domingo, 27 de julho de 2014

Por que a morte do catolicismo ocidental é uma ótima notícia para a Igreja?


Quando a fotografia foi inventada, em meados do século XIX, algumas pessoas temiam que essa nova prática, especialmente quando a cor fosse adicionada a ela, condenasse a arte da pintura ao desaparecimento. Já que a câmera poderia representar visualmente a realidade com muito mais precisão do que o pincel, a pintura teria menos demanda e a qualidade e quantidade de pintores cairia. Mais cedo ou mais tarde, aquela arte milenar acabaria se extinguindo.

Como todos sabem, os pessimistas estavam errados.

Longe de condenar a arte da pintura, a fotografia a libertou de uma das suas funções não essenciais: a de representar a realidade visível. O que se seguiu nas décadas seguintes, começando com os impressionistas, foi uma explosão de criatividade na arte da pintura. Livre da necessidade de fornecer representações precisas da realidade, a pintura se tornou mais "pura". O artista estava mais livre do que nunca para saciar os seus impulsos criativos e as suas inspirações.

Eu acho que devemos ter isso em mente quando pensamos no declínio do catolicismo, especialmente nas regiões mais ricas do mundo. À primeira vista, parece que o catolicismo está condenado a desaparecer nos países mais prósperos, sobrevivendo apenas nos mais pobres.

Mas um olhar mais cuidadoso pode nos convencer de que o que está acontecendo é que o catolicismo está perdendo apenas as suas funções não essenciais, ficando livre, assim, para se tornar mais "puro". Talvez este declínio seja apenas um prelúdio de uma nova e criativa era do catolicismo, como a fotografia foi o prelúdio de uma nova e criativa era para a pintura. 

O naufrágio de São Paulo e o naufrágio do nosso catolicismo


O Lecionário para a Missa pós-Vaticano II se caracteriza por uma série de finíssimos detalhes. Um deles é a leitura contínua dos Atos dos Apóstolos durante as missas feriais do tempo pascal. Enquanto celebra a Ressurreição ao longo de cinquenta dias, a Igreja também reflete sobre a primeira evangelização: a comunidade cristã primitiva, com o poder do Espírito Santo, espalha pelo mundo mediterrâneo a histórica notícia de que Jesus de Nazaré, tendo ressuscitado dentre os mortos, constituiu-se Senhor e Salvador para o perdão dos pecados.

Essa leitura em série dos Atos dos Apóstolos termina com Paulo estabelecido em Roma, provavelmente no atual bairro do Trastevere, falando com a comunidade judaica romana sobre as suas antigas esperanças na aliança com Deus, que chega à plenitude em Cristo ressuscitado.

Há, no entanto, uma omissão dessa história cristã primitiva que eu lamento muito: o lecionário omite o capítulo 27 dos Atos, que conta a dramática história do naufrágio de Paulo e da sua breve estada em Malta, onde o apóstolo é milagrosamente salvo de uma víbora venenosa e de onde ele parte em outro navio para Roma.

Eis uma questão para refletirmos: inúmeros livros sobre a história da Igreja foram escritos ao longo de dois milênios, mas o único livro inspirado por Deus sobre a história da Igreja, os Atos dos Apóstolos, termina com o relato de um naufrágio. Um aparente desastre que se transforma, por obra da divina providência, em oportunidade para estender a missão da Igreja.

As cenas continuam em Atos 28. Paulo não está desfrutando das melhores circunstâncias em Roma: ele vive sob uma espécie de prisão domiciliar. Mesmo assim, ele transforma os seus aposentos em um centro de evangelização, conclamando a comunidade judaica romana a repensar sobre Jesus e a reconsiderar as críticas que eles tinham ouvido sobre a nova "seita" cristã, além de explicar como Deus, por seu Espírito Santo, tinha estendido a salvação vivificante também aos gentios. A inconveniência e a indignidade da prisão domiciliar o levam a uma intensa atividade evangélica: "E ele viveu ali durante dois anos inteiros, às próprias custas, e congratulou-se com todos quantos vieram até ele, pregando o reino de Deus e ensinando sobre o Senhor Jesus Cristo abertamente e sem obstáculos" (Atos 28,30).

Naufrágio e missão, ao que parece, se entrelaçam no DNA histórico da Igreja.

Não se trata de sugerir que a Igreja deva deliberadamente procurar o naufrágio. Grande parte dos danos infligidos ao catolicismo nas últimas décadas são ferimentos que os próprios católicos abriram contra si próprios e que as autoridades da Igreja têm a obrigação de sanar: os escândalos de abusos sexuais, as histórias de terror sobre a vida católica de meados do século XX na Irlanda, as formas de dissidência intelectual que esvaziaram o catolicismo do patrimônio da verdade legado a ele pelo Senhor, o contratestemunho público dos católicos que não conseguem defender com firmeza a dignidade da pessoa humana em todas as fases da vida e em todas as condições de vida. O assalto cultural mais amplo cometido contra a Igreja, porém, é outra questão.

Alguns podem considerar um "naufrágio" a atual agonia do catolicismo cultural que transmitiu e sustentou a fé em tantos países do Ocidente. Mas o que é que deveríamos esperar, se a cultura pública ambiental se torna tóxica, contrária à Bíblia e cristofóbica (para usar o agudo termo recentemente enfatizado pelo jurista judeu ortodoxo Joseph Weiler)? Talvez o fim do catolicismo cultural seja uma espécie de naufrágio; afinal, o catolicismo que foi oferecido à próxima geração, sem grande esforço, é um tipo de catolicismo por osmose.

Por que Deus pede um casamento para sempre e com a mesma pessoa?


Existem ensinamentos de Jesus que provocam desconforto, porque seriam limitadores da liberdade e do desejo de construir a felicidade. "Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e disse: Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e os dois formarão uma só carne?" (Mateus 19,4-6).

Esta frase pronunciada com autoridade por Jesus, contradizendo também a lei mosaica, suscitou debates, divisões, cismas no interior da Igreja. E também dor por parte de muitos que, tendo fracassado no próprio casamento, buscaram refazer-se na vida afetiva e hoje se sentem excluídos ou rejeitados pela Igreja porque não podem comungar.

Trata-se de um dos ensinamentos que não é facilmente compreendido. Como pode Deus reivindicar que uma união conjugal seja para sempre, se nós somos vulneráveis, tão inclinados ao mal, frágeis, sentimo-nos frequentemente incapazes de ser fiéis aos nossos compromissos perenes? Pode existir uma união para sempre? E se errarmos?

Por outro lado, muitos defendem a possibilidade de dissolver o matrimônio levando em consideração o fato de que o amor seria inconstante, ou que não exista um afeto que possa ser duradouro por causa da contingência do homem. Por que Deus pede união matrimonial para sempre e com apenas uma pessoa? Talvez não nos conheça, ou não sabe do que somos feitos?

A defesa da indissolubilidade está na argumentação da sua negação. Deus sabe do que somos feitos e por isso acredita em nós. Ele conhece perfeitamente tudo o que somos capazes, nós, porém, por causa do nosso pecado, pouco a pouco nos esquecemos. Somos pecadores, Ele sabe muito bem, mas somos também seres redentores, e esta redenção é o que permite fazer de nós novas criaturas. Somos feitos para o amor, que não é somente uma possibilidade humana, mas também um dever metafísico. Quem não ama perdeu a sua humanidade e o sentido daquilo que é.

Para acreditar na indissolubilidade matrimonial é necessário acreditar na fidelidade, e para acreditar na fidelidade é necessário acreditar no amor. Mas para acreditar no amor é fundamental acreditar em Deus. Não se pode acreditar no amor verdadeiro se não acreditarmos em Deus.

sábado, 26 de julho de 2014

Com sua assinatura ajudamos a salvar os cristãos do Iraque


Os últimos cristãos acabam de deixar Mossul (Iraque), depois que o Estado Islâmico (EI) deu a eles duas opções: o exílio ou a morte. Milhares de cristãos já foram assassinados ou sequestrados. Outros abandonaram suas casas sem poder levar nada.

Pela primeira vez em 18 séculos não há nenhum cristão em Nínive, hoje Mossul.


Não podemos ficar indiferentes diante disso! 


Não esperemos que aconteça um crime contra a humanidade para mobilizar a comunidade internacional!

Nós convidamos você a assinar esta petição dirigida à ONU e à Liga Árabe, para que elas atuem rapidamente para colocar fim aos abusos do Estado Islâmico e para que encerra esta tentativa de eliminar os cristãos do Iraque. 

O ódio a Israel


“Não é possível discutir racionalmente com alguém que prefere matar-nos a ser convencido pelos nossos argumentos.” (Karl Popper)

As recentes declarações do presidente Obama reacenderam o debate sobre o confronto entre Palestina e Israel. Todos gostam de emitir opinião sobre o assunto, mesmo sem embasamento. Não pretendo entrar na questão histórica em si, até porque isso foge da minha área de conhecimento. Mas gostaria de colaborar com o debate pela via econômica. Do meu ponto de vista, há muita inveja do relativo sucesso israelense. A tendência natural é defender os mais fracos. Isso nem sempre será o mais justo.

O antissemitismo é tão antigo quanto o próprio judaísmo. Os motivos variaram com o tempo. Mas, em minha opinião, não podemos descartar a inveja como fator importante. A prática da usura era condenada pelos católicos enquanto os judeus desfrutavam de sua evidente lógica econômica. Shakespeare retratou o antissemitismo de seu tempo em seu clássico “O Mercador de Veneza”, em que Shylock representa o típico agiota insensível. Marx, sempre irresponsável com suas finanças, usou os judeus como bode expiatório para atacar o capitalismo. O nacional-socialismo de Hitler foi o ponto máximo do ódio contra judeus.

Vários países existem por causa de decisões arbitrárias de governos, principalmente após guerras. Israel é apenas mais um. Curiosamente, parece que somente Israel não tem o direito de existir. Culpa-se sua existência pelo conflito na região, sem levar em conta que os maiores inimigos dos muçulmanos vêm do próprio Islã. O que Israel fez de tão terrível para que mereça ser “varrido do mapa”, como os fanáticos defendem?

Israel é um país pequeno, criado apenas em 1948, contando hoje com pouco mais de sete milhões de habitantes. Ao contrário de seus vizinhos, não possui recursos naturais abundantes, e precisa importar petróleo. Entretanto, o telefone celular foi desenvolvido lá, pela filial da Motorola. A maior parte do sistema operacional do Windows XP foi desenvolvida pela Microsoft de Israel. O microprocessador Pentium-4 foi desenvolvido pela Intel em Israel. A tecnologia da “caixa postal” foi desenvolvida em Israel. Microsoft e Cisco construíram unidades de pesquisa e desenvolvimento em Israel. Em resumo, Israel possui uma das indústrias de tecnologia mais avançadas do mundo.

Os últimos cristãos de Mossul: imagens de uma tragédia


Tristes imagens dos últimos cristãos fugidos de Mossul (Iraque), acolhidos na paróquia da aldeia de Telkiff. As fotos foram cedidas por seu autor à edição árabe da Aleteia. Fonte: Ishtartv



Papa reflete sobre o mal no mundo e a paciência de Deus, e volta a pedir oração pela paz no Oriente Médio


PAPA FRANCISCO
ANGELUS
Praça de São Pedro
Domingo, 20 de Julho de 2014

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

Durante estes domingos a liturgia propõe algumas parábolas evangélicas, ou seja, breves narrações que Jesus utilizava para anunciar o Reino dos céus às multidões. Entre aquelas presentes no Evangelho de hoje, há uma bastante complexa, cuja explicação Jesus oferece aos discípulos: é a do trigo e do joio, que enfrenta o problema do mal no mundo, pondo em evidência apaciência de Deus (cf. Mt 13, 24-30.36-43). A cena desenrola-se num campo onde o senhor lança a semente; mas certa noite chega o inimigo e semeia o joio, termo que em hebraico deriva da mesma raiz do nome «Satanás», evocando o conceito de divisão. Todos nós sabemos que o diabo é um «semeador de joio», aquele que procura sempre dividir as pessoas, as famílias, as nações e os povos. Os empregados gostariam de arrancar imediatamente a erva daninha, mas o senhor impede-o com a seguinte motivação: «Ao extirpardes o joio, correis o risco de arrancar também o trigo» (Mt 13, 29). Pois todos nós sabemos que o joio, quando cresce, se assemelha muito ao trigo, e existe o perigo de se confundirem.

O ensinamento da parábola é dúplice. Antes de tudo recorda que o mal existente no mundo não deriva de Deus, mas do seu inimigo, o Maligno. É curioso, o Maligno sai à noite para semear o joio, na escuridão, na confusão; sai para semear o joio onde não há luz. Este inimigo é astuto: semeou o mal no meio do bem, de tal forma que para nós, homens, é impossível separá-lo claramente; mas no final Deus conseguirá fazê-lo!

E aqui chegamos ao segundo tema: a oposição entre a impaciência dos empregados e a espera paciente do dono do campo, que representa Deus. Às vezes temos uma grande pressa de julgar, classificar, pôr de um lado os bons e do outro os maus. Mas recordai-vos da oração daquele homem soberbo: «Graças a Vós ó Deus, eu sou bom, não sou como os outros homens, maus...» (cf. Lc 18, 11-12). Ao contrário, Deus sabe esperar. Ele olha para o «campo» da vida de cada pessoa com paciência e misericórdia: vê muito melhor do que nós a sujeira e o mal, mas vê também os germes do bem e espera com confiança que eles amadureçam. Deus é paciente, sabe esperar. Como isto é bom! O nosso Deus é um Pai paciente que nos espera sempre, que nos aguarda com o coração na mão para nos receber e perdoar. Perdoa-nos sempre se formos ter com Ele.

A atitude do dono do campo é aquela da esperança fundada na certeza de que o mal não é a primeira nem a última palavra. E é graças a esta esperança paciente de Deus que o próprio joio, ou seja, o coração maldoso, com muitos pecados, no final pode tornar-se uma boa semente. Mas atenção: a paciência evangélica não é indiferença diante do mal; não se pode fazer confusão entre o bem e o mal! Perante o joio presente no mundo, o discípulo do Senhor é chamado a imitar a paciência de Deus, a alimentar a esperança com o alento de uma confiança inabalável na vitória final do bem, ou seja, de Deus.

Com efeito, no final o mal será arrancado e eliminado: no tempo da colheita, isto é do juízo, os ceifeiros cumprirão a ordem do senhor, separando o joio para o queimar (cf. Mt 13, 30). Naquele dia da ceifa final o Juiz será Jesus, Aquele que lançou a boa semente no mundo e, tornando-se Ele mesmo «grão de trigo», morreu e ressuscitou. No final, todos nós seremos julgados com a mesma medida com a qual tivermos julgado: a misericórdia que tivermos usado em relação aos outros será utilizada também para connosco. Peçamos a Nossa Senhora, nossa Mãe, que nos ajude a crescer na paciência, na esperança e na misericórdia com todos os irmãos.

Mensagem do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso aos Muçulmanos no fim do Ramadã


CONSELHO PONTIFÍCIO PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
MENSAGEM PARA O FIM DO RAMADÃO
‘Id al-Fitr 1435 H. / 2014 a.d.
«Rumo a uma autêntica fraternidade entre cristãos e muçulmanos»

Amados irmãos e irmãs muçulmanos,

É para nós uma grande alegria transmitir-vos as nossas sinceras felicitações e os melhores votos por ocasião do ‘Id al-Fitr, no encerramento do mês do Ramadão dedicado ao jejum, à oração e à assistência aos pobres. No ano passado, primeiro do seu ministério, o PapaFrancisco assinou pessoalmente a Mensagem que vos foi dirigida na circunstância do ‘Idal-Fitr. Numa outra ocasião, ele também vos saudou como «nossos irmãos» (Angelus, 11de Agosto de 2013). Todos nós reconhecemos a expressividade destas palavras. Com efeito, cristãos e muçulmanos são irmãos e irmãs da única família humana, criada por um só Deus.

Recordemos as palavras que o Papa João Paulo II dirigiu a alguns Chefes religiosos muçulmanos, em 1982: «Todos nós, cristãos e muçulmanos, vivemos na terra sob o sol de um único Deus misericordioso. Uns e outros acreditamos no único Deus, que é o Criador do homem. Proclamamos a soberania de Deus e defendemos a dignidade do homem como servo de Deus. Adoramos a Deus e professamos-lhe a nossa submissão total. Assim, no verdadeiro sentido podemos chamar-nos, uns aos outros, irmãos e irmãs na fé no único Deus» (Kaduna, Nigéria, 14 de Fevereiro de 1982).

Demos graças ao Altíssimo por tudo aquilo que temos em comum, embora estejamos conscientes das nossas diferenças. Damo-nos conta da importância da promoção de um diálogo fecundo, baseado no respeito recíproco e na amizade. Inspirados pelos nossos valores compartilhados e fortalecidos pelos nossos sentimentos de fraternidade genuína, somos chamados a trabalhar juntos pela justiça, paz e respeito pelos direitos e a dignidade de cada pessoa. Sentimo-nos particularmente responsáveis pelos mais necessitados: os pobres, os enfermos, os órfãos, os migrantes, as vítimas do tráfico humano e todos aqueles que sofrem por causa de qualquer forma de dependência.

Como sabemos, o mundo contemporâneo deve enfrentar graves desafios que exigem solidariedade da parte das pessoas de boa vontade. Estes desafios abrangem as ameaças contra o meio ambiente, a crise da economia global e as elevadas taxas de desemprego, especialmente entre os jovens. Tais situações geram um sentido de vulnerabilidade e uma falta de esperança no futuro. Também não devemos esquecer os problemas enfrentados por numerosas famílias que foram obrigadas a separar-se, deixando os próprios entes queridos e muitas vezes até os filhos mais pequeninos.

Por isso trabalhemos juntos, para construir pontes de paz e promover a reconciliação, especialmente nas regiões onde muçulmanos e cristãos padecem juntos os horrores da guerra.