quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

O Natal nunca foi uma festa pagã


Nesta época do ano nós somos bombardeados com propaganda anticatólica questionando o abençoado dia do nascimento de Cristo como 25 de dezembro. Dizem-nos com arrogância que essa data era originalmente uma festa pagã. A Igreja Primitiva teria “escolhido” esta data para “Cristianizar” uma festa romana do sol. De acordo com essa teoria, a data do Natal foi estabelecida somente no século IV, quando nós temos a primeira evidência da Natividade sendo celebrada em Roma em 336. A conclusão: as origens do Natal são pagãs, e nós não sabemos realmente a data do nascimento do Salvador da humanidade.

Não nos deixemos ficar impressionados tão rapidamente com essas mentiras cujos objetivos são somente diminuir a homenagem que prestamos a Nosso Senhor Jesus Cristo e denegrir a Igreja Católica. De fato, o oposto é verdadeiro. A tese da origem pagã do Natal é que é um mito sem substância histórica.

Sem festival na Roma antiga em 25 de dezembro

Um governador colonial puritano interrompe os folguedos das festividades natalinas (1883)

A noção de que o Natal teve origem pagã começou a se espalhar no século XVII com os puritanos ingleses e os presbiterianos escoceses, que odiavam tudo o que era católico. Os puritanos odiavam tanto o Catolicismo que eles se revoltaram contra a chamada Igreja Anglicana porque, mesmo com suas heresias, eles a consideravam muito similar a Igreja Católica.

Eles tinham aversão a dias de festa e em particular, eles detestavam a festa do Natal com suas cerimônias, celebrações e costumes alegres. Como a Bíblia não deu data específica para o nascimento de Cristo, os puritanos argumentavam que isso era um artifício pecaminoso da Igreja Católica Romana que deveria ser abolido.

Mais tarde, pregadores protestantes, como o alemão Paul Ernst Jablonski tentaram demonstrar em obras pesudo-acadêmicas que 25 de dezembro era na realidade uma festa pagã romana, e que o Natal foi mais um exemplo de como a Igreja Católica medieval “paganizou" e corrompeu o "puro" cristianismo primitivo.(1)

Por volta da mesma época, o jesuíta Jean Hardouin com sua excêntrica teoria da falsificação universal que colocou em dúvida cada fonte histórica conhecida, de volta aos puritanos em sua teoria no Natal ter origens pagãs. Mas essa pesquisa foi largamente desacreditada dada suas afirmações absurdas. Por exemplo, ele afirmava que todos os Concílios da Igreja que aconteceram antes de Trento eram fictícios e quase todos os textos clássicos da Grécia e Roma Antigas eram falsos, feitos por monges no século XIII. Tais declarações são descaradamente absurdas, dados os incontáveis documentos originais demonstrando o oposto.

As duas principais reivindicações para o Natal ter origens pagãs asseveram que a Igreja primitiva escolheu 25 de Dezembro a fim de desviar os fiéis dos dias de festividade pagã romana. A primeira reivindicaçãoassevera que isso substituiu o antigo feriado da Saturnália, uma época de festas e estridentes danças e cantos acontecidos em dezembro em honra do deus pagão Saturno.

Agora, o festival da Saturnália sempre terminava o mais tardar em 23 de dezembro. Por que a Igreja Católica iria querer tirar a atenção dos seus fieis de uma celebração pagã, escolheriam uma data dois dias após a festa já ter terminado e quem quis já havia exagerado? Não faz sentido. Nenhum acadêmico sério acredita nessa alegação.


Natal estabelecido antes do festival pagão do sol


Aureliano instituiu o festival do sol para fortalecer um Império Romano moribundo

A segunda reivindicação é a de que a Igreja Católica estabeleceu o Natal em 25 de dezembro para substituir uma festa solar inventada pelo Imperador Aureliano em 274 d.C., o Dies Natalis Solis Invicti (Nascimento do Sol Invicto).

O fato de que o Natal entrou no calendário mundial (o calendário romano aceito) em 354 – que foi depois do estabelecimento do festival pagão – não significa necessariamente que a Igreja escolheu este dia para substituir o feriado pagão. Duas razões principais concordam com esta conclusão:

Primeira: deve-se simplesmente admitir que os cristãos primitivos começaram a celebrar o Natal apenas no século IV. Até o Édito de Milão ter sido publicado em 313, os católicos eram perseguidos e se encontravam nas catacumbas. Portanto, não havia festividade pública. Mas eles celebravam o Natal entre eles mesmos antes do Édito, como confirmam os hinos e preces dos primeiros cristãos (2).

Segunda: essa reivindicação é baseada em pressupostos falaciosos. Como o erudito Thomas Talley aponta em seu livro The Origins of the Liturgical Year [As Origens do Ano Litúrgico], o Imperador Aureliano inaugurou o festival do Nascimento do Sol Invicto tentando dar vida nova – renascer - um Império Romano moribundo. É muito mais provável, ele argumenta, que a ação do Imperador tenha sido uma resposta a crescente popularidade e força da religião Católica, que estava celebrando o Nascimento de Cristo em 25 de dezembro, e não o contrário. (3)

Não há evidência de que a celebração de Aureliano precedia a festa de Natal, e há mais razão para acreditar que estabelecer esse dia de festa – que nunca teve apoio popular e logo morreu – foi um esforço para dar um significado pagão a uma data que já era importante para os católicos romanos.

Datas baseadas nas Escrituras

A data da concepção de Isabel estabelece a base para saber o nascimento de Cristo

Mas vamos deixar o território de conjecturas e retornar os registros históricos. Há ampla evidência para demonstrar que, mesmo que a data do Natal não tenha se tornado oficial até 354, claramente ela foi estabelecida muito tempo antes de Aureliano ter instituído seu dia de festa pagã.

A concepção de São João Baptista é a âncora histórica para saber a data do Natal, baseada em cálculos detalhados e cuidadosos de datas feitos pelos primeiros Pais da Igreja.

O antigo tractatus De solstitiia registra a tradição do Arcanjo Gabriel aparecendo a Zacarias no Templo quando ele estava servindo como sumo sacerdote no Dia da Expiação (Lc 1,8). Isso situa a concepção de São João Baptista durante a Festa dos Tabernáculos no fim de setembro, como disse o Arcanjo Gabriel (Lc 1,28) e seu nascimento nove meses mais tarde no momento do solstício de verão. (4)

Como o Evangelho de Lucas afirma que o Arcanjo Gabriel apareceu a Virgem Maria no sexto mês após a concepção de João (Lc 1,26), isso situa a concepção de Cristo no equinócio de primavera, ou seja, no momento da Páscoa Judaica, no fim de março. Seu nascimento seria assim no fim de dezembro no momento do solstício de inverno.

Que estas datas, baseadas na Tradição e na Escritura, são confiáveis é confirmado por recente evidência tirada dos Manuscritos do Mar Morto, cujos autores estavam bastante preocupados com datas de calendários, essenciais para estabelecer quando deveriam celebradas as festas da Torah. A data encontrada nos Manuscritos torna possível saber os serviços rotativos dos sacerdotes no Templo nos tempos do Antigo Testamento e mostram definitivamente que Zacarias serviu como sacerdote do Templo em setembro, confirmando assim a tradição da Igreja Primitiva. (5)

A Igreja Católica determinou 25 de março como a data da concepção de Nosso Senhor muito antes de Aureliano decidir fazer sua festa solar. Por exemplo, por volta de 221 d.C, Sexto Julio Africano escreveu aChronographiai na qual ele afirma que a Anunciação foi em 25 de março. (6) Uma vez que a data da Encarnação estava estabelecida, era uma simples questão de adicionar nove meses para chegar a data do nascimento de Nosso Senhor: 25 de dezembro. Essa data não seria oficial até o fim do quarto século, mas ela foi estabelecida muito tempo antes de Aureliano ou Constantino. Ela não tinha nada que ver com festivais pagãos.

Nós podemos estar certos de que os primeiros apologistas católicos e Pais da Igreja, que viveram próximos do tempo dos Apóstolos, estavam totalmente cientes das datas associadas com o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Todos eles tinham fontes de calendários em mãos e eles não permitiriam que qualquer inverdade fosse introduzida na liturgia católica. A data do nascimento de Cristo foi transmitida por eles como sendo 25 de dezembro, um domingo.

Discursando sobre o verso de Lucas 2,7, Pe. Cornélio a Lápide comenta sobre a arquitetura dessa escolha: “Cristo nasceu no domingo, porque esse foi o primeiro dia do mundo.… Cristo nasceu numa noite de domingo, em ordem com Suas maravilhas, então no dia em que Ele disse Haja luz, e houve luz, foi o mesmo dia em que, à noite, a luz brilhou na escuridão para os de coração justo, isto é, o sol da justiça, Cristo o Senhor.” (7)

___________________________________
Notas:

1.       Thomas Talley, The Origins of the Liturgical Year, Collegeville, MN: Liturgical Press, 1991), p. 88.
2.       Daniel-Rops, Prières des Premiers Chrétiens, Paris: Fayard, 1952, pp. 125-127, 228-229
3.       Talley, The Origins of the Liturgical Year, pp. 88-91.
4.       O folheto é intitulado 'De solstitiia et aequinoctia conceptionis et nativitatis domini nostri iesu Christi et iohannis baptista,' in Ibid., p. 93-94. Talley também fornece outros documentos históricos de escritores da Igreja primitiva mostrando que as datas da Concepção e Morte de Nosso Senhor foram estabelecidas bastante cedo.
5.       Shemaryahu Talmon, Professor Emérito da Universidade Hebraica de Jerusalém e máximo estudioso dos Manuscritos, publicou um estudo aprofundado sobre os serviços rotativos dos sacerdotes no Templo em 1958 e os manuscritos de Qumran para ver as atribuições durante os tempos do Novo Testamento. Martin K Barrack, “It Comes from Pagans,” Second Exodus online.
6.       Ibid.

7.       Cornelius a Lapide, Commentaria in Scripturam Sanctam, Paris: Vives 1877, Lucas 2,7, vol 16, p. 57.
______________________________________________
Autora: Marian T. Horvat
Traduzido por Andrea Patricia
Fonte: Borboletas do Luar

A Família que Deus quer


Dentro da Oitava de Natal e no coração do Mistério da Encarnação celebra-se a Festa da Sagrada Família. Foi proposta por Leão XIII a iniciativa de várias conferências episcopais, em especial a do Canadá, que já em 1893 viam ameaças e desejos de desconstruir a família cristã.    Embora naquele tempo o principal desafio era a afirmação do individualismo contratualista que desmanchava o vinculo conjugal sem muitas cerimônias, hoje está em crise a própria idéia de família e de pessoa humana, o que causa certamente mais perplexidades e contradições.

O Evangelho da família está ancorado no Natal de Jesus Cristo, pois a encarnação exige a inserção numa família humana, para o desenvolvimento da pessoa, ter um nome e fazer parte de um povo e de uma cultura.     Jesus inicia sua obra redentora santificando e salvando a família, tornando-a o primeiro espaço de humanização e evangelização.    A liturgia da Palavra desta festa é muito rica para alimentar uma verdadeira espiritualidade conjugal e familiar centrada no amor, na compreensão, na autoridade servidora e edificadora dos pais, no perdão, na cooperação e na hospitalidade cristã, valores permanentes que fortalecem e enaltecem o grupo familiar.

Como afirma a oração coleta a Sagrada Família é um modelo a ser buscado e vivenciado por todas as famílias, mais que um protótipo estático e abstrato, que esqueceria as dificuldades, problemas e conflitos que o lar de Nazaré teve que assumir para proteger, educar e seguir a Jesus o Salvador.

Em mensagem de Natal, Papa Francisco reza pela paz


Nesta quarta-feira, 25, Natal do Senhor, Papa Francisco dirigiu-se ao Balcão Central da Basílica Vaticana para a tradicional benção “Urbi et Orbi”. Na mensagem de Natal que antecedeu a benção, o Santo Padre pede paz na Síria, na República Centro-Africana, na Terra Santa, além de recordar problemáticas como o tráfico de seres humanos e as calamidades naturais.

O Papa recorda que a verdadeira paz não é um equilíbrio entre coisas contrárias, mas um compomisso de todos os dias, que se leva adiante a partir do dom de Deus. Ele dirige o pensamento, então para as indefesas vítimas da violência em conflitos.

“Vendo o Menino no presépio, Menino de Paz, pensemos nas crianças que são as vítimas mais frágeis das guerras, mas pensemos também nos idosos, nas mulheres maltradas, nos doentes. As guerras dilaceram e ferem tantas vidas, muitas dilaceraram, nos últimos tempos, o conflito da Síria, fomentando ódio e vingança. Continuemos a rezar a Deus para que Ele poupe novos sofrimentos ao amado povo sírio e as partes em conflito ponham fim a toda violência”.

O Santo Padre destaca também a força da oração e expressa sua felicidade em saber que membros de outras confissões religiosas partilham esta oração pela paz na Síra. “Nunca percamos a coragem da oração”, disse.

A República Centro-Africana também está no coração do Papa, que lembra que esta é uma região tantas vezes esquecida pelos homens, mas nunca esquecida por Deus. Ainda com relação à África, o Papa reza pelo Sudão do Sul e pela Nigéria, dilacerada por contínuos ataques que não poupam inocentes e indefesos.


Quanto ao Oriente Médio, o Papa pede a conversão do coração dos violentos e um final feliz para as negociações de paz entre israelenses e palestinos. Ele também pede cura das chagas do Iraque, que sofre frequentemente por atentados.

Francisco também reza pelos que são perseguidos por causa de sua fé em Cristo e pelos refugiados, para que encontrem acolhimento e ajuda. Ele recorda, nesse ponto, as tragédias que aconteceram esse ano em Lampedusa, ilha italiana, fazendo um apelo para que elas não mais se repitam. Quanto às calamidades naturais, o Papa lembra-se do povo filipino, atingido brutalmente por um tufão nesse segundo semestre do ano.

“Neste mundo, nesta humanidade, hoje nasceu o Salvador, que é o Cristo Senhor. Detenhamo-nos diante do Menino de Belém, deixemos que o nosso coração se comova, não tenhamos medo disso, precisamos que o nosso coração se comova. (…) Deixemo-lo abrasar-se pela ternura de Deus, precisamos de suas carícias. As carícias de Deus não nos ferem, mas nos dão paz e força, precisamos de suas carícias”.


Após a mensagem, Francisco concedeu a todos a benção Urbi et Orbi. O Santo Padre encerrou desejando a todos os seus votos de um Feliz Natal.
_________________________________
Fonte: Canção Nova

Francisco celebra a Missa do Galo destacando a luz de Jesus para a humanidade


Homilia
Primeira Missa do Galo celebrada pelo Papa Francisco
Terça-feira, 24 de dezembro de 2013


1.      «O povo que andava nas trevas viu uma grande luz» (Is 9, 1).

Esta profecia de Isaías não cessa de nos comover, especialmente quando a ouvimos na liturgia da Noite de Natal. E não se trata apenas dum facto emotivo, sentimental; comove-nos, porque exprime a realidade profunda daquilo que somos: somos povo em caminho, e ao nosso redor – mas também dentro de nós – há trevas e luz. E nesta noite, enquanto o espírito das trevas envolve o mundo, renova-se o acontecimento que sempre nos maravilha e surpreende: o povo em caminho vê uma grande luz. Uma luz que nos faz reflectir sobre este mistério: o mistério do andar e do ver.

Andar. Este verbo faz-nos pensar no curso da história, naquele longo caminho que é a história da salvação, com início em Abraão, nosso pai na fé, que um dia o Senhor chamou convidando-o a partir, a sair do seu país para a terra que Ele lhe havia de indicar. Desde então, a nossa identidade de crentes é a de pessoas peregrinas para a terra prometida. Esta história é sempre acompanhada pelo Senhor! Ele é sempre fiel ao seu pacto e às suas promessas. «Deus é luz, e n’Ele não há nenhuma espécie de trevas» (1 Jo 1, 5). Diversamente, do lado do povo, alternam-se momentos de luz e de escuridão, fidelidade e infidelidade, obediência e rebelião; momentos de povo peregrino e de povo errante.

E, na nossa historia pessoal, também se alternam momentos luminosos e escuros, luzes e sombras. Se amamos a Deus e aos irmãos, andamos na luz; mas, se o nosso coração se fecha, se prevalece em nós o orgulho, a mentira, a busca do próprio interesse, então calam as trevas dentro de nós e ao nosso redor. «Aquele que tem ódio ao seu irmão – escreve o apóstolo João – está nas trevas e nas trevas caminha, sem saber para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos» (1 Jo 2, 11).


2.            Nesta noite, como um facho de luz claríssima, ressoa o anúncio do Apóstolo: «Manifestou-se a graça de Deus, que traz a salvação para todos os homens» (Tt 2, 11).

A graça que se manifestou no mundo é Jesus, nascido da Virgem Maria, verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Entrou na nossa história, partilhou o nosso caminho. Veio para nos libertar das trevas e nos dar a luz. N’Ele manifestou-se a graça, a misericórdia, a ternura do Pai: Jesus é o Amor feito carne. Não se trata apenas dum mestre de sabedoria, nem dum ideal para o qual tendemos e do qual sabemos estar inexoravelmente distantes, mas é o sentido da vida e da história que pôs a sua tenda no meio de nós.

3.            Os pastores foram os primeiros a ver esta «tenda», a receber o anúncio do nascimento de Jesus. Foram os primeiros, porque estavam entre os últimos, os marginalizados. E foram os primeiros porque velavam durante a noite, guardando o seu rebanho. Com eles, detemo-nos diante do Menino, detemo-nos em silêncio. Com eles, agradecemos ao Pai do Céu por nos ter dado Jesus e, com eles, deixamos subir do fundo do coração o nosso louvor pela sua fidelidade:

Nós Vos bendizemos, Senhor Deus Altíssimo, que Vos humilhastes por nós. Sois imenso, e fizestes-Vos pequenino; sois rico, e fizestes-Vos pobre; sois omnipotente, e fizestes-Vos frágil.

Nesta Noite, partilhamos a alegria do Evangelho: Deus ama-nos; e ama-nos tanto que nos deu o seu Filho como nosso irmão, como luz nas nossas trevas. O Senhor repete-nos: «Não temais» (Lc 2, 10). E vo-lo repito também eu: Não temais! O nosso Pai é paciente, ama-nos, dá-nos Jesus para nos guiar no caminho para a terra prometida. Ele é a luz que ilumina as trevas. Ele é a nossa paz. Amém.
__________________________________________________
Disponível em: Rádio Vaticano


Vou estragar a infância do meu filho se eu contar a ele que o Papai Noel não existe?


O artigo seguinte foi publicado originalmente na edição árabe de ZENIT como resposta a algumas perguntas de leitores. A resposta é bem-humorada, mas aborda “a séria questão da fé em Cristo”.

Um leitor nos perguntou: “Vou estragar a infância do meu filho se contar a ele que o Papai Noel não existe?”.

A resposta para esta pergunta não requer uma especialização em teologia, como vocês podem imaginar. Mas vale a pena respondê-la para refletirmos melhor sobre o significado do santo Natal, questionar alguns escrúpulos infundados e salvaguardar o que é essencial.

A minha resposta é sim, revelar que o Papai Noel não existe vai estragar a magia da infância dos seus filhos. Mas só se o Natal, para eles, for apenas uma questão de presentes e de contos e lendas. Vai estragar a infância dos seus filhos se o Papai Noel for “o único mediador” do afeto em família, o único elemento de surpresa e a única novidade que encerra o ano. Vai estragar a infância dos seus filhos se eles foram criados com a ideia de um deus carrasco, inquisidor, inspetor, que tudo vê (ou pior, que só vê os pecados). Um Jesus que vem castigar você de noite, etc. Neste caso, se você matar o “Bom Velhinho”, vai arruinar o último totem do Natal dos seus filhos.

Já se você quiser abrir para eles um “caminho melhor”, a minha resposta é não, absolutamente não vai estragar a infância dos seus filhos se contar a eles que o Papai Noel não existe. Vamos imaginar um cenário alternativo: você pode conversar com eles, numa linguagem simples, compreensível e atraente, sobre a beleza de um Deus que amou tanto o mundo, mas tanto, que nos deu de presente não somente todas as coisas, mas também o nosso próprio ser e, acima de tudo, deu a Si mesmo como presente para nós! Nesta conversa, os evangelhos da infância são uma leitura extraordinária para fazer à noite com os filhos.

Há uma imensa magia em contar a verdade sobre o Amor e sobre a sua gratuidade, que não é um mito surreal, mas a “verdade do mundo” e o “coração do mundo”. Este é “o amor que move o sol e as outras estrelas”.

E por que não explicar aos filhos que os presentes colocados embaixo da árvore são um símbolo minúsculo do grande presente de Deus para a humanidade, o seu próprio Filho, Jesus Cristo?

Por que não explicar que, apesar da crise, os pais, tios e tias, avôs e avós se prodigalizam para dar presentes não tanto pelos presentes em si, mas porque aprendemos de Jesus que há mais alegria em dar do que em receber e porque a fé nos ensina a beleza de estar juntos sob o mesmo teto?

Por que não ajudar a entender que o Papai Noel é um conto útil para nos lembrar de uma realidade muito mais bonita do que a ficção, a dos santos (neste caso, São Nicolau), que abrem os corações à generosidade para com o próximo, porque eles foram visitados e tocados pelo amor de Jesus, que nos amou primeiro?

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Jesus nasceu mesmo num dia 25 de Dezembro


Era uma provocação, obviamente, mas que se baseava naquilo que é (ou, melhor, que era) pacificamente aceite por todos os estudiosos: a colocação litúrgica do Natal é uma escolha arbitrária, sem ligação com a data do nascimento de Jesus, a qual ninguém estaria em condições de poder determinar. Ora bem, parece que os especialistas se enganaram mesmo; e eu, obviamente, com eles. Na realidade, hoje - graças também aos documentos de Qumran* - estamos em condições de poder estabelecê-lo com precisão: Jesus nasceu mesmo num dia 25 de Dezembro. Uma descoberta extraordinária a sério e que não pode ser alvo de suspeitas de fins apologéticos cristãos, dado que a devemos a um docente judeu, da Universidade Hebraica de Jerusalém.

Procuremos compreender o mecanismo, que é complexo, mas fascinante. Se Jesus nasceu a 25 de Dezembro, a sua concepção virginal ocorreu, obviamente 9 meses antes. E, com efeito, os calendários cristãos colocam no dia 25 de Março a Anunciação do Anjo S. Gabriel a Maria. Mas sabemos pelo próprio Evangelho de S. Lucas que, precisamente seis meses antes, tinha sido concebido por Isabel, João, o precursor, que será chamado o Baptista. A Igreja Católica não tem uma festa litúrgica para esta concepção, mas a Igreja do Oriente celebra-a solenemente entre os dias 23 e 25 de Setembro; ou seja, seis meses antes da Anunciação a Maria. Uma lógica sucessão de datas, mas baseada em tradições não verificáveis, não em acontecimentos localizáveis no tempo. Assim acreditávamos todos nós, até há pouquíssimo tempo. Mas, na realidade, parece mesmo que não é assim.

De fato, é precisamente da concepção do Baptista que devemos partir. O Evangelho de S. Lucas abre-se com a história do velho casal, Zacarias e Isabel, já resignado à esterilidade – considerada uma das piores desgraças em Israel. Zacarias pertencia à casta sacerdotal e, um dia, em que estava de serviço no Templo de Jerusalém, teve a visão de Gabriel (o mesmo anjo que aparecerá seis meses mais tarde a Maria, em Nazaré), o qual lhe anunciou que, não obstante a idade avançada, ele e a mulher iriam ter um filho. Deviam dar-lhe o nome de João e ele seria grande «diante do Senhor».


Lucas teve o cuidado de precisar que Zacarias pertencia à classe sacerdotal de Abias e que quando teve a aparição «desempenhava as funções sacerdotais no turno da sua classe». Com efeito, no antigo Israel, os que pertenciam à casta sacerdotal estavam divididos em 24 classes, as quais, alternando-se segundo uma ordem fixa e imutável, deviam prestar o serviço litúrgico no Templo, por uma semana, duas vezes por ano. Já se sabia que a classe de Zacarias - a classe de Abias - era a oitava no elenco oficial. Mas quando é que ocorriam os seus turnos de serviço? Ninguém o sabia. Ora bem, o enigma foi desvendado pelo professor Shemarjahu Talmon, docente na Universidade Hebraica de Jerusalém, utilizando investigações desenvolvidas também por outros especialistas e trabalhando, sobretudo, com textos encontrados na Biblioteca essena de Qumran. O estudioso conseguiu precisar em que ordem cronológica se sucediam as 24 classes sacerdotais. A de Abias prestava serviço litúrgico no Templo duas vezes por ano, tal como as outras, e uma das vezes era na última semana de Setembro. Portanto, era verosímil a tradição dos cristãos orientais que coloca entre os dias 23 e 25 de Setembro o anúncio a Zacarias. Mas esta verosimilhança aproximou-se da certeza porque os estudiosos, estimulados pela descoberta do Professor Talmon, reconstruíram a “fileira” daquela tradição, chegando à conclusão que esta provinha directamente da Igreja primitiva, judaico-cristã, de Jerusalém. Esta memória das Igrejas do Oriente é tão firme quanto antiga, tal como se confirma em muitos outros casos.

Eis, portanto, como aquilo que parecia mítico assume, improvisamente, uma nova verosimilhança - Uma cadeia de acontecimentos que se estende ao longo de 15 meses: em Setembro o anúncio a Zacarias e no dia seguinte a concepção de João; seis meses depois, em Março, o anúncio a Maria; três meses depois, em Junho, o nascimento de João; seis meses depois, o nascimento de Jesus. Com este último acontecimento, chegamos precisamente ao dia 25 de Dezembro; dia que não foi, portanto, fixado ao acaso. 

Sim, parece que festejar o Natal no dia 15 de Agosto é coisa não se pode mesmo propor. Corrijo, portanto, o meu erro, mas, mais que humilhado, sinto-me emocionado: depois de tantos séculos de investigação encarniçada, os Evangelhos não deixam realmente de nos reservar surpresas. Parecem detalhes aparentemente inúteis (o que é que importava se Zacarias pertencia à classe sacerdotal de Abias ou não? Nenhum exegeta prestava atenção a isto) mas que mostram, de improviso, a sua razão de ser, o seu carácter de sinais duma verdade escondida mas precisa. Não obstante tudo, a aventura cristã continua.

[tradução realizada por pensaBEM.net]

Nota: 
* Os manuscritos de Qumran foram descobertos em 1947, perto das margens do Mar Morto, na localidade de Qumran, localidade onde a seita hebraica dos Essénios tinha nos tempos de Jesus a sua sede principal. Os manuscritos foram encontrados em ânforas, provavelmente escondidos pelos monges da seita, quando tiveram de fugir dos romanos provavelmente entre 66 e 70 d. C. Aqueles pergaminhos deram-nos os textos de quase todos os livros da Bíblia copiados de dois a um século antes de Jesus e perfeitamente coincidentes com os que são usados hoje pelos hebreus e pelos cristãos(cfr. Hipóteses sobre Jesus, Porto, Edições Salesianas, 1987, p. 101).
________________________________________________ 
Fonte: Corriere della Sera, 9 de Julho de 2003
Tradução: pensaBEM.net

Disponível em: Veritatis Splendor

Jesus nasceu numa estrebaria


Alguns anos após ingressar no seminário, para conhecer um pouco mais a pessoa e a mensagem pela qual eu estava para consagrar a minha vida, passei a ler várias "biografias" de Jesus que então circulavam no mundo católico. Dentre elas, a do escritor italiano, Giovanni Papini (1881-1956), o qual, de agnóstico que sempre se orgulhara ser, em dado momento acolheu a graça com que Deus o visitava e se transformou num cristão fervoroso - apesar de conservar, em seus livros, o estilo polêmico que o caracterizava.

Num dos primeiros capítulos de sua "História de Cristo", Papini se detém sobre o tema: "Jesus nasceu numa estrebaria". Mais do que as palavras exatas, lembro o seu conteúdo: "O que é o mundo senão uma estrebaria, onde os homens defecam suas imundícies e se atritam quais animais? O que significa toda essa podridão e hipocrisia que os leva a se julgarem imunes dos delitos que condenam nos demais? Quem tem forças, rouba; quem tem armas, mata; quem está seguro da impunidade, se faz ladrão e assassino. Não há outra moral que a dos lobos e outro código que o dos abutres. Uma inversão total dos valores, onde o mal é considerado bem e o bem é visto como simploriedade. Precisamos novamente de Alguém que venha ao mundo para limpá-lo!".

Giovanni Papini escreveu a sua obra no biênio 1920-1921, na mesma época em que, em Trento, nascia Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, a qual, 60 anos mais tarde (em 1980), também suspirava por um Natal que renovasse a face da terra: "O Natal se aproxima e as ruas da cidade se engalanam de luzes. Uma fileira interminável de lojas, uma riqueza refinada, excessiva. Meninos e meninas em trenós puxados por renas e animaizinhos waltdisneyanos; Papais Noel, veadinhos, leitõezinhos, lebres, rãs, fantoches e anões vermelhos: tudo se move com elegância. Ah, lá estão os anjinhos! Que nada! São fadinhas, inventadas à ultima hora para enfeitar a paisagem branca.


Em meu coração, a incredulidade e, depois, quase uma revolta: este mundo rico 'defraudou' o Natal e tudo o que o cerca, e 'desalojou' Jesus. Do Natal, ama-se a poesia, a atmosfera, a amizade que desperta, os presentes que expõe, as luzes, as estrelas, as canções. Aposta-se no Natal para o melhor faturamento do ano. Mas em Jesus não se pensa. 'Veio para os seus, e eles não o receberam'. 'Não havia lugar para eles na estalagem', nem mesmo no Natal".
Se assim pensavam Giovanni Papini em 1921 e Chiara Lubich em 1980, imagine-se o que eles diriam hoje ante a degradação que atinge a sociedade e a natureza! O mundo é uma estrebaria quando o Natal perde o seu sentido e Jesus fica esquecido! Sem dúvida, estamos caminhando para um progresso científico e econômico cada vez maior, mas, com ele, também aumentam as frustrações e os dissabores trazidos pelos ídolos com que tentamos substituir a presença do Deus vivo e verdadeiro, que só atingimos quando vivenciamos o amor, a grande e sublime lição do Natal.

É o que escrevia a mesma Chiara, em 1979: "O Natal revela o amor que Deus tem por nós. Jesus Menino é o presente mais excelso que o Céu já deu à terra, esta minúscula Terra perdida na imensidão dos espaços, entre bilhões de estrelas, mas tão eleita, tão escolhida, a ponto de se tornar morda do Deus verdadeiro que se fez homem.

O Natal proclama que Deus nos ama, que Deus é amor. E nós não seremos cristãos autênticos se não dermos ao Natal o seu justo sentido, se não soubermos extrair deste mistério encantador, cercado por tantas aparências, a verdade que ele encerra. Façamos eco aos anjos que o anunciaram aos pastores e não percamos nenhuma ocasião para comunicar aos irmãos, aos amigos, aos colegas, ao mundo, que o amor desceu à terra por todos nós e que, no Natal, ninguém se deve sentir só, abandonado, órfão, infeliz".

Conta a lenda que Hércules precisou desviar dois rios para limpar os currais do rei Augias, que, de tão imundos, exalavam um gás mortal. Mas, para quem deseja atuar eficazmente para a "faxina" da humanidade, o caminho é mais exigente e... mais eficaz: "Partilhem os seus bens e tudo ficará limpo!" (Lc 11,41).


Dom Redovino Rizzardo 
Bispo de Dourados (MS). 
__________________________________
Disponível em: Central Católica

Como o Natal é celebrado em Belém, a cidade onde Jesus nasceu?


Em Belém o Natal tem o peso da história. É recordado onte realmente aconteceu. A terra, a paisagem, os lugares são os de 2000 anos atrás. As pessoas que celebram o Natal em Belém podem dizer para si mesmas: “Aqui nasceu Jesus”, experimentando, ao pronunciar aquela pequena palavra, “aqui”, uma grande comoção.

O Natal de Belém é um evento que faz manchetes. Dele falam os jornais e a televisão. A Missa de meia-noite celebrada no local onde Jesus nasceu, é transmitida a todo o mundo. Mas a informação que corre através da mídia é fria, sintética, desbotada. No emaranhado das notícias, torna-se um das muitas e perde o enorme significado que deveria ter.

Para saber realmente como se desenvolve e se “vive” o Natal no lugar onde Jesus nasceu, conversamos com uma pessoa que mora em Belém, um religioso franciscano francês, padre Stephane Milovitch, 45 anos, há 20 comprometidos em realizar o seu apostolado naquela terra que sete séculos foi confiada aos cuidados espirituais dos Frades de São Francisco, indicada com o nome de “Terra Santa”.

“Cheguei aqui no ano de 1992”, diz o padre Stephane “e, exceto por um período de quatro anos passados ??em Roma para estudar, eu sempre estive aqui. Por isso, posso dizer que “vivi” quinze Natais em Belém”.

Mestrado em teologia, poliglota, pessoa afável e grande organizador, Padre Stephane foi por seis anos secretário da Custódia da Terra Santa e desde 2010 é superior da comunidade religiosa franciscana de Belém que tem a sua sede no convento da Basílica da Natividade.

Esta basílica, de aspecto imponente e severo, é o principal objetivo de peregrinos e turistas de todo o mundo. A sua origem remonta ao 326. Foi a rainha Helena,mãe do Imperador Constantino, que a mandou construir, no mesmo local onde, segundo a tradição, aconteceu o nascimento de Jesus. Ao longo dos séculos, a Basílica tem sofrido dificuldades, destruições, reconstruções várias, mas ainda está ali para testemunhar o grande acontecimento.

A partir do seu interior, duas escadas levam a uma cripta, onde se encontra a “Gruta da Natividade”, que foi a gruta-estábulo onde, como está escrito no Evangelho, Maria e José se refugiaram porque “não havia lugar para eles na hospedaria”. E enquanto estavam ali, se cumpriram os dias para Maria, o dia do parto, “e deu à luz seu filho primogênito, e envolveu-o em panos e o deitou numa manjedoura.”


Na gruta há três lugares distintos de oração: o local do parto, indicado por uma estrela de prata de 14 pontas; alguns metros adiante, o presépio, ou seja, a manjedoura onde Maria colocou Jesus; e, diante, o  altar dos Magos, o lugar onde pararam alguns personagens famosos, estudiosos de astrologia, que vieram do distante Oriente para adorar o Rei-criança cujo nascimento foi anunciado a eles por sinais celestes.

“É necessário esclarecer”, disse o padre Stephane “ que em Belém todos os dias é Natal. Os peregrinos, sejam os que chegam em fevereiro, julho ou agosto, veem aqui para celebrar o Natal. E nós sacerdotes, acolhendo-os, cada dia vivemos com eles o Natal. Na Basílica e na gruta, celebramos a liturgia do Natal, onde se diz “Hoje Jesus nasceu.” Mas isso não tira, porém, que 25 de dezembro seja um dia completamente diferente também para nós. As emoções, os sentimentos, a alegria, naquele dia, aqui, onde há muitos anos atrás aconteceu o evento, é indescritível”.

Como se desenvolve o grande dia?

“É caracterizado pela oração. Uma imensa e contínua oração coral. A partir da tarde do 24 de dezembro até a tarde do dia 25, Belém se torna uma grande igreja onde a oração, especialmente aquela litúrgica e eucarística, é contínua. Chegam peregrinos de todo o mundo. Não só católicos, mas também de outros ritos e de outras religiões. Os sacerdotes, os bispos e todos os frades presentes na “Terra Santa” se transferem para Belém. Vem o Patriarca de Jerusalém, que é a mais alta autoridade católica na Terra Santa, e preside as cerimônias religiosas. Aí vêm as autoridades civis: o prefeito de Belém que, por lei, deve ser um cristão; o presidente da Palestina, Abu Mazen, com os seus ministros, que são muçulmanos; chegam os cônsules católicos presentes na Palestina, também o cônsul da Itália, França, Bélgica e Espanha, e chegam outros políticos, diplomatas de outros países do Oriente Médio, da Europa e de outros continentes. Belém se torna um grande centro ecumênico, preenchido por uma incrível atmosfera mística. Tudo acontece com o sinal da serenidade, da cordialidade como se o mundo se tornasse de repente uma grande família unida”.

Quando começam as cerimônias solenes?

“No início da tarde do 24 de dezembro, com a chegada do Patriarca. Uma chegada que se realiza segundo um cerimonial muito antigo”.

“O Patriarca parte da sua sede de Jerusalém acompanhado por uma procissão de carros. A polícia hebraica colabora, fecha as estradas laterais, assegura que os semáforos estejam no verde. Ao longo do caminho muitas pessoas aparecem na estrada para aplaudir calorosamente.

“A procissão de carros pára no mosteiro de Santo Elias, que está na entrada da cidade de Belém, onde o Patriarca é recebido pelas autoridades civis e religiosas da cidade. Como é sabido, Belém está cercada pelo “muro de separação” entre Israel e a Cisjordânia. A procissão do patriarca deve passar por uma porta que é aberta somente em raras ocasiões para as autoridades de grande peso. De acordo com uma antiga tradição, que remonta ao Império Otomano, o Patriarca, nesta sua viagem é também acompanhado por cinco cavalos. E, por motivos políticos, antes de atravessar o muro, os cavalos israelenses são substituídos por cavalos palestinenses.

“Tendo entrado em Belém, a procissão pára diante do túmulo de Raquel, onde o Patriarca recebe a saudação dos párocos da cidade. Em seguida, a procissão passa através da cidade habitada e chega à Basílica. Eu, como superior da comunidade, espero o Patriarca diante da porta da Humildade, dou-lhe as boas vindas e o acompanho à Igreja, onde preside a primeira função religiosa, o canto solene das Vésperas. No final, sempre em procissão, é acompanhado ao seu quarto para um breve descanso.

“Às 16hs tem-se a procissão que nós frades da comunidade fazemos todos os dias à gruta e nesta ocasião toma um aspecto de solenidade porque à ela participa também o Patriarca. Descemos à gruta, cantamos os hinos e recitamos as orações tradicionais. Neste caso sou eu que celebro e o patriarca assiste.

Terminada a função, o patriarca se retira mas nós continuamos a preparar”

O quê?

“A Igreja, em primeiro lugar. Para a missa da meia-noite há pedidos de todo o mundo. Nem mesmo a Basílica de São Pedro poderia satisfazer todas as petições. Então, somos forçados a remover os bancos. A nossa Basílica pode acomodar 500 pessoas sentadas. Ao remover os bancos, podemos dar espaço para 2000 pessoas. Claro que, para regular a presença de tanta gente somos forçados a distribuir bilhetes, que são totalmente gratuitos. São dados aos peregrinos vindos de todos os lados, enquanto que se exclui os habitantes de Belém.

“Depois praparamos a ceia da noite de Natal. A preparamos na “Casa Nova”, uma estrutura que usamos para acomodar os peregrinos. A ceia frugal, franciscana, com a presença de todos os frades presentes na Terra Santa, que naquela ocasião vão todos para Belém. É uma ceia que faz parte do cerimonial e com os frades cenam as autoridades de Belém, o Patriarca, os bispos, o presidente Abu Mazen com os seus ministros, os cônsules. É uma ceia em sinal da fraternidade, da amizade e da paz.

“A cerca das 21hs nós abrimos a porta de entrada da Basílica e começamos a deixar entrar os peregrinos que tem o bilhete. Por razões de segurança, a entrada é muito lenta. Cada pessoa deve passar por um detector de metais de segurança”.

E se chega à Missa da Meia-Noite.

“Às 23h e 30min começa a cerimônia principal, aquela que está intimamente relacionada ao nascimento de Jesus. É naturalmente presedida pelo patriarca e concelebrada por bispos e sacerdotes, no geral 150. Começa-se com o canto das laudes, segundo o cerimonial. Cinco minutos antes da meia-noite, chega o presidente Abu Mazen com a sua comitiva. É recebido pelo Patriarca que o cumprimenta brevemente. No curso da meia-noite, os sinos da Basílica começam a tocar, o coral entoa o “glória”. Um sacristão tira o pano que envolve a parte inferior do altar, feita um berço, e na qual foi colocada a estátua do menino Jesus. É o momento mais emocionante. Lembra o nascimento do Salvador. O canto de glória, realizado naquele lugar, tem um significado especial, porque lembra o que os anjos ouviram dos pastores. Como relatado no Evangelho, “uma multidão dos exércitos celestiais, louvava a Deus e dizia: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra entre aqueles a quem Deus ama”.

“O patriarca homenageia ao Menino Jesus com incenso e depois começa a Missa, que acontece regularmente celebrada em latim, com leituras que são lidas em oito idiomas.

“Abu Mazen e seus seguidores são de religião muçulmana. De acordo com uma antiga tradição, os muçulmanos podem estar presentes na Missa, mas não no momento da comunhão. Então, após a recitação do Agnus Dei, o patriarca cumprimenta o presidente Abu Mazen, que se retira com todo o seu séquito. A missa continua com grande quantidade de pessoas que recebem a Sagrada Comunhão, enquanto o coro canta canções tradicionais do Natal.

“No final do rito eucarístico, há a cerimônia de transferência da estátua do Menino à cuna do altar no presépio. Nâo se trata de um presépio construído para a ocasião, como acontece em todas as igrejas do mundo. Aqui nós temos o verdadeiro, permanente, localizado no local onde Jesus foi colocado na manjedoura por Maria, como lemos no evangelho.

“O patriarca pega a criança e em procissão chega à gruta da natividade. A procissão é limitada aos concelebrantes e algumas outras pessoas porque na gruta o espaço é limitado. Aqui acontece uma cerimônia muito comovente. Uma espécie de sagrada representação, explicada por antigos cantos gregorianos com textos em latim que são do IV-V séculos.

A primeira etapa é o lugar onde se encontra a estrela de prata de 14 pontas que, segundo a tradição está no lugar do nascimento de Jesus. O cantor declama os passos dos Evangelhos que contam a história, mas também acrescenta os detalhes que o atualizam. Diz, por exemplo, que chegado o tempo a Virgem Maria deu à luz seu filho. E ao texto histórico acrescenta “hic” “aqui” porque ali, naquele exato lugar aconteceu o nascimento. Depois diz que Nossa Senhora envolveu o bebê em panos, e o patriarca, com gestos, como uma mãe amorosa, envolve a estátua de Jesus com panos brancos. O cantor continua dizendo que o bebê será colocado numa manjedoura porque não havia lugar para eles na hospedaria e também a esta frase acrescenta “hic” “aqui”, pois a manjedoura, que está ali diante dos olhos dos presentes, na qual o patriarca coloca agora a estátua, é justo aquela onde a Virgem Maria colocou o menino Jesus. Os detalhes do canto e os gestos do patriarca recordam o evento mais importante ocorrido na face da terra e as emoções nos corações dos presentes são indescritíveis.

“Acabada a cerimônia, o patriarca volta à basílica, cumprimenta as autoridades e os fiéis e volta para o seu quarto para descansar.

“Geralmente, naquela hora já são as três da manhã. Mas, como eu disse, o Natal em Belém é caracterizada por uma oração contínua. Na gruta iniciam as Missas, que acontecerão uma após a outra durante todo o dia 25 de dezembro. Outras missas serão celebradas continuamente em outras igrejas em Belém. Onde não se reza, se canta a céu aberto. Vários coros locais, ou de turistas, realizam canções de Natal acompanhados por grupos de pessoas vindos de fora. Estas músicas, que no silêncio da noite sobem ao céu de várias partes da cidade, e que são cantos de coros, melódicos, pungentes, criam uma atmosfera de encanto e serenidade”.

____________________________________________________ 

Tradução do original italiano por Thácio Siqueira
Disponível em: Central Católica