A Justiça de Minas Gerais concedeu a uma imobiliária
reintegração de posse de um terreno onde atualmente está localizada a Igreja
Nossa Senhora Aparecida, em Esmeraldas (MG), região metropolitana de Belo
Horizonte.
Com
isso, a construção, que ocupa aproximadamente 3.500 m², pode ser demolida, o
que vem causando revolta na comunidade. "Nós vamos ficar dentro da igreja
e eles vão ter de derrubá-la na nossa cabeça", diz, exaltada, a moradora
Ilza Helena Silva.
O
processo agora foi para o TJ-MG (Tribunal de Justiça de Minas Gerais), já que a
Arquidiocese de Belo Horizonte afirmou ter entrado com recurso no tribunal após
sentença de primeira instância favorável à imobiliária, que está localizada na
cidade de Contagem, também na região metropolitana da capital mineira.
Na
sentença, a juíza Cirlaine Maria Guimarães, da comarca de Esmeraldas, declarou
que, após estudo pericial feito na área, "ficou demonstrado que a área
efetivamente ocupada pela Mitra Arquidiocesana está inserida no imóvel da
autora [da ação, a imobiliária]".
O dono
disse ter comprado a propriedade legalmente de um homem que havia se tornado o
proprietário das terras por usucapião. O empresário Clóvis Nogueira Amaral, 88,
afirmou ter procurado os moradores e a igreja por mais de uma vez. Ele disse
ter comprado a área no início da década de 1980.
"Eu
os procurei por muitas vezes. A área pertence a mim. Construíram sabendo que
era meu, e a Igreja [Católica] também sabia que era meu", se defendeu
Amaral, dizendo já ter feito loteamentos na região para serem comercializados.
A igreja, por meio da assessoria da Mitra
Arquidiocesana de Belo Horizonte, informou que recebeu determinação judicial
para a desocupação do terreno no início de fevereiro.
O padre Joaquim
Fonseca, 68, disse que no processo judicial constam documentos que comprovariam
a doação das terras para a Igreja Católica feita por um fazendeiro da região,
que já teria morrido.
"A igreja já está
lá há mais de 20 anos. O terreno foi um doado por um antigo morador do bairro
que era dono. Ele fez o ato de doação à igreja, com todo o registro exigido por
lei, em 1994. O que nos deixa perplexo é o fato de a imobiliária, que se diz
dona do terreno, ter deixado a comunidade construir a igreja
tranquilamente."
Dízimo e comunidade
ergueram centro de encontros
Conforme Ilza
Helena Silva, a igreja foi erguida com a ajuda dos moradores e, desde então,
passou a ser um centro de referência religioso e de união da comunidade.
Residente no bairro
há 26 anos, ela revela o temor dos moradores com a possibilidade de perder a
igreja.
"A gente
recolhia dízimo para ajudar na construção da igreja. Ficamos sem chão quando
recebemos a notícia e estamos numa tristeza profunda. Lá é como se fosse a
minha casa. Parece que morreu alguém da família", contou.
Ela disse ainda que
o local presta serviços comunitários, como oficinas de capacitação e cursos
profissionalizantes, além de realizar festas populares.
A mulher afirmou
que os moradores estão de vigília e prometem resistir. "Mas, se Deus
quiser, isso não vai acontecer. Se precisar, nós vamos ficar dentro da igreja.
Vão passar a máquina com a gente lá dentro."
De acordo com ela,
os fiéis e moradores pretendem realizar várias ações para tentar preservar a
igreja. Eles criaram uma página no Facebook intitulada "Diga Não à Demolição", que já recebeu mais de mil curtidas.
Neste sábado (4),
acontece uma manifestação nas proximidades da edificação contra a derrubada da
igreja. As pessoas vão vestir roupas brancas e haverá uma procissão, seguida
por cavalgada e carreata.
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UOL
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