domingo, 17 de fevereiro de 2013

Uma liberdade que assusta!



Que liberdade é esta, surpreendente, desconcertante, desse Bento XVI? Onde encontrou luz, fibra, inspiração para tomar uma decisão tão importante deixando-se guiar somente pela sua consciência? Qual o segredo desse homem tão frágil fisicamente e tão gigante na fé?

O segredo é uma Pessoa, é Jesus Cristo nosso Senhor, em Quem o Santo Padre sempre teve seu olhar fixo! Seu amor a Jesus, sua intimidade com Jesus, sua entrega total a Jesus - eis o motivo de Bento XVI, o único, simples e absoluto motivo!


Sabem o que me impressiona e faz-me rir, meus amigos? É a tremenda hipocrisia de um mundo que vive falando em autenticidade, liberdade, em simplicidade, e quando encontra um homem tão autêntico, tão livre, tão simples quanto Bento XVI, fica apavorado, não o compreende e, então, sem compreender a simplicidade desarmada de seus motivos, a limpidez de sua palavra, fica a todo custo inventando motivos, procurando explicações complexas, criando conspirações e tramas...

Tudo porque não consegue suportar, não pode compreender, não é capaz de enquadrar a lógica de um homem que vive, pensa e age segundo o Evangelho.

Na verdade, nunca agradeceremos o bastante ao Santo Padre Bento XVI por este seu vívido e profético gesto de amor a Cristo e à Igreja!

Confesso sem acanhamento: esse homem é um gigante, diante do qual sinto-me miseravelmente pequeno.

Que orgulho tenho de Cristo, que gera homens assim, livres!

Que orgulho tenho da Igreja, minha Mãe, que mostra ao mundo pastores assim, generosos, preocupados do interesse de Cristo e não dos seus próprios!

Que gratidão deveríamos ter ao Senhor por presenciar gestos assim!



Dom Henrique Soares da Costa,
Bispo Titular de Acúfica e Auxiliar de Aracaju.

A amizade de João Paulo II e Bento XVI



“Desde o início senti uma grande simpatia, e graças a Deus, sem eu merecer, o então Cardeal me doou desde o início a sua amizade. Sou grato pela confiança que depositou em mim mesmo sem eu merecer. Sobretudo, vendo-o rezar, vi e não só compreendi que era um homem de Deus”, contou o Papa Bento XVI em entrevista a uma TV polonesa em 2005, relembrando como nasceu a amizade com o então Cardeal Karol Józef Wojtyła, no conclave de 1978.

Esta era a impressão fundamental de Bento XVI: Wojtyła era um homem que vivia, de fato, em Deus.

“Impressionou-me a cordialidade com a qual se encontrou comigo. Sem muitas palavras nasceu assim uma amizade que vinha propriamente do coração e logo depois de sua eleição o Papa me chamou diversas vezes em Roma para conversas e, por fim, me nomeou Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé”, conta o atual Pontífice.

Para Bento XVI o que mais chama a atenção no pontificado de João Paulo II é o respeito e a admiração conquistados dentro e fora da Igreja Católica. “O Santo Padre, com seus discursos, sua pessoa, sua presença, sua capacidade para convencer, criou uma nova sensibilidade para os valores morais, para a importância da religião no mundo”, destaca.

João Paulo II criou uma nova abertura e sensibilidade para os problemas da religião, para a necessidade da dimensão religiosa na vida do homem, e, para Bento XVI, o Papa polonês, sobretudo, mostrou de novo a importância do Bispo de Roma.

“Todos os cristãos reconheceram — mesmo com as diferenças e mesmo não o reconhecendo como sucessor de Pedro — que ele é o porta-voz do Cristianismo. Nenhum outro no mundo, em nível mundial, pode falar assim em nome da cristandade e dar voz e força, na atualidade do mundo, à realidade cristã”, ressalta Bento XVI.

Mas, mesmo para os não-cristãos e membros de outras religiões, era ele o porta-voz dos grandes valores da humanidade. Segundo Bento XVI, é importante ressaltar que o saudoso Papa conseguiu criar um clima de diálogo entre as grandes religiões, um senso comum de responsabilidade mundial e, para João Paulo II, a violência e as religiões são incompatíveis, todos juntos devemos buscar o caminho da paz.

Amor pela Juventude


“Somente uma personalidade com aquele carisma poderia conseguir que a juventude se entusiasmasse por Cristo e pela Igreja”, disse Bento XVI sobre João Paulo II.

“Antes de tudo, ele soube entusiasmar a juventude para Cristo. Isso é uma coisa nova, se pensamos na juventude de 1968 e dos anos 1970. Somente uma personalidade com aquele carisma poderia conseguir que a juventude se entusiasmasse por Cristo e pela Igreja. Somente ele poderia, de tal modo, conseguir mobilizar a juventude do mundo para a causa de Deus e pelo amor a Cristo”, afirmou Bento XVI.

João Paulo II criou na Igreja um novo amor pela Eucaristia, ressalta o Papa, criou um novo sentido pela grandeza da Divina Misericórdia; e também aprofundou muito o amor por Nossa Senhora e assim levou-nos a uma interiorização da fé e, ao mesmo tempo, a uma maior eficiência.

“Naturalmente, é preciso mencionar, como todos sabemos, também como foi essencial sua contribuição para as grandes mudanças do mundo, em 1989, com a queda do chamado socialismo real”, completa o atual pontífice.

Últimos Encontros


O Santo Padre recorda seus últimos encontros com João Paulo II no Hospital Gemelli, poucos dias antes de sua morte, e conta que o que mais lhe impressionou foi a doação completa do futuro beato à vontade de Deus.

“No primeiro encontro, o Papa sofria visivelmente, mas estava completamente lúcido e muito presente. Eu fui até ali simplesmente para um encontro de trabalho, porque era preciso tomar algumas decisões. O Santo Padre, mesmo sofrendo, seguia com grande atenção aquilo que eu falava. Ele me disse, em poucas palavras, suas decisões, deu-me sua benção, saudou-me em alemão recordando-me sua confiança e amizade”.

Para o então Cardeal Joseph Alois Ratzinger, aquele foi um momento comovente, como se o sofrimento de João Paulo II se unisse ao sofrimento de Deus, como se ele oferecesse o seu sofrimento a Deus e por Deus. Por outra parte, era possível ver como ele resplandecia uma serenidade interior e plena lucidez.

“O segundo encontro foi um dia antes de sua morte: estava obviamente sofrendo, rodeado por médicos e amigos. Ainda muito lúcido, deu-me sua bênção. Não podia falar muito. Para mim, essa paciência no sofrimento foi um grande ensinamento, sobretudo consegui ver e sentir como se estivesse nas mãos de Deus e como se ele se abandonasse à vontade Dele. Apesar das dores visíveis, estava sereno, porque estava nas mãos do Amor Divino”, recorda Bento XVI.
___________________________
Fonte: Canção Nova.
Disponível em: Amigos de João Paulo II.

Penúltimo "Angelus" de Bento XVI



Manhã de inverno, fria e enevoada, em Roma, neste primeiro domingo de Quaresma, com um tépido sol que pouco a pouco se foi manifestando. A 10 dias da cessação do ministério petrino de Bento XVI, por sua livre decisão de renúncia, anunciada segunda-feira passada, milhares e milhares de fiéis, sobretudo romanos, se concentraram na Praça de São Pedro, para este penúltimo encontro dominical do Angelus do pontificado do Papa Ratzinger. Presente também o presidente da Câmara da cidade, com vereadores e os estandartes municipais.

Depois da recitação das Ave-Marias, a concluir as saudações em diversas línguas, Bento XVI agradeceu aos numerosos presentes na Praça de São Pedro, mais este “sinal de afeto e de presença espiritual”, “manifestado nestes dias”. “Estou-vos profundamente grato”.

Um especial “muito obrigado” reservou-o o Papa às autoridades municipais de Roma e a “todos os habitantes desta amada Cidade”.
A concluir, para além de desejar a todos bom domingo e boa caminhada quaresmal, Bento XVI recordou os Exercícios Espirituais que iniciará ao fim do dia, juntamente com os responsáveis dos principais organismos da Cúria Romana. "Permaneçamos unidos na fé" - foi o pedido dirigido a toda a multidão, que o aplaudiu longamente.

“A Quaresma é um tempo favorável para redescobrirmos a fé em Deus como base da nossa vida e da vida da Igreja.” – esta a versão portuguesa do tweet enviado hoje por Bento XVI aos seus “seguidores”.
 
Uma mensagem concisa que bem resume a breve catequese proposta pelo Papa antes da reza do Angelus, comentando como habitualmente o Evangelho do dia, neste caso, as tentações de Jesus, na versão do Evangelho de São Lucas.

No momento de iniciar o seu ministério pública – explicou o Papa – “Jesus teve que desmascarar e rejeitar as falsas imagens do Messias que o tentador lhe propunha”. Aliás – observou – “estas tentações são também falsas imagens do homem, que em todos os tempos insidiam as consciências, disfarçando-se de propostas convenientes e eficazes, e porventura até mesmo boas. Três as tentações propostas pelos evangelistas Mateus e Lucas: “O núcleo central (destas tentações de Jesus) consiste sempre em instrumentalizar Deus para os próprios fins, dando mais importância ao sucesso ou aos bens materiais”.

O tentador é insidioso: não impele diretamente ao mal, mas a um falso bem, fazendo crer que as verdadeiras realidades são o poder e aquilo que satisfaz as necessidades primárias.

“Deus torna-se secundário, fica reduzido a um meio, em última análise torna-se irreal, deixa de contar, dissipa-se. Em última análise, nas tentações está em jogo a fé, porque está em jogo Deus. Nos momentos decisivos da vida – mas, bem vistas as coisas, em cada momento – estamos perante uma encruzilhada: queremos seguir o nosso eu ou Deus – o interesse individual ou o verdadeiro Bem, aquilo que realmente é bem?”

Quase a concluir a sua catequese, antes do Angelus deste domingo, Bento XVI recordou ainda que, para os Padres da Igreja, as tentações fazem parte da “descida” de Jesus na nossa condição humana, no abismo do pecado e das suas consequências. Uma “descida” que Jesus percorre até ao fim, até à morte de cruz e até aos “infernos” do extremo afastamento de Deus. É precisamente assim que Ele é a mão que Deus estende ao homem, à ovelha extraviada, para a trazer a salvo. Não tenhamos medo de enfrentarmos também nós a combate contra o espírito do mal: o importante é que o façamos com Ele, com Cristo, o Vencedor.
_________________________
Fonte: CNBB

Bento XVI: o que há por trás da renúncia.



«Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim, que preciso reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado».

Foi com essas palavras que, no dia 11 de fevereiro, durante uma reunião com os cardeais da Cúria romana, o Papa Bento XVI anunciou a sua renúncia ao pontificado.


Fazia tempo que ele pensava no assunto. Em 2010, na entrevista que concedeu ao jornalista Peter Seewald, fora claro: «Quando a dificuldade é grande, não se pode fugir e dizer: "Que outro se ocupe disso!”. Mas, se um papa percebe que já não tem condições físicas, mentais e espirituais para levar adiante as obrigações de seu cargo, tem o direito e, em algumas circunstâncias, o dever de se demitir».

Apesar de não ser novidade na Igreja, seu ato provocou perplexidades. A história lembra outros papas que renunciaram ou foram obrigados a fazê-lo: São Clemente (88/97), condenado ao exílio pelo imperador Domiciano, passou o cargo a Santo Evaristo; São Ponciano (230/235), desterrado pelo imperador Severo, deixou o lugar para Santo Antero; São Silvério (536/537) foi deposto e substituído pelo Papa Vigílio; São Martinho (649/655), degredado pelo imperador Constante II, acolheu de coração aberto a nomeação do sucessor, Santo Eugênio. Mais complicado foram os casos de Bento IX (1032/1045) e Gregório VI (1045/1046), forçados a deixar a função por mau comportamento.

O papa, porém, que, de acordo com a “Divina Comédia” de Dante Alighieri, «fez a grande renúncia", é São Celestino V. Seu pontificado nem chegou a quatro meses: de 29 de agosto a 13 de dezembro de 1294. Sentindo-se pequeno diante dos desafios da política eclesiástica, abandonou o cargo e recolheu-se à vida eremítica. O último papa a abdicar foi Gregório XII (1406/1415). Seu nome está ligado ao “Grande Cisma do Ocidente” (1378/1415), período em que tentaram ocupar o sólio pontifício dois – e, em dado momento, três – papas ao mesmo tempo. Para acabar com o escândalo, ele entregou sua demissão nas mãos de Martinho V (1417/1431).

O gesto de Bento XVI condiz com a sua visão do homem e da Igreja. A idade pesa. O cargo é exigente. A saúde diminui. Reconhecer os próprios limites e desapegar-se do poder é sabedoria e heroísmo. Pode-se servir à Igreja e à humanidade de mil maneiras. Para tanto, o que importa é tomar consciência de que há tempos e ocasiões diferentes, próprias de cada momento e de cada pessoa. Quem ama, sempre descobre o jeito certo de estar presente e atuante, mesmo quando, por qualquer motivo, precisa se retirar e deixar que outros ocupem o lugar que até agora lhe pertencia.

Evidentemente, a renúncia recebeu também outras interpretações, como a de Ferruccio De Bortoli, diretor do jornal italiano "Corriere della Sera", que a viu como resultado das intrigas que medram no Vaticano: «O ato do Papa foi encorajado pela insensibilidade de uma Cúria que, em vez de confortá-lo e apoiá-lo, apareceu, por diversos de seus expoentes, mais empenhada em jogos de poder e lutas fratricidas». De acordo com o cardeal brasileiro, Dom João Braz de Aviz, «entre os cardeais, há muita fidelidade, mas também tensões. Existem diferentes estilos, personalidades, formas de viver as coisas. Uns querem o diálogo, outros destacam a autoridade». O Pe. Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, parece sintetizar a opinião de uns e de outros: «O Papa é uma pessoa de grande realismo e conhece os problemas e as dificuldades. A renúncia foi uma mensagem à Cúria, mas também a todos nós. Foi um ato de humildade, sabedoria e responsabilidade».

Um ato que abre novos horizontes no modo de entender e de gerir a missão do papa na Igreja e que, por isso, fará história.



Dom Redovino Rizzardo 
Bispo de Dourados (MS)

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Normas para o jejum e a abstinência



Chegou a Quaresma. Iniciamos o tempo forte da Igreja para combater, em nós, a influência do demônio, do mundo e da carne. E um dos métodos, que nos vem da Bíblia, e é atestado pela unânime tradição católica, é o jejum, em sentido amplo. Esse jejum abarca o jejum em sentido estrito, e as várias formas de abstinência.

Para melhor realizarmos o propósito que o Senhor tem para as nossas almas, a Igreja dá normas simples e mínimas para que os fiéis iniciemos a luta espiritual.

Conforme o Código de 1983, eis as normas:
Jejum: fazer apenas uma refeição completa durante o dia e, caso haja necessidade, tomar duas outras pequenas refeições que não sejam iguais em quantidade à habitual ou completa. Não fazer as refeições habituais, nem outros petiscos durante o dia (embora, pela tradição, se possa beber algo sem açúcar). Estão obrigados ao jejum os que tiverem completado dezoito anos até os cinquenta e nove completos. Os outros podem fazer, mas sem obrigação. Grávidas e doentes estão dispensados do jejum, bem como aqueles que desenvolvem árduo trabalho braçal ou intelectual no dia do jejum.

Abstinência: deixar de comer carnes de animais de sangue quente (bovina, ovina, aviária, bubalina etc), bem como seus caldo de carne. Permite-se o uso de ovos, laticínios e gordura. Estão obrigados à abstinência os que tiverem completado quatorze anos, e tal obrigação se prolonga por toda a vida. Grávidas que necessitem de maior nutrição e doentes que, por conselho médico, precisam comer carne, estão dispensados da abstinência, bem como os pobres que recebem carne por esmola.

Considerações sobre o Ato de Renúncia de Bento XVI



Em 11 de fevereiro, dia da Festa de Nossa Senhora de Lourdes, o Santo Padre Bento XVI comunicou ao Consistório de cardeais e a todo o mundo sua decisão de renunciar ao Pontificado. O anúncio foi acolhido pelos cardeais, “quase inteiramente incrédulos”, “com sensação de confusão”, “como um raio em céu sereno”, segundo as palavras dirigidas em seguida ao Papa pelo cardeal decano Ângelo Sodano.

Se foi tão grande a confusão por parte dos cardeais, pode-se imaginar quão forte tem sido nesses dias a desorientação dos fieis, sobretudo daqueles que sempre viram em Bento XVI um ponto de referência, e agora se sentem de algum modo "órfãos", senão mesmo abandonados, em face das graves dificuldades que enfrenta a Igreja no momento presente.

No entanto, a hipótese da renúncia de um Papa ao sólio pontifício não é de todo inesperada. O presidente da Conferência Episcopal da Alemanha, Karl Lehmann, e o primaz da Bélgica, Godfried Danneels, haviam apresentado a hipótese da “renúncia” de João Paulo II, quando as condições de sua saúde haviam se deteriorado. O cardeal Ratzinger, no livro-entrevista de 2010, Luz do Mundo, havia dito ao jornalista alemão Peter Seewald que, se um Papa se dá conta de que não é mais capaz, “física, psicológica e espiritualmente, de cumprir os deveres de seu ofício, então ele tem o direito e, em certas circunstâncias, também a obrigação, de renunciar”. Ainda em 2010, cinquenta teólogos espanhóis haviam manifestado sua adesão à Carta Aberta aos bispos de todo o mundo do teólogo suíço Hans Küng, com estas palavras: “Acreditamos que o Pontificado de Bento XVI se tenha exaurido. O Papa não tem a idade nem a mentalidade para responder adequadamente aos graves e urgentes problemas com os quais a Igreja Católica se defronta. Pensamos, portanto, com o devido respeito por sua pessoa, que deve apresentar a demissão do seu cargo”. E quando, entre 2011 e 2012, alguns jornalistas como Giuliano Ferrara e Antonio Socci havia escrito sobre a possível renúncia do Papa, a hipótese havia suscitado entre os leitores mais desaprovação que consenso.
Não há dúvidas acerca do direito de um Papa de renunciar. O novo Código de Direito Canônico prevê a possibilidade de renúncia do Papa no cânon 332, parágrafo segundo, com estas palavras: “Se acontecer que o Romano Pontífice renuncie a seu múnus, para a validade se requer que a renúncia seja livremente feita e devidamente manifestada, mas não que seja aceita por alguém”. Nos artigos 1º e 3º da Constituição Apostólica Universi Dominicis Gregis, de 1996, sobre a vacância da Santa Sé, é prevista ademais a possibilidade de que a vacância da Sé Apostólica seja determinada não só pela morte do Papa, mas também por sua renúncia válida.

Na História não são muitos os episódios documentados de abdicação. O caso mais conhecido continua sendo o de São Celestino V, o monge Pietro da Morrone, que foi eleito em Perugia, em 5 de julho de 1294, e coroado em L'Aquila, em 29 de agosto seguinte. Após um Pontificado de apenas cinco meses, ele julgou oportuno renunciar, por não se sentir à altura do cargo que assumira. Preparou, então, a sua abdicação, consultando primeiramente os cardeais e promulgando, depois, uma constituição com a qual confirmava a validade das regras já estabelecidas pelo Papa Gregório X para a realização do próximo Conclave. Em 13 de dezembro, em Nápoles, pronunciou sua abdicação diante do Colégio dos Cardeais, despojou-se da insígnia e das vestes papais, e tomou o hábito de eremita. Em 24 de dezembro de 1294, foi eleito Papa, em seu lugar, Benedetto Caetani, com o nome de Bonifácio VIII. Outro caso de renúncia papal – o último registrado até hoje – ocorreu no decurso do Concílio de Constança (1414-1418). Gregório XII (1406-1415), Papa legítimo, a fim de recompor o Grande Cisma do Ocidente (1378-1417), enviou a Constança o seu plenipotenciário Carlo Malatesta, para dar a conhecer sua intenção de retirar-se do ofício papal; as demissões foram oficialmente acolhidas em 4 de julho de 1415, pela assembleia sinodal, que ao mesmo tempo depôs o antipapa Bento XIII. Gregório XII foi reintegrado ao Sacro Colégio com o título de cardeal bispo do Porto e com o primeiro grau após o Papa. Abandonando o nome e o hábito pontifício e retomando o nome de cardeal Angelo Correr, ele se retirou como legado papal na província italiana de Le Marche e morreu em Recanati, em 18 de outubro 1417.

Portanto, o caso de renúncia em si não escandaliza: está contemplado no Direito Canônico, e verificou-se historicamente ao longo dos séculos. Note-se, no entanto, que o Papa pode renunciar, e por vezes tem historicamente renunciado ao Pontificado, enquanto este é considerado um “ofício jurisdicional da Igreja”, não ligado indelevelmente à pessoa que o ocupa. A hierarquia apostólica exerce de fato dois poderes misteriosamente unidos na mesma pessoa: o poder da ordem e o poder de jurisdição (cf., por ex., São Tomás de Aquino, Summa Theologica, II-IIae, q, 39, a. 3, resp.; III, q. 6, a. 2). Ambos poderes são direcionados a realizar os fins peculiares da Igreja, mas cada qual com características próprias, que o distinguem profundamente do outro: a potestas ordinis é o poder de distribuir os meios da graça divina e refere-se à administração dos sacramentos e ao exercício do culto oficial; a potestas iurisdictionis é o poder de governar a instituição eclesiástica e os simples fiéis.
 
O poder de ordem distingue-se do poder de jurisdição não só pela diversidade de natureza e de objeto, mas também pelo modo como o poder de ordem é conferido, uma vez que tem como propriedade ser dado com a consagração, isto é, por meio de um sacramento, e com a impressão de um caráter sagrado. A posse do potestas ordinis é absolutamente indelével, porquanto seus graus não são ofícios temporários, mas imprimem caráter a quem o recebe. De acordo com o Código de Direito Canônico, uma vez que um batizado se torna diácono, sacerdote ou bispo, o é para sempre, e nenhuma autoridade humana pode cancelar essa condição ontológica. Pelo contrário, o poder de jurisdição não é indelével, mas temporário e revogável; suas atribuições, exercidas por pessoas físicas, cessam com o término do mandato.
 
Outra característica importante do poder de ordem é a não territorialidade, pois os graus da hierarquia da ordem são absolutamente independentes de qualquer circunscrição territorial, pelo menos no que respeita à validade do exercício. As atribuições do poder de jurisdição, ao contrário, são sempre limitadas no espaço e têm no território um de seus elementos constitutivos, exceto o do Sumo Pontífice, que não está sujeito a qualquer limitação espacial.

Na Igreja, o poder de jurisdição pertence, jure divino, ao Papa e aos Bispos. A plenitude deste poder, no entanto, reside apenas no Papa que, como fundamento, sustenta todo o edifício eclesiástico. Nele se encontra todo o poder pastoral, e na Igreja não se pode conceber outro independente.

A teologia progressista, pelo contrário, sustenta, em nome do Vaticano II, uma reforma da Igreja num sentido sacramental e carismático, que opõe o poder de ordem ao poder de jurisdição, a Igreja da caridade à do direito, a estrutura episcopal à monárquica. O Papa, reduzido a primus inter pares no interior do colégio dos bispos, exerceria apenas uma função ético-profética, um primado de “honra” ou de “amor”, mas não de governo e de jurisdição. Nesta perspectiva, Hans Küng e outros invocaram a hipótese de um Pontificado “temporário” e não mais vitalício, como uma forma de governo exigida pela celeridade das mudanças do mundo moderno e da contínua novidade de seus problemas. “Não podemos ter um Pontífice de 80 anos que já não está totalmente presente do ponto de vista físico e psíquico”, declarou à emissora “Südwestundfunk” Küng, o qual vê na limitação do mandato do Papa um passo necessário para a reforma radical da Igreja. O Papa seria reduzido a presidente de um Conselho de administração, a uma figura meramente arbitral, ao lado de uma estrutura eclesiástica "aberta", como um sínodo permanente, com poderes deliberativos.

No entanto, caso se entenda que a essência do Papado esteja no poder sacramental de ordem e não no poder supremo de jurisdição, o Pontífice jamais poderia renunciar; se o fizesse, perderia com a renúncia apenas o exercício do poder supremo, mas não o poder em si, que seria indelével como a ordenação sacramental da qual brota. Quem admite a hipótese da renúncia deve admitir com isso que o Papa deriva a sua summa potestas da jurisdição que exerce, e não do sacramento que recebe. A teologia progressista está, portanto, em contradição consigo mesma quando procura fundamentar o Papado sobre sua natureza sacramental e depois reivindica a renúncia de um Papa, a qual por sua vez só pode ser admitida se seu múnus se basear no poder de jurisdição. Pela mesma razão, não poderá haver, após a renúncia de Bento XVI, “dois papas”, um no cargo e outro “emérito”, como foi impropriamente dito. Bento XVI voltará a ser Sua Eminência o Cardeal Ratzinger, e não poderá exercer prerrogativas, como a da infalibilidade, que são intimamente ligadas ao poder de jurisdição pontifício.

O Papa, portanto, pode renunciar. Mas é oportuno que o faça? Um autor por certo não "tradicionalista", Enzo Bianchi, escreveu em “La Stampa” de 1º de julho de 2002: "Segundo a grande Tradição da Igreja do Oriente e do Ocidente, nenhum Papa, nenhum patriarca, nenhum bispo deveria renunciar apenas por ter atingido o limite de idade. É verdade que há cerca de trinta anos na Igreja Católica existe uma norma que convida os bispos a oferecer as próprias renúncias ao Pontífice ao atingirem 75 anos de idade, e é verdade que todos os bispos acolhem com obediência esse convite e apresentam a renúncia, como também é verdade que, normalmente, eles são atendidos e as renúncias acolhidas. Mas esta resta uma norma e uma prática recente, fixada por Paulo VI e confirmada por João Paulo II: nada exclui que no futuro possa ser revista, depois de pesadas as vantagens e os problemas que ela tem produzido nas últimas décadas de aplicação.” A norma pela qual os bispos renunciam a sua diocese a partir dos 75 anos é uma fase recente na História da Igreja, que parece contradizer as palavras de São Paulo, para quem o Pastor é nomeado “ad convivendum et commoriendum” (2 Cor 7,3), para viver e morrer junto a seu rebanho. A vocação de um Pastor, como a de cada batizado, vincula de fato não somente até certa idade e a uma boa saúde, mas até a morte.

Sob este aspecto, a renúncia de Bento XVI ao Pontificado aparece como um ato legítimo do ponto de vista teológico e canônico, mas, no plano histórico, em absoluta descontinuidade com a tradição e a prática da Igreja.  Do ponto de vista do que poderiam ser as suas consequências, trata-se de um gesto não simplesmente “inovador”, mas radicalmente “revolucionário”, como o definiu Eugenio Scalfari em “La Repubblica” de 12 de fevereiro. A imagem da instituição pontifícia, aos olhos da opinião pública de todo o mundo, é de fato despojada de sua sacralidade para ser entregue aos critérios de julgamento da modernidade. Não por acaso, no “Corriere della Sera” do mesmo dia, Massimo Franco fala do "sintoma extremo, final, irrevogável, da crise de um sistema de governo e de uma forma de papado”.

Não se pode fazer uma comparação, nem com Celestino V, que renunciou após ter sido arrancado à força de sua cela eremítica, nem com Gregório XII, quem, por sua vez, foi forçado a renunciar para resolver a gravíssima questão do Grande Cisma do Ocidente. Tratava-se de casos excepcionais. Mas qual é a exceção no gesto de Bento XVI? A razão, oficial, esculpida nas suas palavras pronunciadas em 11 de fevereiro, mais do que a exceção exprime a normalidade: “No mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande importância para a vida da fé, para governar o barco de Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor, seja do corpo, seja do espírito, vigor que, nos últimos meses, diminuiu em mim de modo tal que devo reconhecer a minha incapacidade".

Não estamos diante de uma grave deficiência, como foi o caso de João Paulo II no final de seu Pontificado. As faculdades intelectuais de Bento XVI estão plenamente íntegras, como demonstrou em uma de suas últimas e mais significativas meditações no Seminário Romano; e a sua saúde é “no conjunto, boa”, como afirmou o porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, segundo o qual, entretanto, o Papa sentiu, nos últimos tempos, “o desequilíbrio entre as tarefas, entre os problemas a serem resolvidos e as forças das quais sente não dispor”.

No entanto, desde o momento da eleição, cada Pontífice experimenta um compreensível sentimento de inadequação, percebendo a desproporção entre suas capacidades pessoais e o peso da tarefa para a qual ele é chamado. Quem pode dizer-se capaz de suportar com suas próprias forças o múnus de Vigário de Cristo? O Espírito Santo, contudo, assiste o Papa, não somente no momento da eleição, senão também até a sua morte, em cada momento, mesmo no mais difícil, de seu Pontificado. Hoje, o Espírito Santo é frequentemente invocado de forma inadequada, como quando se pretende que Ele inspire cada ato e cada palavra de um Papa ou de um Concílio. Nestes dias, no entanto, Ele é o grande ausente dos comentários da mídia, que avaliam o gesto de Bento XVI de acordo com um critério puramente humano, como se a Igreja fosse uma multinacional, guiada em termos de pura eficiência, prescindindo de qualquer influxo sobrenatural.

Mas devemos nos perguntar: em dois mil anos de história, quanto foram os Papas que reinaram com boa saúde e não sentiram o declínio das forças e não sofreram com doenças e provas morais de todo gênero? O bem-estar físico nunca foi um critério de governo da Igreja. Sê-lo-á a partir de Bento XVI? Um católico não pode deixar de se colocar estas perguntas, e, se não as faz, elas serão colocadas pelos fatos, como no próximo conclave, quando a escolha do sucessor de Bento será inevitavelmente orientada para um cardeal jovem, na plenitude de suas forças, para que possa ser considerado adequado à grave missão que o espera. A menos que o cerne do problema não esteja naquelas “questões de grande relevância para a vida da fé” às quais se referiu o Pontífice, e que poderiam aludir à situação de ingovernabilidade em que parece encontrar-se hoje a Igreja.

Abertura da Campanha da Fraternidade 2013 na Paróquia da Cohab


Neste sábado, 16 de fevereiro, a Arquidiocese de São Luís faz a Abertura da Campanha da Fraternidade 2013, cujo tema é: "Fraternidade e Juventude", e lema: "Eis-me aqui, envia-me!"(Is. 6,8). A abertura a nível arquidiocesano terá início às 15h com animação no Parque do Bom Menino.

Feita a abertura a nível arquidiocesano, a Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (Cohab) realizará a abertura paroquial da Campanha da Fraternidade, neste domingo com a Missa do 1º Domingo da Quaresma, às 17h na Igreja Matriz. Todas as comunidades da paróquia deverão estar presentes e, naquela cujo costume celebra-se a missa na parte da tarde, as celebrações estarão suspensas para que todos participem da celebração na Igreja Matriz.

Aproveitando a ocasião, na missa de abertura paroquial da campanha da fraternidade 2013, também será feito o rito de envio dos catequistas que trabalharão em todas as comunidades da paróquia neste ano de 2013. Ainda assim, na mesma celebração, também acontecerá o envio dos grupos que farão os encontros da Campanha da Fraternidade 2013 nas casas.

Informamos também que os livros dos encontros da campanha da fraternidade 2013, bem como da Via-Sacra (realizada todas as sextas-feiras às 16h na Matriz), encontram-se à venda na secretaria da paróquia.

Participe conosco deste momento de fé!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Nota do CONIC sobre a renúncia do Papa Bento XVI



O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, CONIC, que reúne as igrejas Católica Romana, Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Episcopal Anglicana do Brasil, Presbiteriana Unida e Sirian Ortodoxa de Antioquia, embora surpreso, expressa seu respeitoso acatamento à decisão de Sua Santidade, o Papa Bento XVI, em relação à sua não permanência  frente ao Ministério Petrino. 

Com profundo respeito, temos acompanhado como Bento XVI exerceu responsavelmente seu ministério. Esta responsabilidade pode ser identificada, inclusive, na própria decisão de renúncia.  

Na carta em que declara sua decisão, o Papa destaca que o “mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé”, exige vigor tanto do corpo quanto do espírito. Compartilha, em seguida, que este vigor, nos últimos meses, foi diminuindo, de tal modo, que precisou reconhecer a sua incapacidade para administrar bem o ministério que lhe foi confiado. 

Pedimos a Deus que abençoe o Papa Bento XVI, nestes últimos dias de Pontificado e que, no futuro, tenha condições de realizar o que ele mesmo afirma ser seu desejo: “servir de todo o coração, com uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus”. Igualmente, pedimos a Deus, que guie e abençoe a Igreja Católica Romana neste momento em que os cardeais devem eleger o novo Papa.


Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil
___________________________
Fonte: Conic