terça-feira, 13 de dezembro de 2016

“Um dia vamos agradecer à Igreja pela sua posição contra o aborto”, diz comentarista da Fox News, ao vivo


O comentarista político Charles Krauthammer fez uma declaração nada comum na televisão hoje em dia. Ao vivo no canal norte-americano Fox News, ele declarou que um dia “todos nós vamos agradecer à Igreja católica pela sua posição firme contra o aborto”.

O tema do comentário era a recente decisão do Papa Francisco de estender a todos os sacerdotes católicos a autorização para perdoar o pecado do aborto nas confissões sacramentais. Até então, a autorização precisava ser concedida a cada sacerdote pelo seu respectivo bispo. Krauthammer comentou:

Eu acho que ele fez algo maravilhoso. Tudo que o Papa está fazendo é estender essa delegação de poderes um pouco mais para baixo, como um jeito de tornar [o perdão desse pecado] mais acessível. Eu acho que isso é realmente um ato de misericórdia e mostra que não existe um ‘desejo de vingança’ da Igreja”.

E prosseguiu:

Mesmo assim, a situação continua inalterada. Eles [a Igreja] são absolutamente comprometidos com a ideia de que isto [o aborto] é uma coisa terrível e que não deve ser feito. E eu acho que, daqui a alguns anos ou décadas, as pessoas vão olhar para trás, a respeito desta questão, e vão agradecer à Igreja católica pela sua posição, que é hoje muito impopular, diante dessa onda de legalização do aborto e dessa tentativa de torná-lo tão comum quanto uma operação de apêndice. A Igreja foi a única instituição que não recuou, apesar de ser ridicularizada, apesar das zombarias e dos ataques que sofreu. Eu acho que, no fim, o nosso país vai chegar em algum ponto que não queríamos. E nós vamos agradecer à Igreja por ter reduzido os danos e impedido uma espécie de legalização radical, de recurso generalizado e radical ao aborto”.

Colégio na Espanha pede que pais celebrem “Natal sem símbolos religiosos”.


Uma iniciativa da escola Hispanidad Elche para decorar a sala de aula para o Natal semeou a controvérsia entre as famílias da comunidade educativa. O centro tem incentivado os alunos através de uma circular, fazer decorações de Natal para a sala de aula.

No entanto, na mesma carta é para pedir famílias para evitar tomar ornamentos grandes como árvores de Natal, e aqueles que contêm elementos religiosos , como as figuras dos presépios.

A intenção de remover os elementos religiosos destinados a evitar ferir sensibilidades estudantes de outras religiões não católicas.. No entanto, a medida provocou controvérsia. Neste sentido, há pais que são a favor e contra a iniciativa da escola.

O que seria um Natal sem Jesus? Sem presépio? Sem… Natal! O que se celebraria no “Natal” sem que fosse o nascimento de Jesus?

É isto o que se estão perguntando muitos pais de alunos do colégio Hispanidad de Elche, em Alicante, na Espanha.

O colégio pediu, mediante uma circular, que, para decorar o colégio este ano, os pais fizessem o “favor” de levar adornos “sem motivo religioso”. A circular “circulou” rapidamente pelas redes sociais, como não poderia deixar de ser, dado o absurdo da orientação cristofóbica. Aliás, vários pais acusaram o colégio de promover um “natal anticatólico”.

Mas a quem é que pode incomodar aquele Menino nascido num pobre estábulo de Belém? 

Papa Francisco confirma Ano Mariano e concede indulgência plenária aos fiéis


Os fiéis brasileiros poderão alcançar indulgência plenária durante o Ano Nacional Mariano. A Penitenciária Apostólica anunciou o pedido do papa Francisco para o reconhecimento do ano jubilar em curso no Brasil e a concessão da indulgência para aqueles que “verdadeiramente penitentes e impulsionados pela caridade” visitarem na forma de peregrinação a basílica do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP), ou qualquer igreja paroquial do Brasil dedicada à padroeira do país.

Convocado pela Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Ano Nacional Mariano foi estabelecido como um tempo para celebrar, fazer memória e agradecer pelos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição no rio Paraíba do Sul. A iniciativa de proclamação, aprovada pela 54ª Assembleia Geral da CNBB, teve início no dia 12 de outubro de 2016 e segue até o dia 11 de outubro de 2017.

Indulgência

Para alcançar a indulgência plenária, serão necessárias as condições habituais: a confissão sacramental, a comunhão eucarística e a oração na intenção do santo padre, o papa. O documento enviado pelo Supremo Tribunal da cúria romana ressalta que a remissão será concedida “aos fiéis verdadeiramente penitentes e impulsionados pela caridade, se em forma de peregrinação visitarem a basílica de Aparecida ou qualquer Igreja paroquial do Brasil, dedicada a Nossa Senhora Aparecida”. 

No local, deverão “devotamente participar das celebrações jubilares ou de promoções espirituais ou ao menos, por um conveniente espaço de tempo, elevarem humildes preces a Deus por Maria”. A conclusão deste momento deve acontecer com a Oração Dominical, pelo Símbolo da Fé e pelas invocações da Beata Maria Virgem, em favor da fidelidade do Brasil à vocação cristã, impetrando vocações sacerdotais e religiosas e em favor da defesa da família humana”.

"A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa. O fiel bem-disposto obtém esta remissão, em determinadas condições, pela intervenção da Igreja que, como dispensadora da redenção, distribui a aplica, por sua autoridade, o tesouro das satisfações (isto é, dos méritos) de Cristo e dos santos" (Paulo VI, Constituição Apostólica Indulgentarium doctrina, Normae I: AAS 59 (1967) 21). 

O esplendor da alma ilumina a graça do corpo


Tu, que vieste de entre o povo, do meio da multidão, e és agora uma das virgens, que iluminas com o esplendor da alma a graça do teu corpo – e, por isso, és uma imagem fiel da Igreja – recolhe-te no teu aposento e durante a noite pensa sempre em Cristo e espera a todo o momento a sua chegada. 

É isto que Ele deseja de ti, para isto te escolheu. Ele entrará certamente, se encontrar a porta aberta; Ele prometeu vir e não faltará à sua promessa. E quando vier, abraça Aquele a quem buscavas, aproxima-te d’Ele e serás iluminada; conserva-O junto de ti, roga-Lhe que não parta tão depressa, suplica-Lhe que não Se afaste de ti. Porque o Verbo de Deus corre velozmente: onde vê desinteresse, não Se demora; onde sente negligência, não Se detém. Concentra a tua alma para escutar a sua palavra e segue atentamente a ressonância da sua voz, porque Ele passa depressa. 

Que diz a esposa do Cântico dos Cânticos? Procurei-o e não o encontrei; chamei por ele e não me respondeu. Se partiu tão depressa Aquele a quem tu chamaste, a quem suplicaste e a quem abriste a porta, não penses que Lhe desagradaste, pois muitas vezes Ele permite que sejamos postos à prova. E que respondeu no Evangelho às multidões que Lhe pediam para não partir dali? Tenho de pregar a palavra de Deus noutras cidades, porque para isso fui enviado. Mas se te parece que se foi embora, sai tu uma vez mais e busca-O de novo. 

Quem, senão a Igreja, te ensinará o modo de conservares a Cristo contigo? Aliás, já to ensinou, se bem entendes o que lês: Mal passei pelos guardas, encontrei aquele que meu coração ama; segurei-o e não o deixarei partir. 

Com que laços se pode segurar a Cristo? Não com laços de violência, nem com cordas bem apertadas, mas com os vínculos da caridade, com as cadeias do espírito e o afecto da alma. 

Se queres conservar a Cristo contigo, busca-O incansavelmente e não temas o sacrifício. Muitas vezes Ele encontra- se mais facilmente no meio dos suplícios corporais e nas mãos dos perseguidores. 

Mal passei pelos guardas, diz o Cântico. De facto, passado um breve espaço de tempo, quando te vires livre dos perseguidores e vitoriosa sobre os poderes do mundo, Cristo virá ao teu encontro e não permitirá que se prolongue mais a tua prova. 

Aquela que assim busca a Cristo e O encontra, pode exclamar: Segurei-O e não O deixarei mais, até que O tenha introduzido na casa de minha mãe, no quarto daquela que me concebeu. Qual é a casa de tua mãe e o seu quarto senão o santuário mais íntimo do teu ser? 

Guarda bem esta casa, limpa todos os seus recantos, para que assim, purificada de toda a mancha, se levante como um templo espiritual fundado sobre a pedra angular, até se formar um sacerdócio santo e habite nela o Espírito de Deus. 

Aquela que assim busca a Cristo, aquela que assim Lhe suplica, jamais se verá abandonada por Ele; ao contrário, será visitada por Ele com frequência, porque Ele está connosco até ao fim do mundo.



Do Livro de Santo Ambrósio, bispo, sobre a virgindade
(Cap. 12, 68. 74-75; 13, 77-78: PL 16 [ed. 1845], 281. 283. 285-286) (Sec. IV)

Eu não me interessava muito pelo Menino Jesus de Praga. Até que um dia…


Como católico que escreve com frequência sobre arte, estou muito familiarizado com imagens sagradas que se transformaram em objetos de devoção popular. Um exemplo famoso é o muito querido Menino Jesus de Praga, que chegou da Espanha à região da Boêmia no século XVI.

Sempre conheci bem essa imagem, mas foi só num momento de crise na minha vida que consegui apreciar de verdade o Menino de Praga como algo muito maior que um objeto de devoção religiosa.

Faz alguns anos, um grande amigo meu foi até a República Tcheca de férias e me trouxe uma pequena estátua do Menino de Praga. Ela veio da igreja carmelita de Santa Maria da Vitória, onde a imagem original é conservada.

A reprodução tem apenas 8 centímetros de altura e é feita de porcelana vidrada e dourada. Representa o Menino Jesus com vestes verde-azuladas e uma coroa que recorda uma tiara papal.

Coloquei a imagenzinha na minha mesa de trabalho, mais por um sentimento de apreço pelo presente de um bom amigo do que por devoção. Mas, durante um momento de crise, tudo isso mudou em um dia.

Eu trabalhava, na época, em um local cujo ambiente estava bem deteriorado. Já tinha começado a procurar um novo emprego quando soube, na manhã de um sexta-feira, que o chefão queria uma reunião comigo. Lembro de mim mesmo olhando para a diminuta figura do Menino Jesus de Praga sobre a minha mesa e fazendo uma breve oração: “Bom, Menino Jesus. Se houver algum jeito de me ajudar com uma ‘aterrissagem suave’, eu agradeceria muito”.

Uma hora depois eu estava sem trabalho.

Enquanto almoçava com um amigo naquele mesmo dia, fiquei surpreso por me sentir estranhamente calmo e despreocupado. Acabava de perder o trabalho e não tinha ideia do que ia acontecer depois. Mesmo assim, por alguma razão, estava incrivelmente contente com o que tinha ocorrido, na certeza de que tudo ia ficar bem.

Algumas horas mais tarde, recebi um e-mail de uma empresa que tinha ficado sabendo da minha disponibilidade. Eles me perguntavam se eu estava interessado em participar de uma entrevista de trabalho na segunda-feira. Eu fui – e eles me contrataram imediatamente. É difícil imaginar uma “aterrissagem” mais suave do que essa.

Desde então, dou sempre uma olhada em busca do Menino Jesus de Praga em toda igreja onde entro. 

Santa Luzia


O nome de Santa Luzia deriva do latim e significa: Portadora da luz. Ela é invocada pelos fiéis como a protetora dos olhos, que são a “janela da alma”, canal de luz.

A devoção a Santa Luzia faz parte da tradição católica, mas somente em 1894 descobriu-se uma inscrição escrita em grego sobre um sepulcro em Nápolis, confirmando a existência da mártir de Siracusa. 

Ela nasceu em Siracusa (Itália) no fim do śeculo III. Conta-se que pertencia a uma família italiana e rica, que lhe deu ótima formação cristã, a ponto de ter feito um voto de viver a virgindade perpétua. Com a morte do pai, Luzia soube que sua mãe, chamada Eutícia, a queria casada com um jovem de distinta família, porém, pagão.

Ao pedir um tempo para o discernimento e tendo a mãe gravemente enferma, Santa Luzia inspiradamente propôs à mãe que fossem em romaria ao túmulo da mártir Santa Águeda, em Catânia, e que a cura da grave doença seria a confirmação do “não” para o casamento. Milagrosamente, foi o que ocorreu logo com a chegada das romeiras e, assim, Santa Luzia voltou para Siracusa com a certeza da vontade de Deus quanto à virgindade e quanto aos sofrimentos pelos quais passaria, assim como Santa Águeda.

Santa Luzia vendeu tudo, deu aos pobres, e logo foi acusada pelo jovem que a queria como esposa. Não querendo oferecer sacrifício aos falsos deuses nem quebrar o seu santo voto, ela teve que enfrentar as autoridades perseguidoras. Quis o prefeito da cidade, Pascásio, levar à desonra a virgem cristã, mas não houve força humana que a pudesse arrastar. Firme como um monte de granito, várias juntas de bois não foram capazes de a levar (Santa Luzia é muitas vezes representada com os sobreditos bois). As chamas do fogo também se mostravam impotentes diante dela, até que por fim a espada acabou com vida tão preciosa. A decapitação de Santa Luzia se deu no ano de 303.

Conta-se que antes de sua morte teriam arrancado os seus olhos, fato ou não, Santa Luzia é reconhecida pela vida que levou Jesus – Luz do Mundo – até as últimas consequências, pois assim testemunhou diante dos acusadores: “Adoro a um só Deus verdadeiro, e a Ele prometi amor e fidelidade”.


Santa Luzia, Virgem e Mártir, que tanto agradastes ao Senhor, preferindo sacrificar a vida a lhe ser infiel, vinde em nosso auxílio e por meio de vossa intercessão livrai-nos de toda a enfermidade dos olhos e do perigo de perdê-los. Possamos por vossa intercessão passar a vida na paz do Senhor chegando um dia a vê-lo com os olhos transfigurados na eterna pátria dos céus. Amém!

Santa Luzia, rogai por nós! 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Papa Francisco: em 2017, comprometer-se com a não-violência!


MENSAGEM DO SANTO PADRE
FRANCISCO
PARA A CELEBRAÇÃO DO
50º DIA MUNDIAL DA PAZ

1° DE JANEIRO DE 2017
A não-violência: estilo de uma política para a paz

1. No início deste novo ano, formulo sinceros votos de paz aos povos e nações do mundo inteiro, aos chefes de Estado e de governo, bem como aos responsáveis das Comunidades Religiosas e das várias expressões da sociedade civil. Almejo paz a todo o homem, mulher, menino e menina, e rezo para que a imagem e semelhança de Deus em cada pessoa nos permitam reconhecer-nos mutuamente como dons sagrados com uma dignidade imensa. Sobretudo nas situações de conflito, respeitemos esta «dignidade mais profunda»[1] e façamos da não-violência ativa o nosso estilo de vida.

Esta é a Mensagem para o 50º Dia Mundial da Paz. Na primeira, o Beato Papa Paulo VI dirigiu-se a todos os povos – e não só aos católicos – com palavras inequívocas: «Finalmente resulta, de forma claríssima, que a paz é a única e verdadeira linha do progresso humano (não as tensões de nacionalismos ambiciosos, nem as conquistas violentas, nem as repressões geradoras duma falsa ordem civil)». Advertia contra o «perigo de crer que as controvérsias internacionais não se possam resolver pelas vias da razão, isto é, das negociações baseadas no direito, na justiça, na equidade, mas apenas pelas vias dissuasivas e devastadoras». Ao contrário, citando a Pacem in terris do seu antecessor São João XXIII, exaltava «o sentido e o amor da paz baseada na verdade, na justiça, na liberdade, no amor».[2] É impressionante a atualidade destas palavras, não menos importantes e prementes hoje do que há cinquenta anos.

Nesta ocasião, desejo deter-me na não-violência como estilo duma política de paz, e peço a Deus que nos ajude, a todos nós, a inspirar na não-violência as profundezas dos nossos sentimentos e valores pessoais. Sejam a caridade e a não-violência a guiar o modo como nos tratamos uns aos outros nas relações interpessoais, sociais e internacionais. Quando sabem resistir à tentação da vingança, as vítimas da violência podem ser os protagonistas mais credíveis de processos não-violentos de construção da paz. Desde o nível local e diário até ao nível da ordem mundial, possa a não-violência tornar-se o estilo caraterístico das nossas decisões, dos nossos relacionamentos, das nossas ações, da política em todas as suas formas.

Um mundo dilacerado

2. Enquanto o século passado foi arrasado por duas guerras mundiais devastadoras, conheceu a ameaça da guerra nuclear e um grande número de outros conflitos, hoje, infelizmente, encontramo-nos a braços com uma terrível guerra mundial aos pedaços. Não é fácil saber se o mundo de hoje seja mais ou menos violento que o de ontem, nem se os meios modernos de comunicação e a mobilidade que caracteriza a nossa época nos tornem mais conscientes da violência ou mais rendidos a ela.

Seja como for, esta violência que se exerce «aos pedaços», de maneiras diferentes e a variados níveis, provoca enormes sofrimentos de que estamos bem cientes: guerras em diferentes países e continentes; terrorismo, criminalidade e ataques armados imprevisíveis; os abusos sofridos pelos migrantes e as vítimas de tráfico humano; a devastação ambiental. E para quê? Porventura a violência permite alcançar objetivos de valor duradouro? Tudo aquilo que obtém não é, antes, desencadear represálias e espirais de conflitos letais que beneficiam apenas a poucos «senhores da guerra»?

A violência não é o remédio para o nosso mundo dilacerado. Responder à violência com a violência leva, na melhor das hipóteses, a migrações forçadas e a atrozes sofrimentos, porque grandes quantidades de recursos são destinadas a fins militares e subtraídas às exigências do dia-a-dia dos jovens, das famílias em dificuldade, dos idosos, dos doentes, da grande maioria dos habitantes da terra. No pior dos casos, pode levar à morte física e espiritual de muitos, se não mesmo de todos.

A Boa Nova

3. O próprio Jesus viveu em tempos de violência. Ensinou que o verdadeiro campo de batalha, onde se defrontam a violência e a paz, é o coração humano: «Porque é do interior do coração dos homens que saem os maus pensamentos» (Marcos 7, 21). Mas, perante esta realidade, a resposta que oferece a mensagem de Cristo é radicalmente positiva: Ele pregou incansavelmente o amor incondicional de Deus, que acolhe e perdoa, e ensinou os seus discípulos a amar os inimigos (cf. Mateus 5, 44) e a oferecer a outra face (cf. Mateus 5, 39). Quando impediu, aqueles que acusavam a adúltera, de a lapidar (cf. João 8, 1-11) e na noite antes de morrer, quando disse a Pedro para repor a espada na bainha (cf. Mateus 26, 52), Jesus traçou o caminho da não-violência que Ele percorreu até ao fim, até à cruz, tendo assim estabelecido a paz e destruído a hostilidade (cf. Efésios 2, 14-16). Por isso, quem acolhe a Boa Nova de Jesus, sabe reconhecer a violência que carrega dentro de si e deixa-se curar pela misericórdia de Deus, tornando-se assim, por sua vez, instrumento de reconciliação, como exortava São Francisco de Assis: «A paz que anunciais com os lábios, conservai-a ainda mais abundante nos vossos corações».[3]

Hoje, ser verdadeiro discípulo de Jesus significa aderir também à sua proposta de não-violência. Esta, como afirmou o meu predecessor Bento XVI, «é realista pois considera que no mundo existe demasiada violência, demasiada injustiça e, portanto, não se pode superar esta situação, exceto se lhe contrapuser algo mais de amor, algo mais de bondade. Este “algo mais” vem de Deus».[4]E acrescentava sem hesitação: «a não-violência para os cristãos não é um mero comportamento tático, mas um modo de ser da pessoa, uma atitude de quem está tão convicto do amor de Deus e do seu poder que não tem medo de enfrentar o mal somente com as armas do amor e da verdade. O amor ao inimigo constitui o núcleo da “revolução cristã”».[5] A página evangélica – amai os vossos inimigos (cf. Lucas 6, 27) – é, justamente, considerada «a magna carta da não-violência cristã»: esta não consiste «em render-se ao mal (...), mas em responder ao mal com o bem (cf. Romanos 12, 17-21), quebrando dessa forma a corrente da injustiça».[6] 

Deus amou­-nos primeiro


Vós sois verdadeiramente o único Senhor; o domínio que exerceis sobre nós constitui a nossa salvação; e o serviço que Vos prestamos outra coisa não é que ser salvos por Vós.

De Vós, Senhor, vem a salvação e a bênção sobre o vosso povo; mas que é a vossa salvação senão a graça que nos concedeis, de Vos amarmos e de sermos amados por Vós?

Por isso quisestes que o Filho que está à vossa direita, o homem que confirmastes para Vós, fosse chamado Jesus, isto é, Salvador, porque Ele salvará o povo dos seus pecados, e em nenhum outro podemos ser salvos. Ele nos ensinou a amá-l’O, amando-nos primeiro até à morte de cruz; suscitou em nós o amor para com Ele, amando-nos primeiro até ao fim.

Assim é, com efeito. Amastes-nos primeiro para que nós Vos pudéssemos amar, não por precisardes do nosso amor, mas porque não poderíamos alcançar o fim para que fomos criados, se não Vos amássemos.

Por isso, tendo falado outrora muitas vezes e de muitos modos a nossos pais pelos Profetas, nestes últimos dias falas­ tes­nos por meio do Filho, o vosso Verbo, que criou os céus e com o sopro da sua boca os adornou.

Para Vós, falar por meio de vosso Filho outra coisa não foi que pôr à luz do sol, isto é, manifestar claramente quanto e como nos amastes, Vós que não poupastes o próprio Filho, mas O entregastes por todos nós; e Ele também nos amou e Se entregou por nós.

Esta é a Palavra que nos enviastes, Senhor, o Verbo todo-poderoso, que no meio do silêncio profundo que envolvia todaa terra, quer dizer, quando estava submersa no abismo do erro, desceu do seu trono real, para combater energicamente todos os erros e fazer triunfar suavemente o amor.

E tudo o que fez, tudo o que disse sobre a terra, tudo o que sofreu — os opróbrios, as cuspidelas e as bofetadas, a cruz e o sepulcro — foi o modo de nos falardes por meio do vosso Filho, para suscitar o nosso amor por Vós, atraindo-nos com o vosso amor.

Deus, Criador dos homens, Vós sabíeis que este amor não pode ser imposto, mas que é necessário estimulá-lo no coração humano. Porque onde há coacção não há liberdade, e onde não há liberdade não há justiça.

Por isso quisestes que Vos amássemos, já que não podíamos ser salvos pela justiça, mas apenas pelo amor que Vos consagrássemos; nem Vos poderíamos amar sem que o nosso amor procedesse de Vós. E assim, como diz o discípulo amado e nós também já recordámos, Vós nos amastes primeiro e Vos ante- cipais no amor a todos os que Vos amam.

Também nós Vos amamos com os sentimentos do amor que derramastes em nossos corações. Mas o vosso amor é a vossa própria bondade, ó sumo bem e bem sumo; é o Espírito Santo que procede do Pai e do Filho e que no princípio da criação pairava sobre as águas, quer dizer, sobre as mentes flutuantes dos homens, oferecendo-Se a todos e atraindo tudo a Si, inspirando e promovendo, afastando o pernicioso e favorecendo o benéfico, unindo Deus a nós e nós a Deus.


Do Tratado de Guilherme, abade do mosteiro de Saint-Thierry, 
sobre a contemplação de Deus (Nn. 9-11: SC 61, 90-96) (sec. XII)