sábado, 30 de março de 2013

Palavras do Papa Francisco na Via-Sacra

PAPA FRANCISCO
VIA-SACRA 2013

Amados irmãos e irmãs,

Agradeço-vos por terdes participado, em tão grande número, neste momento de intensa oração. E agradeço também a todos aqueles que se uniram a nós através dos meios de comunicação, especialmente aos doentes e aos idosos.

Não quero acrescentar muitas palavras. Nesta noite, deve permanecer uma única palavra, que é a própria Cruz. A Cruz de Jesus é a Palavra com que Deus respondeu ao mal do mundo. Às vezes parece-nos que Deus não responda ao mal, que permaneça calado. Na realidade, Deus falou, respondeu, e a sua resposta é a Cruz de Cristo: uma Palavra que é amor, misericórdia,perdão. É também julgamento: Deus julga amando-nos. Se acolho o seu amor, estou salvo; se o recuso, estou condenado, não por Ele, mas por mim mesmo, porque Deus não condena, Ele unicamente ama e salva.

Amados irmãos, a palavra da Cruz é também a resposta dos cristãos ao mal que continua a agir em nós e ao nosso redor. Os cristãos devem responder ao mal com o bem, tomando sobre si a cruz, como Jesus. Nesta noite, ouvimos o testemunho dos nossos irmãos do Líbano: foram eles que prepararam estas belas meditações e preces. De coração lhes agradecemos por este serviço e sobretudo pelo testemunho que nos dão. Vimo-lo quando o Papa Bento foi ao Líbano: vimos a beleza e a força da comunhão dos cristãos naquela Nação e da amizade de tantos irmãos muçulmanos e muitos outros . Foi um sinal para todo o Médio Oriente e para o mundo inteiro: um sinal de esperança. Então continuemos esta Via-Sacra na vida de todos os dias. Caminhemos juntos pela senda da Cruz, caminhemos levando no coração esta Palavra de amor e de perdão. Caminhemos esperando a Ressurreição de Jesus.
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Fonte: Zenit.
Disponível em: CNBB.

sexta-feira, 29 de março de 2013

A Cruz de Cristo é a resposta de Deus ao mal do mundo, diz Papa.




A tradicional Via Sacra no Coliseu, em Roma, teve início às 21h10 (horário local – 17h10 em Brasília) desta Sexta-feira Santa, 29, e foi presidida pelo Papa Francisco.

As meditações foram preparadas por jovens libaneses, sob a orientação do Patriarca Maronita do Líbano, Cardeal Béchara Boutros Raï, e revelaram um pouco das ansiedades e expectativas dos povos do Oriente Médio.

A reflexão da Via Sacra começou recordando uma pergunta feita a Jesus em sua passagem pela Judeia. “Alguém correu para Ele e ajoelhou-se perguntando: “Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?” (Mc 10, 17).

“A esta pergunta, que arde no mais fundo do nosso ser, Jesus deu resposta percorrendo o caminho da cruz. Contemplamo-Vos, Senhor, nesta estrada, sendo Vós o primeiro que a seguistes e, no fim dela, ‘lançastes a vossa cruz como uma ponte através da morte, a fim de que os homens pudessem passar da terra da morte para a da Vida’”, destacou o texto das meditações, que teve, como uma de suas inspirações para a elaboração, a Exortação Apóstolica “Ecclesia in Medio Oriente”.


Como é costume, a cada estação a Cruz foi carregada por pessoas de várias partes do mundo, como sinal da redenção de Cristo por todos.

Na primeira estação, a Cruz foi levado pelo Vigário para a Diocese de Roma, Cardeal Agostino Vallini. Na segunda, foi a vez de uma família italiana conduzir o símbolo, e na terceira, uma família indiana.

Na quarta e na quinta estação, a Cruz foi carregada por uma senhora de cadeira de rodas, e na sexta e sétima, por jovens sacerdotes chineses. Na oitava e nova estação, foi a vez de um sacerdote italiano e outro da Síria, para recordar a Terra Santa.

Na décima estação, a Cruz foi levada por religiosas, representando a África, na 11ª estação, por uma religiosa do Líbano, representando o Oriente Médio, e na 12ª e 13ª estação, dois brasileiros levaram a Cruz, representando a América Latina. E na 14ª e última estação, o Cardeal Vallini voltou a carregar a Cruz.

Palavras do Papa



Na conclusão da Via Sacra, o Papa Francisco dirigiu algumas palavras aos fiéis, destacando que, nesta noite, os cristãos devem permanecer com uma única palavra: a Cruz.

“A Cruz de Jesus é a palavra com que Deus respondeu ao mal do mundo. Às vezes parece que Deus não respondeu ao mal, que permaneceu calado. Na realidade ele falou, respondeu e sua resposta é a Cruz de Cristo. Uma palavra que é amor, misericórdia, perdão e também julgamento. Deus julga amando-nos”, destacou.

O Papa explicou que as pessoas que acolhem o amor de Deus estão salvas, porém, as que o recusam, estão condenadas, “não por Ele”, mas por si próprias. “Deus não condena, Ele unicamente ama e salva”.

E se dirigindo aos cristãos, o Papa Francisco afirmou que a “Palavra da Cruz é também a resposta dos cristãos ao mal que continua a agir ao nosso redor. Os cristãos devem responder ao mal com o bem, tomando sobre a si a Cruz, como Jesus”.

Por fim, o Papa convidou a todos a caminharem juntos na senda da Cruz, levando no coração esta Palavra de amor e perdão, esperando a ressurreição de Cristo, que ama a todos, e concluiu com sua  benção apostólica

A Via Sacra é uma oração que tem como objetivo meditar a paixão, morte e ressurreição de Cristo.

Neste sábado, o Papa Francisco irá presidir a Missa da Vigília Pascal às 21h (horário de Roma – 17h no Brasil).


Kelen Galvan
Da Redação
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Fonte: Canção Nova.


Homilia do Frei Cantalamessa na celebração da Sexta-feira Santa no Vaticano.



“Justificados gratuitamente por meio da fé no sangue de Cristo”

“Todos pecaram e se privaram da glória de Deus, mas foram justificados gratuitamente pela sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus. Deus o predeterminou para a propiciação por meio da fé no seu sangue [...], para provar a sua justiça no tempo presente, a fim de que ele seja justo e justifique aquele que tem fé em Jesus” (Rm 3, 23-26).

Chegamos ao ápice do ano da fé e ao seu momento decisivo. Esta é a fé que salva, “a fé que vence o mundo” (1 Jo 5,5)! A fé – apropriação, pela qual tornamos nossa a salvação operada por Cristo e nos vestimos do manto da sua justiça. Por um lado, temos a mão estendida de Deus, que oferece a sua graça ao homem; por outro, a mão do homem, que se estende para recebê-la mediante a fé. A “nova e eterna aliança” é selada com um aperto de mão entre Deus e o homem.


Nós temos a possibilidade de tomar, neste dia, a decisão mais importante da vida, aquela que nos abre de par em par os portões da eternidade: acreditar! Acreditar que “Jesus morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para a nossa justificação” (Rm 4, 25)! Numa homilia pascal do século IV, o bispo proclamava estas palavras excepcionalmente contemporâneas e, de certa forma, existenciais: “Para cada homem, o princípio da vida é aquele a partir do qual Cristo foi imolado por ele. Mas Cristo se imola por ele no momento em que ele reconhece a graça e se torna consciente da vida que aquela imolação lhe proporcionou” (Homilia de Páscoa no ano de 387; SCh 36, p. 59 s.).

Que extraordinário! Esta Sexta-feira Santa, celebrada no ano da fé e na presença do novo sucessor de Pedro, poderá ser, se quisermos, o início de uma nova vida. O bispo Hilário de Poitiers, que se converteu ao cristianismo quando já era adulto, afirmava, ao repensar na sua vida passada: “Antes de te conhecer, eu não existia”.

O necessário é apenas nos situarmos na verdade, reconhecermos que precisamos ser justificados, que não nos auto-justificamos. O publicano da parábola subiu ao templo e fez uma brevíssima oração: “Ó Deus, tem piedade de mim, pecador”. E Jesus diz que aquele homem foi para casa “justificado”, ou seja, transformado em homem justo, perdoado, feito criatura nova; cantando alegremente, penso eu, dentro do seu coração (Lc 18,14). O que ele tinha feito de tão extraordinário? Nada. Ele se colocou na verdade diante de Deus, e esta é a única coisa de que Deus precisa para agir.

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Como o alpinista que, superando uma passagem perigosa, faz uma parada para retomar o fôlego e admirar a paisagem que se abre à sua frente, assim o apóstolo Paulo, no início do capítulo quinto da Carta aos Romanos, depois de proclamar a justificação pela fé, escreve: “Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus graças a nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus; não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência produz a experiência, e a experiência, a esperança. Ora, a esperança não nos decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5. 1-5).

Hoje, a partir de satélites artificiais, são tiradas fotografias infravermelhas de regiões inteiras da terra e de todo o planeta. Como é diferente a paisagem vista de cima, à luz desses raios, em comparação com o que vemos à luz natural e estando presentes no local! Eu me lembro de uma das primeiras fotos de satélite que correram o mundo, reproduzindo a península inteira do Sinai. As cores eram muito diferentes, eram mais evidentes os relevos e as depressões. É um símbolo. A vida humana, vista pelo infravermelho da fé, do alto do Calvário, também se mostra diferente de como é vista “a olho nu”.

“Tudo”, dizia o sábio do Antigo Testamento, “acontece para o justo e para o ímpio… Percebi que, sob o sol, em vez da lei existe a iniquidade, e, no lugar da justiça, a maldade” (Eclesiastes 3, 16; 9, 2). Em todos os tempos, de fato, viu-se a maldade triunfante e a inocência humilhada. Mas para que não se pense que no mundo não há nada de fixo e de certo, observa Bossuet, às vezes se vê o oposto, ou seja, a inocência no trono e a maldade no cadafalso. Mas o que o Eclesiastes concluía? “Então eu pensei: Deus julgará o justo e o ímpio, porque há um tempo para cada coisa” (Eclesiastes 3, 17). Ele encontra o ponto de observação que devolve a paz à alma.

O que o Eclesiastes não podia saber, mas que nós sabemos, é que esse juízo já aconteceu: “Agora”, diz Jesus, caminhando para a sua paixão, “é o julgamento deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo; e eu, quando for levantado da terra, atrairei todos para mim” (Jo 12, 31-32).

Em Cristo morto e ressuscitado, o mundo chegou ao seu destino final. O progresso da humanidade avança a um ritmo vertiginoso e a humanidade vê desenrolar-se, à sua frente, horizontes novos e inesperados, fruto das suas descobertas. Pode-se dizer, porém, que já chegou o fim do tempo, porque em Cristo, que subiu à direita do Pai, a humanidade encontrou o seu objetivo final. Já começaram os novos céus e a nova terra.

Apesar de toda a miséria, injustiça e monstruosidade na terra, ele já inaugurou a ordem definitiva no mundo. O que vemos com os nossos olhos pode nos sugerir o contrário, mas o mal e a morte foram, na verdade, derrotados para sempre. As suas fontes secaram; a realidade é que Jesus é o Senhor do mundo. O mal foi vencido radicalmente pela redenção que ele realizou. O novo mundo já começou.

Uma coisa, acima de tudo, parece diferente quando vista através dos olhos de fé: a morte! Cristo entrou na morte como se entra numa prisão escura, mas saiu dela pela muralha oposta. Ele não voltou por onde tinha entrado, como Lázaro, que tornara à vida para depois morrer de novo. Cristo abriu uma brecha para a vida que ninguém poderá fechar e pela qual todos podem segui-lo. A morte não é mais um muro contra o qual se parte toda esperança humana; ela se tornou uma ponte para a eternidade. Uma “ponte dos suspiros”, talvez, porque ninguém gosta do fato de morrer, mas uma ponte, não mais um abismo que engole tudo. “O amor é forte como a morte”, diz o Cântico dos Cânticos (8,6). Em Cristo, ele é mais forte do que a morte!

Na sua “História Eclesiástica do Povo Inglês”, Beda, o Venerável, relata como a fé cristã chegou até o norte da Inglaterra. Quando os missionários vindos de Roma chegaram a Northumberland, o rei do lugar convocou um conselho de notáveis para decidir se permitia ou não que eles divulgassem a nova mensagem. Alguns dos presentes foram a favor, outros contra. Era um inverno rigoroso, açoitado pela nevasca lá fora, mas a sala estava iluminada e aquecida. Em dado momento, um pássaro entrou por um buraco na parede, pairou assustado na sala e desapareceu por outro buraco, na parede oposta. Então, levantou-se um dos presentes e disse: “Rei, a nossa vida neste mundo é como aquele pássaro. Viemos não sabemos de onde, desfrutamos por um breve instante da luz e do calor deste mundo e depois desaparecemos de novo na escuridão, sem saber para onde estamos indo. Se estes homens podem nos revelar alguma coisa do mistério da nossa vida, devemos ouvi-los”.

A fé cristã poderia voltar ao nosso continente e ao mundo secularizado pela mesma razão por que já entrou nele antes: como a única que tem uma resposta segura para dar às grandes questões da vida e da morte.
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A cruz separa os crentes dos não crentes, porque, para alguns, ela é escândalo e loucura, e, para outros, é poder de Deus e sabedoria de Deus (cf. I Cor 1, 23-24). Em sentido mais profundo, ela une todos homens, crentes e não crentes. “Jesus tinha que morrer [...] não por uma nação, mas para reunir todos os filhos de Deus que andavam dispersos” (Jo 11, 51 s.). Os novos céus e a nova terra são de todos e para todos, porque Cristo morreu por todos.

A urgência decorrente de tudo isto é evangelizar: “O amor de Cristo nos impele, ao pensarmos que um só morreu por todos” (II Cor 5,14). Impele a evangelizar! Vamos anunciar ao mundo a boa notícia de que “não há nenhuma condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus, porque a lei do Espírito que dá vida em Cristo Jesus nos libertou da lei do pecado e da morte” (Rm 8, 1-2).

Há um conto, do judeu Franz Kafka, que é um poderoso símbolo religioso e que assume um novo significado, quase profético, na Sexta-Feira Santa: “Uma Mensagem Imperial”. Fala de um rei que, em seu leito de morte, chama um súdito e lhe sussurra ao ouvido uma mensagem. É tão importante aquela mensagem que ele faz o súdito repeti-la ao seu próprio ouvido. O mensageiro parte, logo em seguida. Mas ouçamos o resto da história diretamente do autor, com o tom onírico, de pesadelo, quase, que é típico deste escritor:

“Projetando um braço aqui, outro acolá, o mensageiro abre alas por entre a multidão e avança ligeiro como ninguém. Mas a multidão é imensa, e as suas moradas, exterminadas. Como voaria se tivesse via livre! Mas ele se esforça em vão; ainda continua a se afanar pelas salas interiores do palácio, do qual nunca sairá. E mesmo que conseguisse, isto nada quereria dizer: ele teria que lutar para descer as escadas. E mesmo que conseguisse, ainda nada teria feito: haveria que cruzar os pátios; e, depois dos pátios, o segundo círculo dos edifícios. Se conseguisse precipitar-se, finalmente, para fora da última porta – mas isso nunca, nunca poderá acontecer – eis que, diante dele, alçar-se-ia a cidade imperial, o centro do mundo, em que montanhas de seus detritos se amontoam. Lá no meio, ninguém é capaz de avançar, nem mesmo com a mensagem de um morto. Tu, no entanto, te sentas à tua janela e sonhas com aquela mensagem quando a noite vem”.

Do seu leito de morte, também Cristo confiou à sua Igreja uma mensagem: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15). Ainda existem muitos homens que se sentam à janela e sonham, sem saber, com uma mensagem como a dele. João, como acabamos de ouvir, afirma que o soldado perfurou o lado de Cristo na cruz “para que se cumprisse a Escritura, que diz: Hão-de olhar para Aquele que trespassaram” (Jo 19, 37). No Apocalipse, ele acrescenta: “Eis que vem sobre as nuvens e todo olho o verá; até os mesmos que o trespassaram, e todas as tribos da terra se lamentarão por ele” (Ap 1,7).

Esta profecia não anuncia a última vinda de Cristo, quando já não for o tempo da conversão, mas do julgamento. Ela descreve, em vez disso, a realidade da evangelização dos povos. Nela ocorre uma vinda misteriosa, mas real, do Senhor que traz a salvação. O seu pranto não será de desespero, mas de arrependimento e de consolação. Este é o significado da profecia da Escritura, que João vê realizada no lado trespassado de Cristo, ou seja, o texto de Zacarias 12, 10: “Derramarei sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém o Espírito de graça e de consolação; eles olharão para mim , para aquele a quem trespassaram”.

A evangelização tem uma origem mística; é um dom que vem da cruz de Cristo, daquele lado aberto, daquele sangue e água. O amor de Cristo, como o da Trindade, do qual é a manifestação histórica, é “diffusivum sui”, tende a se expandir e chegar a todas as criaturas, “especialmente as mais necessitadas da sua misericórdia”. A evangelização cristã não é conquista, não é propaganda; é o dom de Deus para o mundo em seu Filho Jesus. É dar ao Chefe a alegria de sentir a vida fluir do seu coração para o seu corpo, até vivificar os seus membros mais distantes.

Temos de fazer todo o possível para que a Igreja nunca se pareça ao castelo complicado e assombroso descrito por Kafka, e para que a mensagem possa sair dela tão livre e alegre como quando começou a sua corrida. Sabemos quais são os impedimentos que podem reter o mensageiro: as muralhas divisórias, começando por aquelas que separam as várias igrejas cristãs umas das outras; a burocracia excessiva; os resíduos de cerimoniais, leis e disputas do passado, que se tornaram, enfim, apenas detritos.

Em Apocalipse, Jesus diz que ele está à porta e bate (Ap 3:20). Às vezes, como foi observado por nosso Papa Francisco, não bater para entrar, mas batendo de dentro porque ele quer sair. Sair para os “subúrbios existenciais do pecado, o sofrimento, a injustiça, ignorância e indiferença à religião, de toda forma de miséria.”

Acontece como em certas construções antigas. Ao longo dos séculos, para adaptar-se às exigências do momento, houve profusão de divisórias, escadarias, salas e câmaras. Chega um momento em que se percebe que todas essas adaptações já não respondem às necessidades atuais; servem, antes, de obstáculo, e temos então de ter a coragem de derrubá-las e trazer o prédio de volta à simplicidade e à linearidade das suas origens. Foi a missão que recebeu, um dia, um homem que orava diante do crucifixo de São Damião: “Vai, Francisco, e reforma a minha Igreja”.

“Quem está à altura dessa tarefa?”, perguntava-se o Apóstolo, aterrorizado, diante da tarefa sobre-humana de ser no mundo “o aroma de Cristo”; e eis a sua resposta, que é verdade também agora: “Não é que sejamos capazes de pensar alguma coisa como se viesse de nós; a nossa capacidade vem de Deus. Ele nos fez idôneos para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito, pois a letra mata, mas o Espírito dá vida” (II Cor 2, 16; 3, 5-6).

Que o Espírito Santo, neste momento em que se abre para a Igreja um novo tempo, cheio de esperança, redesperte nos homens que estão à janela a esperança da mensagem e, nos mensageiros, a vontade de levá-la até eles, mesmo que ao custo da própria vida.

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Fonte: Canção Nova.

A traição de Judas Iscariotes



A Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus refletem o amor de Deus para com os homens, o mergulho do Deus soberano na miséria da humanidade. Depois do evento Jesus as profundezas de nossas vidas, todas as nossas fragilidades são esquadrinhadas por Deus e a ele passam a pertencer. De dentro ele nos redime e expressa assim a plenitude do espírito humano, voltado sempre ao divino e dele sedento. Meditamos sobre a misericórdia, sobre amor, sobre Justiça e injustiça, mas o que muitas vezes não está resolvido em nossas meditações e orações é a nossa própria injustiça, a forma como tratamos a salvação, o perdão, o amor de Deus. Um grande desafio para nossa fé diz respeito a uma das figuras envolvidas diretamente na trama para matar Jesus: Judas Iscariotes que a partir de agora trataremos de O caso Judas. 

Para tratar deste caso, devemos compreender o seu alcance. A história nos jogou neste grande desafio: o que Judas fez foi escolha dele ou foi predestinação? Ele foi escolhido pra trair? Ou escolheu ser o traidor? Se Jesus entrou em oração e escolheu os que quis, o fato de ter escolhido Judas, demonstrava que ele preparou o traidor? E relativa a Deus mesmo, como pode ser Deus misericordioso se para redimir a humanidade teve que condenar um homem a ser lembrando na história dos homens como o traidor do Filho de Deus? Algumas respostas foram dadas e devem ser examinadas para evitar que tenhamos uma imagem distorcida acerca de Deus e da própria humanidade. Alguns acreditavam que Judas deveria ser apresentado à humanidade como modelo porque foi graças à sua atitude frente a Jesus que tivemos acesso aos dons que nos salvam. Neste sentido, Judas seria um tipo de herói dramático pois, o seu trabalho sujo garantiu a libertação da humanidade.  Algumas variações dão a entender que o próprio Jesus teria preparado Judas para ser o traidor e assim colocar em rotação definitiva a roda da salvação. Outra corrente alega que Judas Iscariotes por sua adesão ideológica a movimentos populares e revolucionários do tempo de Jesus acreditava como muitos que Jesus era o Messias, entretanto, o Messias guerreiro, que pelo poder evocaria as forças de Deus para libertar o seu povo. A decisão de Judas é então a ajuda necessária para que Jesus se manifestasse frente aos inimigos. Traiu para apressar Jesus a se revelar como Messias guerreiro. Ao perceber que Jesus não seria o que ele esperava, entrou em profunda agonia e tirou a própria vida. Estas respostas expressam tentativas de defender Judas Iscariotes, podem até conseguir porque ambas as imagens possuem adeptos, entretanto, as duas encobrem aquilo que é mais significativo em todo o caso Judas: a liberdade do homem. 

quinta-feira, 28 de março de 2013

Papa celebra Missa da Ceia do Senhor.



O Papa Francisco presidiu na tarde desta Quinta-feira Santa, 28, a Missa da Ceia do Senhor no Instituto Penal para Menores de “Casal del Marmo”, em Roma.

No início de sua homilia, o Santo Padre classificou como “comovente” o gesto de Jesus que lavou os pés dos discípulos e comentou a narração do Evangelho que relata este acontecimento.

“Jesus que lava os pés dos seus discípulos. Pedro não entendia nada, rejeitava isto. Mas Jesus lhe explicou. Jesus – Deus – fez isto! E ele mesmo explica aos discípulos: ‘Entenderam aquilo que eu fiz para vocês? Vocês me chamam de Mestre e Senhor, e o dizem bem, porque o sou. Se então eu, o Senhor e Mestre, lavei os pés de vocês, também vocês devem lavar os pés uns dos outros. Dei-lhes o exemplo, de fato, para que também vocês façam como eu’”, disse o Papa, citando as palavras de Jesus.

O pontífice frisou este gesto do Cristo como um exemplo a ser seguido pelo cristãos, principalmente pelos que são autoridade. “Ele é o mais importante e mesmo assim lava os pés, para que também entre nós, aquele que está numa posição mais elevada, esteja a serviço dos outros. Este é um símbolo, é um sinal, não? Lavar os pés que dizer ‘eu estou a seu serviço’”.




Em seguida, o Santo Padre explicou o que significa lavar os pés uns dos outros. “E também nós, entre nós, não é que devemos lavar os pés todos os dias uns dos outros, mas, o que significa isto? Que devemos nos ajudar, um ao outro. Às vezes fico irritado com alguém, mas…., deixa prá. E, se depois ele te pede um favor, faça este favor para ele”.

O Pontífice convidou aos presentes a vivenciarem o exercício da ajuda mútua pois, segundo ele, é o que Jesus ensina. “E isso é aquilo que eu faço, e o faço de coração, porque é meu dever”, disse o Papa com relação ao gesto de ajudar.

“Como Sacerdote e como Bispo devo estar a seu serviço, mas é um dever que me vem do coração: amar o outro. Amo isso e amo fazê-lo porque o Senhor assim me ensinou. Mas também vocês: ajudem-se, ajudem-se sempre. Um ao outro. E assim, nos ajudando mutuamente, faremos o bem”, disse ainda.

O Papa concluiu a homilia convidando os presentes a refletirem: “Eu, verdadeiramente estou disposto, estou disposta a servir, a ajudar o outro?” Pensemos somente isto, convidou o Pontífice. “E pensemos que este gesto é um carinho que Jesus nos faz, porque Jesus veio justamente para isto: para servir, para nos ajudar”.

Ao final da cerimônia um dos jovens dirigiu-se ao Santo Padre agradecendo a sua visita e lhe perguntou: “Eu quero saber uma coisa: por que você veio hoje aqui em Casal del Marmo? Só quero saber isto e basta!”

Papa Francisco respondeu ao jovem: “É um sentimento que veio do coração, eu senti isto. Onde estão aqueles que talvez me ajudarão a ser mais humilde, a ser servidor como deve ser um bispo. E eu pensei, e eu perguntei: “Onde estão aqueles que gostariam de uma visita? E me disseram: ‘Casal Del Marmo, talvez’. E quando me disseram isto, decidi vir aqui. Mas isto veio do coração, somente do coração. As coisas do coração não tem explicação, elas vem sozinhas. Obrigado!”

Por fim, ao se despedir, Papa Francisco disse: “Agora me despeço. Muito obrigado. Rezem por mim e não deixem que vos roubem a esperança. Sempre em frente. Muito obrigado”.

A celebração da Ceia do Senhor em locais de caráter social era uma postura comum ao Cardeal Bergoglio, quando ainda estava na Argentina. Na Missa desta quinta-feira, 28, 12 jovens foram escolhidos para participarem da cerimônia do lava-pés.
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Da redação, com Rádio Vaticano
Disponível em: Canção Nova.

Homilia do Papa Francisco na Missa do Crisma.



Basílica Vaticana – Missa do Crisma
Quinta-feira Santa, 28 de março de 2013

Amados irmãos e irmãs,

Com alegria, celebro pela primeira vez a Missa Crismal como Bispo de Roma. Saúdo com afeto a todos vós, especialmente aos amados sacerdotes que hoje recordam, como eu, o dia da Ordenação.

As Leituras e o Salmo falam-nos dos “Ungidos”: o Servo de Javé referido por Isaías, o rei Davi e Jesus nosso Senhor. Nos três, aparece um dado comum: a unção recebida destina-se ao povo fiel de Deus, de quem são servidores; a sua unção “é para” os pobres, os presos, os oprimidos… Encontramos uma imagem muito bela de que o santo crisma “é para” no Salmo 133: “É como óleo perfumado derramado sobre a cabeça, a escorrer pela barba, a barba de Aarão, a escorrer até à orla das suas vestes” (v. 2). Este óleo derramado, que escorre pela barba de Aarão até à orla das suas vestes, é imagem da unção sacerdotal, que, por intermédio do Ungido, chega até aos confins do universo representado nas vestes.

As vestes sagradas do Sumo Sacerdote são ricas de simbolismos; um deles é o dos nomes dos filhos de Israel gravados nas pedras de ónix que adornavam as ombreiras do efod, do qual provém a nossa casula atual: seis sobre a pedra do ombro direito e seis na do ombro esquerdo (cf. Ex 28, 6-14). Também no peitoral estavam gravados os nomes das doze tribos de Israel (cf. Ex 28, 21). Isto significa que o sacerdote celebra levando sobre os ombros o povo que lhe está confiado e tendo os seus nomes gravados no coração. Quando envergamos a nossa casula humilde pode fazer-nos bem sentir sobre os ombros e no coração o peso e o rosto do nosso povo fiel, dos nossos santos e dos nossos mártires, que são tantos neste tempo.


Depois da beleza de tudo o que é litúrgico – que não se reduz ao adorno e bom gosto dos paramentos, mas é presença da glória do nosso Deus que resplandece no seu povo vivo e consolado –, fixemos agora o olhar na ação. O óleo precioso, que unge a cabeça de Aarão, não se limita a perfumá-lo a ele, mas espalha-se e atinge “as periferias”. O Senhor dirá claramente que a sua unção é para os pobres, os presos, os doentes e quantos estão tristes e abandonados. A unção, amados irmãos, não é para nos perfumar a nós mesmos, e menos ainda para que a conservemos num frasco, pois o óleo tornar-se-ia rançoso… e o coração amargo.

O bom sacerdote reconhece-se pelo modo como é ungido o seu povo; temos aqui uma prova clara. Nota-se quando o nosso povo é ungido com óleo da alegria; por exemplo, quando sai da Missa com o rosto de quem recebeu uma boa notícia. O nosso povo gosta do Evangelho quando é pregado com unção, quando o Evangelho que pregamos chega ao seu dia a dia, quando escorre como o óleo de Aarão até às bordas da realidade, quando ilumina as situações extremas, “as periferias” onde o povo fiel está mais exposto à invasão daqueles que querem saquear a sua fé.

As pessoas agradecem-nos porque sentem que rezamos a partir das realidades da sua vida de todos os dias, as suas penas e alegrias, as suas angústias e esperanças. E, quando sentem que, através de nós, lhes chega o perfume do Ungido, de Cristo, animam-se a confiar-nos tudo o que elas querem que chegue ao Senhor: “Reze por mim, padre, porque tenho este problema”, “abençoe-me, padre”, “reze para mim”… Estas confidências são o sinal de que a unção chegou à orla do manto, porque é transformada em súplica – súplica do Povo de Deus. Quando estamos nesta relação com Deus e com o seu Povo e a graça passa através de nós, então somos sacerdotes, mediadores entre Deus e os homens.

O que pretendo sublinhar é que devemos reavivar sempre a graça, para intuirmos, em cada pedido – por vezes inoportuno, puramente material ou mesmo banal (mas só aparentemente!) –, o desejo que tem o nosso povo de ser ungido com o óleo perfumado, porque sabe que nós o possuímos. Intuir e sentir, como o Senhor sentiu a angústia permeada de esperança da hemorroíssa quando ela Lhe tocou a fímbria do manto. Este instante de Jesus, no meio das pessoas que O rodeavam por todos os lados, encarna toda a beleza de Aarão revestido sacerdotalmente e com o óleo que escorre pelas suas vestes. É uma beleza escondida, que brilha apenas para aqueles olhos cheios de fé da mulher atormentada com as perdas de sangue. Os próprios discípulos – futuros sacerdotes – não conseguem ver, não compreendem: na “periferia existencial”, vêem apenas a superficialidade duma multidão que aperta Jesus de todos os lados quase O sufocando (cf. Lc 8, 42). Ao contrário, o Senhor sente a força da unção divina que chega às bordas do seu manto.

É preciso chegar a experimentar assim a nossa unção, com o seu poder e a sua eficácia redentora: nas “periferias” onde não falta sofrimento, há sangue derramado, há cegueira que quer ver, há prisioneiros de tantos patrões maus. Não é, concretamente, nas auto-experiências ou nas reiteradas introspecções que encontramos o Senhor: os cursos de auto-ajuda na vida podem ser úteis, mas viver a nossa vida sacerdotal passando de um curso ao outro, de método em método leva a tornar-se pelagianos, faz-nos minimizar o poder da graça, que se ativa e cresce na medida em que, com fé, saímos para nos dar a nós mesmos oferecendo o Evangelho aos outros, para dar a pouca unção que temos àqueles que não têm nada de nada.

O sacerdote, que sai pouco de si mesmo, que unge pouco – não digo “nada”, porque, graças a Deus, o povo nos rouba a unção –, perde o melhor do nosso povo, aquilo que é capaz de ativar a parte mais profunda do seu coração presbiteral. Quem não sai de si mesmo, em vez de ser mediador, torna-se pouco a pouco um intermediário, um gestor. A diferença é bem conhecida de todos: o intermediário e o gestor “já receberam a sua recompensa”. É que, não colocando em jogo a pele e o próprio coração, não recebem aquele agradecimento carinhoso que nasce do coração; e daqui deriva precisamente a insatisfação de alguns, que acabam por viver tristes, padres tristes, e transformados numa espécie de coleccionadores de antiguidades ou então de novidades, em vez de serem pastores com o “cheiro das ovelhas” – isto vo-lo peço: sede pastores com o “cheiro das ovelhas”, que se sinta este –, serem pastores no meio do seu rebanho e pescadores de homens. É verdade que a chamada crise de identidade sacerdotal nos ameaça a todos e vem juntar-se a uma crise de civilização; mas, se soubermos quebrar a sua onda, poderemos fazer-nos ao largo no nome do Senhor e lançar as redes. É um bem que a própria realidade nos faça ir para onde, aquilo que somos por graça, apareça claramente como pura graça, ou seja, para este mar que é o mundo atual onde vale só a unção – não a função – e se revelam fecundas unicamente as redes lançadas no nome d’Aquele em quem pusemos a nossa confiança: Jesus.

Amados fiéis, permanecei unidos aos vossos sacerdotes com o afeto e a oração, para que sejam sempre Pastores segundo o coração de Deus.

Amados sacerdotes, Deus Pai renove em nós o Espírito de Santidade com que fomos ungidos, o renove no nosso coração de tal modo que a unção chegue a todos, mesmo nas “periferias” onde o nosso povo fiel mais a aguarda e aprecia. Que o nosso povo sinta que somos discípulos do Senhor, sinta que estamos revestidos com os seus nomes e não procuramos outra identidade; e que ele possa receber, através das nossas palavras e obras, este óleo da alegria que nos veio trazer Jesus, o Ungido. Amém.

Nota de Repúdio

Movimento Nacional de Cidadania pela Vida -
Brasil sem Aborto.


O Movimento Nacional da Cidadania pela Vida – Brasil sem Aborto vem a público repudiar a Circular 46/2013 do Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgada no dia 12 de março e mais amplamente difundida no último dia 20, na qual se propõe a descriminalização do aborto em diversas situações, inclusive, pela simples vontade da gestante, até a 12ª semana de gestação.

Na tentativa de justificar a iniciativa, o presidente do CFM afirma em sua página que a restrição à 12ª semana motiva-se em que “a partir de então o sistema nervoso central já estará formado”. Surpreende que um médico possa dizer isso. Deixando de parte o fato de que a dignidade humana independe da formação de sistema nervoso, qualquer estudante do segundo ano de Medicina já aprende, em suas aulas de embriologia, que os doze pares de nervos cranianos se formam durante a quinta e a sexta semanas do desenvolvimento. Que na nona semana ocorre a inervação dos músculos, e a criança em formação salta dentro do útero, exercitando perninhas e bracinhos, organizando as conexões nervosas. Que na décima semana de gestação o embrião está praticamente todo formado e, a partir daí, haverá basicamente a maturação e crescimento dos órgãos e sistemas do bebê.


Justifica-se o aborto com base em uma pretensa “autonomia da mulher”. Desconsidera-se, assim, o direito à vida, primeiro de todos os direitos, cláusula pétrea da nossa Constituição. Além disso, é preciso dizer que na maior parte das vezes a decisão pelo aborto parte do homem, que deseja se desobrigar da criança que ajudou a gerar, e leva a mulher – por vezes, não sem violência – a procurar o aborto.

A verdadeira solução do problema do aborto está na prevenção, no trabalho educativo para que se evitem gravidezes indesejadas, no apoio à mulher que se encontra em situações difíceis, na vigilância pública de clínicas clandestinas e na devida punição dos responsáveis por elas.

Se o aborto é o problema, o aborto não pode ser a solução.



Lenise Garcia
Presidente Nacional

Jaime Ferreira Lopes
Vice-Presidente Nacional Executivo

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Fonte: Comissão Nacional dos Diáconos. 

Papa Francisco celebra a Missa do Crisma.



O Papa Francisco celebrou na manhã desta Quinta-feira Santa, que abre o Tríduo Pascal, a Missa do Crisma na Basílica Vaticana.


Em sua homilia, falou da simbologia dos ungidos, seja na forma, seja no conteúdo. A beleza de tudo o que é litúrgico, explicou, não se reduz ao adorno e bom gosto dos paramentos, mas é presença da glória do nosso Deus que resplandece no seu povo vivo e consolado.


“O óleo precioso, que unge a cabeça de Aarão, não se limita a perfumá-lo, mas se espalha e atinge «as periferias». O Senhor dirá claramente que a sua unção é para os pobres, os presos, os doentes e quantos estão tristes e abandonados. A unção não é para perfumar a nós mesmos, e menos ainda para que a conservemos num frasco, pois o óleo tornar-se-ia rançoso... e o coração amargo.”


Para Francisco, o bom sacerdote reconhece-se pelo modo como é ungido o seu povo: “Nota-se quando o povo é ungido com óleo da alegria; por exemplo, quando sai da Missa com o rosto de quem recebeu uma boa notícia. O nosso povo gosta do Evangelho quando é pregado com unção, quando o Evangelho que pregamos chega ao seu dia a dia, quando escorre como o óleo de Aarão até às bordas da realidade, quando ilumina as situações extremas, «as periferias» onde o povo fiel está mais exposto à invasão daqueles que querem saquear a sua fé”.



Ser sacerdote é estar nesta relação com Deus e com o seu povo, pois assim a graça passa através dele para ser mediador entre Deus e os homens. Esta graça, todavia, precisa ser reavivada, para intuir o desejo do povo de ser ungido e experimentar o seu poder e a sua eficácia redentora: “Nas «periferias» onde não falta sofrimento, há sangue derramado, há cegueira que quer ver, há prisioneiros de tantos patrões maus”. 


Não é nas reiteradas introspecções que encontramos o Senhor, adverte o Pontífice, nem mesmo nos cursos de autoajuda. O poder da graça cresce na medida em que, com fé, saímos para nos dar a nós mesmos oferecendo o Evangelho aos outros, para dar a pouca unção que temos àqueles que nada têm.


“O sacerdote que sai pouco de si mesmo, que unge pouco, perde o melhor do nosso povo, aquilo que é capaz de ativar a parte mais profunda do seu coração presbiteral. Quem não sai de si mesmo, em vez de ser mediador, torna-se pouco a pouco um intermediário, um gestor. Daqui deriva precisamente a insatisfação de alguns, em vez de serem pastores com o «cheiro das ovelhas», pastores no meio do seu rebanho, e pescadores de homens.” 


Para enfrentar a crise de identidade sacerdotal, que se soma à crise de civilização, Papa Francisco convida a lançar as redes em nome Daquele em que depositamos a nossa confiança: Jesus.


E conclui: “Amados fiéis, permanecei unidos aos vossos sacerdotes com o afeto e a oração, para que sejam sempre Pastores segundo o coração de Deus. Amados sacerdotes, Deus Pai renove em nós o Espírito de Santidade com que fomos ungidos, o renove no nosso coração de tal modo que a unção chegue a todos, mesmo nas «periferias» onde o nosso povo fiel mais a aguarda e aprecia”. 
(BF)
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Cidade do Vaticano (RV)
Fonte: News.Va