A fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) destacou em seu novo relatório sobre a liberdade religiosa no mundo que na Nicarágua a situação desse "direito fundamental" se deteriorou e que "as perspectivas para o futuro são sombrias”.
O Relatório de Liberdade Religiosa abrange o período de 2018 a 2020 e revela que 67% da população mundial, cerca de 5,2 bilhões de pessoas, vivem em países onde há graves violações da liberdade religiosa.
No documento, a ACN afirmou que o artigo 29 da Constituição da Nicarágua afirma que “todos têm direito à liberdade de consciência e pensamento e a professar ou não uma religião. Ninguém pode ser objeto de medidas coercivas que diminuam os seus direitos ou ser obrigado a declarar o seu credo, ideologia ou crenças”.
De acordo com a Constituição, destacou, “todas as pessoas, individualmente ou em grupo, têm direito a manifestar as suas crenças religiosas em público ou em privado, através do culto, práticas e ensinamentos”.
No entanto, a ACN afirmou que essa liberdade não é cumprida na Nicarágua, um país que vive “uma crise política e econômica” desde “abril de 2018, quando as tropas de choque pró-governamentais esmagaram uma pequena manifestação contra as reformas do sistema de pensões do país”.
“Desde então, centenas de pessoas foram mortas, milhares ficaram feridas e mais de 100 mil pessoas fugiram, denunciando violações dos direitos humanos, à medida que os protestos cresceram apelando a reformas democráticas, e que as tentativas do Governo para as reprimir aumentaram”, acrescentou.
A fundação pontifícia destacou que na profunda crise política "sob a presidência de Daniel Ortega, um pastor evangélico e a sua família foram assassinados, membros do clero foram atacados, assediados e perseguidos, enquanto padres estrangeiros viram os seus vistos cancelados".
Daniel Ortega, ex-guerrilheiro e líder da Frente Sandinista de Libertação Nacional, teve seu primeiro período como presidente entre 1985 e 1990. Em 2007 voltou a assumir a presidência e desde então se manteve no poder com eleições cuja imparcialidade foi questionada pela oposição.
Segundo o site “Acontecer Cristiano”, em junho de 2018, “uma família de cristãos evangélicos foi queimada viva dentro de sua casa em Manágua”. Os vizinhos disseram que o ataque foi "provocado pela polícia e por forças de segurança", disse a ACN.
“Neste clima explosivo, a Igreja Católica tentou mediar, sem sucesso, entre o Governo e a oposição, e subsequentemente foi alvo de ataques e represálias por dar refúgio nos seus edifícios a manifestantes que exigiam a libertação de presos políticos”, acrescentou a ACN.
A fundação lembrou que em novembro de 2019 “um grupo de pessoas entrou em greve de fome numa igreja para exigir a libertação de presos políticos. As autoridades cercaram a igreja e impediram os grevistas de fome de receberem o básico, como água e medicamentos”.
ACN informou que foram noticiados vários "atos de vandalismo e profanações de igrejas no país", como o incidente ocorrido em julho de 2020, quando "um indivíduo não identificado atirou uma bomba que provocou um incêndio” em uma das capelas da Catedral de Manágua.
“Em setembro de 2020, o Governo começou a cancelar vistos para padres estrangeiros, apesar de estes terem trabalhado no país durante vários anos”, disse.
A fundação também se referiu à pouca resposta do governo à pandemia de Covid-19, na qual “os serviços públicos continuaram a funcionar normalmente, permitindo a propagação do vírus”.
“O vice-presidente encorajou os serviços religiosos durante a Semana Santa. Pelo contrário, a Conferência Episcopal limitou as atividades e tomou medidas para prevenir infecções”, acrescentou.
A ACN disse que “a Igreja e as organizações internacionais condenaram o clima de medo e violência, advertindo que os direitos humanos, incluindo a liberdade religiosa, estão a ser violados”.
Nesse sentido, afirmou que a situação “deste direito fundamental deteriorou-se visivelmente na Nicarágua e as perspectivas para o futuro são sombrias”.
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ACI Digital
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