Que garantia
podemos ter de que Deus vai ouvir às nossas súplicas? Que a perseverança na
oração é importante já sabemos, porque os Evangelhos insistem nisso. Lucas
narra a parábola do vizinho inoportuno, que bate à porta em plena noite para
pedir pães. Tanto insiste que o outro, para se ver livre dele, acaba por
atendê-lo (Lc 11,5-8).
No Evangelho
de Mateus (15) encontramos a mulher cananeia que pede e insiste até ser
atendida, chegando a se comparar aos cães que se alimentam das migalhas que
caem da mesa dos donos.
Tais
passagens mostram não só a importância de nos aproximarmos de Deus, mas de
persistirmos nos pedidos. Precisamos, entretanto, eliminar a ideia de que a
perseverança é necessária para “dobrar o Coração de Deus”. Não se trata disso.
Ao contrário, precisamos persistir e insistir porque o nosso coração é que não
se dobra com facilidade.
Neste
estudo, examinaremos as características da oração infalível, isto é, como rezar
tendo certeza de que seremos atendidos. Em determinadas situações, não adianta
ficar como que “dando murro em ponta de faca”, como se diz popularmente.
Insistir do jeito errado é persistir num engano. Existem fundamentos,
características próprias que tornam uma oração infalível, que foram dadas pela
Graça a todo aquele que crê.
Estamos diante de algo que as pessoas sempre procuraram, talvez mais do que a
própria salvação de suas almas, – o que é lamentável. – Assim como Esaú trocou
a benção paterna e divina, com os direitos de filho herdeiro, por um prato de
lentilhas (Gn 25,29-34), muitos preferem prazeres e posses materiais à vida
eterna. Vemos anúncios de supostas “orações de poder” e “novenas milagrosas” de
todo tipo. Em praticamente toda igreja encontramos folhetos com as mais
variadas (algumas absurdas) devoções a santos “de causas impossíveis”, que no
imaginário popular seriam como que agentes infalíveis para dar tudo que
pedirmos. Alguns contém até ameaças àqueles que “quebrarem a corrente”! Tais
pessoas não imaginam como se afastam de Nosso Salvador, dando voltas em torno
da Fonte ao invés de beber direto do inesgotável Rio de Água Viva. Pois foi Ele
mesmo Quem nos prometeu que estaria conosco todos os dias, até o fim do mundo.
Já entre os
ditos “evangélicos”, é comum o uso da passagem de João (13,13-14) como uma
espécie de muleta verbal para toda e qualquer situação: em praticamente tudo o
que dizem, acrescentam ao final da frase o complemento “em nome de Jesus”. A
dona de casa diz que vai preparar o almoço de hoje “em nome de Jesus!”. O
vendedor diz que vai cumprir sua meta mensal “em nome de Jesus!”. A filha diz
que vai tirar um “A “na prova de matemática “em nome de Jesus!”... Qualquer
afirmação, sobre qualquer assunto, é seguida de uma invocação ao nome do Senhor,
mesmo que seja uma fofoca sobre a vida do vizinho, por exemplo, e até para
contar ou rir de uma piada, muitos deles finalizam com um inevitável e
impensado “em nome de Jesus”. Foi filmado e noticiado, há alguns anos, que até
os deputados corruptos da “bancada ‘evangélica’” andaram agradecendo pela
roubalheira “em nome de Jesus!”...
Interessante
é que, agindo assim, não percebem que desobedecem ao Segundo Mandamento: “Não
tomareis o Santo Nome do SENHOR, vosso Deus, em vão”. – O Nome de Deus não é
amuleto para ser usado como garantia de sucesso em tudo o que se faz, como se
Ele fosse atender a todos os nossos caprichos só por pronunciarmos o seu Nome.
Existe, porém, como dissemos, uma oração que é sempre infalível. – Deixando de
lado as interpretações equivocadas das Sagradas Escrituras, é importantíssimo
saber que existe, sim, um jeito de pedir a Deus infalivelmente. O Santo
Evangelho mesmo nos dá esta garantia. Em Mateus (7,7-8), o Cristo diz: “Pedi e
se vos dará, buscai e achareis, batei e vos será aberto...”, e, um pouco mais
adiante, reafirma: “Tudo o que pedirdes com fé, na oração, vós o alcançareis”.
– No seu discurso de despedida, no Evangelho de João, Jesus volta a insistir:
“Tudo o que pedirdes ao Pai, em meu Nome, vo-lo farei, para que o Pai seja
glorificado no Filho. Tudo o que pedirdes em meu Nome, vo-lo darei” (14,13-14).
E mais uma vez: “Se permanecerdes em Mim e as minhas palavras permanecerem em
vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito” (Jo 15,7).
Diz ainda mais o Salvador: “Naquele dia não me perguntareis mais coisa alguma.
Em verdade, em verdade vos digo: o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo
dará. (...) Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja perfeita” (Jo
16,23-24).
Nosso Senhor
promete, garante que realmente existe uma infalibilidade para a oração do
cristão que tem fé. Por outro lado, Tiago Apóstolo diz em sua Epístola: “Pedis
e não recebeis, porque pedis mal...” (Tg 4,3). Por que isto?
O grande
problema é que, se por um lado temos uma evidência de fé, registrada nas
Sagradas Escrituras, por outro temos a refutação que vem dos simples fatos.
Ora, é inegável que muitas vezes pedimos e não recebemos, procuramos e não
encontramos, batemos à porta e ela não se abre. Fica então evidente que há um
modo certo de pedir; que se soubermos pedir, se conhecermos a forma da “oração
infalível”, então seremos sempre atendidos.