sábado, 18 de janeiro de 2014

Por que sou contra o Big Brother Brasil?




São Paulo nos exortava, em sua Carta aos Coríntios, que “tudo me é permitido, mas nem tudo convém” (1 Cor 6,12). O sentido dessas palavras se traduz especialmente na realidade televisiva. Em uma televisão, temos diversos aspectos de canais: o canal do Boi, o canal Rural, que tratam sobre assuntos agropecuários; a TV Senado, que mostra ladrões, ou melhor, políticos, em atividade na cidade de Brasília; a Rede Vida, a Canção Nova, a TV Aparecida, que falam de assuntos religiosos; o canal 17, para leilões e, à noite, venda de produtos eróticos, pura pornografia; e existem também aqueles canais que maquiam a pornografia e dão-na nomes como novela ou Big Brother Brasil. Apesar de ter ‘de tudo um pouco’, ou seja, apresentar notícias, esportes e entretenimento, assim como as coisas desse mundão, não poderiam faltar coisas que não prestam, principalmente quando dá a audiência desejada.

O Big Brother Brasil, um dos programas de maior audiência da Rede Globo, mostram justamente coisas do mundo: pornografias reais, ou seja, pessoas mesmo fazendo sexo ao vivo, ou até mesmo fazendo a abominável strip-tease, pessoas provocando as outras, beijando as outras, brigando… E até interessante analisar que o BBB mostra pornografia durante o programa e depois também. Quando alguém sai da casa, vai correndo pousar na Playboy, no Paparazzo, em tudo quanto é agência de revista e site pornográfico. Dentro da casa o povo elimina um ao outro etc. Transa-se, elimina-se. E esses são dois pontos cruciais do nosso estudo.

A finalidade do Big Brother Brasil já mostra seu caráter demoníaco: a ganância pelo dinheiro. Dentro da casa, como já ouvi um participante falar, vale qualquer coisa para conseguir o tão sonhado 1 milhão de reais, como se aquilo fosse garantir a salvação de quem ganha o jogo. Todos os que estão ali na casa estão com a intenção primeira de ganhar dinheiro, quando Jesus nos fala que “não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16,13). O problema não está em recompensar o ganhador. Nada mais justo! Mas a pessoa dizer que vale qualquer coisa por dinheiro, até (ou principalmente) contradizer os valores cristãos é uma tremenda falta de fé, falta de amor a Deus. A segunda intenção, também ambiciosa, é a de conquistar a fama. A pessoa quer ser famosa para ganhar muito dinheiro e ser conhecida etc. Deus nos ensina a ser humilde. O BBB nos ensina a praticar a luxúria. Por aí vai…


Dentro da casa, o que se vê é justamente a contradição dos valores cristãos: sexo, sexo, sexo, sexo, sexo, sexo, sexo, sexo, briga, sexo, sexo, sexo, disputas, sexo, sexo, sexo, comentários infelizes, sexo, adultério, pensamentos sexuais, sexo, sexo e sexo. Sem contar a cervejinha, o churrasquinho, a strip-tease que a senhora (se não me engano) dona Priscila fez a um participante da casa. Quer dizer, é um tremendo dum bordel, porque só há paqueras, pensamentos de adultério, entre outras coisas. Quando a pessoa sai da casa, ela não fica parada não. Continua sendo fonte de pecado para muitos porque vai direto para o Paparazzo pousar nua, ou nu para que os ‘interneteiros’ possam ter pensamentos ‘doidões’, masturbação, entre outras perversões sexuais.

Agora, sobre a questão da eliminação, é preciso lembrar claramente as palavras de Jesus:

Amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e] perseguem. Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos. Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos? Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isto também os pagãos? Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito (Mt 5,44-48).

Será que, eliminando alguém, estaremos amando nossos inimigos e orando pelos que nos perseguem? Acho que não… É preciso saber diferenciar aquilo que convém ver daquilo que não convém ver. Convém ver a Canção Nova, não convém ver a Globo. Convém ver a TV Século 21, não convém ver a Record etc., lembrando que tudo nos é permitido, mas nem tudo nos convém.

As crianças vêem Big Brother e acham uma beleza. Os pais batem palmas para o filho que dança o créu, a dança do quadrado, a música da bicicletinha. Olha, é lamentável. Eu, em 2 anos de caminhada que tenho a frente da RCC, nunca vi um menino de três ou dois anos dançando a Aeróbica do Senhor, do Padre Marcelo Rossi, ou o Erguei as mãos, do mesmo. Mas já vi muito pai exclamando “Que gracinha!” pro filho que dança essas músicas pervertidas. Ora essa, o que se mostra no BBB? Só palhaçada… E nós, como católicos, vamos virar palhaços se não começarmos a selecionar o que vai entrar pelo nosso ouvido, o que vai sair pela nossa boca, o que vamos ler e até o que vamos assistir.

Estamos parecendo lixo. A televisão só está enfiando porcarias dentro do nosso coração e nós continuamos vendo… Quanta “antice”!

Que Deus nos ajude a saber discernir aquilo que nos faz bem daquilo que nos faz mal para que aprendamos boas lições com a televisão, e não besteiras, dotadas dum sexualismo fútil, que o diabo nos ensina.

Graça e paz.


Everth Queiroz Oliveira 
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Fonte: Ecclesia Una

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Brigas de irmãos: como baixar os ânimos




Se há uma coisa que consegue tirar a alegria de um lar e desestabilizar um ambiente, são as brigas entre irmãos. Nada pode ser mais desagradável. Os pais pedem, imploram, mas quando eles decidem brigar, não há quem consiga fazê-los parar.



Além da cena terrível que é ver dois irmãos brigarem, fica para os pais um sentimento de amargura, de incompetência, de incapacidade de lidar com um problema que parece tão simples e tão banal. E na sequência, vem a culpa e a pergunta: por que brigam tanto, o que estou fazendo de errado, serei eu culpado de tudo isso? De uma certa forma, esta pergunta já contém em si a resposta. Quando desconfiamos de que podemos estar fazendo algo de errado, é quase certo que estamos fazendo.



É bem verdade que o ciúme é uma das principais causas das brigas constantes, e o que provoca o ciúme é a forma diferenciada como tratamos nossos filhos. Cada filho é um filho e é único, e justamente por causa disso, o tratamento que dedicamos a cada um também é bastante distinto. Não há como negar tal fato. Nunca tratamos todos os filhos da mesma forma, até porque cada um exige e necessita de tratamento diferenciado e nosso afeto, muitas vezes, também acaba sendo bastante diferenciado.



Ou por questões de afinidade pessoal, ou por momentos diferentes da vida em que foram concebidos; ou por razões muito subjetivas, ou por maior facilidade de comunicação com um do que com o outro, o fato é que temos maneiras e linguagens diferentes para nos relacionar com cada um dos filhos. Mas para eles este é um fato muito difícil de ser compreendido ou aceito, pois, aos olhos dos filhos os pais são os mesmos, e deveriam tratar todos os filhos da mesma maneira. Na sua incapacidade de lidar com a situação ou de argumentar de forma lógica, o modo que a criança encontra para extravasar a raiva e o ódio é por meio dos socos, chutes, murros, mordidas, beliscões e palavrões. É a forma mais primitiva que existe de manifestação da raiva. Mas será que só o ciúme explica tanta agressividade entre irmãos?


De fato, parece que há mesmo algum erro dos pais que se reflete nas brigas dos filhos. Quando observamos casais estáveis, bem resolvidos e em harmonia, observamos também que as brigas entre os filhos são raras, e em geral, são por problemas passageiros, que em poucos minutos se resolvem.



Entretanto, há famílias em que as brigas são frequentes, em que os filhos parecem ter desenvolvido uma linguagem corporal toda própria, que é a linguagem dos socos e dos palavrões. E através desses socos e chutes tentam transmitir alguma mensagem que os pais dificilmente conseguem captar. O que estarão eles tentando nos dizer com todos esses murros e palavrões?



Os filhos são o nosso reflexo, refletem nosso humor, nossos comportamentos, nossas angústias, nossa doçura e nossa agressividade. Assim, se eles brigam demais com certeza é porque algo não vai bem em nossas vidas. Como a criança ou o jovem não pode ou não sabe como extravasar sua raiva, ele parte para a agressão física, que é a linguagem que conhece. E em quem ele vai bater, já que não pode bater nos pais? Naquele que estiver mais próximo, que quase sempre é o irmão mais novo.



Penso que a maioria das brigas entre irmãos são causadas pelo desejo que têm de bater nos pais; pelo desejo de se rebelar contra uma situação que não aceitam, ou que não suportam. Bater é a saída para aliviar a tensão, a raiva, a frustração. Ocorre, no entanto, que a cada briga a tensão piora muito, o clima fica insuportável, e o desentendimento familiar recomeça, como num ciclo vicioso. A mãe grita com um, o pai grita com o outro, a mãe culpa o pai, que por sua vez culpa a mãe, que culpa o filho, que culpa a avó, que culpa a empregada, e por aí vai. E a bola de neve vai aumentando. Observe como seus filhos se comportam de forma diferente quando estão com pessoas mais calmas e mais dóceis. Eles reagem à calma com calma, à doçura com doçura, à delicadeza com delicadeza, e à raiva com raiva.



Todavia, quando um determinado comportamento se instala em um núcleo familiar é muito difícil quebrá-lo, porque ele fica incorporado à dinâmica da família, passa a ser o modus vivendi daquela família. Então...



Como resolver as brigas?


Bispos do Maranhão divulgam carta a todo o povo maranhense.




 
Ao Povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade.

“Justiça e paz se abraçarão” (Sl 85,11)

Ainda estão vivas em nós a forte emoção e dor, provocadas pelos últimos acontecimentos no Estado do Maranhão – a morte violenta da Ana Clara, criança de seis anos que faleceu após ter seu corpo queimado nos ataques a ônibus; os cruéis assassinatos no Complexo Penitenciário de Pedrinhas; o clima de terror e medo vivido na cidade de São Luís. A nossa sociedade está se tornando cada vez mais violenta. É nosso parecer que essa violência é resultado de um modelo econômico-social que está sendo construído.
A agressão está presente na expulsão do homem do campo; na concentração das terras nas mãos de poucos; nos despejos em bairros pobres e periferias de nossas cidades; nos altos índices de trabalhadores que vivem em situações de exploração extrema, no trabalho escravo; no extermínio dos jovens; na auto-destruição pelas drogas; na prostituição e exploração sexual; no desrespeito aos territórios de indígenas e quilombolas; no uso predatório da natureza.
Esta cultura da violência, aliada à morosidade da Justiça e à ausência de políticas públicas, resulta em cárceres cheios de jovens, em sua maioria negros e pobres. O nosso sistema prisional não reeduca estes jovens. Ao contrário, a penitenciária transformou-se em uma universidade do crime. Não nos devolve cidadãos recuperados, mas pessoas na sua maioria ainda mais frustradas que veem na vida do crime a única saída para o seu futuro. 
Vivemos num Estado que erradicou a febre aftosa do gado, mas que não é capaz de eliminar doenças tão antigas como a hanseníase, a tuberculose e a leishmaniose. É verdade que a riqueza no Maranhão aumentou. Está, porém, acumulada em mãos de poucos, crescendo a desigualdade social. Os índices de desenvolvimento humano permanecem entre os mais baixos do Brasil.
Não é este o Estado que Deus quer. Não é este o Estado que nós queremos! Como discípulos missionários de Jesus, estamos comprometidos, junto a todas as pessoas de boa vontade, na construção de uma sociedade fraterna e solidária, sem desigualdades, sem exclusão e sem violência, onde a “justiça e a paz se abraçarão” (Sl 85,11 ) . 

A cultura do amor e paz, que tanto almejamos, é um dom de Deus, mas é também tarefa nossa. Nós, bispos do Maranhão, convocamos aos fieis católicos e a todas as pessoas que buscam um mundo melhor a realizarem um gesto concreto no próximo dia 2 de fevereiro, como expressão do nosso compromisso com a justiça e a paz. Neste dia – Festa da Apresentação do Senhor, Luz do mundo, e de Nossa Senhora das Candeias –, pedimos que se realize em todas as comunidades uma caminhada silenciosa à luz de velas, por ocasião da celebração. Às pessoas comprometidas com esta causa e às que não puderem participar da celebração sugerimos que acendam uma vela em frente à sua residência, como sinal do seu empenho em favor da paz.

Invocando a proteção de Nossa Senhora, Rainha da Paz, rogamos que o Espírito nos oriente no sentido de assumirmos nossa responsabilidade social e política para construirmos uma sociedade de irmãs e irmãos que convivam na igualdade, na fraternidade e na paz.


Centro de Formação de Mangabeiras-Pinheiro - MA, 15 de janeiro de 2014


Dom Armando Martin Gutierrez
Dom Carlo Ellena

Dom Élio Rama

Dom Enemésio Lazzaris

Dom Franco Cuter

Dom Gilberto Pastana de Oliveira

Dom José Belisário da Silva

Dom José Soares Filho

Dom José Valdeci Santos Mendes

Dom Sebastião Bandeira Coêlho

Dom Sebastião Lima Duarte

Dom Vilsom Basso

Dom Xavier Gilles de Maupeou d’Ableiges

Aprender a ser cristão




No batismo recebemos o dom precioso da fé, juntamente com a esperança e a caridade; mas como é que tantas pessoas ficam apenas com o batismo e não se tornam cristãos na vida? Está claro que a recepção do batismo, por si só, ainda não garante a vivência cristã. Ninguém nasce cristão, mas aprende-se a ser cristão ao longo da vida.

No conceito comum, muitas vezes,  o “ser cristão” consiste no fato de ter sido batizados; ou nalguma forma de pertença à Igreja; talvez, na participação da missa dominical? Na observância de algum rito, como fazer o sinal da cruz? No fato de evitar algum tipo de vício ou pecado? Há em tudo isso algo de verdadeiro, mas o ser cristão supõe algo mais, muito mais! Por isso, se queremos progredir na fé e tornar-nos católicos maduros, precisamos considerar vários aspectos e implicações da vida cristã.

É difícil resumir num breve artigo todo o “aprendizado” da vivência cristã, do qual fazem parte o reconhecimento de Deus e o encontro com ele; a “escuta” de Deus, que se dá a conhecer e ilumina nossa existência; a nossa resposta pela profissão de fé consciente e pela prática da fé através da vida moral; o cultivo da comunhão filial com Deus através da celebração dos “mistérios da fé” e da oração; o testemunho cristão através das virtudes cristãs, sobretudo do amor fraterno e da retidão de vida; o esforço para a transmissão da fé...

É evidente que esse “aprendizado”não se refere a um mero exercício intelectual, ou a um conhecimento conceitual. Lembremos do que nos ensinou Bento XVI: a vida cristã não nasce de um raciocínio perfeito, nem de um alto ideal moral, mas do encontro com uma pessoa, com Jesus Cristo, Filho de Deus Salvador. Não se trata, pois, de preparar cristãos “diplomados”, mas de formar discípulos de Cristo; aliás, este conceito vai muito bem para dizer quem o cristão deveria ser: um discípulo de Cristo – “discípulo-missionário”, como nos recomenda o Documento de Aparecida.


Todo o esforço de formação cristã, fundamentalmente, está voltado ao conhecimento de Cristo Jesus no dom do Espírito Santo e, por meio dele, de Deus Pai; a “aprender Deus” por meio de Cristo e a aprender dele a viver a nossa relação com Deus, com o próximo e com todas as coisas que nos cercam; aprender com Cristo o sentido da vida e a orientação que lhe devemos dar. Aprendemos a ser cristãos na companhia de Cristo, ouvindo e acolhendo sua palavra, olhando para seu exemplo, seguindo seus passos, compartilhando seus sentimentos... Enfim, trata-se de uma experiência enriquecedora, movida pela fé.

Em nossa Arquidiocese, propomo-nos a trabalhar, ao longo de 2014, a “iniciação à vida cristã” como “urgência pastoral”. Como se aprende a se cristão? Como se ensina a ser cristãos? A quem compete fazer isso? Em qual fase da vida deve ser iniciado esse processo? Qual é o papel dos pais católicos? Da comunidade de fé? Dos ministros da Igreja? De cada um em particular?

Sobre tudo isso, há muito para se dizer. A ação pessoal de cada católico na missão de introduzir os irmãos no caminho da fé é importante; mas temos a consciência de que esta missão compete, por excelência, à comunidade eclesial, que acolhe, acompanha, ampara e estimula o caminho na fé dos seus membros.

Estaremos seguindo a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium – “A Alegria do Evangelho”, do papa Francisco, as Diretrizes Gerais da CNBB, bem como o nosso 11° Plano de Pastoral Arquidiocesano. Que a graça de Deus nos acompanhe!


Card. Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo



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Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 14.01.2014
Disponível em: CNBB