sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Chile: Papa se encontra com jovens no Santuário de Maipu


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO CHILE E PERU
(15-22 DE JANEIRO DE 2018)

ENCONTRO COM OS JOVENS
DISCURSO DO SANTO PADRE
Santiago - Santuário Nacional de Maipú 
Quarta-feira, 17 de janeiro de 2018


Também eu, Ariel, estou feliz por estar convosco. Obrigado pelas tuas palavras de boas-vindas, em nome de todos os presentes. Sinto-me verdadeiramente agradecido pela possibilidade de partilhar este tempo convosco, que «descestes do sofá – como li [num cartaz] – e calçastes os sapatos». Obrigado! Considero para mim muito importante encontrar-nos e caminhar juntos por um pouco, ajudando-nos a olhar para a frente! E penso que, também para vós, é importante. Obrigado!

Estou contente por este encontro se realizar aqui, em Maipú. Nesta terra onde, com um abraço de fraternidade, foi fundada a história do Chile; neste Santuário, que se levanta na encruzilhada das estradas entre o Norte e o Sul, que une a neve e o oceano, e faz com que o céu e a terra tenham uma casa. Uma casa para o Chile, uma casa para vós, queridos jovens, onde a Virgem do Carmo vos espera e acolhe de coração aberto. E como acompanhou o nascimento desta nação e acompanhou tantos chilenos ao longo destes duzentos anos, assim quer continuar a acompanhar os sonhos que Deus coloca no vosso coração: sonhos de liberdade, sonhos de alegria, sonhos dum futuro melhor. Essa vontade – como dizias tu, Ariel – de «ser protagonistas da mudança». Ser protagonistas. A Virgem do Carmo acompanha-vos para poderdes ser os protagonistas do Chile que sonham os vossos corações. E eu sei que o coração dos jovens chilenos sonha, e sonha em grande, não só quando estais um pouco alegrotes, não! Sempre sonhais em grande, porque, destas terras, nasceram experiências que se foram expandindo e multiplicando por vários países do nosso continente. E quem as promoveu? Jovens, como vós, que souberam viver a aventura da fé. Porque a fé provoca, nos jovens, sentimentos de aventura, que convidam a viajar através de paisagens incríveis, paisagens nada fáceis, nada tranquilas, mas vós gostais de aventuras e desafios… Exceto aqueles que ainda não desceram do sofá. Descei depressa! Assim podemos continuar… Vós que sois especialistas, calçai-lhes os sapatos. Antes, aborreceis-vos quando não tendes desafios que vos estimulem. Por exemplo, vê-se isto sempre que acontece uma catástrofe natural: tendes uma capacidade enorme de vos mobilizar, que fala da generosidade dos corações. Obrigado!

Quis partir desta referência à pátria, porque o caminho em frente, os sonhos que devem ser realizados, o olhar sempre para o horizonte… tudo isso deve ser feito com os pés por terra e começa-se com os pés apoiados na terra da pátria. E, se não amardes a vossa pátria, não creio que possais amar Jesus, que possais amar a Deus. O amor à pátria é um amor à mãe: chamamo-la «mãe-pátria», porque nascemos aqui; mas ela mesma, como qualquer mãe, ensina-nos a caminhar e dá-se a nós para que a façamos viver em novas gerações. Por isso, quis começar com esta referência à mãe, à mãe-pátria. Se não fordes patriotas – não nacionalistas, mas patriotas –, nada fareis na vida. Amai a vossa terra, rapazes e moças, amai o vosso Chile. Dai o melhor de vós pelo vosso Chile. 

Entenda a diferença entre ecumenismo e diálogo inter-religioso


Muita gente confunde ecumenismo com diálogo inter-religioso. E isso é normal, pois até mesmo alguns veículos de comunicação utilizam esses dois termos de maneira equivocada. Para que você não tenha mais qualquer dúvida, o padre Marcial Maçaneiro, que é pesquisador na área, irá esclarecer alguns pontos importantes.

Segundo ele e sob o ponto de vista teológico, ecumênico é o diálogo entre os cristãos que professam a fé em Jesus, na Trindade, no Mistério Pascal, na Redenção, na Graça, enfim, toda a fé do Novo Testamento. E o CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs) acrescenta: algumas pessoas criticam o ecumenismo afirmando que o objetivo seria "criar uma única igreja que englobe todas as outras". Não é nada disso. A ideia do ecumenismo é tão somente "criar pontes" entre as diferentes igrejas cristãs, de modo que elas possam estabelecer um diálogo fraterno e respeitoso entre seus membros para que, com essa unidade na caminhada, testemunhem que "maior é Aquele que as une do que aquilo que as separa".


No Novo Testamento também consta o desejo de Jesus a respeito da unidade entre aqueles que O seguem, como relata o evangelista João (cf. Jo 17,21-23). A partir deste trecho da Sagrada Escritura, padre Marcial explica que o diálogo ecumênico não é uma invenção dos cristãos, mas uma condição, uma vocação, apresentada por Jesus, para que o mundo creia em Seu Nome.

“Isso é vocação de unidade, vem do Batismo e da Graça do Espírito Santo. A unidade entre os cristãos não é um produto, resultado apenas desse diálogo, mas é uma vocação da Igreja. E a gente que participa desse diálogo, acolhe a Graça e vai promovendo essa vocação de comunhão entre todos os batizados por quem Jesus deu a vida”. 

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Venezuela: Nicolás Maduro pede para investigar dois bispos por “crimes de ódio”


O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, pediu abrir uma investigação sobre as homilias de dois bispos por supostamente terem cometido “crimes de ódio”, durante a festa do Divino Pastor de Barquisimeto, em 14 de janeiro.

Trata-se do Arcebispo de Barquisimeto, Dom Antonio López Castillo; e o bispo de San Felipe, Dom Víctor Hugo Basabe.

O jornal El National diz que Maduro aludiu ao bispo Victor Hugo Basabe, de San Felipe, orando recentemente pela libertação da Venezuela da "praga corrupta" que vê os cidadãos comerem do lixo.

O jornal diz ainda que Dom Antonio López Castillo, de Barquisimeto, criou saudações de milhares em uma Missa quando pediu que a Venezuela fosse salva da corrupção.

A sociedade civil se solidariza com o Monsenhor Antonio López Castillo diante de ameaças do governo

Na segunda-feira, 15 de janeiro, o presidente venezuelano deu a sua mensagem ante a Assembleia Nacional Constituinte (ANC), na qual pediu ao Tribunal Supremo de Justiça, à Controladoria e ao Ministério Público que se abra à investigação.

Como indicou o jornal ‘El Nacional’, ambos os Prelados apenas “clamaram para que a fome e a corrupção acabem”.

Entretanto, Maduro disse o seguinte: “Agora vem um diabo de batina a convocar confrontos violentos, a chamar a guerra civil (...), e agradeço às pessoas do estado de Lara que me alertaram sobre esta imundice, porque na verdade eu não escuto essa gente, nós não ouvimos esses bandidos”.

Dom Castillo, segundo indica ‘El Impulso’, participou na segunda-feira, 15, em uma coletiva de imprensa na qual assegurou que recebeu uma ligação telefônica de apoio do Santo Padre.

“Recebemos a mensagem do Papa Francisco e nos apoia, assim como ao seu povo da Venezuela”, afirmou.

Por outro lado, Dom Basabe respondeu às acusações de Maduro através de uma carta à qual o Grupo ACI teve acesso, assegurando que a sua “consciência nada” o “censura”, porque o seu “único crime parece ser servir à verdade”.

“O Sr. Maduro colocou na minha boca palavras que eu não falei. É muito triste que um ‘magistrado nacional’ minta tão escandalosamente diante de todo o país no dia do professor. O pior, ele me acusa de cometer um delito, cometendo-o ele”, destacou o Prelado.

Finalmente, ratificou todas as palavras pronunciadas durante a sua homilia por ocasião da 162ª peregrinação a Barquisimeto da Divina Pastora.

“Eu sabia que as minhas palavras irritariam a consciência das pessoas que sabem que são responsáveis ??pela tragédia que vive este povo que amo”. “Estou aqui na minha casa, com as minhas únicas armas: a minha fé em Cristo e a certeza de que a minha vida está em suas mãos. Para algumas pessoas, nem a sua consciência nem a história os perdoará”, concluiu.

Dom Victor Hugo Basabe

Quem também rechaçou as acusações de Maduro foi o primeiro vice-presidente da Conferência Episcopal Venezuelana (CEV), Dom Mario Moronta, que no dia 16 de janeiro disse no programa ‘Circuito Éxitos’ que o que foi dito contra os dois bispos também “é contra todo o episcopado e contra toda a Igreja Católica”.

“O que os bispos fizeram foi indicações que refletem tudo o que temos dito há tempo e toca na ferida ou na chaga”, acrescentou.

Finalmente, disse que, “quando chamam os bispos de ‘diabos de batina’, também estão fazendo um convite ao ódio”.

“Há muitas pessoas que estão passando fome. Se isso é chamar ao ódio, então devemos mudar a natureza dramática dessa lei”, concluiu. 

Papa Francisco convoca a viver a unidade e superar todo tipo de violência no Chile


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO CHILE E PERU
(15-22 DE JANEIRO DE 2018)

MISSA PELO PROGRESSO DOS POVOS

HOMILIA DO SANTO PADRE

Temuco - Aeródromo de Maquehue
Quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

«Mari, Mari [bom dia]».

«Küme tünngün ta niemün [A paz esteja convosco!]» (Lc 24, 36).

Dou graças a Deus por me permitir visitar esta parte linda do nosso continente, a Araucania: terra abençoada pelo Criador com a fertilidade de imensos campos verdes, com florestas cheias de imponentes araucarias – o quinto elogio de Gabriela Mistral a esta terra chilena[1]–, seus majestosos vulcões cobertos de neve, seus lagos e rios cheios de vida. Esta paisagem eleva-nos a Deus, sendo fácil ver a sua mão em cada criatura. Muitas gerações de homens e mulheres amaram, e amam, este solo com ciosa gratidão. E quero deter-me aqui para saudar de forma especial os membros do povo Mapuche, bem como os outros povos indígenas que vivem nestas terras do sul: Rapanui (Ilha de Páscoa), Aymara, Quechua e Atacama, e muitos outros.

Esta terra, se a virmos com olhos de turista, deixar-nos-á extasiados, mas depois continuaremos a nossa estrada como antes, recordando-nos das lindas paisagens que vimos; se, pelo contrário, nos aproximarmos do solo, ouvi-lo-emos cantar: «Arauco tem uma pena que não posso calar, são injustiças de séculos que todos veem aplicar».[2]

É neste contexto de ação de graças por esta terra e pelo seu povo, mas também de tristeza e dor, que celebramos a Eucaristia. E fazemo-lo neste aeródromo de Maquehue, onde se verificaram graves violações de direitos humanos. Oferecemos esta celebração por todas as pessoas que sofreram e foram mortas e pelas que diariamente carregam aos ombros o peso de tantas injustiças. E, lembrando estas coisas, fiquemos uns momentos em silêncio a pensar em tanto sofrimento e tanta injustiça. O sacrifício de Jesus na cruz está repleto de todo o pecado e do sofrimento dos nossos povos, um sofrimento a ser resgatado.

No Evangelho que ouvimos, Jesus pede ao Pai que «todos sejam um só» (Jo 17, 21). Numa hora crucial da sua vida, detém-Se a pedir a unidade. O seu coração sabe que uma das piores ameaças que atinge, e atingirá, o seu povo e toda a humanidade será a divisão e o conflito, a subjugação de uns pelos outros. Quantas lágrimas derramadas! Hoje queremos agarrar-nos a esta oração de Jesus, queremos entrar com Ele neste horto de dor, também com as nossas dores, para pedir ao Pai com Jesus: que também nós sejamos um só. Não permitais que nos vença o conflito nem a divisão.

Esta unidade, implorada por Jesus, é um dom que devemos pedir insistentemente pelo bem da nossa terra e seus filhos. E é necessário estar atento a eventuais tentações que possam aparecer e «contaminar pela raiz» este dom com que Deus nos quer presentear e com o qual nos convida a ser autênticos protagonistas da história. Quais são estas tentações? Uma é a dos falsos sinónimos.

Venezuela: a vida num país em colapso


A Venezuela, país com 30 milhões de habitantes, tem as maiores reservas de petróleo do mundo, mas vem sofrendo uma maciça e severa recessão econômica desde que os preços globais da commodity caíram drasticamente, há três anos.

O governo não publica dados relativos à inflação há mais de um ano. Mas o Fundo Monetário Internacional (FMI) previu uma taxa de 2.350% para 2018; e a Assembleia Nacional estimou em mais de 2.500% a de 2017.

Numa tentativa de amortecer o efeito da inflação, no fim de dezembro o governo venezuelano implementou o sexto aumento de salários e aposentadorias em um ano, elevando o salário mínimo em 40%.

De manhã, vê-se pessoas bem vestidas procurando restos no lixo antes de ir ao trabalho", diz Miguel Ángel Hernandez, um estudante de mestrado de 24 anos.

"Com um salário como o meu, as pessoas costumavam ser capazes de comprar carros e pagar uma parcela do financiamento da casa. Eu não consigo nem comprar um par novo de sapatos. Enfrentar essa realidade destrói as perspectivas de qualquer um", continua.

"A inflação está 'comendo' quase tudo", diz um advogado de 38 anos que trabalha numa agência pública e pediu anonimato. "Hoje em dia, eu vou ao supermercado para comprar xampu, e o preço de uma unidade é quase o que eu ganho em duas semanas. Ultimamente, tem havido racionamento de açúcar. Achei um saco, na semana passada, por 105 mil bolívares. Mas eu ganho só 650 mil bolívares por mês." 

Cristina Carbonell é uma advogada que trabalha na ProVene, uma organização que oferece conselhos legais de graça. Ela confirma que a vida cotidiana na capital se tornou um desafio.

"O número da nossa carteira de identidade determina em que dia da semana podemos ir ao supermercado. Mas de produtos básicos como leite, você compra apenas dois litros. Na semana passada, não tive água corrente por três dias. A escassez contínua tem causado surtos de fungos e sarna – e eu estou falando de Caracas", indigna-se. 

MEC homologa resolução que autoriza uso de nome social para transexuais


O Ministério da Educação (MEC) homologou nesta quarta-feira (17) resolução que autoriza o uso do nome social de travestis e transexuais nos registros escolares da educação básica. 

“Essa era uma antiga reivindicação do movimento LGBTI e que, na verdade, representa um princípio elementar do respeito às diferenças, do respeito à pessoa humana e ao mesmo tempo de um combate permanente do Ministério da Educação contra o preconceito, o bullying, que muitas vezes ocorrem nas escolas de todo o país”, disse o ministro da Educação, Mendonça Filho, que homologou a resolução. 

A resolução permite que estudantes maiores de dezoito anos solicitem o uso do seu nome social na matrícula em instituições de ensino. Os estudantes menores de idade devem ter a solicitação apresentada pelos pais ou representantes legais.  

Aborto, religião, erro médico: os temas polêmicos do Código Penal boliviano


Com 681 artigos, o novo Código de Sistema Penal da Bolívia, promulgado em 15 de dezembro de 2017, desencadeou uma onda de protestos em vários setores da sociedade civil boliviana. Além de conter artigos polêmicos, juristas apontam falhas na descrição da execução penal, deixando uma grande liberdade de interpretação para a Justiça e o Ministério Público, sem regras e prazos claros, o que pode ferir os direitos de ampla defesa e do devido processo legal.

Em paralisações, greves de fome e manifestações, juristas, médicos e especialistas de diversas áreas apontam incoerências e riscos para direitos fundamentais e para a democracia. Entenda alguns dos pontos polêmicos.

Criminalização do erro médico (artigo 205)

O artigo 205 criminaliza o erro médico, com prisão de 2 a 4 anos e multa, se a consequência da suposta negligência forem lesões graves, e de 3 a 6 anos, se a prática leva à morte. A comunidade médica acusa o governo de pretender resolver a profunda crise do sistema de saúde do país – carência de infraestrutura, equipamentos básicos, medicamentos e leitos – com medidas punitivas, sem propor uma melhoria ao problema real. A ambiguidade do texto desse artigo, com a consequente insegurança jurídica, levou a comunidade médica do país a permanecer mais de 40 dias de greve.

Aborto (artigo 157)

O parágrafo V do artigo 157 do novo Código penal boliviano permite o aborto até a 8ª. semana de gravidez, desde que a gestante seja estudante ou considerada incapaz civilmente (menor de idade ou com deficiência que exija o amparo de tutores legais). Até agora, o aborto na Bolívia era crime, não penalizado apenas em casos de estupro, incesto ou risco de vida da mãe.

Liberdade religiosa (artigo 88)

O artigo 88 determina a punição de prisão de 7 a 12 anos e reparação econômica (multa) à pessoa que, por si ou por terceiros, capte, transporte, translade, prive de liberdade, acolha ou receba pessoas para diversos fins. Entre eles, no número 11 está previsto o “recrutamento de pessoas para sua participação em organizações religiosas ou de culto”. 

Não só pastores evangélicos e católicos se levantam contra esse dispositivo. Juristas apontam os riscos para a liberdade religiosa já que, da forma como está escrito, só o fato de transportar pessoas para cultos religiosos já seria crime punível pelo artigo.