terça-feira, 9 de abril de 2013

Papa recebe, em audiência, o presidente da Igreja evangélica alemã



Na manhã desta segunda-feira, 8, Papa Francisco recebeu, em audiência, dr. Nikolaus Schneider, presidente da Igreja Evangélica na Alemanha. De caráter ecumênico, este foi um encontro cordial, segundo informou o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi.

O porta-voz disse que “Präses” Schneider expressou suas felicitações pelo início do Pontificado do Papa e o seu apreço pela escolha do nome “Francisco”, por ser o nome de um santo que fala verdadeiramente a todos os cristãos de modo eficaz.
 
Outro assunto abordado no encontro foi o ecumenismo, com foco no valor do ecumenismo dos mártires, ao qual o Papa dá um particular peso, tendo também um conhecimento aprofundado do sofrimento que diversas pessoas da Igreja evangélica viveram na época do nacional socialismo e em outras circunstâncias.

“O sangue derramado dos mártires é algo que une profundamente as diversas confissões cristãs no testemunho comum por Cristo”, disse o porta-voz.

Dr. Schneider recordou a proximidade da memória da Reforma tendo em vista o ano 2017, momento importante para a Igreja evangélica na Alemanha. O Papa aproveitou a ocasião para recordar os discursos feitos por Bento XVI em Erfurt, o lugar onde viveu e trabalhou Lutero. Segundo informou padre Lombardi, foram discursos particularmente significativos no que diz respeito ao ecumenismo e às relações entre a Igreja católica e a tradição da Reforma e a figura de Lutero, em particular.

“Assim, a reunião foi muito proveitosa e significativa para questões ecumênicas que este pontificado leva adiante sem incertezas”, destacou padre Lombardi.
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Fonte: Canção Nova.
Da Redação, com Rádio Vaticano.

Homilia na Missa de Posse do Papa Francisco na Cátedra de Roma



Celebração Eucarística e Posse na Cátedra Romana
Basílica de São João de Latrão – Vaticano
Domingo, 7 de abril de 2013


Com alegria, celebro pela primeira vez a Eucaristia nesta Basílica Lateranense, a Catedral do Bispo de Roma. Saúdo a todos vós com grande afeto: o caríssimo Cardeal Vigário, os Bispos Auxiliares, o Presbitério diocesano, os Diáconos, as Religiosas e os Religiosos e todos os fiéis leigos. Saúdo também ao Senhor Presidente da Câmara Municipal e sua esposa e às restantes Autoridades. Caminhamos juntos na luz do Senhor Ressuscitado.

Hoje celebramos o Segundo Domingo de Páscoa, designado também «Domingo da Divina Misericórdia». A misericórdia de Deus: como é bela esta realidade da fé para a nossa vida! Como é grande e profundo o amor de Deus por nós! É um amor que não falha, que sempre agarra a nossa mão, nos sustenta, levanta e guia.

No Evangelho de hoje, o apóstolo Tomé experimenta precisamente a misericórdia de Deus, que tem um rosto concreto: o de Jesus, de Jesus Ressuscitado. Tomé não se fia nos demais Apóstolos, quando lhe dizem: «Vimos o Senhor»; para ele, não é suficiente a promessa de Jesus que preanunciara: ao terceiro dia ressuscitarei. Tomé quer ver, quer meter a sua mão no sinal dos cravos e no peito. E qual é a reacção de Jesus? A paciência: Jesus não abandona Tomé relutante na sua incredulidade; dá-lhe uma semana de tempo, não fecha a porta, espera. E Tomé acaba por reconhecer a sua própria pobreza, a sua pouca fé. «Meu Senhor e meu Deus»: com esta invocação simples mas cheia de fé, responde à paciência de Jesus. Deixa-se envolver pela misericórdia divina, vê-a à sua frente, nas feridas das mãos e dos pés, no peito aberto, e readquire a confiança: é um homem novo, já não incrédulo mas crente.


Recordemos também o caso de Pedro: por três vezes renega Jesus, precisamente quando Lhe devia estar mais unido; e, quando toca o fundo, encontra o olhar de Jesus que, com paciência e sem palavras, lhe diz: «Pedro, não tenhas medo da tua fraqueza, confia em Mim». E Pedro compreende, sente o olhar amoroso de Jesus e chora… Como é belo este olhar de Jesus! Quanta ternura! Irmãos e irmãs, não percamos jamais a confiança na paciente misericórdia de Deus!

Pensemos nos dois discípulos de Emaús: o rosto triste, passos vazios, sem esperança. Mas Jesus não os abandona: percorre juntamente com eles a estrada. E não só; com paciência, explica as Escrituras que a Si se referiam e pára em casa deles partilhando a refeição. Este é o estilo de Deus: não é impaciente como nós, que muitas vezes queremos tudo e imediatamente, mesmo quando se trata de pessoas. Deus é paciente conosco, porque nos ama; e quem ama compreende, espera, dá confiança, não abandona, não corta as pontes, sabe perdoar. Recordemo-lo na nossa vida de cristãos: Deus sempre espera por nós, mesmo quando nos afastamos! Ele nunca está longe e, se voltarmos para Ele, está pronto a abraçar-nos.

Sempre me causa grande impressão a leitura da parábola do Pai misericordioso; impressiona-me pela grande esperança que sempre me dá. Pensai naquele filho mais novo, que estava na casa do Pai, era amado; e todavia pretende a sua parte de herança; abandona a casa, gasta tudo, chega ao nível mais baixo, mais distante do Pai; e, quando tocou o fundo, sente saudades do calor da casa paterna e regressa. E o Pai? Teria ele esquecido o filho? Não, nunca! Está lá, avista-o ao longe, tinha esperado por ele todos os dias, todos os momentos: sempre esteve no seu coração como filho, apesar de o ter deixado e malbaratado todo o património, isto é, a sua liberdade; com paciência e amor, com esperança e misericórdia, o Pai não tinha cessado um instante sequer de pensar nele, e logo que o vê, ainda longe, corre ao seu encontro e abraça-o com ternura – a ternura de Deus –, sem uma palavra de censura: voltou! Isto é a alegria do pai; naquele abraço ao filho, está toda esta alegria: voltou! Deus sempre espera por nós, não se cansa. Jesus mostra-nos esta paciência misericordiosa de Deus, para sempre reencontrarmos confiança, esperança! Um grande teólogo alemão Romano Guardini dizia que Deus responde à nossa fraqueza com a sua paciência e isto é o motivo da nossa confiança, da nossa esperança (cf. Glabenserkenntnis, Wurzburg 1949, p. 28). É uma espécie de diálogo entre a nossa fraqueza e a paciência de Deus – um diálogo, que, se entrarmos nele, nos dá esperança.

Gostava de sublinhar outro elemento: a paciência de Deus deve encontrar em nós a coragem de regressar a Ele, qualquer que seja o erro, qualquer que seja o pecado na nossa vida. Jesus convida Tomé a meter a mão nas suas chagas das mãos e dos pés e na ferida do peito. Também nós podemos entrar nas chagas de Jesus, podemos tocá-Lo realmente; isto acontece todas as vezes que recebemos, com fé, os Sacramentos. São Bernardo diz numa bela Homilia: «Por estas feridas [de Jesus], posso saborear o mel dos rochedos e o azeite da rocha duríssima (cf. Dt 32, 13), isto é, posso saborear e ver como o Senhor é bom» (Sobre o Cântico dos Cânticos 61, 4). É precisamente nas chagas de Jesus que vivemos seguros, nelas se manifesta o amor imenso do seu coração. Tomé compreendera-o. São Bernardo interroga-se: Mas, com que poderei contar? Com os meus méritos? Todo «o meu mérito está na misericórdia do Senhor. Nunca serei pobre de méritos, enquanto Ele for rico de misericórdia: se são abundantes as misericórdias do Senhor, também são muitos os meus méritos» (ibid., 5). Importante é a coragem de me entregar à misericórdia de Jesus, confiar na sua paciência, refugiar-me sempre nas feridas do seu amor. São Bernardo chega a afirmar: «E se tenho consciência de muitos pecados? “Onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5, 20)» (ibid., 5). Talvez algum de nós possa pensar: o meu pecado é tão grande, o meu afastamento de Deus é como o do filho mais novo da parábola, a minha incredulidade é como a de Tomé; não tenho coragem para voltar, para pensar que Deus me possa acolher e esteja à espera precisamente de mim. Mas é precisamente por ti que Deus espera! Só te pede a coragem de ires ter com Ele. Quantas vezes, no meu ministério pastoral, ouvi repetir: «Padre, tenho muitos pecados»; e o convite que sempre fazia era este: «Não temas, vai ter com Ele, que está a tua espera; Ele resolverá tudo». Ouvimos tantas propostas do mundo ao nosso redor; mas deixemo-nos conquistar pela proposta de Deus: a proposta d’Ele é uma carícia de amor. Para Deus, não somos números; somos importantes, antes, somos o que Ele tem de mais importante; apesar de pecadores, somos aquilo que Lhe está mais a peito.

Depois do pecado, Adão sente vergonha, sente-se nu, sente remorso por aquilo que fez; e todavia Deus não o abandona: se naquele momento começa o exílio longe de Deus, com o pecado, também já existe a promessa do regresso, a possibilidade de regressar a Ele. Imediatamente Deus pergunta: «Adão, onde estás?» Deus procura-o. Jesus ficou nu por nós, tomou sobre Si a vergonha de Adão, da nudez do seu pecado, para lavar o nosso pecado: pelas suas chagas, fomos curados. Recordai-vos do que diz São Paulo: De que poderei eu gloriar-me senão da minha fraqueza, da minha pobreza? É precisamente sentindo o meu pecado, olhando o meu pecado que posso ver e encontrar a misericórdia de Deus, o seu amor, e ir até Ele para receber o seu perdão.

Na minha vida pessoal, vi muitas vezes o rosto misericordioso de Deus, a sua paciência; vi também em muitas pessoas a coragem de entrar nas chagas de Jesus, dizendo-Lhe: Senhor, aqui estou, aceita a minha pobreza, esconde nas tuas chagas o meu pecado, lava-o com o teu sangue. E sempre vi que Deus o fez: Deus acolheu, consolou, lavou e amou.

Amados irmãos e irmãs, deixemo-nos envolver pela misericórdia de Deus; confiemos na sua paciência, que sempre nos dá tempo; tenhamos a coragem de voltar para sua casa, habitar nas feridas do seu amor deixando-nos amar por Ele, encontrar a sua misericórdia nos Sacramentos. Sentiremos a sua ternura maravilhosa, sentiremos o seu abraço, e ficaremos nós também mais capazes de misericórdia, paciência, perdão e amor.
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Fonte: Boletim da Santa Sé.

domingo, 7 de abril de 2013

Papa Francisco celebra Missa de posse na Cátedra de Roma



Papa Francisco celebrou neste domingo, 7, a Santa Missa na Basílica de São João de Latrão, onde tomou posse nesse mesmo dia da Cátedra do Bispo de Roma. Em sua homilia, o Santo Padre destacou a paciência e a misericórdia de Deus, que está sempre disposto a perdoar seus filhos.

Ao chegar à Basílica, Francisco cumprimentou os fiéis que já o esperavam, abraçando, em especial, alguns portadores de necessidades especiais presentes no local. Já no início da celebração, após uma saudação do vigário para a diocese de Roma, Cardeal Agostino Valliniele, Francisco insidiou-se (sentando-se) na sua sede episcopal de Roma.

Logo no início da homilia, Francisco lembrou que hoje é o Domingo da Divina Misericórdia, então sua reflexão foi toda perpassada por este tema, pelo olhar misericordioso com o qual Deus olha para a humanidade. “Como é grande e profundo o amor de Deus por nós, um amor que não falha, sempre agarra a nossa mão, nos sustenta levanta e nos guia”, disse.

E ao comentar o Evangelho do dia (Jo 20, 19-31), Francisco destacou a paciência de Jesus com Tomé, que não acreditou enquanto não viu. Recordou também o caso de Pedro, que negou Jesus por três vezes. Da mesma forma, Jesus foi paciente e disse a ele: ‘Pedro, não tenhas medo da tua fraqueza, confia em mim’.

“Não percamos jamais a confiança na paciente misericórdia de Deus. Deus é paciente conosco porque nos ama e quem ama compreende, espera, sabe perdoar”, exortou Francisco.

O Santo Padre destacou ainda que Deus nunca está distante e está sempre disposto a perdoar. Ele contou que sempre se impressiona com a parábola do pai misericordioso, aquele pai cujo filho o abandonou, pegou sua herança e foi embora, mas depois decidiu voltar. E quando volta, disse Francisco, o pai o espera, corre ao seu encontro e o abraço com ternura, a ternura de Deus.

Ao final da homilia, Papa Francisco convidou os fiéis a se deixarem conquistar pela proposta de Deus, para quem o ser humano é importante. “Amados irmãos e irmãos, deixemo-nos envolver pela misericórdia de Deus, confiemos em sua paciência que sempre nos dá tempo. Tenhamos coragem de voltar para a sua casa”, concluiu o Papa.

Momentos antes de se dirigir à Basílica para a celebração, Francisco inaugurou o “Largo Beato João Paulo II”, que até então era chamado de “Praça de São João de Latrão”.
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Jéssica Marçal
Da Redação da Canção Nova

A respeito da Comunhão Sacrílega



Qui manducat et bibit indigne, iudicium sibi manducat et bibit, non diiudicans corpus Domini – “O que come e bebe indignamente, come e bebe para si a condenação, não fazendo discernimento do corpo do Senhor” (I Cor. 11, 29).

Sumário. Antes de te aproximares da Mesa eucarística, examina sempre a tua consciência, e se por desgraça tiveres remorso de alguma falta grave, purifica a tua alma pela confissão sacramental. Quanto às culpas veniais, esforça-te por tirá-las de tua alma, ao menos as que forem deliberadas, e afasta de ti tudo o que não seja Deus. Ai daquele que comunga indignamente! Torna-se réu do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, e portanto come-o e bebe-o para a sua própria condenação.


I. Consideremos o enorme pecado que comete aquele que se atreve a chegar-se à sagrada mesa com pecado mortal na alma. Este pecado é tão enorme, que São João Crisóstomo, comparando-lhe todos os demais, não acha outro igual, e diz que quem o comete, especialmente sendo sacerdote, é muito pior do que o próprio demônio: Multo daemonio peior est qui, peccati conscius, accedit ad altare. São Pedro Damião explica a razão dizendo: “Se com os outros pecados ofendemos a Deus em suas criaturas, com este ofendemo-Lo em sua própria pessoa.”

Que dirias do perverso que tirando a sacrossanta Hóstia da Âmbula sagrada, a atirasse a um vil monturo? Pior do que isso, diz São Vicente Ferrer, faz aquele que tem a ousadia de comungar sacrilegamente; porque, de certo modo, atenta contra o corpo de Jesus Cristo, obriga esta vítima inocente a morar em seu coração cheio de corrupção, entrega o Cordeiro imaculado nas mãos dos demônios que o insultam da mais horrenda maneira.

Pelo que Santo Agostinho compara os sacrílegos aos pérfidos Judeus, que crucificaram o nosso Redentor. Com esta diferença, porém: que os Judeus crucificaram ao Senhor da glória enquanto era terrestre e mortal, e os sacrílegos crucificam-No agora que reina no céu; aqueles só uma vez se atreveram a crucificá-lo, estes renovam o deicídio freqüentes vezes; aqueles se tinham declarado inimigos figadais de Cristo, estes traem-No ao mesmo tempo que, pelo menos exteriormente, o reconhecem por seu Deus, simulando reverência e devoção, e imitando a Judas, abusam do sinal de paz: Osculo Filium hominis tradis (1) – “Com um beijo entregas o Filho do homem”.

É disso que Jesus se queixa sobretudo, pela boca de Davi: Si inimicus meus maledixisset mihi, sustimissem utique (2). Se um inimigo, parece dizer Jesus Cristo, me tivesse ultrajado, eu o suportaria com menos pena; mas tu, meu íntimo, meu ministro e príncipe entre o povo; tu, a quem dei tantas vezes a minha carne para sustento: tu me vendes ao demônio por um capricho, por uma vil satisfação, por um punhado de terra?

II. Mas ai do sacrílego! Ai de quem tem a ousadia de tornar-se réu do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, chegando-se indignamente à Mesa sagrada! Falando o Senhor com Santa Brígida a respeito daqueles infelizes, repetiu-lhe as palavras proferidas com relação ao pérfido Judas: Bonum erat ei, si natus non fuisset homo ille (3) – Seria melhor para eles se nunca houvessem nascido. Sim, porque, como diz São Paulo: “Quem come este pão e bebe este cálice do Senhor indignamente, come-o e bebe-o para sua própria condenação: iudicium sibi manducat et bibit.

Meu irmão, afim de que não te suceda tamanha desgraça, segue o aviso do mesmo Apóstolo: Probet autem seipsum homo (4) – “Examine-se, pois, a si mesmo o homem”. Examina a tua conduta, e se a consciência te acusar de alguma grave culpa, purifica-a por meio de uma boa Confissão sacramental, antes de tomar o alimento da vida eterna. – Quanto às culpas veniais, deves tirar da alma ao menos as cometidas deliberadamente e expulsar do coração tudo que não é Deus. É o que, na interpretação de São Bernardo, significam as palavras que Jesus Cristo disse aos apóstolos, antes de lhes dar a comunhão na última ceia: Qui lotus est non indiget nisi ut pedes lavet (5) – “Aquele que está lavado, não tem necessidade de lavar senão os pés”.

Meu dulcíssimo Jesus, oh! Pudesse eu lavar com minhas lágrimas, e até com meu sangue, as almas infelizes em que o vosso amor é tão ultrajado no santíssimo Sacramento! Oh, pudesse fazer com que todos os homens se abrasem em vosso amor! Mas, se isto não me é concedido, desejo ao menos, Senhor, e proponho visitar-Vos muitas vezes e receber-Vos em meu coração, para Vos adorar, como de presente o faço, em reparação dos desprezos que recebeis dos homens neste diviníssimo mistério. Ó Pai Eterno, acolhei esta fraca homenagem que hoje Vos rende o mais miserável dos homens, em reparação das injúrias feitas a vosso divino Filho sacramentado; acolhei-a unida com a honra infinita que Jesus Cristo Vos deu sobre a Cruz e Vos dá ainda todos os dias no santíssimo Sacramento. E vós, minha Mãe Maria, obtende-me a santa perseverança. (*III 51.)

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1. Luc. 22, 48.
2. Ps. 54, 13.
3. Matth. 26, 24.
4. I Cor. 11, 28.
5. Io. 13, 10.

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 11- 14.).
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Disponível em: São Pio V.
Título Original: Da Comunhão Sacrílega.

sábado, 6 de abril de 2013

Ver e Crer



O contexto da paixão e da morte de Jesus na cruz, seguido do fato do sepulcro ter sido encontrado vazio, provocou uma situação de extrema confusão, de incertezas e expectativa de esperança. Ele tinha ressuscitado ou não? Era o sentimento que perpassava na mente dos discípulos, que esperavam um fim diferente para o Mestre.

O melhor intérprete das realidades é o tempo. Aos poucos Jesus foi confirmando estar vivo, ressuscitado e presente no meio das comunidades. Ele foi aparecendo em diversas ocasiões na vida dos discípulos, principalmente quando estavam reunidos. Jesus dá-se a conhecer, mas Tomé, um dos discípulos, disse que acreditava, vendo.

Tomé não aceitou o testemunho dos apóstolos, porque não estava presente quando Jesus apareceu para o grupo. A fé é dom de Deus e fundamentada no mistério da ressurreição. Os apóstolos testemunharam que o Ressuscitado era o Crucificado, que venceu a morte trazendo a vida, passando a viver além do tempo e do espaço.

Sendo confirmados na fé, diz a bíblia que Jesus soprou sobre os discípulos (Jo 20, 22). Com isto estava expressando a ideia de uma criação renovada. É a vida que surge do sopro de Javé (Gn 2, 7), dando às pessoas a condição de dignidade humana e divina. É um sopro de vida que significa missão na construção do Reino de Deus.

A ação dos discípulos, nos primeiros tempos da Igreja, revela o mistério da presença do Espírito Santo na vida das comunidades cristãs. Conforme os dizeres do livro dos Atos dos Apóstolos, o anúncio da Palavra e o testemunho de fé dos cristãos, especialmente dos apóstolos e dos discípulos, realizavam sinais surpreendentes na vida das pessoas e das comunidades.

A ressurreição de Jesus inaugurou o início dos novos tempos, não tendo chegado ainda na sua plenitude. Caminhamos sob a força da esperança, sendo felizes crendo sem ter visto, porque confiamos nas testemunhas da ressurreição de Cristo, com quem devemos ter um encontro pessoal e íntimo através de nossa vida espiritual e convivência no relacionamento comunitário.


Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)

O médico ladrão



Uma velha senhora doente dos olhos mandou chamar um médico. Ele foi atendê-la e, sempre que lhe aplicava um unguento, roubava alguma coisa da casa, já que ela estava de olhos fechados. Depois de tratá-la e de levar seus móveis, apresentou-lhe a conta. Como a velha não quis pagá-lo, ele abriu-lhe um processo. No tribunal, ela declarou que tinha se comprometido com ele a pagar desde que ele a curasse; ora, no momento, ela estava vendo bem menos que antes da cura: - Antes – disse ela – eu via todos os móveis de minha casa; agora não vejo mais nenhum.

Sempre simpáticas as antigas fábulas de Esopo. No caso, a senhora idosa acabou vendo melhor do que o médico pensava: percebeu que tinha sido roubada. A vista é um grande dom, mas não basta enxergar bem, é preciso compreender o que estamos vendo. É por isso que na frente da mesma realidade nem todos os que estão olhando enxergam a mesma coisa.


No segundo domingo de Páscoa, todo ano encontramos o evangelho de João que apresenta a primeira aparição de Jesus ressuscitado aos discípulos reunidos e bem trancados em casa por medo dos judeus. Tomé não estava presente e não acreditou naquilo que os outros diziam ter visto. Oito dias depois, Jesus compareceu novamente e repreendeu o apóstolo incrédulo. Em resposta este fez abertamente a sua bela profissão de fé: “Meu Senhor e meu Deus!”. Com certeza esta foi uma das primeiras expressões do “credo” da Igreja com referência a pessoa de Jesus, o crucificado-ressuscitado começando a chamá-lo, assim, de Senhor e Deus.

Sempre estamos prontos a ficar do lado do pobre Tomé, porque achamos que ele tinha todo o direito de conferir os sinais da paixão no corpo de Jesus para não ficar pensando que os outros pudessem ter visto errado. No entanto bem sabemos que nós nunca vamos poder repetir a mesma experiência; nós estamos exatamente na condição dos bem-aventurados que terão que acreditar não por uma visão pessoal, mas pelo testemunho dos outros, de quem “viu e acreditou” (cf. Jo 20,8). O segredo da história, portanto, está no testemunho. Podemos nos perguntar: Tomé não acreditou imediatamente mais pelo fato de não ter visto o Senhor Jesus na primeira vez ou mais pela atitude dos discípulos que continuavam trancados em casa? O nosso amigo tinha todo o direito de duvidar daquilo que os outros diziam, simplesmente, por continuar a vê-los ainda com tanto medo. Deve ter pensado que se tivesse sido verdade que Jesus estava vivo e tinha doado a eles o dom do Espírito Santo (cf. Jo 21,22) por que estavam guardando para si a Boa Notícia? O que estavam esperando para sair em missão? A prova, legítima, da dúvida de Tomé está na forma como o livro dos Atos dos Apóstolos nos conta a chegada do Espírito Santo no dia de Pentecostes. Naquele dia, portas e janelas foram escancaradas e os apóstolos saíram para pregar a absoluta novidade: aquele que foi crucificado estava vivo, tinha vencido a morte e, agora, Ele era o Senhor da Vida. O medo se foi. Por causa deste anúncio, eles foram caluniados, açoitados e até mortos. Pelo testemunho deles a fé em Jesus “Senhor e Deus” chegou até nós.

Quantas vezes, nos dias de hoje, perguntamo-nos: Por que é tão difícil crer e por que também dá tanto trabalho quebrar o gelo dos corações, atrair as pessoas, para que se deixem ajudar a encontrar Jesus, aquele que é capaz de comunicar vida, força e esperança a todos os que o procuram de coração sincero? A resposta ainda é e sempre será o nosso testemunho. A nossa fé deve ser corajosa, deve ser bem visível e inequívoco; deve ser comprovada pelas nossas obras, pela dedicação em transformar o mundo com o bem e o amor, pela defesa da justiça em favor dos pobres e dos pequenos.

A ausência de fé ao nosso redor é uma acusação contra nós. Pode ser que nos tenhamos apropriado de algo que não é somente nosso e que precisamos devolver. A velha senhora desmascarou o médico ladrão. Para acreditar, o mundo nos pede o testemunho da fé. Se está nos cobrando é porque percebe que lhe falta alguma coisa. Isso é bom.


Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá

Uma nova Paróquia



Nos dias 10 a 19 de abril, nós, os bispos do Brasil, estaremos reunidos em Aparecida do Norte para a 51ª Assembléia Geral da CNBB. Este sempre é um momento significativo para consolidar a unidade e aprofundar temas importantes que desafiam a Igreja no atual contexto da história. A Assembléia de 2013 ganha um sabor especial por ser a primeira a se realizar sob o pontificado do Papa Francisco, que conhece bastante bem a realidade da Igreja brasileira.

O tema central que vamos trabalhar na Assembléia é a renovação das paróquias. O texto preparatório tem como título: “Comunidade de comunidades: uma nova Paróquia”. No nº 112 se afirma que “a renovação paroquial e a revitalização das comunidades exigem novas formas de evangelizar tanto o meio urbano como o rural. Apesar de as comunidades rurais estarem distantes dos centros geradores da nova cultura urbana, em vista do fácil acesso às informações, também nessas áreas crescem os problemas de vínculo comunitário. Assim, se multiplicam os grupos religiosos novos, por atenderem às demandas imediatas dos indivíduos. É urgente pensar novas estruturas pastorais, inclusive em meios rurais, de modo que cuidem das pessoas na atual cultura”.


O valor da paróquia é inquestionável. Contudo ela precisa urgente renovação. “As mudanças da realidade clamam por uma nova organização, especialmente articulada em pequenas comunidades, capazes de estabelecer vínculos entre as pessoas que convivem na mesma fé”.

Para a Diocese de Santa Cruz do Sul, o tema central da Assembléia da CNBB vem num momento muito oportuno. Ele vem para reforçar a nossa caminhada pastoral, já que estamos colocando a vida das comunidades como eixo central de toda a nossa ação evangelizadora. Com a revitalização das comunidades e a renovação das paróquias, certamente estaremos colocando as bases para uma nova evangelização na região da Diocese.

Além do tema central, a Assembléia vai se ocupar com outros assuntos, entre os quais a Jornada Mundial da Juventude que vai acontecer no mês de julho, no Rio de Janeiro. Com a já confirmada presença do Papa Francisco, esta jornada vai ser marcante para a caminhada da Igreja no Brasil.

Para que a Assembléia possa ser produtiva, pedimos as preces do povo. Sabemos que os melhores documentos ou planos de pastoral se tornam inócuos se não forem impulsionados pelo Espírito Santo. E se a Assembléia não for iluminada pelo sopro renovador do Espírito de Deus, pouca luz vai surgir.

Permaneçamos unidos, em oração!


Dom Canísio Klaus
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

Não só de terra vivem os índios



No dia 16 de fevereiro de 2013, em Caarapó (MS), Denilson Barbosa, um indígena de 15 anos, foi assassinado com um tiro na cabeça e abandonado numa estrada vicinal do município. O adolescente estava se dirigindo para pescar numa fazenda dos arredores com outros dois companheiros, quando foi morto por três homens, entre eles o proprietário. Como resposta ao crime, cerca de 200 índios invadiram a propriedade, há tempo reivindicada como “terra tradicional”.

A morte de Denilson é um novo capítulo da violência provocada pelo barril de pólvora que virou o Mato Grosso do Sul. Por não se tomarem as medidas necessárias para dirimir um conflito que cresce a cada ano que passa, o medo e a desconfiança mantêm em margens opostas indígenas e agricultores, transformando-se em ódio e assassinatos. Enquanto isso, as autoridades de Brasília continuam visitando a região para renovar promessas que nunca se cumprem e participar de simpósios que nada resolvem.


“Nada resolvem”, pela falta de vontade política, que precisa de excluídos e marginalizados como massa de manobra para fins eleitoreiros. Contudo, em seminários onde a palavra é dada a todos, inclusive aos indígenas, começou a surgir uma luz no fundo do túnel, sintetizada em dois itens de capital importância: quanto aos produtores rurais que tiverem suas propriedades demarcadas, sejam indenizados pelo valor real das mesmas (e não apenas por suas benfeitorias); quanto às comunidades indígenas, suas aldeias sejam revitalizadas e transformadas em núcleos populacionais (urbanos e rurais), com os serviços e as políticas públicas indispensáveis às necessidades de seus habitantes, assim como se procura fazer com as demais cidades e vilas do país.

O mundo caminha e a cultura vai sendo regida por novos paradigmas. Mesmo respeitando a índole de cada povo, é impossível retornar aos “bons tempos antigos”. Os conflitos de geração começam a medrar também entre as famílias e comunidades indígenas. Como consequência, cresce em seu meio o êxodo rural que atinge os não-índios em outros recantos do Brasil. Cada vez mais, são somente os adultos e as crianças que permanecem no campo. É a constatação que faço nas visitas a algumas aldeias da Diocese de Dourados. Apesar de seus territórios serem normalmente considerados exíguos, há terra inculta ou arrendada para fazendeiros vizinhos. Dois são os motivos desta situação: para os índios, a falta de condições e os critérios diferentes no cultivo; para o governo, o agronegócio tem primazia sobre a agricultura familiar.

Afetados pela globalização galopante que avança em toda a parte, os jovens indígenas são levados a rever os critérios de inculturação e integração que lhes eram repassados. Aqueles que não têm acesso aos cursos superiores – são a imensa maioria – preferem trabalhar nas usinas de álcool, na construção civil e em várias empresas das cidades vizinhas, pois, no final do mês, têm o seu dinheirinho garantido.

Os índios fazem parte da “aldeia global” em que se está transformando o mundo, como previu Marshall McLuhan, em 1962. Se, em todos os segmentos da sociedade, o mau uso dos meios de comunicação faz as suas vítimas, não são exceção os jovens indígenas. A corrupção, a violência, a droga, a bebida, a prostituição – e muitos outros males e doenças – deixaram de ser apanágio dos “brancos”. É a queixa que ouvi de um idoso, que falava com saudades do tempo em que «o povo vivia do que plantava. Havia milho, mandioca e batata. Hoje, índio novo não quer mais trabalhar a terra e, por isso, não tem o que colher». E concluía com tristeza: «O moço agora bebe e arruma briga. Naquela época só tinha chicha».

Há séculos, os Guarani/Kaiowá do Mato Grosso do Sul caminham em busca do “bem viver” numa “terra sem males”. Talvez seja por isso que se sentem mais nômades do que sedentários. Os “novos céus e a nova terra” não são privilégio da utopia cristã. São eles que sustentam a labuta do homem e o tornam solidário com os irmãos de caminhada. É nesta partilha de dons e de serviços, em que cada cidadão é respeitado e protagonista, que se constrói a sociedade que o Brasil precisa. Se os valores e os direitos são inquestionáveis, também o são os deveres... e as diferenças, como pediu uma liderança indígena: «A sociedade branca tem que entender e respeitar o nosso jeito de ser e de viver. Não estamos em luta contra ela. Nós também somos parte dela, só que com nossas diferenças».


Dom Redovino Rizzardo
Bispo de Dourados (MS)