terça-feira, 27 de abril de 2021

Decisão do STF sobre fechar igrejas não considerou acordo Brasil-Santa Sé


Embora a autoridade civil possa “legitimamente propor limitações de cunho sanitário às atividades religiosas”, essas restrições “não podem ser impostas sobre o culto católico de forma unilateral e sem o devido diálogo com a autoridade eclesiástica, nem ter o condão de suprimir total e integralmente a faceta pública do culto sem a concordância e cooperação da autoridade eclesiástica católica, sob pena de violação do direito humano de liberdade religiosa em seu conteúdo essencial e também, no caso católico, do Tratado Internacional conhecido como ‘Acordo Brasil-Santa Sé’”.

A afirmação é da União dos Juristas Católicos do Rio de Janeiro, que expressou sua “preocupação” com o impacto que a decisão do Supremo Tribunal Federal de que as Igrejas podem ser fechadas por decretos de governos estaduais e municipais pode ter “sobre as relações de coordenação e cooperação entre Igreja Católica e República Federativa do Brasil”.

Após uma votação no dia 8 de abril, que terminou com um placar de nove a dois, os ministros do Supremo decidiram que a liberdade religiosa, direito fundamental reconhecido pela Constituição Federal, não está sendo violada por decretos que obrigam o fechamento de igrejas e templos por causa da pandemia de Covid-19.

Diante dessa decisão do STF, os juristas católicos do Rio de Janeiro publicaram uma nota em 21 de abril, por meio da qual afirmaram a preocupação com a relação entre Igreja e Estado brasileiro, “tal como pactuadas no Tratado Internacional entre o Brasil e a Santa Sé sobre o Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil, firmado na Cidade do Vaticano em 13/11/2008 (Acordo Brasil-Santa Sé – Decreto nº 7.107/2010)”.

Em entrevista à ACI Digital, Padre Marcus Vinicius Brito de Macedo, da Arquidiocese do Rio de Janeiro, observou que a decisão do Supremo “se limitou a analisar os dispositivos constitucionais que tratam da liberdade religiosa, não se debruçando seus ministros na questão específica da Igreja Católica e, por conseguinte, do Acordo Brasil-Santa Sé”.

Em seguida, ressaltou que, “não obstante se reconheça o pluralismo religioso presente no território brasileiro, é lamentável que o Poder Judiciário passe ao largo do Decreto 7107/2010 sobre as peculiaridades que envolvem a fé católica, especialmente, a existência de um Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil através de um Tratado Internacional assinado entre dois sujeitos que devem colaborar entre si sem qualquer imposição de subordinação”.

O sacerdote, que é pós-doutorando em História da Diplomacia na Universidade de Brasília, doutor em Relações Internacionais e Comunicação Social pela Universidade de Navarra (Espanha) e professor do Instituto Superior de Direito Canônico do Rio de Janeiro e da PUC-Rio, explicou as peculiaridades deste acordo entre Estado brasileiro e Igreja Católica.

Segundo ele, “diferentemente das demais confissões, a Igreja Católica tem simultaneamente as seguintes características: universalidade (potencial e sociologicamente estende-se às nações de toda terra), regime centralizado (há uma autoridade suprema, cujo sujeito é o Bispo de Roma junto ao Colégio Episcopal) e um órgão de governo do Papa, a Santa Sé”.

Tais características “constituem nas Relações Internacionais uma personalidade jurídica que viabiliza o cumprimento dos deveres e funções do Direito Internacional, sendo os mais clássicos: o direito de legação, o direito concordatário, o direito de mediação, além dos direitos a participar em conferências internacionais ou organizações internacionais”.

Esta realidade, portanto, explica “a possibilidade da Igreja Católica firmar acordos com outras nações, sendo um ente soberano na comunidade internacional”. É o que ocorre no Acordo Brasil-Santa Sé.

Também nessa linha, a União dos Juristas Católicos do Rio de Janeiro pontuou em sua nota que “a Igreja Católica presente no mundo inteiro ostenta seu próprio ordenamento jurídico autônomo e soberano (o Direito Canônico), emanada da Santa Sé como fonte jurígena histórica e atual internacionalmente reconhecida muito antes da instituição do Estado brasileiro”.

Assim, “as relações entre a Igreja Católica e o Estado brasileiro devem pautar-se por respeito mútuo, autonomia, independência e cooperação”, afirmaram os juristas, acrescentando que “não é possível reconhecer às autoridades civis poder de subordinar a Igreja Católica, fazendo tábula rasa de seu ordenamento jurídico próprio (o Direito Canônico) e do acordo internacional da República com a Santa Sé, o qual, com fundamento no direito de liberdade religiosa, reconhece à Igreja Católica o direito de desempenhar a sua missão apostólica, garantindo o exercício público de suas atividades (Art. 2º do Acordo)”.

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Indignação de vítimas por condecoração ao Cardeal Marx, acusado de encobrir abusos sexuais


As vítimas de abuso sexual reagiram com protesto e indignação ante o anúncio de que o Cardeal Reinhard Marx vai ser condecorado com a Cruz de Mérito Federal. Numa carta aberta ao Presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, o conselho das vítimas da Arquidiocese de Colônia exige que o prêmio ao Cardeal seja retirado. O Cardeal, que é Arcebispo de Munique, tem sido acusado de ter falhado no seu dever de investigar casos de abusos sexuais.

Honrar o arcebispo de Munique poria em causa "tudo aquilo pelo qual nós já lutamos e trabalhamos", lê a carta, assinada por Peter Bringmann-Henselder em nome do Conselho Consultivo das vítimas, que diz ter sido assinada ainda por pelos outros membros.

"Se isto acontecer, todos aqueles que já receberam a Cruz de Mérito Federal pelos seus autênticos serviços às vítimas de violência sexual devem devolvê-la, pois esta comendação perderá o seu valor real de honra ao mérito, se o Cardeal Marx for condecorado com ela".

Bringmann-Henselder é ele próprio um portador da Cruz de Mérito Federal. Ele diz que devolveria a medalha caso Marx recebesse esta honra.

"É incompreensível para nós como se pode atribuir a Cruz de Mérito Federal ao Cardeal Marx, um homem que continua a ser criticado por não ter investigado consistentemente casos de violência sexual na sua antiga diocese de Trier e que é acusado de um encobrimento neste contexto", lê-se na carta.

Do mesmo modo, o Cardeal o cardeal teria ocultado e dificultado o acesso a um parecer especializado "sobre os casos de violência sexual na arquidiocese de Freising-Munich, que deveria ser publicado em 2010".

O conteúdo desta opinião de peritos "não tem sido acessível ao público até hoje, ao contrário da opinião dos peritos da Arquidiocese de Colónia", continuou a carta.

Marx não comentou até agora as críticas e as protestas. A entrega está prevista para a próxima sexta-feira, relatou o jornal "Neue Ruhrwort". O relatório de investigação propriamente dito, que ainda não foi publicado até à data, está fechado à chave, informou hoje "Domradio". Nos próximos meses, a Arquidiocese do Município - Freising considera publicar um novo estudo que documentará casos de violência sexual entre 1945 e 2019.

sábado, 24 de abril de 2021

Santa Sé divulga a oração oficial do Encontro Mundial das Famílias de 2022


A Santa Sé divulgou na quinta-feira a oração oficial do X Encontro Mundial das Famílias a se realizar em Roma em 2022.

A Diocese de Roma e o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida também divulgaram o hashtag oficial do encontro que se relaizará entre 22 e 26 de junho de 2022: #WMOF2022.

“Muitas famílias e comunidades estão esperando há muito tempo para se pôr a caminho, ao menos espiritualmente, de Roma. A Oração vai acompanhá-los e ajudá-los a captar a mensagem do encontro”, disse o cardeal Kevin Farrell, prefeito do dicastério.

O encontro será realizado ao fim do ano da Família Amoris laetitia, que marca o quinto aniversário da exortação apostólica do Papa Francisco sobre o amor e a família. O ano, que começou no dia 19 de março, durará, portanto, quinze meses.

O encontro das famílias estava programado para junho de 2021, mas a Santa Sé anunciou neste mês que o Papa Francisco decidiu adiá-lo em um ano por causa da crise do coronavírus.

O cardeal Angelo De Donatis, vigário de Roma, disse que a oração estará no coração das preparações para o evento.

“Ela vai guiar nosso trabalho e inspirar as reflexões papra nos ajudar, à luz da fé, a discernir os novos desafios que a emergência da pandemia representa para a comunidade eclesial em relação às famílias,” disse De Donatis.

“Convido todos a se preparar para esse evento de graça que a Igreja de Roma tem a alegria de hospedar, e de dirigir essa prece ao Senhor na intimidade da família, junto com a comunidade paroquial e diocesana.”

A oração oficial foi inspirada pelo tema escolhido pelo Papa Francisco para o encontro de Roma: “Amor em família: vocação e caminho da santidade”.

Segundo o cardeal Farrell, a vocação das famílias poderia ser melhor entendida com a leitura de Amoris laetitia junto com Gaudete et exultate, a exortação apostólica do Papa Francisco de 2018, sobre a vocação à santidade no mundo de hoje.

“Em um mundo tenso por causa de dificuldades em que as famílias experimentam e lidam com desafios e situações duras, pode parecer um pouco fora da realidade ou inaproriado falar sobre a santidade da família”, comentou o cardeal.

“Daí a importância da oração ao viver o sacramento do casamento em sua totalidade. Um relacionamento com Deus capacita os cassais cristãos todos os dias a reacender a graça que receberam, e isso os sustenta nas tarefas e lutas diárias. Nossa vida pode sempre ser um caminho para a santidade pessoal, da família e do casal, um caminho para crescer no amor aos outros.”

“Todos os membros da família, inclusive as crianças, os jovens, os pais e os avós são chamados a descobrir em si um chamado à santidade.”

Citando Gaudete et exultate, Farrell continuou: “Nesse sentido, a vida em família pode se tornar uma expressão de santidade como ‘a mais atraente face da Igreja’. Isso mostra como é útil a leitura conjunta de Amoris laetitia e Gaudete et exultate, como sugere o Papa Francisco no tema do encontro, para entender melhor a vocação da família.”

O cardeal disse que as famílias católicas devem buscar insiração em casais santos como são Louis Martin e santa Marie-Azélie Guérin, os pais de Santa Teresa de Lisieux, e Luigi Beltrame Quatrocchi e Maria Corsini, beatificados juntos em 2001.

A seguir o texto da oração oficial do X Encontro Mundial das Famílias:

No mês de Maria Papa Francisco convoca 30 dias de oração pelo fim da pandemia



No próximo dia 1º de maio, o Santo Padre convoca os católicos a um período de 30 dias de oração para pedir a intercessão da Virgem Maria pelo fim da pandemia de Covid-19.

A jornada de oração terá por tema: “A oração a Deus subia incessantemente por parte de toda a Igreja”.

A iniciativa foi comunicada pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização e  ressalta que a mesma ocorre a pedido do Papa Francisco: “A iniciativa envolverá de maneira especial todos os Santuários do mundo, para que promovam junto aos fiéis, famílias e comunidades a oração do Rosário pedindo o fim da pandemia.

As orações serão dirigidas em trinta santuários representativos, espalhados por todo o mundo, e serão transmitidas ao vivo nos canais oficiais da Santa Sé às 18 horas (Roma hora), todos os dias".

Liberdade religiosa diminui na Nicarágua com o sandinista Ortega, diz relatório



A fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) destacou em seu novo relatório sobre a liberdade religiosa no mundo que na Nicarágua a situação desse "direito fundamental" se deteriorou e que "as perspectivas para o futuro são sombrias”.

O Relatório de Liberdade Religiosa abrange o período de 2018 a 2020 e revela que 67% da população mundial, cerca de 5,2 bilhões de pessoas, vivem em países onde há graves violações da liberdade religiosa.

No documento, a ACN afirmou que o artigo 29 da Constituição da Nicarágua afirma que “todos têm direito à liberdade de consciência e pensamento e a professar ou não uma religião. Ninguém pode ser objeto de medidas coercivas que diminuam os seus direitos ou ser obrigado a declarar o seu credo, ideologia ou crenças”.

De acordo com a Constituição, destacou, “todas as pessoas, individualmente ou em grupo, têm direito a manifestar as suas crenças religiosas em público ou em privado, através do culto, práticas e ensinamentos”.

No entanto, a ACN afirmou que essa liberdade não é cumprida na Nicarágua, um país que vive “uma crise política e econômica” desde “abril de 2018, quando as tropas de choque pró-governamentais esmagaram uma pequena manifestação contra as reformas do sistema de pensões do país”.

“Desde então, centenas de pessoas foram mortas, milhares ficaram feridas e mais de 100 mil pessoas fugiram, denunciando violações dos direitos humanos, à medida que os protestos cresceram apelando a reformas democráticas, e que as tentativas do Governo para as reprimir aumentaram”, acrescentou.

A fundação pontifícia destacou que na profunda crise política "sob a presidência de Daniel Ortega, um pastor evangélico e a sua família foram assassinados, membros do clero foram atacados, assediados e perseguidos, enquanto padres estrangeiros viram os seus vistos cancelados".

Daniel Ortega, ex-guerrilheiro e líder da Frente Sandinista de Libertação Nacional, teve seu primeiro período como presidente entre 1985 e 1990. Em 2007 voltou a assumir a presidência e desde então se manteve no poder com eleições cuja imparcialidade foi questionada pela oposição.

Segundo o site “Acontecer Cristiano”, em junho de 2018, “uma família de cristãos evangélicos foi queimada viva dentro de sua casa em Manágua”. Os vizinhos disseram que o ataque foi "provocado pela polícia e por forças de segurança", disse a ACN.

“Neste clima explosivo, a Igreja Católica tentou mediar, sem sucesso, entre o Governo e a oposição, e subsequentemente foi alvo de ataques e represálias por dar refúgio nos seus edifícios a manifestantes que exigiam a libertação de presos políticos”, acrescentou a ACN.

Câmara de Deputados do Chile aprova eutanásia


A Câmara dos Deputados do Chile aprovou o projeto de lei da eutanásia em 20 de abril. O texto, agora, deverá seguir o segundo trâmite legislativo no Senado.

A discussão do projeto de mais de 40 artigos, conhecido como “morte digna e cuidados paliativos”, teve início na Câmara dos Deputados no dia 14 de abril. Cada artigo foi votado individualmente.

O projeto estabelece que uma pessoa com mais de 18 anos, chilena ou residente legal no país, poderá ter acesso à eutanásia caso seja diagnosticada com um problema de saúde grave e irremediável.

A pessoa deve estar consciente no momento da solicitação ou deve ter uma declaração de vontade antecipada. A manifestação da vontade deve ser fundamentada, reiterada, inequívoca e livre de qualquer pressão externa.

Dois médicos especialistas deverão atestar a doença grave e incurável. Além disso, um psiquiatra deve emitir um certificado dizendo que o paciente está em pleno uso de suas faculdades mentais.

A morte da pessoa deve ocorrer em um centro médico, seja por meio da injeção de uma substância letal, seja ajudando a pessoa a se autoadministrar a substância.

Rosario Corvalán, advogada da equipe legislativa de Comunidade e Justiça, que acompanhou de perto o debate, explicou que embora o projeto de lei estabeleça que a pessoa tem direito a ter acesso aos cuidados paliativos, estes “não são obrigatórios para o acesso à eutanásia”, ou seja, “não é necessário ter passado por eles”.

Isso ignora a experiência de instituições como a Faculdade de Medicina da Universidade Católica do Chile, que falam que os cuidados paliativos "reduzem em pelo menos 50% os pedidos de eutanásia”.

segunda-feira, 19 de abril de 2021

CNBB divulga mensagem ao povo brasileiro aprovada pelos Bispos reunidos em Assembleia



MENSAGEM DA 58ª ASSEMBLEIA GERAL DA CNBB 
AO POVO BRASILEIRO
Esperamos novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça. (2Pd 3,13)
 


Movidos pela esperança que brota do Evangelho, nós, Bispos do Brasil, reunidos, de modo online, na 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, de 12 a 16 de abril de 2021, neste grave momento, dirigimos nossa mensagem ao povo brasileiro.

Expressamos a nossa oração e a nossa solidariedade aos enfermos, às famílias que perderam seus entes queridos e a todos os que mais sofrem as consequências da Covid-19. Na certeza da Ressurreição, trazemos em nossas preces, particularmente, os falecidos. Ao mesmo tempo, manifestamos a nossa profunda gratidão aos profissionais de saúde e a todas as pessoas que têm doado a sua vida em favor dos doentes, prestado serviços essenciais e contribuído para enfrentar a pandemia.

O Brasil experimenta o aprofundamento de uma grave crise sanitária, econômica, ética, social e política, intensificada pela pandemia, que nos desafia, expondo a desigualdade estrutural enraizada na sociedade brasileira. Embora todos sofram com a pandemia, suas consequências são mais devastadoras na vida dos pobres e fragilizados.

Essa realidade de sofrimento deve encontrar eco no coração dos discípulos de Cristo[1]. Tudo o que promove ou ameaça a vida diz respeito à nossa missão de cristãos. Sempre que assumimos posicionamentos em questões sociais, econômicas e políticas, nós o fazemos por exigência do Evangelho. Não podemos nos calar quando a vida é ameaçada, os direitos desrespeitados, a justiça corrompida e a violência instaurada[2].

Louvamos o testemunho de nossas comunidades na incansável e anônima busca por amenizar as consequências da pandemia. Muitos irmãos e irmãs, bispos, padres, diáconos, religiosos, religiosas, cristãos leigos e leigas, movidos pelo autêntico espírito cristão, expõem suas vidas no socorro aos mais vulneráveis. Com o Papa Francisco, afirmamos que “são inseparáveis a oração a Deus e a solidariedade com os pobres e os enfermos”[3]. As iniciativas comunitárias de partilha e solidariedade devem ser sempre mais incentivadas. É Tempo de Cuidar!

Somos pastores e nossa missão é cuidar. Nosso coração sofre com a restrita participação do Povo de Deus nos templos. Contudo, a sacralidade da vida humana exige de nós sensatez e responsabilidade. Por isso, nesse momento, precisamos continuar a observar as medidas sanitárias que dizem respeito às celebrações presenciais. Reconhecemos agradecidos que nossas famílias têm sido espaço privilegiado da vivência da fé e da solidariedade. Elas têm encontrado nas iniciativas de nossas comunidades, através de subsídios e celebrações online, a possibilidade de vivenciarem intensamente a Igreja doméstica. Unidos na oração e no cuidado pela vida, superaremos esse momento.

Na sociedade civil, os três poderes da República têm, cada um na sua especificidade, a missão de conduzir o Brasil nos ditames da Constituição Federal, que preconiza a saúde como “direito de todos e dever do Estado”[4]. Isso exige competência e lucidez. São inaceitáveis discursos e atitudes que negam a realidade da pandemia, desprezam as medidas sanitárias e ameaçam o Estado Democrático de Direito. É necessária atenção à ciência, incentivar o uso de máscara, o distanciamento social e garantir a vacinação para todos, o mais breve possível. O auxílio emergencial, digno e pelo tempo que for necessário, é imprescindível para salvar vidas e dinamizar a economia[5], com especial atenção aos pobres e desempregados.

É preciso assegurar maiores investimentos em saúde pública e a devida assistência aos enfermos, preservando e fortalecendo o Sistema Único de Saúde – SUS. São inadmissíveis as tentativas sistemáticas de desmonte da estrutura de proteção social no país. Rejeitamos energicamente qualquer iniciativa que intente desobrigar os governantes da aplicação do mínimo constitucional do orçamento na saúde e na educação.

A educação, fragilizada há anos pela ausência de um eficiente projeto educativo nacional, sofre ainda mais no contexto da pandemia, com sérias consequências para o futuro do país. Além de eficazes políticas públicas de Estado, é fundamental o engajamento no Pacto Educativo Global, proposto pelo Papa Francisco[6].

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Em Mensagem à CNBB, Papa Francisco expressa proximidade às vítimas de Covid-19 no Brasil


O Papa Francisco mostrou sua proximidade "com as centenas de milhares de famílias que lamentam a perda de um ente querido" no Brasil devido à pandemia de coronavírus, em uma vídeo mensagem enviada hoje aos bispos brasileiros.

“Por ocasião da 58ª. Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, quero me dirigir a vocês; e perdoem-me que o faça em espanhol, mas entre Brasil e Argentina há um idioma que todos entendemos: o “portunhol”, assim que vocês me entenderão. E, através de vocês, quero me dirigir a cada brasileiro e brasileira, no momento em que este tão amado país enfrenta uma das provas mais difíceis de sua história”, inaugurou seu discurso transmitido aos bispos brasileiros.

O Santo Padre primeiramente desejou mostrar sua “proximidade a todas as centenas de milhares de famílias que choram a perda de um ente querido”.

“Jovens, idosos, pais e mães, médicos e voluntários, ministros sagrados, ricos e pobres: a pandemia não excluiu ninguém no seu rastro de sofrimento. Penso de modo particular nos Bispos que faleceram, vítimas da COVID. Peço a Deus que conceda a todos o descanso eterno e que traga consolação aos corações enlutados dos familiares que muitas vezes nem sequer puderam despedir-se dos seus parentes amados. E esta partida sem poder despedir-se, esta partida na solidão mais despojada é uma das maiores dores de quem parte e de quem fica”, referiu.

Recordando que ainda vivemos o tempo da Páscoa que nos recorda a vitória de Cristo sobre a morte, o Santo Padre afirmou: “não podemos dar-nos por vencidos!”

“Como cantamos na Sequência do Domingo de Páscoa: “Duelam forte e mais forte: é a vida que enfrenta a morte. O Rei da vida, cativo, é morto, mas reina vivo!””.

“Sim queridos irmãos, o mais forte está ao nosso lado! Cristo venceu! Venceu a morte! Renovemos a esperança de que a vida vencerá!”, encorajou.

O Santo Padre encorajou os bispos brasileiros a manterem a esperança diante deste  momento trágico e afirmou: “É possível superar a pandemia, é possível superar suas consequências. Mas somente conseguiremos se estivermos unidos! A Conferência Episcopal deve ser una neste momento, pois o povo que sofre é uno”.

Lembrando sua viagem ao Brasil em 2013, a primeira do seu pontificado, recordou a história da pequena imagem de Nossa Senhora Aparecida, cujo corpo foi encontrado separado da cabeça pelos pescadores nas águas do rio Paraíba.  

“Comentava que aquela imagem encontrada dividida, podia servir de símbolo para a realidade brasileira: “Aquilo que estava quebrado retoma a unidade. (...) Em Aparecida, logo desde o início, Deus dá uma mensagem de recomposição do que está fraturado, de compactação do que está dividido. Muros, abismos, distâncias ainda hoje existentes estão destinados a desaparecer”, referiu o Pontífice.

“A Igreja não pode descurar esta lição: a Igreja deve ser instrumento de reconciliação e ser instrumento de reconciliação, ser instrumento de unidade. Essa é a missão da Igreja no Brasil: hoje mais do que nunca! Para tal, é preciso deixar de lado as divisões, os desentendimentos”, remarcou.

“É preciso nos encontrar no essencial. Com Cristo, por Cristo e em Cristo reencontrar à “unidade do Espírito, pelo vínculo da paz” (Ef 4,3). Somente assim vocês, como Pastores do Povo de Deus, poderão inspirar os fiéis católicos, mas também os demais cristãos e os homens e mulheres de boa vontade, em todos os níveis da sociedade, inclusive no nível institucional e governamental, poderão inspirar a trabalhar juntos para superar não somente o coronavírus, mas também outro vírus que há muito tempo assola a humanidade: o vírus da indiferença, que nasce do egoísmo e gera injustiça social”.

O Papa Francisco terminou sua videomensagem recordando que “o desafio é grande”, porém, “sabemos que o Senhor caminha conosco: “Eis que estarei convosco, todos os dias, até o final dos tempos” (Mt 28,20) – nos diz Ele”.

“Por isso, na certeza de que “não nos deu um espírito de covardia, mas de fortaleza, de amor e moderação” (2 Tim 1,7), deixemos “de lado tudo o que non atrapalha e o pecado que nos envolve. Corramos com perseverança na competição que nos é proposta, com os olhos fixos em Jesus” (cf. Heb 12, 1-2). Sempre Jesus! Nele está a nossa base, a nossa força, a nossa unidade”, exortou.

“Peço ao Senhor ressuscitado que esta Assembleia Geral produza frutos de unidade e reconciliação para todo o povo brasileiro e na Conferência Episcopal. Unidade que não é uniformidade, mas que é harmonia: essa unidade harmônica que somente o Espírito Santo confere”.

“Imploro à Nossa Senhora Aparecida que Ela, como Mãe, fomente entre todos os seus filhos a graça de ser defensores do bem e da vida dos outros, bem como promotores da fraternidade.

A cada um de vocês, queridos irmãos Bispos, aos fiéis que lhes foram confiados e a todo povo brasileiro concedo de todo o coração a minha Bênção. E por favor, peço que não se esqueçam de rezar por mim”.