Nasci num lar
Batista. Toda a minha família é protestante e eu, a 4ª geração. Meu bisavô, por
parte de mãe, era calvinista presbiteriano, fundador de igrejas calvinistas no
Brasil. Minha mãe, presbiteriana de origem, ao se casar com meu pai, migrou
para a Igreja Batista.
Até os 14 anos ainda não era batizada já que batistas não
batizam crianças. Quando estava perto de completar 15 anos fui para a casa de
uma tia, irmã do meu pai, em Nova Friburgo. Ela era católica e ficou muito
preocupada pelo fato de eu ainda não ter recebido Batismo. Começou então ali,
na casa dela meu primeiro contato com a Igreja. Fiquei convencida da
importância do Batismo e aceitei fazer a catequese na Catedral São João
Batista. No dia 25 de abril de 1974, recebi Batismo e Primeira Comunhão.
Ao voltar para casa,
contei tudo aos meus pais e falei que queria ser católica, frequentar as
Missas... Enfim, que não queria mais ser “crente”.
Eles consideraram minha atitude como traição à nossa fé
protestante. Fui naquele mesmo ano re-batizada na igreja protestante e proibida
de ”passar perto” de uma igreja católica.
Naquela época, eu não tinha consciência do que estava
acontecendo. Aceitei os argumentos deles, o re-batismo e continuei na Igreja
Batista de meus pais. Mas aquelas imagens jamais saíram da minha mente.
Lembrava com saudade da Missa, do cheirinho do incenso, do órgão, do silêncio,
das músicas…
Quando já adulta, às vezes entrava em alguma igreja católica
e ficava relembrando… Olhava as imagens e pensava que se não fossem por elas eu
poderia ser católica sem “culpa”.
Com o tempo, a Igreja Batista foi ficando muito diferente da
Igreja da minha infância. O culto se tornou barulhento, as doutrinas
pentecostais foram penetrando lenta e sutilmente e eu me sentia muito
incomodada com as mudanças. Dos 19 aos 29 anos, frequentava muito pouco… Um
culto a cada três meses. Quando me lembrava da recomendação bíblica: “ensina a criança no caminho que deve andar” sentia muita
culpa por não estar proporcionando às minhas filhas, o mesmo ambiente cristão
que eu tive.
Optei por colocá-las em colégio católico (Sagrado Coração de
Maria), porque acreditava que além de receberem ensino de excelência,
receberiam também valores de ética e moral cristãs. Aos domingos (nem todos),
levava-as para a Escola Bíblica Dominical Batista, mas elas não gostavam da
Igreja Batista.
Eu sentia muita
angustia por não estar freqüentando uma igreja.. As idas esporádicas me
causavam ainda mais ansiedade. Então no meio da década de 90 passei a
freqüentar a Igreja Batista assiduamente, participar de suas atividades como
professora de EBD infantil, e como corista do coral batista. Embora estivesse
bem inserida, não me sentia plenamente satisfeita. Faltava algo que eu não
sabia explicar o que era. Quase que por acaso conheci a Igreja
Presbiteriana. Uma corista presbiteriana veio à Igreja Batista para participar
da Cantata de Páscoa conosco e me fez um convite para viajarmos num retiro
espiritual de Páscoa, da igreja dela.
Desde o primeiro dia que participei do culto presbiteriano
tive certeza absoluta de que jamais voltaria a ser batista! Descobri a
diferença entre estar numa comunidade cristã e estar em comunhão com Deus. Foi
uma mudança radical. Hoje sei que o que mais me encantou foi o que os
presbiterianos conservaram do catolicismo, mas naquela época não tinha
consciência disso. A liturgia, os cânticos suaves acompanhados apenas do órgão,
as orações previamente estruturadas, sem gritos, o coro com os hinos clássicos
do Novo Cântico (hinário litúrgico presbiteriano), enfim, todo um conjunto
harmonioso e uma doutrina que aceitei inicialmente como muito coerente com a
Bíblia.Até então, jamais tinha sentido vontade e necessidade de estudar
Teologia. Mas aquela Igreja me apontava para algo, para além dela. Ao final do
culto eu ficava me perguntando de onde vinha toda aquela beleza litúrgica.