terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

50 anos da Campanha da Fraternidade



A Campanha da Fraternidade (CF) surgiu em Natal (RN). Os dirigentes do Serviço de Assistência Social (SAR) da Arquidiocese de Natal julgaram ser importante criar, entre os católicos, uma mentalidade de cooperação local às obras pastorais e sociais da Igreja.

O saudoso Cardeal Dom Eugênio de Araújo Sales buscou os meios para iniciar um grande projeto evangelizador. Ainda estudante em Roma, vai à Alemanha, de férias, e traz todo o material da estrutura de campanhas da Misereor, entidade do Episcopado Alemão que ajuda a toda Igreja. Os subsídios vindos da Europa foram traduzidos, adaptados à realidade brasileira e escolhido o nome: Campanha da Fraternidade.

A primeira experiência aconteceu na comunidade Timbó, da Arquidiocese de Natal. Experiência que continua dando frutos para toda a Igreja. O surgimento da CF não tinha pretensões nacionais. A primeira CF ficou circunscrita à Arquidiocese de Natal, em 1962.

A segunda CF, na Quaresma de 1963, abrangeu 25 Dioceses do Nordeste, dizendo: “Entre nós, iniciamos no ano passado essa campanha, que encontrou uma receptividade de nossas comunidades paroquiais. Ela é feita neste tempo, para significar o sacrifício da Quaresma de toda a comunidade diocesana, em favor de seus irmãos”.


Em 1964, o jornal diocesano “A Ordem”, de 15 de fevereiro, traz o seguinte título: CF realiza-se, este ano, em todo o Brasil”. Assim começa a matéria: “Iniciou-se nesta semana a Quaresma e, com a Quaresma, a Terceira CF, em Natal. Este ano, pela primeira vez, saiu como “Campanha Nacional com Dioceses de todo o País, tendo as mesmas finalidades”. Trata-se de uma oportunidade De os fiéis assumirem suas responsabilidades na manutenção das obras católicas e da evangelização. Inicialmente, há muitas idéias iluminadoras que fizeram nascer e crescer essa benemérita iniciativa, no dever de cada católico na manutenção das obras destinadas à expansão do Reino de Deus. Cito uma frase muito repetida nas origens: “Pedimos justiça, não esmola”, como o fortalecimento do espírito comunitário: “Somos fortes quando agimos como “membros” de uma comunidade viva”.

A CF é uma Campanha de apelo à participação ativa de todos os cristãos e homens de boa vontade na construção de uma sociedade mais justa, solidária e fraterna. A vivência da Quaresma tem, na CF, um valioso estímulo. Tempo de conversão, que se manifesta na fraternidade entre os irmãos e irmãs em Cristo. Os 50 anos da CF em âmbito nacional impõem uma reflexão sobre o seu alcance evangelizador. Neste ano, com o tema: “Fraternidade e Juventude” e o lema, inspirado no profeta Isaías 6,8: “Eis-me aqui, envia-me”. É um convite para nos convertermos e irmos ao encontro dos jovens e, ao mesmo tempo, é um convite aos jovens para se deixarem encontrar por Jesus Cristo. Oportunidade em que já preparamos o espírito missionário da JMJ Rio2013. Providencialmente, os 50 anos da CF em âmbito nacional serão celebrados nesta quaresma do Ano da Fé e do Ano da Juventude. Uma ocasião propícia para avaliar, celebrar o objetivo da CF nestes 50 anos de evangelização e, ao mesmo tempo, momento favorável para projetar o futuro.

Foi realizada uma vasta programação em comemoração aos 50 anos de história da CF nos dias 14 e 15 de fevereiro de 2013 em Nísia Floresta (RN) e em Natal (RN), com a participação de autoridades constituídas, artistas, missionários, jovens e fiéis de âmbito nacional, regional e local.

Que a CF seja sempre uma ocasião de mobilizar toda a Igreja e os seguimentos da sociedade na luta pela vida e pela evangelização.

Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena 
Bispo de Guarabira (PB)

Operário da Vinha do Senhor



Vaticano, Praça de S. Pedro, 19 de abril de 2005. Fiéis do mundo inteiro estavam lá, com os olhos fixos na pequena chaminé da Capela Sixtina. Quando apareceu a fumaça branca, todos explodiram em grito de alegria, na certeza de que o novo papa havia sido eleito. Os sinos da Basílica começaram a tocar. Pouco depois, foi proclamado “Habemus Papam” (Temos Papa!) e foi anunciado o nome do sucessor de João Paulo II: Cardeal Joseph Ratzinger, que escolheu o nome de Bento XVI. O novo Papa apareceu na sacada da Basílica, com um semblante sereno e tímido, acenou para a multidão e, como que pedindo desculpas por estar ali, disse suas primeiras palavras como sucessor de Pedro: “Sou um humilde operário da vinha do Senhor!”

Nessa sua auto-apresentação estava resumido o que ele pretendia fazer como sucessor de Pedro. O novo “operário da vinha do Senhor” sabia que não tinha o jeito de João Paulo II – isto é, a popularidade e a espontaneidade do papa polonês. Mas essa é a maneira de agir do Espírito Santo: sopra onde quer e como quer, não se repetindo, e escolhendo para cada momento da Igreja um “Pedro” diferente. 
Grande teólogo e profundo conhecedor dos desafios da Igreja, Bento XVI sabe apresentar as riquezas do Evangelho de forma simples e objetiva. Sua primeira encíclica – “Deus caritas est” (Deus é amor) – comprovou isso: “Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele (1Jo 4,16). Essas palavras da Primeira Carta de João exprimem, com singular clareza, o centro da fé cristã... O amor de Deus por nós é questão fundamental para a vida e coloca questões decisivas sobre quem é Deus e quem somos nós” (DC, 1 e 2).

Bento XVI tem a capacidade e a coragem de apontar a todos as exigências do seguimento de Cristo. Falando, por exemplo, a jovens, disse-lhes ter consciência de que só os conquistaria para Cristo se lhes falasse a verdade: “Os santos são os verdadeiros reformadores do mundo... Só dos santos, só de Deus provém a verdadeira revolução, a mudança decisiva do mundo... Não são as ideologias que salvam o mundo, mas unicamente a volta ao Deus vivo, que é o nosso criador, a garantia de nossa liberdade, a garantia daquilo que é realmente bom e verdadeiro... E o que nos pode salvar, a não ser o amor?... Não construímos para nós um Deus pessoal, um Jesus pessoal, mas cremos e nos prostramos diante daquele Jesus que nos é mostrado pelas Sagradas Escrituras e que na grande procissão dos fiéis chamada Igreja se revela vivo, sempre conosco e, ao mesmo tempo, sempre diante de nós” (20.08.05).

O Bispo de Roma, sucessor de Pedro, tem como missão ser o sinal visível de comunhão na Igreja. Entende-se, pois, a surpresa que tomou conta da Igreja e do mundo ao ser divulgada, na manhã da última segunda-feira, dia 11 de fevereiro de 2013, sua renúncia ao ministério que exerce. As razões que apresentou para essa decisão foram claras: “Minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino... Para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor esse que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado”.

Imagino quanta oração, reflexão e sofrimento precederam essa decisão, tomada conscientemente e com plena liberdade. Admirador de sua pessoa e de seus textos, e conhecendo-o pessoalmente desde 1985, sofri com sua decisão, mas a compreendi. Fica para nós o seu exemplo de humildade e de realismo: sentindo que não está mais em condições de exercer a função de “operário da vinha do Senhor” que havia assumido, renunciou, para não prejudicar a missão da Igreja. Ficam para nós seus ensinamentos, revestidos de uma imensa paixão por Jesus Cristo. Ficam para a Igreja seus livros sobre Jesus de Nazaré, que apresentam o Cristo vivo do Evangelho – o Cristo a quem Bento XVI dedicou sua vida e a quem quer servir agora na oração.

Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Mitos Litúrgicos



Quando eu era criança, tínhamos na creche que eu frequentava a "hora do conto", onde se contavam estórias sobre lendas infantis, como: chapeuzinho vermelho, lobo mau, branca de neve, sete anões, João e Maria, três porquinhos, Cinderela, Saci-Pererê, etc.

Infelizmente, tenho visto que muitos escritos sobre Liturgia editados no Brasil e muitos cursos de Liturgia ao nosso redor tem se tornado uma "hora do conto", onde se ensina mitos que não correspondem à verdade da doutrina e da disciplina da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

Não me refiro, evidentemente, à má intenção de quem promove ou ministra tais cursos, pois isto não cabe a mim julgar. A avaliação que faço aqui é puramente a nível de conteúdo.

Vejo que é freqüente se ensinar mitos como: "A Presença de Jesus na Palavra é tão completa como na Eucaristia; a Eucaristia é para ser comida e não para ser adorada; a adoração eucarística fora da Missa é ultrapassada; na consagração deve-se estar em pé; a noção da Missa como Sacrifício é ultrapassada; é mais expressivo no altar a imagem de Jesus Ressuscitado do que de Jesus crucificado; quem celebra a Missa não é o Padre, e sim toda a comunidade; a Igreja pode vir a ordenar mulheres; a Missa é para os fiéis; não se assiste à Missa; qualquer pessoa pode comungar; a absolvição comunitária substitui a confissão individual; é errado comungar na boca e de joelhos; a comunhão tem que ser em duas espécies; o Ministério extraordinário da Sagrada Comunhão existe para promover a participação dos leigos; o cálice e o cibório podem ser de qualquer material; os fiéis podem rezar junto a doxologia e a oração da paz; o sacerdote usar casula é algo ultrapassado; o Concílio Vaticano II aboliu o latim; para participar bem da Missa é preciso entender a língua que o padre celebra; o canto gregoriano é algo ultrapassado; atualmente o padre tem que rezar de frente para os fiéis; o Sacrário no centro é anti-litúrgico; não se deve ter imagens dos santos nas igrejas; cada comunidade deve ter a Missa do seu jeito; pode-se fazer tudo o que o Missal não proíbe; o padre é autoridade, por isso deve-se obedecê-lo em tudo; procurar obedecer à leis é farisaísmo; o que importa é o coração; a Missa Tridentina é antiquada; para celebrar a Missa Tridentina é preciso autorização do Bispo local; ir à Missa dominical não é obrigação." 

A diferença entre tais idéias e o autêntico pensamento católico é facilmente constatada, confrontando estes mitos aos documentos oficiais da Santa Igreja editados em Roma. São idéias que, evidentemente, não surgiram ao acaso, mas são fruto direto ou influência de uma teologia litúrgica modernista e incompatível com a autêntica teologia católica. Aqui na América Latina, muitas delas foram historicamente reforçadas pela disseminação de teologias importadas e da chamada "Teologia da Libertação", esta de caráter marxista, que é incompatível com o pensamento da Santa Igreja e faz uma releitura de toda teologia (inclusive da teologia litúrgica), como está expresso em diversos documentos do Sagrado Magistério (ver a "Instrução sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação", da Sagrada Congregação para Doutrina da Fé, de 06 de Agosto de 1984).

O objetivo deste artigo é expor abaixo cada um desses mitos litúrgicos citados e os contrapor com a palavra oficial da Santa Igreja. Todas as citações utilizadas sobre disciplina litúrgica, de documentos da Santa Igreja, se aplicam à forma do Rito Romano aprovada pelo Papa Paulo VI (que é atualmente a forma ordinária), com exceção dos mitos 30 e 31, que falam expressamente sobre a Missa Tridentina, que é a forma tradicional e (atualmente) extraordinária do Rito Romano.

Vamos aos mitos listados (32, ao todo) e suas contra-argumentações:

Educar pela Conquista e pela Fé



É forte em algumas crianças o desejo de se mostrar, aparecer, e isto às vezes é estimulado pelos pais, mas não é bom. Na criança, é inato o desejo de se destacar e se sentir melhor do que os irmãos e os amigos. É o orgulho e a presunção presentes em cada ser humano desde o pecado original.

Muitos querem ser “o bom” entre os demais. É comum ver os filhos “contarem vantagens” para os amigos, sobre o carro do pai, o passeio “fantástico” das férias, a roupa última da moda que a mãe lhe comprou, etc… Este é um defeito que os pais precisam coibir para que os filhos não cultivem o orgulho.

Ao invés disso, é dever dos pais ensinar-lhes a serem humildes, discretos, não desprezar os outros e não se acharem melhores do que os amigos.

Os adolescentes até criaram uma gíria para falar dos colegas que se comportam assim: “ele se acha!” o bom. Dá para ver que são criticados pelos demais, isto não é bom. Há pais que têm o mau hábito de exibir os filhos, como se fossem as melhores crianças do mundo. É claro que os pais têm satisfação de mostrar os seus filhos, mas isto deve ser feito com discrição. Isto acontece no lar, na rua, na casa dos outros principalmente, e até na igreja durante a celebração da Missa.

Tem mãe que parece levar a criança na Igreja mais para exibi-la do que para ensiná-la a rezar, ou porque não tem com quem a deixar em casa. Ora, deixemos de ser exibicionistas. Aquela criança passeando no meio da Igreja está tirando a atenção de quem está participando da Missa, a maior celebração da nossa fé. Além do mais, atrapalha o celebrante.

É preciso se conscientizar que os nossos filhos não são objetos de decoração, exibição e nem vitrines do nosso eu que deseja às vezes aparecer através deles. Os pais devem cultivar nos filhos as atitudes de sobriedade, discrição, respeito, acolhimento, etc; e não, como tanto se vê, atitudes de exibicionismo. Isto não faz bem à criança.
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Fonte: União de Blogs Católicos.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Uma liberdade que assusta!



Que liberdade é esta, surpreendente, desconcertante, desse Bento XVI? Onde encontrou luz, fibra, inspiração para tomar uma decisão tão importante deixando-se guiar somente pela sua consciência? Qual o segredo desse homem tão frágil fisicamente e tão gigante na fé?

O segredo é uma Pessoa, é Jesus Cristo nosso Senhor, em Quem o Santo Padre sempre teve seu olhar fixo! Seu amor a Jesus, sua intimidade com Jesus, sua entrega total a Jesus - eis o motivo de Bento XVI, o único, simples e absoluto motivo!


Sabem o que me impressiona e faz-me rir, meus amigos? É a tremenda hipocrisia de um mundo que vive falando em autenticidade, liberdade, em simplicidade, e quando encontra um homem tão autêntico, tão livre, tão simples quanto Bento XVI, fica apavorado, não o compreende e, então, sem compreender a simplicidade desarmada de seus motivos, a limpidez de sua palavra, fica a todo custo inventando motivos, procurando explicações complexas, criando conspirações e tramas...

Tudo porque não consegue suportar, não pode compreender, não é capaz de enquadrar a lógica de um homem que vive, pensa e age segundo o Evangelho.

Na verdade, nunca agradeceremos o bastante ao Santo Padre Bento XVI por este seu vívido e profético gesto de amor a Cristo e à Igreja!

Confesso sem acanhamento: esse homem é um gigante, diante do qual sinto-me miseravelmente pequeno.

Que orgulho tenho de Cristo, que gera homens assim, livres!

Que orgulho tenho da Igreja, minha Mãe, que mostra ao mundo pastores assim, generosos, preocupados do interesse de Cristo e não dos seus próprios!

Que gratidão deveríamos ter ao Senhor por presenciar gestos assim!



Dom Henrique Soares da Costa,
Bispo Titular de Acúfica e Auxiliar de Aracaju.

A amizade de João Paulo II e Bento XVI



“Desde o início senti uma grande simpatia, e graças a Deus, sem eu merecer, o então Cardeal me doou desde o início a sua amizade. Sou grato pela confiança que depositou em mim mesmo sem eu merecer. Sobretudo, vendo-o rezar, vi e não só compreendi que era um homem de Deus”, contou o Papa Bento XVI em entrevista a uma TV polonesa em 2005, relembrando como nasceu a amizade com o então Cardeal Karol Józef Wojtyła, no conclave de 1978.

Esta era a impressão fundamental de Bento XVI: Wojtyła era um homem que vivia, de fato, em Deus.

“Impressionou-me a cordialidade com a qual se encontrou comigo. Sem muitas palavras nasceu assim uma amizade que vinha propriamente do coração e logo depois de sua eleição o Papa me chamou diversas vezes em Roma para conversas e, por fim, me nomeou Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé”, conta o atual Pontífice.

Para Bento XVI o que mais chama a atenção no pontificado de João Paulo II é o respeito e a admiração conquistados dentro e fora da Igreja Católica. “O Santo Padre, com seus discursos, sua pessoa, sua presença, sua capacidade para convencer, criou uma nova sensibilidade para os valores morais, para a importância da religião no mundo”, destaca.

João Paulo II criou uma nova abertura e sensibilidade para os problemas da religião, para a necessidade da dimensão religiosa na vida do homem, e, para Bento XVI, o Papa polonês, sobretudo, mostrou de novo a importância do Bispo de Roma.

“Todos os cristãos reconheceram — mesmo com as diferenças e mesmo não o reconhecendo como sucessor de Pedro — que ele é o porta-voz do Cristianismo. Nenhum outro no mundo, em nível mundial, pode falar assim em nome da cristandade e dar voz e força, na atualidade do mundo, à realidade cristã”, ressalta Bento XVI.

Mas, mesmo para os não-cristãos e membros de outras religiões, era ele o porta-voz dos grandes valores da humanidade. Segundo Bento XVI, é importante ressaltar que o saudoso Papa conseguiu criar um clima de diálogo entre as grandes religiões, um senso comum de responsabilidade mundial e, para João Paulo II, a violência e as religiões são incompatíveis, todos juntos devemos buscar o caminho da paz.

Amor pela Juventude


“Somente uma personalidade com aquele carisma poderia conseguir que a juventude se entusiasmasse por Cristo e pela Igreja”, disse Bento XVI sobre João Paulo II.

“Antes de tudo, ele soube entusiasmar a juventude para Cristo. Isso é uma coisa nova, se pensamos na juventude de 1968 e dos anos 1970. Somente uma personalidade com aquele carisma poderia conseguir que a juventude se entusiasmasse por Cristo e pela Igreja. Somente ele poderia, de tal modo, conseguir mobilizar a juventude do mundo para a causa de Deus e pelo amor a Cristo”, afirmou Bento XVI.

João Paulo II criou na Igreja um novo amor pela Eucaristia, ressalta o Papa, criou um novo sentido pela grandeza da Divina Misericórdia; e também aprofundou muito o amor por Nossa Senhora e assim levou-nos a uma interiorização da fé e, ao mesmo tempo, a uma maior eficiência.

“Naturalmente, é preciso mencionar, como todos sabemos, também como foi essencial sua contribuição para as grandes mudanças do mundo, em 1989, com a queda do chamado socialismo real”, completa o atual pontífice.

Últimos Encontros


O Santo Padre recorda seus últimos encontros com João Paulo II no Hospital Gemelli, poucos dias antes de sua morte, e conta que o que mais lhe impressionou foi a doação completa do futuro beato à vontade de Deus.

“No primeiro encontro, o Papa sofria visivelmente, mas estava completamente lúcido e muito presente. Eu fui até ali simplesmente para um encontro de trabalho, porque era preciso tomar algumas decisões. O Santo Padre, mesmo sofrendo, seguia com grande atenção aquilo que eu falava. Ele me disse, em poucas palavras, suas decisões, deu-me sua benção, saudou-me em alemão recordando-me sua confiança e amizade”.

Para o então Cardeal Joseph Alois Ratzinger, aquele foi um momento comovente, como se o sofrimento de João Paulo II se unisse ao sofrimento de Deus, como se ele oferecesse o seu sofrimento a Deus e por Deus. Por outra parte, era possível ver como ele resplandecia uma serenidade interior e plena lucidez.

“O segundo encontro foi um dia antes de sua morte: estava obviamente sofrendo, rodeado por médicos e amigos. Ainda muito lúcido, deu-me sua bênção. Não podia falar muito. Para mim, essa paciência no sofrimento foi um grande ensinamento, sobretudo consegui ver e sentir como se estivesse nas mãos de Deus e como se ele se abandonasse à vontade Dele. Apesar das dores visíveis, estava sereno, porque estava nas mãos do Amor Divino”, recorda Bento XVI.
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Fonte: Canção Nova.
Disponível em: Amigos de João Paulo II.

Penúltimo "Angelus" de Bento XVI



Manhã de inverno, fria e enevoada, em Roma, neste primeiro domingo de Quaresma, com um tépido sol que pouco a pouco se foi manifestando. A 10 dias da cessação do ministério petrino de Bento XVI, por sua livre decisão de renúncia, anunciada segunda-feira passada, milhares e milhares de fiéis, sobretudo romanos, se concentraram na Praça de São Pedro, para este penúltimo encontro dominical do Angelus do pontificado do Papa Ratzinger. Presente também o presidente da Câmara da cidade, com vereadores e os estandartes municipais.

Depois da recitação das Ave-Marias, a concluir as saudações em diversas línguas, Bento XVI agradeceu aos numerosos presentes na Praça de São Pedro, mais este “sinal de afeto e de presença espiritual”, “manifestado nestes dias”. “Estou-vos profundamente grato”.

Um especial “muito obrigado” reservou-o o Papa às autoridades municipais de Roma e a “todos os habitantes desta amada Cidade”.
A concluir, para além de desejar a todos bom domingo e boa caminhada quaresmal, Bento XVI recordou os Exercícios Espirituais que iniciará ao fim do dia, juntamente com os responsáveis dos principais organismos da Cúria Romana. "Permaneçamos unidos na fé" - foi o pedido dirigido a toda a multidão, que o aplaudiu longamente.

“A Quaresma é um tempo favorável para redescobrirmos a fé em Deus como base da nossa vida e da vida da Igreja.” – esta a versão portuguesa do tweet enviado hoje por Bento XVI aos seus “seguidores”.
 
Uma mensagem concisa que bem resume a breve catequese proposta pelo Papa antes da reza do Angelus, comentando como habitualmente o Evangelho do dia, neste caso, as tentações de Jesus, na versão do Evangelho de São Lucas.

No momento de iniciar o seu ministério pública – explicou o Papa – “Jesus teve que desmascarar e rejeitar as falsas imagens do Messias que o tentador lhe propunha”. Aliás – observou – “estas tentações são também falsas imagens do homem, que em todos os tempos insidiam as consciências, disfarçando-se de propostas convenientes e eficazes, e porventura até mesmo boas. Três as tentações propostas pelos evangelistas Mateus e Lucas: “O núcleo central (destas tentações de Jesus) consiste sempre em instrumentalizar Deus para os próprios fins, dando mais importância ao sucesso ou aos bens materiais”.

O tentador é insidioso: não impele diretamente ao mal, mas a um falso bem, fazendo crer que as verdadeiras realidades são o poder e aquilo que satisfaz as necessidades primárias.

“Deus torna-se secundário, fica reduzido a um meio, em última análise torna-se irreal, deixa de contar, dissipa-se. Em última análise, nas tentações está em jogo a fé, porque está em jogo Deus. Nos momentos decisivos da vida – mas, bem vistas as coisas, em cada momento – estamos perante uma encruzilhada: queremos seguir o nosso eu ou Deus – o interesse individual ou o verdadeiro Bem, aquilo que realmente é bem?”

Quase a concluir a sua catequese, antes do Angelus deste domingo, Bento XVI recordou ainda que, para os Padres da Igreja, as tentações fazem parte da “descida” de Jesus na nossa condição humana, no abismo do pecado e das suas consequências. Uma “descida” que Jesus percorre até ao fim, até à morte de cruz e até aos “infernos” do extremo afastamento de Deus. É precisamente assim que Ele é a mão que Deus estende ao homem, à ovelha extraviada, para a trazer a salvo. Não tenhamos medo de enfrentarmos também nós a combate contra o espírito do mal: o importante é que o façamos com Ele, com Cristo, o Vencedor.
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Fonte: CNBB

Bento XVI: o que há por trás da renúncia.



«Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim, que preciso reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado».

Foi com essas palavras que, no dia 11 de fevereiro, durante uma reunião com os cardeais da Cúria romana, o Papa Bento XVI anunciou a sua renúncia ao pontificado.


Fazia tempo que ele pensava no assunto. Em 2010, na entrevista que concedeu ao jornalista Peter Seewald, fora claro: «Quando a dificuldade é grande, não se pode fugir e dizer: "Que outro se ocupe disso!”. Mas, se um papa percebe que já não tem condições físicas, mentais e espirituais para levar adiante as obrigações de seu cargo, tem o direito e, em algumas circunstâncias, o dever de se demitir».

Apesar de não ser novidade na Igreja, seu ato provocou perplexidades. A história lembra outros papas que renunciaram ou foram obrigados a fazê-lo: São Clemente (88/97), condenado ao exílio pelo imperador Domiciano, passou o cargo a Santo Evaristo; São Ponciano (230/235), desterrado pelo imperador Severo, deixou o lugar para Santo Antero; São Silvério (536/537) foi deposto e substituído pelo Papa Vigílio; São Martinho (649/655), degredado pelo imperador Constante II, acolheu de coração aberto a nomeação do sucessor, Santo Eugênio. Mais complicado foram os casos de Bento IX (1032/1045) e Gregório VI (1045/1046), forçados a deixar a função por mau comportamento.

O papa, porém, que, de acordo com a “Divina Comédia” de Dante Alighieri, «fez a grande renúncia", é São Celestino V. Seu pontificado nem chegou a quatro meses: de 29 de agosto a 13 de dezembro de 1294. Sentindo-se pequeno diante dos desafios da política eclesiástica, abandonou o cargo e recolheu-se à vida eremítica. O último papa a abdicar foi Gregório XII (1406/1415). Seu nome está ligado ao “Grande Cisma do Ocidente” (1378/1415), período em que tentaram ocupar o sólio pontifício dois – e, em dado momento, três – papas ao mesmo tempo. Para acabar com o escândalo, ele entregou sua demissão nas mãos de Martinho V (1417/1431).

O gesto de Bento XVI condiz com a sua visão do homem e da Igreja. A idade pesa. O cargo é exigente. A saúde diminui. Reconhecer os próprios limites e desapegar-se do poder é sabedoria e heroísmo. Pode-se servir à Igreja e à humanidade de mil maneiras. Para tanto, o que importa é tomar consciência de que há tempos e ocasiões diferentes, próprias de cada momento e de cada pessoa. Quem ama, sempre descobre o jeito certo de estar presente e atuante, mesmo quando, por qualquer motivo, precisa se retirar e deixar que outros ocupem o lugar que até agora lhe pertencia.

Evidentemente, a renúncia recebeu também outras interpretações, como a de Ferruccio De Bortoli, diretor do jornal italiano "Corriere della Sera", que a viu como resultado das intrigas que medram no Vaticano: «O ato do Papa foi encorajado pela insensibilidade de uma Cúria que, em vez de confortá-lo e apoiá-lo, apareceu, por diversos de seus expoentes, mais empenhada em jogos de poder e lutas fratricidas». De acordo com o cardeal brasileiro, Dom João Braz de Aviz, «entre os cardeais, há muita fidelidade, mas também tensões. Existem diferentes estilos, personalidades, formas de viver as coisas. Uns querem o diálogo, outros destacam a autoridade». O Pe. Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, parece sintetizar a opinião de uns e de outros: «O Papa é uma pessoa de grande realismo e conhece os problemas e as dificuldades. A renúncia foi uma mensagem à Cúria, mas também a todos nós. Foi um ato de humildade, sabedoria e responsabilidade».

Um ato que abre novos horizontes no modo de entender e de gerir a missão do papa na Igreja e que, por isso, fará história.



Dom Redovino Rizzardo 
Bispo de Dourados (MS)