A objeção que com
frequência se formula contra o restabelecimento da liturgia romana tradicional
como o rito ordinário da Igreja é que tal rito é expressão de uma cultura ultrapassada,
esclerosada, incapaz de cativar a sensibilidade do homem de hoje. É claro que
essa objeção não leva em conta as razões teológicas em favor da liturgia de
sempre e contra os desvios doutrinários do rito reformado, conforme ressaltaram
abalizados estudos feitos por teólogos, liturgistas e ilustres prelados.
Trata-se de uma objeção superficial de cunho antropológico, psicológico ou,
talvez, sociológico, que não considera devidamente o problema cultural, este,
sim, o verdadeiro desafio para a evangelização do homem moderno.
Como
se sabe, alguns dos “profetas” da nova teologia, condenada por Pio XII na
encíclica Humani Generis, diziam que o discurso teológico devia deixar de
lado os princípios metafísicos, que se tinham tornado ininteligíveis ao homem
moderno, e abrir-se à grande contribuição que a psicologia, a sociologia, a
antropologia cultural e outras ciências modernas poderiam dar-lhe e garantiriam
à Igreja um êxito espetacular no cumprimento de sua missão em nossos tempos,
visto que o homem moderno tem sua sensibilidade e seu gosto voltados para essas
disciplinas.
Ora, a receita da nova teologia foi adotada, mas, infelizmente, a Igreja, que já estava combalida havia tantos séculos por um humanismo e liberalismo anticristãos, ficou ainda mais debilitada ao abeberar-se dessas fontes que exaltavam a liberdade do homem moderno mais “consciente” de sua individualidade e aptidão para transformar a realidade; – ao abeberar-se dessas fontes que exaltavam também a cultura democrática laica dos nossos dias, que seria, até, uma cultura mais cristã que a dos séculos passados da cristandade, na medida em que seria mais aberta aos ideais de igualdade, justiça social, liberdade, autonomia e outros valores semelhantes que não teriam sido devidamente cultivados nos tempos da cristandade.
Não é necessário apontar os frutos amargos produzidos por tal discurso de exaltação da cultura moderna. As estatísticas provam a calamidade resultante do fato de a cultura secular ter sido assimilada pela Igreja, sobretudo a partir do Vaticano II. Tampouco é necessário provar que tal discurso se tornou realmente o discurso oficial da Igreja e não algo marginal, abusivo, ou simples desvio de correntes dissidentes. Basta recordar o que disse Paulo VI no final do concílio, o que disse o cardeal Ratzinger à revista "Jesus" e o que diz quase a toda hora Francisco I.