Neste dia 2 de novembro celebramos o dia de Finados, momento de fazer memória aos parentes e amigos já falecidos, em uma manifestação pública de afeto. Para os cristãos, este é também o momento de olhar para o futuro e ter o conforto de saber que o nosso destino está em Deus e que a morte nada mais é do que o nascimento para a vida eterna. A Igreja nos convida neste dia a comemorar todos os fiéis defuntos, a voltar o nosso olhar a tantos rostos que nos precederam e que concluíram o caminho terreno. Para nós cristãos a morte é iluminada pela ressurreição de Cristo e para renovar a nossa fé na vida eterna.
A liturgia do dia de Finados poderia ser chamada também de liturgia da esperança, pois, a vitória sobre a morte é o critério da esperança do cristão. Diante da morte a resposta do cristão deve ser: “A vida não é tirada, mas transformada”. E esta resposta baseia-se na fé na Ressurreição de Jesus. Somos unidos com Ele na vida e na morte. Somente quem pode reconhecer uma grande esperança na morte, pode também viver uma vida a partir da esperança. O homem tem necessidade de eternidade e esse desejo de eternidade foi o que Jesus veio trazer quando disse: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá” (Jo 11,25-26).
A Palavra de vida e de esperança é um profundo conforto para nós, face ao mistério da morte, especialmente quando atinge as pessoas que nos são mais queridas. Embora nos tenhamos entristecido porque tivemos que nos separar delas, e ainda nos amargura a sua falta, a fé nos enche de íntimo alívio perante o pensamento de que, como aconteceu para o Senhor Jesus e sempre graças a Ele, a morte já não tem qualquer poder sobre eles (cf. Rm 6,9). Passando, nesta vida, através do Coração misericordioso de Cristo, eles entraram “num lugar de descanso” (Sb 4,7).
A liturgia da Comemoração dos Fiéis Defuntos convida-nos a descobrir que o projeto de Deus para o homem é um projeto de vida. No horizonte final do homem não está a morte, o fracasso, o nada, mas está a comunhão com Deus, a realização plena do homem, a felicidade definitiva, a vida eterna.
A liturgia do dia de Finados poderia ser chamada também de liturgia da esperança, pois, a vitória sobre a morte é o critério da esperança do cristão. Diante da morte a resposta do cristão deve ser: “A vida não é tirada, mas transformada”. E esta resposta baseia-se na fé na Ressurreição de Jesus. Somos unidos com Ele na vida e na morte. Somente quem pode reconhecer uma grande esperança na morte, pode também viver uma vida a partir da esperança. O homem tem necessidade de eternidade e esse desejo de eternidade foi o que Jesus veio trazer quando disse: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá” (Jo 11,25-26).
A Palavra de vida e de esperança é um profundo conforto para nós, face ao mistério da morte, especialmente quando atinge as pessoas que nos são mais queridas. Embora nos tenhamos entristecido porque tivemos que nos separar delas, e ainda nos amargura a sua falta, a fé nos enche de íntimo alívio perante o pensamento de que, como aconteceu para o Senhor Jesus e sempre graças a Ele, a morte já não tem qualquer poder sobre eles (cf. Rm 6,9). Passando, nesta vida, através do Coração misericordioso de Cristo, eles entraram “num lugar de descanso” (Sb 4,7).
A liturgia da Comemoração dos Fiéis Defuntos convida-nos a descobrir que o projeto de Deus para o homem é um projeto de vida. No horizonte final do homem não está a morte, o fracasso, o nada, mas está a comunhão com Deus, a realização plena do homem, a felicidade definitiva, a vida eterna.
No Evangelho, Jesus deixa claro que o objetivo
final da sua missão é dar aos homens o “pão” que conduz à vida eterna. Para
aceder a essa vida, os discípulos são convidados a “comer a carne” e a “beber o
sangue” de Jesus – isto é, a aderir à sua pessoa, a assimilar o seu projeto, a
interiorizar a sua proposta. A Eucaristia cristã (o “comer a carne” e beber o
sangue” de Jesus) é, ao longo da nossa caminhada pela terra, um momento
privilegiado de encontro e de compromisso com essa vida nova e definitiva que
Jesus veio oferecer.
Na segunda leitura, Paulo garante aos cristãos de
Tessalônica que Cristo virá de novo, um dia, para concluir a história humana e
para inaugurar a realidade do mundo definitivo; todo aquele que tiver aderido a
Jesus e se tiver identificado com Ele irá ao encontro do Senhor e permanecerá
com Ele para sempre.
Na primeira leitura, Isaías anuncia e descreve o
“banquete” que Deus, um dia, vai oferecer a todos os Povos. Com imagens muito
sugestivas, o profeta sugere que o fim último da caminhada do homem é o
“sentar-se à mesa” de Deus, o partilhar a vida de Deus, o fazer parte da
família de Deus. Dessa comunhão com Deus resultará, para o homem, a felicidade
total, a vida definitiva.
Jesus Cristo ilumina o mistério da dor e nos ensina a olhar a morte além da angústia e do medo. Ele venceu o lado angustiante da morte, através da sua Ressurreição, pela qual foi possível abrir a porta da esperança para a eternidade. Cristo transformou a morte, que anteriormente era vista como um túnel escuro e sem saída, em uma passagem luminosa, um caminho para a Páscoa.
Cristo morreu e ressuscitou e nos abriu a passagem para a casa do Pai, o Reino da vida e da paz. Quem segue Jesus nesta vida é recebido onde Ele nos precedeu. Portanto, enquanto visitamos os cemitérios, recordemo-nos que ali, nos túmulos, repousam só os despojos dos nossos entes queridos na expectativa da ressurreição final. As suas almas, como diz a Sagrada Escritura, já “estão nas mãos de Deus” (Sb 3,1). Portanto, o modo mais justo e eficaz de os honrarmos é rezar por eles, oferecendo atos de fé, de esperança e de caridade em união ao Sacrifício Eucarístico (cf. BENTO PP XVI, Angelus, 1 de novembro de 2009).
O dia de finados é sempre excelente ocasião, não somente para rezar pelos nossos irmãos já falecidos, mas também para alagarmos nosso conceito de vida, pensarmos no modo como estamos vivendo, bem como reforçarmos a nossa esperança de um dia estarmos todos diante do Pai. Portanto, a nossa oração pelos defuntos é útil e também necessária, enquanto ela não só os pode ajudar, mas ao mesmo tempo torna eficaz a sua intercessão em nosso benefício (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 958).
Cada Santa Missa possui um valor infinito e é o que temos de mais valioso para oferecer pelas almas. Também podemos oferecer por elas as indulgências que lucramos na terra: as nossas orações; a melhor maneira de demonstrarmos o nosso amor pelos nossos parentes e amigos e por todos os que nos precederam e esperam o seu encontro definitivo com Deus.
Nas nossas orações, peçamos para que também nós, peregrinos na terra, mantenhamos sempre orientados os olhos e o coração para a meta derradeira pela qual aspiramos, a casa do Pai, o Céu. E que o Senhor nos conceda, no final da nossa peregrinação terrestre, uma morte santa e que possamos estar entre os seus escolhidos para que Ele possa dizer neste dia a cada um de nós: “Vinde, benditos de meu Pai, recebei como herança o reino que para vós está preparado desde a criação do mundo” (Mt 25,34). Assim seja.
Jesus Cristo ilumina o mistério da dor e nos ensina a olhar a morte além da angústia e do medo. Ele venceu o lado angustiante da morte, através da sua Ressurreição, pela qual foi possível abrir a porta da esperança para a eternidade. Cristo transformou a morte, que anteriormente era vista como um túnel escuro e sem saída, em uma passagem luminosa, um caminho para a Páscoa.
Cristo morreu e ressuscitou e nos abriu a passagem para a casa do Pai, o Reino da vida e da paz. Quem segue Jesus nesta vida é recebido onde Ele nos precedeu. Portanto, enquanto visitamos os cemitérios, recordemo-nos que ali, nos túmulos, repousam só os despojos dos nossos entes queridos na expectativa da ressurreição final. As suas almas, como diz a Sagrada Escritura, já “estão nas mãos de Deus” (Sb 3,1). Portanto, o modo mais justo e eficaz de os honrarmos é rezar por eles, oferecendo atos de fé, de esperança e de caridade em união ao Sacrifício Eucarístico (cf. BENTO PP XVI, Angelus, 1 de novembro de 2009).
O dia de finados é sempre excelente ocasião, não somente para rezar pelos nossos irmãos já falecidos, mas também para alagarmos nosso conceito de vida, pensarmos no modo como estamos vivendo, bem como reforçarmos a nossa esperança de um dia estarmos todos diante do Pai. Portanto, a nossa oração pelos defuntos é útil e também necessária, enquanto ela não só os pode ajudar, mas ao mesmo tempo torna eficaz a sua intercessão em nosso benefício (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 958).
Cada Santa Missa possui um valor infinito e é o que temos de mais valioso para oferecer pelas almas. Também podemos oferecer por elas as indulgências que lucramos na terra: as nossas orações; a melhor maneira de demonstrarmos o nosso amor pelos nossos parentes e amigos e por todos os que nos precederam e esperam o seu encontro definitivo com Deus.
Nas nossas orações, peçamos para que também nós, peregrinos na terra, mantenhamos sempre orientados os olhos e o coração para a meta derradeira pela qual aspiramos, a casa do Pai, o Céu. E que o Senhor nos conceda, no final da nossa peregrinação terrestre, uma morte santa e que possamos estar entre os seus escolhidos para que Ele possa dizer neste dia a cada um de nós: “Vinde, benditos de meu Pai, recebei como herança o reino que para vós está preparado desde a criação do mundo” (Mt 25,34). Assim seja.
Comentário dos Textos Bíblicos
Textos: Is 25,6a.7-9; 1 Tes 4,13-18; Jo 6,51-58
Na primeira leitura, o profeta anuncia que Deus, num futuro sem data
marcada, vai oferecer “um banquete”; e, para esse “banquete”, Javé vai convidar
“todos os povos”. Trata-se, portanto, de uma iniciativa de Deus no sentido de
estabelecer laços “de família” com a humanidade inteira.
O cenário do “banquete” é “este monte” (vers. 6) –
evidentemente, o monte do Templo, em Jerusalém, a “casa de Javé”, o lugar onde
Deus reside no meio do seu Povo, o lugar onde Israel presta culto a Javé e
celebra os sacrifícios de comunhão. Aceitar o convite de Deus para o “banquete”
significará, portanto, participar no culto a Javé, ser acolhido na casa de Javé,
entrar no “espaço íntimo” e familiar de Deus e sentar-se com ele à mesa.
Nesse “banquete” serão servidos “manjares
suculentos”, “comida de boa gordura”, “vinhos deliciosos” e “puríssimos” (vers.
6). As expressões sublinham a abundância de vida – e de vida com qualidade –
com que Deus vai cumular os seus convidados.
Para os que aceitarem o convite para o “banquete”,
iniciar-se-á uma nova era, de comunhão íntima com Deus e de vida sem fim. O
profeta sugere a comunhão total entre Deus e os homens que então se iniciará,
com a indicação de que será removido “o véu que cobria todos os povos, o pano
que envolvia todas as nações” (vers. 7) e que impedia o contacto total com o
mundo de Deus. Por outro lado, o profeta sugere o início da nova era de paz e
de felicidade sem fim, dizendo que Deus vai destruir a morte para sempre, vai
enxugar “as lágrimas de todas as faces” e vai eliminar “o opróbrio que pesa
sobre o seu Povo” (vers.8).
O “banquete” termina com um cântico de acção de
graças que evoca, provavelmente, uma fórmula usada na aclamação de um novo rei
(vers. 9). Significa que, com o “banquete” que o Messias vai oferecer, se
iniciará o reinado de Deus sobre toda a terra.
O profeta está, sem dúvida, a descrever os tempos
messiânicos. Na perspectiva do profeta, serão tempos de comunhão total de Deus
com o homem e do homem com Deus. Dessa intimidade entre Deus e o homem
resultará, para o homem, a felicidade total, a vida verdadeira e plena.
A nossa finitude, as nossas limitações, os nossos medos
e misérias não são a última palavra da nossa existência; mas caminhamos todos
ao encontro da festa definitiva que Deus prepara para todos os que aceitam o
seu dom.
Ao homem basta-lhe aceitar o convite de Deus para
ter acesso a essa festa de vida eterna. Aceitar o convite de Deus significa
renunciar ao egoísmo, ao orgulho e à auto-suficiência e conduzir a existência
de acordo com os valores de Deus; aceitar o convite de Deus implica dar
prioridade ao amor, testemunhar os valores do Reino e construir, já aqui, uma
nova terra de justiça, de solidariedade, de partilha, de amor. No dia do nosso
batismo, aceitamos o convite de Deus e comprometemo-nos com Ele… A nossa vida
tem sido coerente com essa opção?
De acordo com os “Atos dos Apóstolos”, Paulo não
teve muito tempo para evangelizar os tessalonicenses. Depois de poucas semanas
de pregação, um motim habilmente preparado pelos judeus da cidade obrigou-o a
partir precipitadamente de Tessalônica, deixando atrás de si uma comunidade
cristã fervorosa e entusiasta, mas insuficientemente preparada do ponto de
vista catequético (cf. At 17,1-10). Paulo foi para Bereia, depois para Atenas e
Corinto. De Corinto, Paulo enviou Timóteo ao encontro dos tessalonicenses, para
verificar como é que a comunidade se estava a aguentar face à hostilidade dos
judeus. No regresso a Corinto, Timóteo deu conta a Paulo da situação da
comunidade: os tessalonicenses continuavam a viver com entusiasmo o seu
compromisso cristão, embora sentissem algumas dúvidas em questões de fé e de
doutrina.
Um dos problemas teológicos que mais preocupava os
tessalonicenses era a questão da parusia (regresso de Jesus, no final dos
tempos)… Paulo e as primeiras gerações cristãs acreditavam que esse dia
surgiria num espaço de tempo muito curto e que assistiriam ao triunfo final de
Jesus. A este propósito os tessalonicenses punham, no entanto, um problema
muito prático: qual será a sorte dos cristãos que morrerem antes da segunda
vinda de Cristo? Como poderão sair ao encontro de Cristo vitorioso e entrar com
Ele no Reino de Deus se já estão mortos?
É então que Paulo escreve aos tessalonicenses,
encorajando-os na fé e respondendo às suas dúvidas. Estamos no ano 50 ou 51. O
texto que nos é proposto é parte desse esclarecimento sobre a parusia que Paulo
incluiu na carta.
Antes de mais, Paulo confirma aquilo que,
provavelmente, já antes havia ensinado aos tessalonicenses: que Cristo virá
para concluir a história humana; e que todo aquele que tiver aderido a Cristo e
se tiver identificado com Ele, esteja morto ou esteja vivo, encontrará a
salvação (vers. 14). Se Cristo recebeu do Pai a vida que não acaba, quem se
identifica com Cristo está destinado a uma vida semelhante; a morte não tem
poder sobre ele… Isto deve encher de esperança o cristão, mantendo-o alegre,
sereno e cheio de ânimo.
Como é que se concretizará isso? Como é que aqueles
que já morreram assistirão ao triunfo final de Cristo?
Paulo não é demasiado explícito, pois está
consciente de que se trata de uma realidade misteriosa, que foge à lógica e à
linguagem humanas. De qualquer forma, para descrever a passagem do homem velho
para a realidade do homem novo que vive para sempre junto de Deus, Paulo vai recorrer
ao gênero literário “apocalipse”, um gênero literário que utiliza
preferentemente a imagem e o símbolo (afinal, a linguagem mais adaptada para
expressar uma realidade que nos ultrapassa e que não conseguimos definir e
explicar nos seus detalhes). O quadro que Paulo traça é o seguinte: aqueles
crentes que, entretanto, morreram ressuscitarão primeiro (“à voz do arcanjo”,
“ao som da trombeta de Deus” – elementos típicos da escatologia judaica);
depois, em companhia de “nós, os vivos”, irão ao encontro do Senhor que vem na
sua glória, e permanecerão com Ele para sempre.
Em qualquer caso, o que está aqui em causa não é a
definição do quadro fotográfico da última vinda do Senhor… O que Paulo aqui
pretende é tranquilizar os tessalonicenses, assegurando-lhes que não haverá
qualquer diferença ou discriminação entre os que morreram antes da segunda
vinda de Jesus e aqueles que permanecerem vivos até esse instante: uns e outros
encontrar-se-ão com o Senhor Jesus, partilharão o seu triunfo e entrarão com
Ele na glória.
Isso não quer dizer que devamos ignorar as coisas
boas deste mundo, vivendo apenas à espera da recompensa futura, no céu; quer
dizer que a nossa existência deve ser – já neste mundo – uma busca da vida e da
felicidade; isso implicará uma não conformação com tudo aquilo que nos rouba a
vida e que nos impede de alcançar a felicidade plena, a perfeição última (a nós
e a todos os homens nossos irmãos).
O trecho que nos é proposto como Evangelho
situa-nos na sinagoga de Cafarnaum (cf. Jo 6,59) e no contexto do discurso
sobre o “pão da vida”. Ao longo desse discurso, Jesus afirmou repetidamente que
era “o pão que desceu do céu para dar vida ao mundo”; aqui, no entanto, vai
ainda mais além: convida os seus interlocutores a comer a sua carne e a beber o
seu sangue.
As palavras de Jesus parecem conter uma referência
clara à Eucaristia. O discurso sobre o “pão da vida” (cf. Jo 6,22-58)
ficou, portanto, no esquema de João, com o seguinte enquadramento lógico: os
homens buscam o pão material; Jesus traz-lhes o “pão do céu que dá vida ao
mundo”; e o pão eucarístico realiza, de forma plena, a missão de Jesus no
sentido de dar vida ao homem.
Depois de se apresentar como “o pão vivo que desceu
do céu” para dar aos homens a vida definitiva (vers. 51a), Jesus identifica
esse “pão” com a sua “carne” (vers. 51b). A palavra “carne” (em grego: “sarx”)
designa a realidade física do homem, na sua condição débil, transitória e
caduca. Ora, foi precisamente na “carne” de Jesus – isto é, no seu corpo físico
– que se manifestou, em gestos concretos, a sua doação e o seu amor até ao
extremo. Na realidade física de Jesus, Deus tornou-Se presente e visível no
meio dos homens, mostrou a sua vontade de comunicar com os homens e
manifestou-lhes o seu amor. É esta “carne” (isto é, a sua vida física, o
“lugar” onde Deus se manifesta aos homens e lhes mostra o seu amor) que Jesus
vai dar a “comer” para que o mundo tenha vida.
Os judeus não entendem as palavras de Jesus (vers.
51). Quando Jesus Se apresentou como “pão vivo descido do céu para dar a vida
ao mundo”, eles entenderam que Jesus pretendia ser uma espécie de “mestre de
sabedoria” que trazia aos homens palavras de Deus (também isso, eles tinham
dificuldade em aceitar; mas, pelo menos, entendiam aonde Ele queria chegar)…
Mas agora Jesus fala em “comer” a sua carne. O que significam as suas palavras?
São palavras difíceis de entender, se não nos colocarmos numa perspectiva
eucarística; e, por isso, os judeus não as entendem… Para a comunidade de João,
contudo, as palavras de Jesus são claras, pois são entendidas tendo em conta a
celebração e o significado da Eucaristia.
Na sequência, Jesus reitera a sua afirmação, desta
vez com mais desenvolvimentos: Ele não só vai dar a comer a sua carne, mas
também a beber o seu sangue; e quem os aceitar, recebe vida definitiva (vers.
53-54). A referência ao sangue coloca-nos no contexto da paixão e da morte.
Dizer que Jesus é carne significa que Ele Se tornou pessoa como nós, assumiu a
nossa condição de debilidade, aceitando passar, até, pela experiência da morte.
Dizer que o pão que Ele há de dar é a sua “carne para a vida do mundo”
significa que Jesus fez da sua vida um dom, uma “entrega” por amor aos homens;
e que o momento mais alto dessa vida feita “dom” e “entrega” é a morte na cruz.
Na cruz, manifestou-se, através da “carne” de Jesus – isto é, através da sua
realidade física – o seu amor, o seu dom, a sua entrega… Ora, é essa realidade
que se manifestou na cruz – realidade de amor, de doação, de entrega – que os
discípulos são convidados a comer e a beber. Comer e beber significam, neste
contexto, “aderir”, “acolher”, interiorizar”, “assimilar”.
A questão é, portanto, esta: Jesus não está a falar
da sua carne física e do seu sangue físico… Está a pedir, simplesmente, que os
seus discípulos acolham e assimilem essa vida de amor, de dom, de entrega, que
Ele mostrou na sua pessoa (isto é, nos seus gestos, no seu amor, na sua doação
aos homens) e que teve a sua expressão mais radical na cruz, quando Jesus, por
amor, ofereceu totalmente a sua vida, até à última gota de sangue. Quem
“acolher” e “assimilar” esta vida e aceitar viver da mesma forma – no amor e no
dom total da vida, até à morte – terá vida plena e definitiva.
A Eucaristia atualiza esta realidade na comunidade
cristã e na vida dos crentes. Esse mesmo Jesus que amou até às últimas
consequências, que pôs a sua vida ao serviço dos homens, que Se deu na cruz,
oferece-Se como alimento aos seus. O discípulo que participa da Eucaristia,
isto é, que “come” e que “bebe” a “carne” e o “sangue” de Jesus, assimila esta
proposta e compromete-se a viver e a dar a vida como Ele (vers. 55).
Um dos efeitos de comer a carne e beber o sangue de
Jesus é ficar em união íntima, em comunhão de vida com Jesus. O discípulo que
interioriza a proposta de Jesus identifica-se com Ele e torna-se um com Ele
(vers. 56). O cristão é, antes de mais, alguém que recebe vida de Jesus e vive
em união com Ele.
Outro efeito de comer a carne e beber o sangue de
Jesus é comprometer-se com o mesmo projeto de Jesus. Jesus Cristo foi enviado
pelo Pai ao mundo para dar vida ao mundo e o seu plano consiste em concretizar
esse projeto; o cristão assimila esse mesmo projeto e dedica toda a sua
existência a concretizá-lo no meio dos homens (vers. 57).
É neste caminho que se chega a essa vida plena e
definitiva que Jesus veio propor aos homens. Do comer a carne e beber o sangue
de Jesus nascerá uma nova humanidade de gente livre, que venceu a morte e que
vive para sempre (vers. 58).
O discurso que João põe na boca de Jesus não se
dirige aos judeus (pois os judeus não eram capazes de entender as palavras de
Jesus), mas dirige-se aos discípulos. O seu objetivo é explicar o programa de
Jesus, pedir aos discípulos que assimilem esse programa e o testemunhem no meio
dos homens. A Eucaristia cristã (comer a carne e beber o sangue) é, assim, uma
forma privilegiada de “atualizar” na vida dos crentes a vida e o amor de Jesus,
de estar em comunhão com Jesus, de “assimilar” o projeto de Jesus e de o
concretizar no mundo.
Como é que chegamos a adquirir essa vida
verdadeira e definitiva? O Evangelho afirma, categoricamente, que quem
aceita comer a carne e beber o sangue de Jesus viverá eternamente. Ora, comer a
carne e beber o sangue de Jesus é, antes de mais, acolher, assimilar e
interiorizar essa proposta de vida que Jesus nos fez (com a sua Palavra, com o
seu exemplo, com os seus gestos, com o seu amor); é, como Jesus, colocar a
própria vida ao serviço dos projetos de Deus e fazer da própria existência um dom
de amor aos irmãos. Este programa de vida não é, como é notório para qualquer
um de nós, demasiado apreciado numa cultura como a nossa, fortemente marcada
pelo egoísmo, pelo individualismo e pela auto-suficiência. Que não restem,
contudo, dúvidas: só encontraremos essa vida plena e eterna a que aspiramos,
seguindo Jesus, assimilando os seus valores, fazendo da nossa vida um serviço a
Deus e aos irmãos com quem nos cruzamos nos caminhos do mundo. Se aceitarmos
conduzir a vida de acordo com esses parâmetros, o horizonte final da nossa
caminhada por esta terra não é a morte, mas a vida eterna.
A Eucaristia é um momento privilegiado de
encontro com esse Cristo que Se faz “dom” e que vem ao nosso encontro para nos
oferecer a vida plena e definitiva. Participar no encontro eucarístico, comer a
carne e beber o sangue de Jesus é encontrar-se, hoje, com esse Cristo que veio
ao encontro dos homens e que tornou presente na sua “carne” (na sua pessoa
física) uma vida feita amor, partilha, entrega, até ao dom total de Si mesmo na
cruz (“sangue”). Para nós, os crentes, a Eucaristia – mais do que um rito que
cumprimos por obrigação ou por tradição – tem de ser um momento privilegiado de
encontro e de compromisso com Jesus e com essa vida nova e eterna que Ele
continuamente nos oferece.
Sentar-se à mesa da Eucaristia é identificar-se
com Jesus, aceitar viver em união com Ele. Na Eucaristia, o alimento servido é
o próprio Cristo. Por isso, é a própria vida de Cristo que passa a circular nos
crentes. Quem acolhe essa vida que Jesus oferece torna-se um com Ele. Comer
cada domingo (ou cada dia) à mesa com Jesus desse alimento que Ele próprio dá e
que é a sua pessoa, leva os crentes a uma comunhão total de vida com Jesus e a
fazer parte da família do próprio Jesus. Convém termos consciência desta
realidade: celebrar a Eucaristia é aprofundarmos os laços familiares que nos
unem a Jesus, identificarmo-nos com Ele, deixarmos que a sua vida circule em
nós. O crente, alimentado pela Eucaristia, identificado com Jesus, transformado
num homem novo, transporta consigo dinamismos de vida eterna.
Finalmente, o comer a carne e beber o sangue de Jesus implica um compromisso com esse mesmo projeto que Jesus procurou concretizar em toda a sua vida, em todos os seus gestos, em todas as suas palavras. O crente que celebra a Eucaristia tem de levar ao mundo e aos homens essa vida que aí recebe… Tem de lutar, como Jesus, contra a injustiça, o egoísmo, a opressão, o pecado; tem de esforçar-se, como Jesus, por eliminar tudo o que desfeia o mundo e causa sofrimento e morte; tem de construir, como Jesus, um mundo de liberdade, de amor e de paz; tem de testemunhar, como Jesus, que a vida verdadeira é aquela que se faz amor, serviço, partilha, doação até às últimas consequências. O crente que come a carne e que bebe o sangue de Jesus torna-se uma fonte de onde brota, para o mundo e para os homens, a vida eterna.
Para Refletir
A comemoração de Todos os Fiéis Defuntos coloca toda a Igreja diante do mistério da morte. É um dia dominado pela saudade afetuosa das pessoas falecidas que nós amávamos quando vivas. No dia 02 de novembro a Igreja convida-nos, com maior insistência, a rezar e a oferecer sufrágios pelos fiéis defuntos do Purgatório. Com esses nossos irmãos, que “ também, participaram da fragilidade própria de todo o ser humano, sentimos o dever- que é ao mesmo tempo uma necessidade do coração – de oferecer-lhes a ajuda afetuosa da nossa oração, a fim de que qualquer eventual resíduo de debilidade humana, que ainda possa adiar o seu encontro feliz com Deus, seja definitivamente apagado” ( S. João Paulo II, no Cemitério em Madri, 02/11/1982).
Nós cristãos, devemos crer que nossos mortos vivem num sentido bem verdadeiro e pleno: vivem “em Deus”.
“As almas dos justos estão na mão de Deus , diz a Escritura, nenhum tormento os tocará” ( Sb 3,1). A coisa mais útil que podemos fazer enquanto meditamos a Palavra de Deus não é, portanto, falar dos mortos, mas falar da morte. A morte, ao invés, nos toca de perto a todos. Diante dela somos radicalmente iguais, todos indefesos, como crianças que na escuridão da noite, sozinhas na grande cama dos pais, medrosas se apertam entre si.
O que perpassa todos os textos bíblicos da comemoração dos Fiéis Defuntos é a esperança da vida que nasce da morte, a partir do mistério pascal de Cristo Jesus. Em Cristo Jesus abre-se uma nova perspectiva, onde a morte já não é mais o fim fatídico e desesperador, mas a passagem para uma realidade nova de plenitude de vida em Deus.
A fé no Cristo resuscitado transforma a vida do cristão. A morte já não é mais o fim de todas as coisas. Ela é, antes, uma porta, uma passagem para uma realidade nova. O Cristo vivo garante a vida para sempre ( cf. Jó 19,1.23-27; Rm 5, 5-11; Jo 6, 37-40). A morte será eliminada definitivamente em Cristo Jesus ( cf. Is 25, 6-9; Rm 8, 14-23; Mt 25, 31-46). A Igreja vive a esperança da glória em Cristo Jesus ( cf. Sb 3, 1-9; Ap 21, 1-7; Mt 5, 1-12).
Ao perpassar os textos bíblicos vemos que a morte do Cristo transforma-se num despertar para a vida eterna feliz em Deus.
Para quem acreditou em Deus e O serviu, a morte não é um salto no vazio, mas para os braços de Deus: é o encontro pessoal com Ele, para habitar com Ele no amor e na alegria da sua amizade. O cristão autêntico não teme, por isso, a morte; pelo contrário: considerando que, enquanto vivemos na terra “vivemos longe do Senhor” , repete São Paulo: “ desejamos sair deste corpo para habitar com o Senhor” (2Cor 5, 6.8). Não se trata de exaltar a morte, mas considerá-la como realmente é no projeto de Deus: o nascimento para a vida eterna.
Esta visão serena e otimista da morte fundamenta-se na fé em Cristo e na nossa pertença a Ele.
Todos os homens foram entregues a Cristo e Ele os redimiu com o preço do Seu sangue. Se aceitarem pertencer-Lhe e viverem na fé e na prática das boas obras, em conformidade com o Evangelho, podem ter a certeza de serem contados entre os “Seus” e, como tais, ninguém os poderá arrancar da Sua mão, nem sequer a morte. “Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” ( Rm 14,8). Somos do Senhor porque nos redimiu e incorporou em Si, porque vivemos n’Ele e para Ele pela graça e pelo amor; se somos Seus na vida, continuaremos a sê-lo na morte. “ Ele transformará o nosso corpo mortal à imagem de seu corpo glorioso” ( Cânon III).
Sem a ressurreição, a mesma fé seria vã ( 1Cor 15,14) e nós não poderíamos fazer outra coisa, diante da morte, do que “ afligir-se como os outros que não tem esperança” ( 1Ts 4,3). Na leitura bíblica ( Jó 19,25-27), ouvimos a voz de Jó que dizia: “ Eu sei que o meu redentor está vivo e que, por último, se levantará sobre o pó; e depois que tiverem destruído esta minha pele, na minha carne verei a Deus. Aquele que eu vir será para mim, aquele que os meus olhos contemplarem não será um estranho”. Depois de Cristo algo mudou para melhor: nós dizemos: Com minha carne- e não sem ela- verei o meu Deus.
Desde sempre a Igreja rezou pelos mortos ( Cf.2 Mac 12, 43-44).
******************************
IMPORTANTE: O Lecionário dominical e festivo propõe três
esquemas de leituras escolhidas entre todas as elencadas para as missas dos
defuntos. É sempre possível escolher outras leituras entre as indicadas para a
liturgia dos defuntos se motivos pastorais ou particulares situações da
assembleia o requeiram. O Missal Romano apresenta três formulários distintos de
orações para a celebração. Há sempre possibilidade de escolher dos três
formulários as leituras ou orações que se adaptem melhor as situações concretas
da assembleia que participa da liturgia. Aqui apresentamos o roteiro homilético
de uma seleção específica de leituras. Lembramos que nesta missa não se diz o Glória
nem o Creio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário