terremotos, livrai-me, Senhor.
Anjos do Céu, ouvi?me.
Prestai-me a Vossa ajuda.
Sem vós, o meu coração perde toda a sua força.
Fiquem cheios de confusão os que tentem contra a minha vida espiritual.
Eia, eia! Vão eles gritando. Logo cairás nos nossos laços, seguiremos os teus passos e neles acabarás caindo.
Mas os que amais, Senhor, e Vos honram dia e noite, é por isso que invocam o seu Libertador.
Deus clemente, Vós conheceis a minha miséria, a minha pobreza e a minha fraqueza; não me negueis o Vosso auxilio.
Sejais, Senhor, meu defensor na perseguição dos meus inimigos.
Fugi, amigos da minha desgraça; no meu Deus encontrei graças; fugi.
Que estes inimigos sejam confundidos e afastados, Senhor.
Que venham trovões e tempestades de más influências, para que se afastem da minha presença.
Sejam inúteis, Senhor, os passos dos meus inimigos.
Livrai-me de suas emboscadas, Senhor.
Concedei-me essa graça, Senhor.
Salvai, Senhor, o Vosso servo: eu Vos suplico pelo Vosso amor.
Senhor, ouvi a minha súplica e que o grito do meu coração chegue até vós, meu Deus.
 __________________________________

POLÊMICA


Atualmente são publicados diversos grimórios atribuídos a São Cipriano de Antioquia, que teriam sido escritos antes de sua conversão ao cristianismo, sendo denominados genericamente como "Livros de São Cipriano", contendo orações e rituais de magia negra e tratando de outras práticas relativas ao ocultismo.

Na verdade, deve-se observar que nas listas dos bispos de Antioquia não se encontram nem Optato, nem Antímio, nem Cipriano.

A narração da Conversão de São Cipriano tem na literatura antiga dois complementos, de índole grotesca, como são a "Confissão do Cipriano" e "Paixão do Cipriano". Tais narrações são, pelos historiadores modernos, unanimemente tidas como lendárias. Eis o seu conteúdo:

A "Confissão de Cipriano"

A "Confissão do Cipriano" é uma ampliação infeliz da "Conversão". Nosso relato Cipriano toma a palavra para explicar seu relacionamento com o domínio, as feitiçarias e os encantamentos que praticava. O autor da narração acumula as histórias de artes mágicas e às vezes cai no ridículo; assim, por exemplo, refere que Aglaides tomou a forma de um pássaro que se colocou sobre um telhado a fim de espreitar Justina; todavia, logo que conseguiu ver a moça, perdeu a qualidade de pássaro (que ele adquirira por feitiçaria); retomou a sua condição de homem e experimentou muita dificuldade para descer do telhado.

A "Paixão de Cipriano"

Esta narração responde a necessidade de terminar os relatos anteriores. o autor recorreu a traços comuns de narrações anteriores. Refere, por exemplo, que Cipriano e Justina foram presos por ordem do Conde Eutólmio e levados para Damasco. Após um interrogatório, Cipriano foi dilacerado por unhas do ferro, enquanto Justina era chicoteada ferozmente. Contudo permaneceram insensíveis. Levados de novo ao tribunal, foram condenados a morrer numa caldeira de óleo fervente; este, porém, se tornou para eles ocasião de um banho reconfortador; ao verificá-lo, um sacerdote pagão acusou-os de magia e aproximou-se do fogo da caldeira, que imediatamente o devorou. Finalmente o juiz teria enviado os dois mártires para Nicomédia, onde residia o Imperador Dioclociano. Este mandou que fossem decapitados; o carrasco executou a sentença juntando a Cipriano e Justina um certo Teoctisto, que passava por perto. Os seus cadáveres foram expostos às feras, que os deixaram intactos. Seis dias depois, marinheiros cristãos levaram os corpos para Roma,[3]onde uma certa Rufina lhes deu honrosa sepultura.

Cipriano de Antioquia (mago) 
#
São Cipriano de Cartago

Muito contribuiu para dar valor à estória em pauta a confusão feita do Cipriano mago com São Cipriano, bispo do Cartago, caro à Igreja antiga. Houve relatos, hoje perdidos, que tentavam fundir a "vida de Cipriano mago" com a história real de São Cipriano de Cartago, como se este tivesse sido feiticeiro. São Gregório, bispo do Nazianzo, na Ásia Menor, proferiu um sermão em 379, no qual se servia das narrações espúrias relativas a São Cipriano, bispo do Cartago e mago; pouco depois, o poeta latino Prudêncio se deixou levar pela mesma ilusão.

Aos poucos o crédito dado a essas versões todas fez que os nomes de Cipriano e Justina constassem dos Martirológios antigos a partir do século IV. A contar dessa época foram também aparecendo "Preces do Cipriano", utilizadas como fórmulas quase mágicas; deste núcleo fez-se aos poucos o "Livro Poderoso do S. Cipriano mago", que nada tem que ver com dados históricos nem com a fé católica. Se algum efeito extraordinário ocorre por ocasião da leitura do "Livro Poderoso de S. Cipriano", isto se deve unica¬mente ao poder da sugestão; quem acredita que tal Livro produz efeitos portentosos, predispõe-se a "vê-los", "experimentá-los" ou mesmo "produzi-los"...

Em conclusão:

1) distinga-se de São Cipriano, bispo do Cartago (*258), grande escritor cristão,  famoso orador, bispo e santo cristão cartaginês o lendário personagem dito S. Cipriano mago;

2) a magia e a feitiçaria não se coadunam com a mensagem cristã, que recorre à oração em atitude humilde e confiante, sem fórmulas ou receitas "todo-poderosas".

A propósito ver "Vie dus Saints et Bienheureux" par les RR. PP. Bénédictins de Paris, tome IX, Septembre, pp. 327-338 e 529-534. 



[1]  Negada a historicidade dos relatos, pergunta-se: por que e como tiveram origem? Tais narrações retomam dois temas caros aos antigos cristãos: o do feiticeiro que vende a sua alma ao diabo, mas se converte, e o da virgem que triunfa do homem que a quer seduzir. Os antigos se compraziam em ouvir ou ler relatos desse tipo; daí a confecção da estória de Cipriano mago convertido, e Justina. virgem vitoriosa. Essa estima da temática fez que a lenda encontrasse logo grande aceitação, de mais a mais que utilizava nomes famosos (misturados anacronicamente num só relato): Optato era um bispo do Norte da África, citado nas Atas das Santas Mártires Perpétuas e Felicidade; Antímio era um bispo mártir da Nicomédia; Cipriano foi um grande bispa do Cartago (anterior aos outros bispos citados); Edésio foi um filósofo. Todos esses personagens eram famosos em Antioquia no século IV (época em que se julga tenha tido origem a "Conversão do Cipriano"). Também Justa e Justina eram nomes assaz difundidos na antiguidade. Os outros nomes dos relatos encontram-se todos em obras da literatura dos primeiros séculos.

[2] Na Igreja antiga, os catecúmenos eram as pessoas que se preparavam para o Batismo, só lhes era lícito participar da Liturgia da Palavra. - 0 relato apresenta aqui certa incoerência, pois no Sábado Santo é que se costumava ministrar o Batismo aos catecúmenos.

[3] O culto dos mártires sempre esteve ligado aos túmulos respectivos. Ora não se conhece na antiguidade ou na arqueologia e sepulcro do S. Cipriano, virgem e mártir. O autor da "Paixão de Cipriano", para fugir à objeção de que não há sepultura de S. Cipriano em Antioquia, imaginou que o corpo de herói tenha sido trasladado para Roma; todavia em Roma não se conhecia o túmulo de S. Cipriano na antiguidade. Somente na Idade Média julgaram os cristãos ter encontrado as relíquias de Cipriano e Justina em Roma, perto do Batistério de Latrão; foi então que a festa dos dois "mártires" foi introduzida na Liturgia de Roma.

São Cosme e São Damião


Hoje, lembramos dois dos santos mais citados na Igreja: Cosme e Damião. Eram irmãos gêmeos, médicos de profissão e santos na vocação da vida. Viveram no Oriente e, desde jovens, eram habilidosos médicos. Com a conversão passaram a ser também missionários, ou seja, aproveitando a ciência com a confiança no poder da oração levavam a muitos a saúde do corpo e da alma.

Viveram na Ásia Menor, até que diante da perseguição de Diocleciano, no ano 300 da era cristã, foram presos pois eram considerados inimigos dos deuses e acusados de usar feitiçarias e meios diabólicos para disfarçar as curas. Tendo em vista esta acusação, a resposta deles era sempre: “Nós curamos as doenças, em nome de Jesus Cristo e pelo Seu poder!”

Diante da insistência, quanto à adoração aos deuses, responderam: “Teus deuses não têm poder algum, nós adoramos o Criador do céu e da terra!”.

Jamais abandonaram a fé e foram decapitados em 303. São considerados os padroeiros dos farmacêuticos, médicos e das faculdades de medicina.

São Cosme e São Damião, rogai por nós!


Deus Pai de amor e bondade, pela intercessão de São Cosme e São Damião, conserve meu coração simples e sincero. Que vossa inocência e simplicidade acompanhem e protejam todas as nossas crianças. Que a alegria da consciência tranquila, que sempre vos acompanhou, repouse também em meu coração. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.  

domingo, 25 de setembro de 2016

"Anunciar esperança de Jesus é levar alegria", diz Papa a catequistas


JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA
JUBILEU DOS CATEQUISTAS

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Praça São Pedro
Domingo, 25 de setembro de 2016



Na segunda Leitura, o apóstolo Paulo dirige a Timóteo – e a nós também – algumas recomendações que tinha a peito. Entre elas, pede que «guarde o mandamento, sem mancha nem culpa» (1 Tm 6, 14). Fala apenas de um mandamento, parecendo querer fazer com que o nosso olhar se mantenha fixo no que é essencial na fé. De facto, São Paulo não recomenda uma multidão de pontos e aspetos, mas sublinha o centro da fé. Este centro à volta do qual tudo gira, este coração pulsante que a tudo dá vida é o anúncio pascal, o primeiro anúncio: O Senhor Jesus ressuscitou, o Senhor Jesus ama-te, por ti deu a sua vida; ressuscitado e vivo, está ao teu lado e interessa-Se por ti todos os dias. Isto, nunca o devemos esquecer. Neste Jubileu dos Catequistas, pede-se-nos para não nos cansarmos de colocar em primeiro lugar o anúncio principal da fé: o Senhor ressuscitou. Não há conteúdos mais importantes, nada é mais firme e atual. Cada conteúdo da fé torna-se perfeito, se ficar ligado a este centro, se for permeado pelo anúncio pascal; mas se, pelo contrário, se isolar, perde sentido e força. Somos chamados continuamente a viver e anunciar a boa-nova do amor do Senhor: «Jesus ama-te verdadeiramente, tal como és. Dá-Lhe lugar: apesar das decepções e feridas da vida, deixa-Lhe a possibilidade de te amar. Não te decepcionará».

O mandamento de que fala São Paulo faz-nos pensar também no mandamento novo de Jesus: «Que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 15, 12). É amando que se anuncia Deus-Amor: não à força de convencer, nunca impondo a verdade nem mesmo obstinando-se em torno de alguma obrigação religiosa ou moral. Anuncia-se Deus, encontrando as pessoas, com atenção à sua história e ao seu caminho. Porque o Senhor não é uma ideia, mas uma Pessoa viva: a sua mensagem comunica-se através do testemunho simples e verdadeiro, da escuta e acolhimento, da alegria que se irradia. Não se fala bem de Jesus, quando nos mostramos tristes; nem se transmite a beleza de Deus limitando-nos a fazer bonitos sermões. O Deus da esperança anuncia-Se vivendo no dia-a-dia o Evangelho da caridade, sem medo de o testemunhar inclusive com novas formas de anúncio. 

Por graça fostes salvos


Policarpo com seus presbíteros à Igreja de Deus que peregrina em Filipos: sejam copiosas em vós a misericórdia e a paz do Deus onipotente e de Jesus Cristo, nosso Salvador.

Muitíssimo me alegrei convosco, em nosso Senhor Jesus Cristo, porque adquiristes as feições da verdadeira caridade, e, como convinha, assististes os que estão presos em cadeias, coroas dignas dos santos, dos verdadeiros eleitos de Deus e de nosso Senhor. E porque a sólida raiz de vossa fé, já proclamada desde os primeiros tempos, permanece até hoje e produz frutos em nosso Senhor Jesus Cristo. É ele quem por nossos pecados aceitou ir até à morte, a quem Deus ressuscitou, destruindo as dores do inferno (At 2,24); e embora sem tê-lo visto, nele credes com alegria inexprimível e cheia de glória (cf. 1Pd 1,8). Esta alegria na qual muitos desejam entrar, cientes de que por graça fostes salvos, não pelas obras (cf. Ef 2,8-9), mas por vontade de Deus mediante Jesus Cristo.

Por isto, de rins cingidos (1Pd 1,13), servi a Deus no temor (Sl 2,11) e na verdade, abandonando toda palavra vã e erro vulgar. Tendo fé naquele que ressuscitou dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo (1Pd 1,21) e lhe deu a glória e o trono à sua direita. É ele a quem todas as coisas celestes e terrestres se submetem, todo espírito serve e que virá como juiz dos vivos e dos mortos. Deus reclamará seu sangue daqueles que não creem nele.

Em verdade, quem o ressuscitou dos mortos também nos ressuscitará, se fizermos sua vontade, andarmos segundo seus preceitos e amarmos aquilo que ele amou. Se evitarmos toda injustiça, fraude, avareza, difamação, falso testemunho; se não pagarmos o mal com o mal nem a maldição com a maldição (1Pd 3,9) nem o golpe com outro nem o ódio com o ódio. Bem lembrados dos ensinamentos do Senhor: Não julgueis e não sereis julgados; perdoai e sereis perdoados; tende misericórdia para alcançardes a misericórdia; com a mesma medida com que medirdes sereis medidos (cf. Mt 7,1; Lc 6,36-38); e: Bem-aventurados os pobres e os que sofrem perseguição porque deles é o reino de Deus (cf. Mt 5,3.10).


Início da Carta aos filipenses, de São Policarpo, bispo e mártir

(Proêmio;nn.1,1-2,3: Funk 1,267-269)                 (Séc.I)

As crianças alcançam no batismo a graça e as virtudes?


Parece que as crianças não alcançam no batismo a graça e as virtudes:

1. Com efeito, não há graça e virtudes sem fé e caridade. Ora, “a fé”, diz Agostinho, “reside na vontade de quem crê”. Semelhantemente a caridade reside na vontade de quem ama. As crianças não têm o uso de sua vontade e assim não têm nem fé nem caridade. Logo, as crianças não recebem no batismo a graça e as virtudes.

2. Além disso, sobre o texto do Evangelho de João “Fará até obras maiores”, diz Agostinho que, para que alguém, sendo ímpio, se torne justo, “Cristo age nele, mas não sem ele”. Ora, a criança, não tendo o uso do livre-arbítrio, não coopera com Cristo para sua justificação e às vezes até resiste, quanto está em seu poder. Logo, não é justificada pela graça e pelas virtudes.

3. Ademais, diz Paulo: “Para aquele que não realiza obras, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé é levada em conta de justiça, segundo o  propósito da graça de Deus”. Ora, a criança não “crê naquele que justifica o ímpio”. Logo, não alcança nem a graça da justificação nem as virtudes.

4. Ademais, o que se faz por intenção carnal, não tem efeito espiritual. Ora, às vezes as crianças são levadas ao batismo por intenção carnal, por exemplo: para que se curem corporalmente. Logo, não alcançam o efeito espiritual da graça e das virtudes.

EM SENTIDO CONTRÁRIO, ensina Agostinho: “Renascendo as crianças morrem àquele pecado que contraíram nascendo. Por isso, vale delas o que diz Paulo: “Pelo batismo nós fomos sepultados com ele na sua morte” – e acrescenta: ‘a fim de que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, também nós levemos uma vida nova’”. Ora, a vida nova é a vida da graça e das virtudes. Logo, as crianças no batismo alcançam a graça e as virtudes.

Alguns autores antigos defenderam que o batismo não dá às crianças a graça e as virtudes, mas imprime-lhes o caráter de Cristo, por cuja força, quando chegam à idade perfeita, alcançam a graça e as virtudes.

Mas isso é evidentemente falso por dois motivos. Primeiro, porque, como os adultos, as crianças no batismo se tornam membros de Cristo. Segue-se que necessariamente recebem da cabeça o influxo da graça e das virtudes. Segundo, porque nesse caso as crianças que morrem depois do batismo, não chegariam à vida eterna, já que, como diz Paulo, “a graça de Deus é a vida eterna”. E assim terem sido batizadas não lhes teria adiantado nada para a salvação.

A causa do erro foi não terem sabido distinguir entre hábito e ato. Reconhecendo as crianças incapazes de atos de virtude, acreditaram que depois do batismo não tinham a virtude de nenhuma maneira. Mas essa impotência para atuar não ocorre nas crianças por falta dos hábitos, mas por um impedimento corporal, como também quem está dormindo, embora tenha o hábito das virtudes, está contudo impedido pelo sono de realizar atos de virtude.

São Sérgio de Rodonej, abade


Um dos santos mais queridos da Igreja Ortodoxa Russa é São Sérgio de Radonej cuja vida para incontáveis gerações de ortodoxos piedosos, jovens e anciãos, serviu como fonte de alimento espiritual.

Um bispo grego, contemporâneo de São Sérgio, duvidou dos muitos relatos que ouvira sobre a santidade do Sérgio e disse: "Pode haver tal como uma lamparina nesta terra e nestes últimos tempos". Desejoso de ver por si mesmo, ele partiu para Mosteiro de São Sérgio, mas "antes de ver o santo, ele foi atingido com a cegueira. O Santo levou-o pela mão, para sua cela, e o bispo confessou a sua incredulidade, implorando com lágrimas a cura. O Santo tocou seus olhos e o curou, exortando-lhe para que não fosse tentado como um simples monge. O bispo, agora iluminado, falou em voz alta em todos os lugares sobre ter visto um verdadeiro homem de Deus, um homem celestial, um Anjo na terrena.

São Sérgio nasceu em 1314 em Rostov de pais piedosos e devotos. Mesmo antes de seu nascimento, Deus operou um milagre sobre o futuro santo: ainda no ventre de sua mãe gritou em voz alta três vezes durante a Divina Liturgia. Seu biógrafo diz que a partir deste momento sua mãe "levou a criança em seu ventre como se fosse um tesouro precioso. Ela guardava-se de toda mancha de pecado, observando o jejum".

Batizado com o nome de Bartolomeu, o menino foi crescendo como um estudante pobre , incapaz de aprender a ler. Muitas vezes ele orou a Deus em segredo: "Ó Senhor, dá-me entendimento da aprendizagem!". Um dia, reuniu-se em torno de um santo ancião de aparência angelical, que lhe perguntou: "O que você está procurando, meu filho?" O rapaz respondeu que desejava acima de tudo ler e escrever. Assegurando-lhe que por sua fé o Senhor lhe daria a aprendizagem, o ancião na súplica do menino o acompanhou-o à casa de seus pais. Todos eles entraram na capela da casa e o ancião disse ao menino para ler em voz alta o Saltério. "Pai, eu não sei como", disse Bartolomeu. Mas o ancião ordenou-lhe para que lesse a palavra de Deus sem dúvida,  e o menino começou a ler com facilidade. Então predisse o ancião aos pais que seu filho seria uma habitação da Santíssima Trindade, que ele seria grande diante de Deus e dos homens, e que ele ensinaria aos outros uma vida virtuosa.

Algum tempo depois, caiu sobre Bartolomeu o cuidado de seus pais na velhice, uma tarefa que ele voluntariamente se comprometeu, apesar de querer tornar-se monge. Depois que seus pais morreram, abandonou o mundo e, juntamente com um de seus irmãos, refugiou-se na floresta para construir uma cela e uma pequena igreja dedicada à Santíssima Trindade. Seu irmão não conseguiu permanecer muito tempo com ele, e Bartolomeu continuou sozinho na floresta, aos 23 anos, onde recebeu a tonsura monástica com o nome Sérgio.

Tarde da noite, quando o Santo estava orando, escutou uma voz chamando: "Sérgio", abrindo a janela de sua cela, ele viu um brilho extraordinário no céu e uma infinidade de belos pássaros pairavam no ar.

São Sérgio trabalhava na moagem de grãos, fazia pão, preparava alimentos e produzia velas, bem como sapatos e roupas para os outros monges. Multidões se reuniam com ele, desejavam fazer parte desta família crescente de monges. Quando dissensões surgiam, o Santo não entrava nelas, preferindo, como quando os monges não aceitavam a correção, ficar em silêncio ao invés de participar de qualquer discussão.

Uma vez, após a oração diante do ícone da Mãe de Jesus Cristo, um luz brilhou deslumbrante em cima dele e ele viu o Virgem, juntamente com os Apóstolos Pedro e João. A luz brilhante da visão era insuportável e ele caiu no chão. Mas a Mãe de Deus tocou-o, prometendo que estaria com ele e com o seu mosteiro durante sua vida e após ela.

Ele faleceu no dia 25 de setembro de 1392, com 78 anos de idade. Após sua morte, o corpo exalava um perfume inefável, doce, e seu rosto resplandecia branco como a neve.

A Mãe de Deus manteve sua promessa a São Sérgio. Seu mosteiro é um dos últimos a permanecer aberto sob o jugo soviético, e inúmeros peregrinos continuam a venerar suas relíquias sagradas e seu corpo incorrupto. Hoje, a Lavra da Santíssima Trindade e São Sérgio tornou-se o coração espiritual da Igreja Ortodoxa Russa.



Deus todo-poderoso, concedei por intercessão de São Sérgio, a graça de anunciar o Evangelho e denunciar toda mentira, toda falsidade, que tenta contra a Igreja. Amém! São Sérgio rogai por nós!

Santa Aurélia e Santa Neomísia


Aurélia nasceu na Ásia Menor, no Oriente, provavelmente no século III. Era muito unida à sua irmã Neomísia. Elas costumavam procurar pobres e doentes pelas ruas para lhes fazer caridade. E assim fizeram durante toda a adolescência, se mantendo muito piedosas e fervorosas cristãs. O sonho das irmãs era conhecer a terra santa. 

De fato, Aurélia e Neomísia, foram para a Terra Santa e viram onde Jesus nasceu e viveu. Depois, fizeram todo o trajeto percorrido por Ele até o monte Calvário, onde foi Crucificado e morreu para nos salvar. Aurélia, envolvida pela religiosidade da região e com o sentimento da fé reforçado, decidiu continuar a peregrinação até Roma. 

No caminho as duas foram surpreendidas, na via Latina, por um grupo de invasores que as identificaram como cristãs. Ambas foram agredidas e chicoteadas até quase a morte. Por causa deste incidente, as irmãs resolveram estabelecer-se aos pés de uma colina muito perto da cidade de Anani. Lá elas retomaram a vida de caridade, oração e penitência, sempre auxiliando e socorrendo os pobres, velhos e doentes. 

Aurélia e a irmã adoeceram e morreram no mesmo dia: 25 de setembro, de um ano não registrado. O culto à Santa Aurélia é um dos mais propagados e antigos da tradição romana. 


Dai-nos ó Pai de bondade, a coragem de dispor de tempo e ânimo para buscar sua presença na minha vida. Pela intercessão das santas Aurélia e Neomísia ajudai-me a caminhar sempre na direção do bem e deixar de lado todo comodismo que me impede de estar sempre ao seu lado. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.


sábado, 24 de setembro de 2016

Dia Nacional da Bíblia


Lembro-me que no primeiro domingo de setembro chamei a atenção aqui que todo setembro é dedicado à Bíblia. Hoje, último domingo de setembro, é Dia Nacional da Bíblia. E no próximo dia 30, comemora-se São Jerônimo, um dos quatro grandes doutores da Igreja latina, que ficou famoso por ter feito a tradução de toda a Bíblia do original hebraico e grego para o latim, concluída no ano de 404 e conhecida como “Vulgata”. Conhecedor profundo do hebraico, grego e latim, São Jerônimo é considerado como um dos maiores conhecedores da Bíblia. Pois bem, por estes motivos, setembro foi organizado ao redor do tema da Bíblia para que nós, cristãos, possamos valorizar a Palavra de Deus em nossa vida, não só em setembro, mas sempre. 

A Igreja vem dizendo desde tempos remotos que a Palavra de Deus é para ser “escutada, meditada, vivida, celebrada e testemunhada”. O método tradicional que a Igreja usa é o da “Leitura Orante da Bíblia”, em latim, a “Lectio Divina”. Esta forma privilegiada para se aproximar da Sagrada Escritura é a que melhor introduz ao conhecimento de Jesus Cristo e melhor conduz ao encontro pessoal com Ele. Pois, como escreveu São Jerônimo, “Conhecer a Bíblia é conhecer a Cristo, desconhecer a Bíblia é desconhecer a Cristo”. E o que há de mais importante na vida do que conhecer e amar a Jesus Cristo? Na Escritura se lê que neste mundo “nada deve se antepor a Jesus Cristo”. Jesus Cristo é o Messias, o Salvador, o Senhor. Paulo Apóstolo, depois que fez a experiência do encontro com Jesus Cristo, tornou-se apaixonado por Ele e o demonstrou com expressões de afeição e adesão de extraordinária beleza e profundo significado, como estas, por exemplo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, vivo-a pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2,20); “Pois para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1, 21); “Mas o que era para mim lucro tive-o como perda, por amor de Cristo. Mais ainda, tudo considero perda, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por ele, perdi tudo e tudo tenho como lixo, para ganhar a Cristo e ser achado nele,..” (Fl 3, 7-9). 

Meditemos o Evangelho da Missa de hoje, tirado de Lucas 16,19-31. Jesus conta a parábola de um homem rico e de um pobre chamado Lázaro. O rico vivia na fartura dos bens, no luxo do vestir, no prazer das festas esplêndidas todos os dias. Lázaro, cheio de feridas, se contentava com os cachorros que vinham lamber suas feridas. E faminto, desejava matar a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico. Vindo a morrer, os anjos o levaram para junto de Abraão. Depois morreu o rico e foi levado para a região dos mortos, onde passou a sofrer em meio aos tormentos. Deste lugar, o rico via de longe Abraão, com Lázaro a seu lado. Então, gritando por socorro, pedia a Abraão para que mandasse Lázaro molhar a ponta do dedo com água para lhe refrescar a língua, porque sofria muito naquelas chamas. Abraão respondeu: Lembra-te que durante a vida tu recebeste bens e Lázaro, males. Agora ele encontra consolo e tu, tormentos. Além do mais, há um grande abismo entre nós, ninguém daqui pode passar até aí, nem daí, até aqui. Então, num repente de bondade, o rico pediu a Abraão para que Lázaro pudesse ressuscitar e ir até à casa do seu pai e familiares, a fim de preveni-los para não virem também eles para este lugar de tormento. Mas Abraão respondeu que eles têm Moisés e os profetas, bastando que os escutem. E concluiu: “Se não escutam a Moisés nem aos profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos”.