O tema central da Palavra de Deus, neste
domingo, é a confiança em Deus. Não devemos ter medo de nada nem de ninguém.
«Não temais os que podem matar o corpo mas não matam a alma». Em Cristo
encontramos toda a segurança.
Encontramos muitas pessoas com medo! Muitas
vezes estamos cheios de medo. A criança tem medo do escuro e da pessoa que
grita. O adolescente tem medo de si: medos inconscientes, mas dolorosos; medos que
se chamam timidez, complexos de inferioridade, agressividade.
Muitos adultos vivem roídos de medo, da pior
forma de medo – a angústia. Muitas vezes vivemos tremendo: medo do futuro, medo
da morte, ou simplesmente do amanhã. Por medo, a pessoa se tranca dentro de seu
pequeno mundo, cada vez mais se isola da sociedade. Por medo, levanta muros
protetores cada vez mais altos, criam-se condomínios mais fechados e seguros…
Medo da doença… do desemprego… .
Porém, Jesus no Evangelho (Mt 10, 26-33), com
sua Palavra, derrama um bálsamo em nossos corações: “Não tenhais medo!”
Na nossa vida passamos por momentos duros,
quem não? (1ª leitura). Cristo não nos escondeu nunca que a nossa vida cristã
seria difícil, pois não podemos ter melhor sorte que Ele, o nosso Mestre
(Evangelho) que passou por dificuldades terríveis. Porém devemos viver com a
confiança, dado que em Cristo temos a sobre abundância de graça (2ª leitura).
Como é insegura a confiança nos homens!
Repare-se que hoje quase não se confia em ninguém. Por um lado o homem progride
em diversos campos de forma vertiginosa. Porém, de modo paralelo, fala-se de
corrupção, roubos, diversos tipos de violência, faltas de respeito pela
dignidade da pessoa humana, incapacidade de assumir compromissos duráveis, etc.
Pode dizer-se que o homem de hoje perdeu credibilidade. Mas Deus criou o homem
à Sua imagem e semelhança. Após a queda do homem envia Jesus Cristo para nos
salvar (2ª Leitura). O homem foi reabilitado mas continua a afastar-se de Deus.
Aqui radica a sua pobreza; o seu fracasso, a sua impotência para solucionar os
problemas com que se debate.
Se o homem não confia em Deus, como pode
confiar nos outros homens? Não confiando em Deus o homem perdeu o ponto de
referência, para a sua conduta. O homem de hoje faz este raciocínio: – «Se não
tenho de prestar contas a Deus dos meus atos, para que hei de prestar contas
aos homens»? «Se os homens se atrevem a pedir-me contas dos meus atos, eu
saberei libertar-me das malhas da lei humana, através do meu dinheiro e das minhas
influências. Só os pobres são julgados e condenados». Quando o homem não
acredita que, após esta vida, terá de prestar contas a Deus, liquida tudo o que
lhe dava segurança e garantia de ser feita justiça.
A Abraão Deus diz para não ter medo, na hora
mesma que o chama para fora de sua terra, para um país desconhecido. Aos
profetas diz: não temas, eu estou contigo. A Maria: não temas, encontraste
graça. Aos apóstolos, enviando-os ao mundo, diz: não temais diante dos
tribunais e diante dos governadores. A todos os discípulos: Não temais, pequeno
rebanho (Lc 12, 32).
Jesus oferece-nos as motivações, oferece-nos o
verdadeiro remédio para nossos medos. Não temais – diz – aqueles que matam o
corpo, mas não podem matar a alma. Não temais, pois! Vós valeis mais do que os
pássaros. No entanto, nenhum cai por terra sem a vontade do Vosso Pai. “O Vosso
Pai” – o que dizer: o que fará por vós que lhe sois filhos? A revelação da
PATERNIDADE de Deus e a revelação de uma vida além da morte asseguram, portanto,
o convite de Jesus. Todo o medo é redimensionado no momento em que Jesus traça
e revela um plano da vida humana – o plano mais verdadeiro e mais pessoal do
homem – em que nada o pode prejudicar, nem quem o mata. Vós podeis nos matar,
mas não podeis nos prejudicar, exclamava, dirigindo-se aos perseguidores, o
mártir São Justino, nos primeiros dias da Igreja.
Por outro lado, o que é que se pode temer dos
homens? Eles poderão rir-se, perseguir, privar dos bens terrenos, meter na
prisão e até causar a morte; mas esse não é o pior mal. Jesus, com efeito, diz:
“Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma. Temei antes aquele
que pode fazer perecer na Geena o corpo e a alma” ( Mt 10, 28). O crente, em
certos casos, pode encontrar-se perante uma alternativa extrema: ou renegar da
fé por medo aos homens e perder a alma; ou, para não se separar de Cristo, ter
que enfrentar graves danos, ou a própria morte, garantindo assim a vida eterna.
O martírio, ato supremo de amor a Deus, é um dever para todo o cristão, quando
o fugir dele signifique renegar da fé.
A raiz maligna de cada medo humano tem um nome
preciso: é a morte, fruto do pecado. Jesus a venceu, expiando o pecado, todo o
pecado do mundo. Venceu a morte passando pela morte e esvaziando-a de todo o
veneno. A morte e a Ressurreição de Cristo são penhor de nossa vitória, são
fonte de nossa esperança e de nossa coragem: Se Deus é por nós, quem será
contra nós… Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A
perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada? … Mas, em todas essas coisas,
somos mais que vencedores pela virtude daquele que nos amou (Rm 8, 31-37).
Tribulações, angústia, perseguição e fome: a Escritura tomou conhecimento de
nossos medos mais profundos, mas nos ofereceu uma saída, uma esperança de
vitória, graças a Jesus Cristo, que nos amou e se entregou por nós (Gl 2,29).
Sem medo à vida e sem medo à morte, alegres no
meio das dificuldades, esforçados e abnegados perante os obstáculos e as
doenças, serenos perante um futuro incerto: o Senhor pede-nos que vivamos
assim. E isto será possível se considerarmos muitas vezes ao dia que somos
filhos de Deus, especialmente quando somos assaltados pela inquietação, pela
perturbação e pelas sombras da vida. Esta é a vitória que vence o mundo: a
nossa fé (1Jo 5, 4) . E do alicerce seguro de uma fé inamovível surge uma moral
de vitória que não é orgulho nem ingenuidade, mas a firmeza alegre do cristão
que, apesar das suas misérias e limitações pessoais, sabe que essa vitória foi
ganha por Cristo com a sua Morte na Cruz e com a sua gloriosa Ressurreição.
Deus é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei? Nem ninguém, nem nada,
Senhor. Tu és a segurança dos meus dias!
Devemos ser fortes e valorosos diante das
dificuldades, como é próprio dos filhos de Deus: ”Não temais aqueles que matam
o corpo, mas não podem matar a alma; temei antes aquele que pode precipitar a
alma e o corpo na geena” (Mt 10, 28). Jesus exorta – nos a não temer nada,
exceto o pecado, que tira amizade com Deus e conduz à condenação eterna.
«Não tenhais medo dos homens, porque não há
nada encoberto que não venha a descobrir-se. Nada há oculto que não venha a
conhecer-se». De tudo isto conclui-se que o homem, queira ou não, terá de
prestar contas a Deus do bem e do mal que praticar neste mundo. A Deus ninguém
pode enganar.
Fora o temor de perder a Deus – que é
preocupação filial e precaução para não ofendê – Lo –nada nos deve inquietar.
Em determinados momentos do nosso caminho, poderão ser grandes as tribulações
que padeçamos, mas o Senhor nos dará então a graça necessária para superá-las e
para crescer em vida interior: Basta te a minha graça (2Cor 12, 9 ), nos dirá
Jesus.