domingo, 9 de dezembro de 2012

Diálogo Ecumênico entre Lutero e o Diabo



A Conferência entre Lutero e o Diabo
(Parte I)

Narrada pelo próprio Lutero, no seu livro “Da missa privada [2] e da piedade dos padres [3].

LEGENDA: verde: fala de Lutero. 
vermelho: fala de satanás.
Numeração em azul: 
comentários no fim da postagem.


Aconteceu-me certa vez, acordar-me em sobressalto no meio da noite: Satanás ali estava e, sem perder tempo, abriu uma discussão.

“Escute-me Lutero, doutor sapientíssimo, disse-me ele. Tu sabes que, durante quinze anos, celebraste missas privadas; que dirias, se soubesses que essas missas privadas eram uma horrível idolatria? Que dirias, se o corpo e o sangue de Cristo não estivessem ali presentes, e, que, não tivesses adorado, e feito adorar, nada mais do que pão e vinho?”

Eu lhe respondi [4]: “Fui ordenado padre, recebi a unção e a consagração das mãos do bispo, e fiz tudo isso em obediência às ordens dos meus superiores. Por que não teria consagrado, posto que pronunciei seriamente as palavras de Cristo, e, tenho celebrado essas missas com grande seriedade? Tu bem o sabes”.

“Tudo isso é verdade, disse-me, porém os turcos, e os pagãos, também fazem essas coisas nos seus templos, por obediência; eles realizam com muita seriedade suas cerimônias. Os padres de Jereboão também fizeram todas as coisas com um grande zelo e conscienciosamente, ao contrário dos verdadeiros padres de Jerusalém. Que dirias, se tua ordenação e consagração fossem tão falsas quanto as dos padres turcos e samaritanos, por ser seu culto falso e ímpio?”


“Primeiramente, deves saber prossegue - que não tinhas, então, nem conhecimento de Cristo, nem fé verdadeira, e, naquilo que se refere à fé, não valias mais que um turco. Porque o turco [5], e até mesmo todos os diabos, crêem em aquilo que se conta sobre Cristo: que ele nasceu, foi crucificado, morreu, etc. Mas, nem o turco, nem nós outros espíritos reprovados, temos confiança na sua misericórdia, não o reconhecemos como nosso Mediador ou Salvador; ao contrário, temos horror dele, como de um juiz cruel”.

“Assim era sua fé, tu não tinhas outra [6] quando recebeste a unção do bispo; e, todos aqueles que dão a unção, como aqueles que a recebem, pensam assim, e não de outro modo, sobre Jesus Cristo”.

“É porque, vos afastando de Cristo, como de um juiz cruel, tendes recorrido à Virgem Maria e aos Santos [7]; estes eram vossos mediadores entre Cristo e vós. Eis como arrancaram a glória de Jesus Cristo [8]. É isto que nem tu [9], nem qualquer outro papista poderá negar. Então, vós fostes ungidos, consagrados e tonsurados, e sacrificastes na missa como pagãos, e não como cristãos. Como, portanto, pudestes consagrar numa tal missa, ou celebrar verdadeiramente a missa? Não havia ali nenhuma pessoa com poder consecratório, e isto não é, segundo vossa própria doutrina, um vício essencial?”

Segundo Satanás a devoção à SS. Virgem
e aos santos "arranca a glória de Jesus
Cristo". Os evangélicos seguem o conselho
de Satanás em  vez de cultivar-lhes a amizade
segundo do Evangelho: "Eu vos digo: fazei-vos
amigos com a riqueza injusta, para que, no
dia em que ela vos faltar, eles vos recebam
 nos  tabernáculos eternos" (Lc 16,9)

“Em segundo lugar, foste ordenado padre, e abusaste da missa contra sua instituição, contra o pensamento e o desejo do Cristo que a instituiu. Porque Cristo quis que o sacramento fosse distribuído entre os fiéis que comungam, e, que ele fosse dado à Igreja para ser comido e bebido. O verdadeiro padre, de fato, é constituído ministro da Igreja para pregar o verbo e conferir sacramentos, como disseram Cristo na ceia, e, São Paulo, na sua primeira Epístola aos coríntios (cap. II), onde trata da ceia do senhor. Vem daí que os antigos a chamaram comunhão, porque, de acordo com a instituição de Cristo, não é somente o padre que deve usar o sacramento, mas todos os outros cristãos seus irmãos, com ele. E tu, durante quinze longos anos, sempre, ao dizer a missa, guardaste o sacramento para ti somente, não o comunicaste aos outros. Ainda mais, era-te proibido [10] dá-lo completo. Que sacerdócio havia então? Que missa e qual consagração? Que tipo de padre és, que não foste ordenado pela Igreja, mas por ti mesmo? Eis, na verdade, uma unção da qual Cristo nada sabe, e que ele não reconhece”.

“Em terceiro lugar, o pensamento e o desejo de Cristo, suas palavras os indicam suficientemente, são no sentido de que se fazendo uso do sacramento, anunciamos sua morte. “Fazei isto”, disse, em memória de mim, e, como acrescenta São Paulo, até que ele venha. E tu, dizedor [11] de missas privadas, em todas as tuas missas, tu não pregaste ou confessaste, uma só vez, o Cristo; reservaste só para ti o sacramento [12], e, as palavras da ceia, as resmungaste só para ti, entre dentes, como se as assobiasse. Foi isto que Cristo instituiu? Seriam estes os atos que fariam ver em ti o padre de Cristo? E isto se comportar como um padre cristão e piedoso?

Foi para isto que foste ordenado?”

“Em quarto lugar, está claro que o pensamento e o desejo, a instituição, de Cristo, consistem na participação dos demais cristãos no sacramento. Mas tu, tu recebeste a unção, não para distribuir o sacramento, mas para sacrificar, e, contra a instituição de Cristo, fizeste da missa um sacrifício. É isto mesmo, aliás, o que significam, claramente, as palavras do ordenador, visto que, segundo o rito tradicional, quando ele põe o cálice entre as mãos do novo padre, declara: “Recebe, diz ele, o poder de consagrar e sacrificar para os vivos e mortos'. Que perversidade, ó infelicidade! Quanta infâmia nessa unção, nessa ordenação! Eis uma carne, eis uma bebida que Cristo instituiu para toda a Igreja, para todos aqueles que o comungam com o padre, e tu realizas, tu, um sacrifício propiciatório diante de Deus? Ó abominação que ultrapassa todas as abominações!”

“Em quinto lugar, o pensamento e o desejo de Cristo, já o dissemos, são que o sacramento seja distribuído na Igreja, e aos comungantes, para levantar e reforçar sua fé contra as diversas tentações do pecado, do diabo, etc, e, também, para renovar e pregar os benefícios de Cristo. Mas tu o consideraste como uma coisa muito pessoal, que poderias fazer sem os outros, ou comunicar-lhes tua fantasia, seja gratuitamente, seja por dinheiro. Eu te pergunto, o que podes negar de tudo isto? Assim, aí está o padre que foste, sem Cristo, não a fim de conferir o sacramento aos outros, mas a fim de sacrificar para os vivos e para os mortos! Não, tu não pregaste o Cristo na tua missa, não fizeste, em suma, aquilo que Cristo instituiu. Ora! Não vês que foste ungido e ordenado pelo bispo contra Cristo, não te é evidente que tua unção e tua ordenação são ímpias, falsas e anticristãs? Eu sustento, pois, que tu, simplesmente, ofereceu, adorou, e fez adorar pelos outros, pão e vinho [13]."

“Vês agora que, na tua missa falta, primeiro que tudo, uma pessoa que tenha poder de consagrar, isto é, um homem cristão. Em segundo lugar, que falta uma pessoa para quem se consagre e a quem se deva conferir o sacramento, isto é, a Igreja, o resto dos fiéis e o povo. Porém, tu, ímpio, tu, ignorante do Cristo, estás lá de pé, sozinho [14], e imaginas que é por ti que o Cristo instituiu o sacramento e que te basta dizer uma palavra na missa para produzir, incontinenti, o corpo e o sangue do Senhor; quando em lugar de seres um membro de Cristo, és seu inimigo. Em terceiro lugar, falta nela o espírito, a intenção, o fruto e a prática do sacramento, todas as coisas em vista das quais Cristo a instituiu. Porque Cristo instituiu o sacramento em proveito da Igreja para ser comido e bebido, para fortalecer a fé dos fiéis, para pregar e exaltar, na missa, os benefícios de Cristo. Agora, dá tua missa para ti. ninguém, no resto da Igreja, nada conhece; tu não dizes nada, não dás nada a ninguém [15]; sozinho no teu canto, silencioso e mudo, tu comes só, bebes só, ignorante da palavra de Cristo, incrédulo, indigno, não fazes comungar ninguém contigo, e, segundo o costume que vos é caro, a vendes por dinheiro, como se fosse um bom trabalho [16]”.

“Portanto, se não és a pessoa que pode e deve consagrar; se, do mesmo modo, não há ninguém em tua missa, para receber o sacramento; se, ainda mais, confundes, destróis ou desnaturas completamente a instituição de Cristo, o que são, então, a tua unção, tua missa e tua consagração, senão blasfêmias e tentações a Deus? Donde se deduz que não és padre de verdade, nem o pão é verdadeiramente o corpo de Cristo”.

“Farei uma comparação: suponhamos que se administre lá onde não haja ninguém para batizar; que um bispo, por exemplo (segundo o costume ridículo [17] que ocorre entre os papistas), ache por bem batizar um sino ou uma campainha, isto é, coisas que não podem e nem devem ser batizadas: dize-me, te peço, seria isso um batismo verdadeiro? Forçosamente hás de convir que não. Porque, quem poderia batizar aquele que não existe [18], ou quando não existe alguma pessoa apta a ser batizada? Que espécie de batismo seria se, vertendo a água, eu pronunciasse aos ares estas palavras: Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo? Quem, pois, neste caso, receberia a remissão dos pecados, ou o Espírito Santo? O ar ou o sino? Não há, pois, batismo, é evidente, ainda que as palavras do batismo sejam pronunciadas, ou a água seja vertida, porque faltou uma pessoa que pudesse receber o batismo. Pois bem, que dirias se na missa ocorresse o mesmo, se pronunciasses palavras, crendo receber o sacramento, e que, no entanto, não recebesses senão pão e vinho? Porque, a pessoa que deve receber, a Igreja, está ausente; e tu, ímpio, tu, incrédulo, não és mais capaz de receber o sacramento quanto o sino o é de receber o batismo; enfim, tu não és nada quanto ao sacramento [19]”.

“Dirás, provavelmente: é verdade, não confiro o sacramento aos outros membros da Igreja, mas eu próprio o tomo, eu mesmo me confiro. E há muitos entre os outros que, quão incrédulos que sejam, recebem o sacramento ou o batismo; e, no entanto, é um verdadeiro batismo, um verdadeiro sacramento que eles recebem. Por que, então, não haveria na minha missa um verdadeiro sacramento? Mas, isto não é a mesma coisa: no batismo, de fato (mesmo quando é conferido em caso de urgência), há, pelo menos duas pessoas: a que batiza e a que deve ser batizada, e, frequentemente, muitos outros membros da Igreja. E a função daquela que batiza é tal que ela comunica algo às outras pessoas da Igreja, em vez de tomá-la por ela somente, em detrimento das demais, como tu fazes, tu, na tua missa. Enfim, todos os acessórios da obra principal estão aqui, segundo a ordem e a regra da instituição de Cristo; tua missa, ao contrário, é oposta à instituição de Cristo [20].

“Em segundo lugar, por que não ensinais que se pode batizar a si mesmo? Por que condenais um batismo dessa espécie? Por que rejeitais a confirmação que, segundo vossos ritos, não se daria a si mesmo? Por que a ordenação não valeria nada, se qualquer um se ordenasse padre ele próprio? Por que não haveria absolvição, se se absolvesse a si mesmo? Por que não haveria unção, se um doente terminal se desse a si mesmo, de acordo com as formas utilizadas por vós? Por que não haveria matrimônio, se alguém se desposasse a si mesmo, ou quisesse forçar uma moça, e pretendesse que isso seria um casamento, apesar da moça? Porque, eis aí, com a eucaristia estão os vossos sete sacramentos. Ora, se ninguém pode produzir nenhum dos vossos sacramentos, nem usá-los para si mesmo, como explicas que queiras fazer por si só esse sacramento supremo, a eucaristia?”


“É verdade, sem dúvida, que o Cristo se encontra, ele próprio, no sacramento, e, que, qualquer ministro que seja, ao conferi-lo aos outros, se toma por ele. Mas, não o consagra por ele só: toma-o em comunhão com os assistentes e com a Igreja, e tudo se passa conforme o verbo de Deus, segundo a ordem e o mandamento de Cristo. Quando falo de consagração, é para perguntar se um padre pode consagrar e realizar o sacramento por si só, porque sei muito bem que, uma vez a consagração feita, ele pode usá-la com os demais: é uma comunhão, e a mesa do Senhor está aberta a todos. Do mesmo modo, quando perguntei se se poderia dar a unção e chamar-se a si mesmo, eu sabia, de resto, que uma vez ungido e chamado, poderia, em seguida, usar da sua vocação. Do mesmo modo, falando de alguém que violasse uma moça, perguntei se bastava ao ímpio chamar de casamento essa conjunção; mas, sei muito bem que se a moça consentir antes em casar-se, a conjunção que se seguir é um casamento”.

Nessa angústia, nesse debate contra o diabo [21], eu queria resistir ao inimigo com as armas que me eram familiares sob o papado; eu lhe objetei com a intenção e a fé da Igreja, fé e intenção às quais eu me tinha conformado, celebrando missas privadas. Admitindo, disse, que eu estivesse enganado na minha fé, e no meu pensamento, assim ele estaria certo de que a fé da Igreja, o pensamento da Igreja têm sido o que deveriam ser.

Porém, Satanás, com mais força e veemência:

“Ah, é isto, disse-me, faça-me, então, ver onde está escrito que um ímpio, um incrédulo, pudesse oficiar no altar de Cristo e consagrar, realizar o sacramento na fé da Igreja [22]? Onde foi que Deus prescreveu ou ordenou isso? Como provarás que a Igreja te comunica sua intenção para que digas tua missa privada? E se, agora, não possuis o verbo de Deus, se tua doutrina toda não passa de mentira. Que impudência a vossa! Fizestes tudo isto nas trevas, abusastes do nome da Igreja; e, depois, quereis defender todas essas abominações pretextando a intenção da Igreja: a Igreja não crê nada, não pensa nada fora do verbo e da instituição de Cristo, com muito mais razão ainda contra seu espírito e sua instituição; é o que tenho dito, e São Paulo disse antes de mim, na sua primeira Epístola aos Coríntios (cap. II), comovendo a Igreja e a assembleia dos fiéis: “Nós possuímos o espírito de Cristo”.

“Ora, de quem aprenderás que tal ou qual coisa é segundo o espírito e a intenção de Cristo e da Igreja, senão do verbo de Jesus Cristo, da doutrina e da confissão da Igreja? Como sabes que, segundo a intenção, e o espírito da Igreja, o homicídio, o adultério, a incredulidade, são pecados mortais, como sabes isto e outras coisas do mesmo gênero, senão pelo verbo de Deus?”

“Agora, se para conhecer a intenção da Igreja, a respeito das boas ou das más ações, é preciso referir-se ao verbo e ao mandamento de Deus, quanto maior não será a necessidade de perguntar ao verbo de Deus o que ele pensa da doutrina! Por que, então, tua missa privada, ó blasfemador! Contrarias as ordens e as palavras precisas de Cristo? Por que buscar, em seguida, cobrir tua mentira, tua impiedade, com o nome e a intenção da Igreja? É com essas miseráveis cores que enfeitas tuas ficções, como se a intenção da Igreja pudessem ser contrárias às palavras precisas e à instituição de Cristo? Donde te vem essa prodigiosa audácia de profanar o nome da Igreja com uma mentira tão impudente?”

“Em suma, és dizedor de missas, e tu não fostes consagrado assim, pelo bispo, senão para agir na missa privada contra as palavras precisas e a instituição de Cristo, contra o espírito, a fé e a confissão da Igreja: então, tua unção é tudo o que existe de mais profano; nada tem de santa nem de sagrada. Além do mais, ela é mais vã, mais inútil, e também mais ridícula do que seria o batismo de uma pedra, de um sino, etc.”.

E, para terminar, acrescentou Satanás:

“Fica provado que tu não consagraste, mas somente ofereceste pão e vinho, como os pagãos; e, que, num tráfico infame, insultante para a divindade, vendeste tua obra aos cristãos, não servindo, assim, nem Deus, nem Cristo, mas teu ventre”.

“Qual é, pois, essa abominação, inaudita no Céu e na terra?”

Este é, mais ou menos, o resumo dessa discussão.


Capítulo I

COMENTÁRIOS DO PADRE DE CORDEMOY SOBRE 
A CONFERÊNCIA ENTRE LUTERO E O DIABO
SE ESTE TEXTO É DE LUTERO

Não há pessoa de bom senso que não acredite, após ter lido esta conferência, que aqueles que reconhecem Lutero como o primeiro dos seus reformadores, não a tivessem rejeitado como uma peça inautêntica e feita, expressamente, para desacreditar sua doutrina. 

Entretanto, Deus permitiu, para confundi-los. que o próprio Lutero a escrevesse e que eles a recebem como uma obra dele. Com efeito, o livro onde esta conferência é relatada surgiu [23] na Alemanha de Lutero [24], o qual, longe de lamentar que se tivesse atribuído a ele este livro, por malícia, escreveu [25] a Justo Jonas, seu amigo íntimo, para pedir-lhe que o vertesse para o latim. Essa versão foi feita em 1534 e, após a morte de Lutero, seus discípulos, e principalmente Felipe Melanchton, tiveram o cuidado de incluí-la em suas obras, que foram impressas em latim, em Wittemberg.

Os calvinistas, bem como os luteranos, reconhecem que esta peça é de Lutero. Hospiniano. que é um historiador calvinista, fala desta conferência, cerca de 1533, nestes termos [26]:

“Neste ano, Lutero publicou seu Livro da missa privada e da consagração dos padres, no início do qual ele relata a conversa que teve com o diabo, no meio da noite, e confessa que foi por esse espírito maligno que ele foi advertido de muitos abusos da missa privada”.
Esse autor acrescenta que o resumo desta conferência mostra que Lutero aprendeu, com o diabo, que a missa privada é uma coisa má, e, que, tendo sido convencido pelas razões do diabo, a aboliu.

O Sr. Drelincourt. Ministro de Charenton, próximo a Paris, disse quase o mesmo [27]:

“A serpente ancestral atacou Lutero e prometeu-lhe a vitória. Posto que o servidor de Deus fora padre, e que durante quinze anos tivesse celebrado missas privadas, ele lhe provou, com argumentos invencíveis, que essas missas são contra Deus e as Escrituras divinamente inspiradas”.

O Sr. Claude [28] dá o mesmo testemunho: “Lutero, disse ele, narra que estando certa vez acordado nas trevas da noite, o diabo se pôs a acusá-lo de ter feito o povo de Deus idolatrar, e de idolatrar ele próprio, durante quinze anos em que disse missas privadas”.

O Sr. Claude acrescenta que Lutero foi tomado de uma violenta agitação espiritual, acompanhada de suores por todo o corpo; e, a confusão onde se encontrou, fazendo-o compreender que sua defesa não foi consistente..., ele resolveu renunciar às missas privadas.

Finalmente, quando os luteranos da Alemanha reprovam aos calvinistas alegando que Zwinglio aprendeu de um anjo, que não era nem preto nem branco, a explicar, num sentido figurado estas palavras: “Este é o meu corpo”, os calvinistas apoiam essa reprovação referindo-se à conferência do diabo com Lutero.

É falso, disse Hospiniano [29], que Zwinglio não soubesse que esse anjo era branco ou negro, porque Zwinglio não fala de nenhum anjo; e, se ele falasse, o que queria concluir Hunnius a fim de tomar nossa doutrina absurda? Não sabia ele que Lutero, no sexto tomo das suas Obras, impressas em Iena, na Alemanha, escreveu às folhas 83, não sobre um anjo, mas do próprio diabo, que teve com ele uma conversa durante a noite, e que o informou de muitos abusos da missa dos papistas? Dirá ele que isso seja uma infâmia à seita dos luteranos?

O mesmo historiador, após relatar o sumário da disputa que o diabo travou com Lutero, disse [30] que os discípulos de Lutero deveriam lembrar-se dessa disputa, e cessar de reprovar  Zwinglio pelo seu SONHO, no qual foi advertido do verdadeiro sentido das palavras da ceia, não pelo DIABO, como Lutero o foi pelos abusos e superstições da missa, mas por um outro ADVERTIDOR, como ele mesmo escreveu.

E David Paréus, o qual o Sínodo de Dordrecht tanto louvou [31], falando dos luteranos que atribuem ao diabo o sonho de Zwinglio, usa estes termos [32]:

“Por que não pensam principalmente naquilo que narra Lutero das suas conversas familiares com o espírito negro, que é o diabo, e nas coisas que ele declara abertamente sobre o que o diabo lhe sugeriu durante essas conferências? Que refutem, pois, a patranha ordinária e o argumento tão batido dos papistas: “Lutero, por seu próprio testemunho, aprendeu com o espírito negro, que é o diabo, as razões pelas quais devia condenar a missa privada e a unção dos padres; portanto, a doutrina de Lutero a respeito da missa é diabólica.” Eis, digo eu, o que é preciso responder. Não podem negar o passado, porque os papistas lhes objetariam com a longa lenda de Lutero, sobre a conferência que teve com o espírito negro que é o diabo, e que ele mesmo descreveu. Mas, vós entendeis gritar imediatamente aos luteranos que isso é um sofisma, posto que a verdade é sempre a verdade e não se transforma em mentira, o que quer que tenha sido proferido, ou sugerido, pelo espírito negro, que é o diabo. Por que isto não teria mais força para Zwinglio, considerando que ele nada diz, como Lutero confessou voluntariamente, que o espírito negro nada lhe sugeriu, e que isto é uma coisa que os seus caluniadores não saberiam como provar?”


Capítulo II

OS PROTESTANTES NÃO DEVEM ESCUTAR LUTERO

Após todos esses testemunhos, não se pode duvidar que essa peça não seja de Lutero. Mas, ao mesmo tempo, há motivo para se admirar que os protestantes, vencidos pela límpida luz da sã e reta razão, tenham podido observar Lutero como um homem do qual Deus se serviu para restabelecer a pureza dos Evangelhos [33], porque não precisa que o senso comum, para ser convencido, não deva mesmo escutar aquele que se gaba de ter aprendido com o demônio aquilo que ensina aos outros. Também verão que os falsos profetas sempre disseram, a fim de dar autoridade às suas palavras, que eles eram inspirados do alto. Foi assim que, apoiando-se em supostas conversas secretas com a deusa Egéria, Numa Pompílio impôs ao povo romano muitas coisas com relação ao culto de falsos deuses. Foi assim que Montano, fingindo ter recebido revelações novas, seduziu tanto os cristãos, e, o próprio Tertuliano, que simulou, antes da queda, um grande zelo pela Igreja. Aqueles que seguiram Maomé não creram nos seus discursos senão porque ele se gabava de ser um grande profeta e porque tinha bastante astúcia para persuadi-los de que o anjo Gabriel falava com ele frequentemente, da parte de Deus. Porém, sem ir buscar na antiguidade semelhantes exemplos, encontramos no último século, quando tantos impostores se levantaram contra a doutrina da Igreja [34], Carlstad, que foi um dos primeiros discípulos de Lutero, e que rompeu com ele a respeito da eucaristia, ousou declarar, para se fazer também um sectário, que foi do Pai Eterno que ele tinha aprendido o novo sentido que deu às palavras: “Este é o meu corpo.”

A história, em todos os tempos, ensina que, a fim de atrair a atenção dos homens, é preciso persuadi-los de que aquilo que ouvem vem de Deus, e, jamais houve outros, senão Lutero, que, para se fazer crer, declarasse, como ele fez, que o demônio era o seu mestre. Maomé, por mais que se diga que o anjo Gabriel é seu, todos os cristãos têm horror às suas imposturas. Carlstad, por mais que finja que o Pai Eterno tenha feito com que ele entendesse o sentido das palavras da instituição da eucaristia, tem em Lutero o primeiro a zombar do seu fanatismo [35], e, os protestantes [36], bem como os católicos, o vêem como um insensato. Mas, quando Lutero diz que foi por causa da persuasão do diabo que ele aboliu as missas privadas, então, todos os protestantes o escutam com respeito, o veem como um apóstolo [37] e sustentam, até mesmo, quando são pressionados, que o demônio lhe revelou uma verdade desconhecida por toda a Igreja. A que desvarios não se está sujeito quando se abandona a doutrina da Igreja, como fizeram os protestantes, para seguir apenas novidades? E não está claro que Deus os entregou a um senso incorreto porque eles mudaram a verdade em mentira [38]?

De resto, se tivessem o cuidado de consultar as Santas Escrituras, que se gabam seguir com exclusividade, estariam bem protegidos de escutar o que o demônio sugeriu a Lutero, para que ele se perdesse. Assim, o apóstolo São João recomenda aos fiéis [39] não crer em qualquer espírito, mas comprovar se os espíritos são de Deus. Dessa maneira, quando se reconhece que é o demônio que fala, como Lutero nos assegura, é necessário ficar surdo a tudo o que ele diz. São Paulo escreveu aos Gálatas [40] que, se um anjo do Céu anunciar um outro Evangelho diferente daquele que foi anunciado, que seja anátema. Deve-se, portanto, com mais forte razão, rejeitar o que o demônio anuncia contra a doutrina que foi anunciada até então, a todos os fiéis, sobre o sacrifício da missa. O mesmo apóstolo que diz aos Coríntios [41] que Satanás se transforma em anjo de luz para nos enganar, e julgou desnecessário dever adverti-los a não escutar quando falassem com Satanás, reconhecido como tal, porque ele bem sabia que homens razoáveis não se deixariam jamais surpreender pelos discursos desse espírito maligno, quando falasse a descoberto. É, pois, de pasmar que Lutero, sabendo que era mesmo Satanás quem lhe falava, que o houvesse escutado com tanta submissão, e, ainda pasmoso, que todos os protestantes tenham podido se persuadir de que Lutero foi enviado por Deus para reformar a Igreja, depois de lhes ter assegurado que Satanás é o primeiro doutor dessa nova reforma.

Finalmente, os protestantes não poderiam jamais crer que o demônio tivesse dito a verdade, se tivessem feito uma reflexão séria sobre a maneira com que Nosso Senhor refuta os fariseus, quando eles o acusam de expulsar os demônios pelo poder do príncipe desses mesmos demônios [42]. “Como, disse-lhes,Satanás pode expulsar Satanás? E se um reino está dividido contra si próprio, é impossível que se sustente; se, portanto, Satanás se levanta contra si mesmo, fica dividido, é impossível que subsista, e é necessário que seu poder acabe.”Essas palavras de Jesus Cristo mostram que o demônio não pode querer abolir uma coisa da qual ele mesmo é o autor. Daí ser preciso concluir que, desde que tenha sugerido a Lutero a abolição das missas privadas, não é ele o seu autor, do contrário seria destruir a si mesmo, o que não se pode concluir segundo a doutrina de Jesus Cristo. É, portanto, pecar contra o Espírito Santo, a exemplo dos fariseus, sustentar, com os protestantes, que as missas privadas vêm do demônio. E, se tivessem raciocinado como cristãos, ou mesmo como pessoas razoáveis, jamais teriam se separado da Igreja Católica, porque teriam visto que o demônio, não podendo combater o que é santo, era necessário que as missas que desejava abolir fossem santas.

Porém, sem alusão às Escrituras, o que Lutero escreveu dos sacramentais, ou daqueles que negam a presença real de Jesus Cristo na eucaristia, mostra suficientemente que ele não deveria ser escutado. Porque esse novo doutor, não podendo suportar que outros se metessem a reformadores, disse, para impor horror aos sacramentais, que o diabo falou por sua boca [43]. Se, portanto, Lutero quer que se rejeite a doutrina dos sacramentais porque ela vem do diabo, apesar de que nenhum deles ter dito que vinha, pode-se, sem desatino, escutar Lutero e seguir sua doutrina, depois do que ele declarou, abertamente, que a tinha obtido do próprio diabo? Não obstante, é o que fazem todos os protestantes. E Lutero goza de tanta autoridade sobre seu espírito que preferem crer nele, apesar do demônio ter prevalecido contra ele, do que escutar a Igreja Católica, contra a qual Jesus Cristo prometeu [44] que as portas do inferno não prevaleceriam jamais. São esses diversos meios de que se servem para justificar Lutero que fazem melhor ver até onde vão seus preconceitos e cegueira.



A CONFERÊNCIA ENTRE LUTERO E O DIABO
(Parte II)
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N.d.r.: nossos leitores puderam ler, no n° anterior do “Sel de la Terre”, o texto da “Conferência entre Lutero e o Diabo, e os dois primeiros capítulos das anotações do Pe. de Cordemoy sobre o assunto: publicamos agora a continuação dessas anotações.
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Francisco começa assim:

“No último século, escapou do inferno uma raça de homens da qual não sei se é mais digna de horror ou de compaixão. Abandonando a unidade da religião cristã, e da nossa santa fé católica, e, em consequência, a verdade, introduziram, por todos os lados, novos dogmas e novas heresias, saídos, na maior parte, de antigos erros já condenados. Dividiram-se em tantas seitas quantos chefes havia entre eles... Semelhantes às raposas de Sansão, cujas cabeças separadas se moviam cada uma para um lado diferente, mas que tinham suas caudas reunidas, tinham, entre si, um liame comum: levar o incêndio ao seio da Igreja Romana e destrui-la, se para isto bastasse a vontade”.

“(...) Isto dito, pergunta-se de quem procedem as heresias do Séc. XVI. Todas, afirma, são filhas de Lutero”, que, aliás, disso se gaba. Mas, quem inspirou o monge apóstata? Nessa altura, Francisco fica indignado:”

“Lutero, no seu livro ‘A Missa Privada e a Unção dos Padres’, declara claramente que Satanás apareceu-lhe cerca da meia-noite e demonstrou-lhe tão bem, por meio de cinco argumentos, que, depois, Lutero se pôs a desprezar e rejeitar, inteiramente, a missa e a unção dos padres...”

“Eia, homens de coragem, nossos ouvidos ouviram e nossos olhos viram! Eis aí a tão famosa liberdade evangélica que Lutero, e, seguindo seu exemplo, os demais hereges dos nossos tempos, introduziram! “Todos fomos libertados”, diz Lutero, não graças à liberdade obtida para nós pelo sangue preciosos de Cristo, mas, graças à liberdade que Satanás trouxe para Lutero do fundo dos infernos.

“Bondade divina! Quem jamais entendeu tal coisa? Quem, agora, pode entendê-la sem horrorizar-se?...”

Capítulo III

Anotações do padre de Cordemoy
sobre a Conferência entre Lutero e o Diabo

(Continuação)

Os protestantes se esforçam em vão para justificar Lutero. Alguns dizem que essa conversa de Lutero com o Diabo não passa de um sonho: mas, para falar assim é preciso não tê-lo lido, pois Lutero afirma que estava bem acordado [45] quando o Diabo veio discutir com ele. Aliás, no caso dessa suposição, contra o testemunho de Lutero, que se tratou de um sonho, em nada isso beneficiaria os protestantes, não seria melhor, pois ficaria acertado que Lutero teria acreditado nesse sonho, o que é indigno não somente de um cristão, mas de um homem razoável.

Outros pretendem que isto é uma figura de retórica, ou uma parábola, da que Lutero se serviu para representar melhor as dúvidas da sua consciência, que o reprovava ter dito por tanto tempo missas privadas, ou, mesmo, para dar a conhecer as acusações que o Diabo formulou contra ele segundo o julgamento de Deus. “Lutero, disse o Sr. Claude, seguindo o estilo dos monges daqueles tempos, acostumados ’às figuras de retórica’ com que recheavam os livros com suas façanhas contra o Diabo, relata que, estando certa feita acordado, durante as trevas da noite, o Diabo se pôs a acusá-lo de fazer o povo de Deus idolatrar e de ter ele próprio idolatrado, durante os quinze anos em que disse missas privadas” [46]. “Nisso tudo, nada existe que possa afastar um homem de bem do seu dever, mesmo que, sendo ele completamente inocente, possa tomar essa narrativa ao pé da letra, ou que a tome como uma espécie de figura ou parábola. Ele disse que o Diabo o acusou no seu íntimo; isto significa que ele admitia, na sua consciência, as acusações que o demônio poderia, um dia, formular contra ele no tribunal de Deus, etc.”[47]. Eis o que diz o Sr. Claude para defender Lutero.

Entretanto, nenhum orador jamais deu um exemplo de semelhante figura de retórica, e o próprio Sr. Claude não confessa que “essa maneira de expressar as coisas, sob a forma de um combate contra o Diabo, afasta-se um pouco do uso comum? “Basta ler Lutero para ver que ele quis fazer um relato simples e ingênuo do que se passou durante sua conferência com o Diabo, e não uma parábola. Porque a parábola finge uma coisa para fazer entender outra, e parece que Lutero fala nessa passagem a descoberto a respeito daquilo que lhe sucedeu. Ele não disse, como quer o Sr. Claude, “que o Diabo o acusou intimamente”; mas, “que numa noite, estando bem acordado, o Diabo veio discutir com ele”. Ele relata as palavras desse espírito mau com as respostas que lhe deu: e, essas respostas permitem saber-se que ele não estava de nenhuma maneira sofrendo por causa das missas privadas, quando o Diabo argumentou de forma a pô-lo em dúvida; ele assegura, mesmo, que as disse (as missas) de boa fé, até então[48]. O que confirma que sua consciência não estava nada agitada, e, assim, o Sr. Claude está errado em dizer que o relato de Lutero sobre sua conversa com o Diabo seja uma parábola, a fim de explicar as agitações interiores de sua consciência a respeito das missas privadas.

Uma segunda razão para demonstrar que isto não poderia ser uma parábola, é a seguinte: Lutero (depois de ter rebatido os argumentos do demônio como coisas que lhe eram novas, e que se persuadia à medida em que os compreendia, e depois de ter explicado toda a sequencia da disputa entre ambos), afirma que “é quase impossível sustar, nessas ocasiões, a impetuosidade do demônio”[49].

Mas, uma observação, por si só suficiente para convencer os espíritos razoáveis de que Lutero não quis fazer uma parábola, é que ele disse, depois de ter relatado essa disputa, “que Empserus, Oecolampade[50] e muitos outros perderam a vida em semelhantes disputas”[51].

Não é, pois, e não poderia ser uma parábola. Também o Sr. Claude confessa que isto seria fortemente extraordinário; e, como bem previu, que as pessoas de bom senso não se enganarão, cuida de iludir os simplórios, trazendo um exemplo com o qual pretende mostrar “que os monges daqueles tempos recheavam seus livros com suas façanhas contra o diabo”[52]. Retira esse exemplo de Santo Agostinho, o qual narra que “São Domingos encontrou, certa noite, o Diabo lendo um papel; a quem ordenou, em nome de Jesus Cristo, que lhe mostrasse o que lia, no que foi obedecido, e, que, São Domingos, tendo visto o referido papel, dele se serviu para corrigir os religiosos de certos defeitos que o Diabo tinha anotado para censurá-los, segundo o julgamento de Deus[53]. “Isto se pode (para usar os termos do Sr. Claude) chamar “uma façanha de um monge contra o Diabo”, porque esse santo forçou o Diabo, em nome de Jesus Cristo, a declarar-lhe o que desejava manter em segredo até o dia do Julgamento. Ao contrário, Lutero, longe de se gabar por alguma vitória, confessa que o Diabo o venceu com seu arrazoado, de modo que o caso pode ser chamado de “façanha do Diabo contra um monge”.

Isso é muito diferente do que aconteceu a São Domingos  (Ver DEMÔNIO CONSTRANGIDO): o Diabo não desejava instruí-lo, e, esse espírito mau não lhe entregou o papel senão pela força que tem sobre ele o nome de Jesus Cristo. Sem esse constrangimento, ele não faria Sã Domingos conhecer os defeitos dos seus irmãos, porque jamais diria uma verdade útil senão sob pressão. Por isso, o Sr. Claude ocultou, no relato dessa história[54], a informação de que foi pelo nome de Jesus Cristo que o Diabo obedeceu a São Domingos, como esclareceu Santo Antônio, com medo de que se pudesse saber que o Diabo tinha sido forçado, e, a fim de que se pudesse crer que ele tinha instruído São Domingos, como o fez com Lutero. Porém, a maneira pela qual o Diabo abordou Lutero mostra, perfeitamente, que o fez a fim de seduzi-lo. Lutero não o tinha chamado; o Diabo expôs suas razões sem ter sido forçado; Lutero as expôs com toda a força que pôde. Por fim, cedeu; e, foi de acordo com as instruções de um tal mestre que fez com que se abolisse, por meio daqueles que o seguiram, o sacrifício da missa.

De resto, se concordássemos com o Sr. Claude sobre tudo o que deseja, isto é, que a narrativa de Lutero é apenas uma parábola, as coisas não estariam melhor para a Reforma, porque, nessa parábola, o Diabo está sempre em primeiro plano, é o mestre, e Lutero aparece como um discípulo muito submisso. Isto, se pode ver, não é muito vantajoso para as pessoas que consideram Lutero como o reformador principal; e, o Sr. Claude pode dizer o tanto que desejar a fim de seduzir seus leitores, “que não há nada em tudo isso que se afaste do dever de um homem honesto, ou que não seja um movimento de uma boa consciência”; mas, ele jamais convencerá senão aqueles desavisados e de pouco senso. Também o Sr. Pajon, homem hábil e ministro de Orleans, evitou, cuidadosamente, na sua resposta ao livro Des Préjugés, revelar a passagem que fala dessa conferência; ele viu que era melhor se calar do que imitar o Sr. Claude, dizendo coisas absurdas, tão contrárias à razão quanto à narrativa de Lutero.

Um ministro inglês creu remover o embaraço, e, ao mesmo tempo, persuadir os simples de que a missa era uma invenção do Diabo, refutando-nos com o que se encontra nos escritos de Surius: um dia “o Diabo, tendo tomado a figura de um anjo, apareceu a um certo padre e o exortou a celebrar a missa”[55].

Basta apenas ler essa história para se concluir, inteiramente, ao contrário daquilo que o ministro afirma, e para se convencer da sua má fé. Eis como a coisa é contada por Surius: “O santo homem Simeão recebeu ordem de subir o Monte Sinai e lá permanecer algum tempo. Ele fez o que foi mandado, e, o antigo inimigo pôs armadilhas para surpreendê-lo. O demônio o exortou, uma noite, a celebrar a missa, porém, Simeão, que não estava dormindo, nem de todo acordado, replicou que ninguém podia exercer esse ministério sem ser ordenado padre. O inimigo redobrou seus pedidos dizendo-lhe que era embaixador de Deus, que Jesus Cristo assim queria, e importava que esse santo lugar não fosse mais privado, por longo tempo, de tal ministério. Como viu que Simeão lhe resistia sem cessar, então, ajudado por um outro demônio, o tirou do leito e, depois de tê-lo bem acordado, o arrastou para diante do altar, onde o vestiu com a alva. Mas, sobre a maneira de pôr a estola, contestou: o demônio queria vesti-la em Simeão como a coloca o padre, e Simeão, ao contrário, que ela deveria ser colocada como faz o diácono. Por fim, o servo de Deus. voltando a si, expulsou o inimigo pela força da oração e pelo sinal da cruz”[56].

Pode-se ver que diferença se encontra entre a história do monge Simeão e a do monge Lutero. É verdade que o demônio tentou esses dois monges a fim de levá-los a cometer um grande crime. Ele quis que o primeiro, apenas um diácono, dissesse a missa, isto é, que fizesse uma coisa que Jesus Cristo permitiu apenas aos padres fazer; e, quis que o segundo, que era padre, não dissesse mais a missa, que passasse a ver como “uma horrível idolatria” esse sacrifício da nova lei que Jesus Cristo instituiu na véspera da sua morte, e que a Igreja Católica sempre celebrou com tanta veneração.

Eis, portanto, como o demônio tenta dois monges: porém, Simeão resiste à tentação, como deve fazer um discípulo de Jesus Cristo; e, Lutero sucumbe desgraçadamente, como um homem sem fé. Simeão, simplesmente, não quis escutar o demônio, não obstante este tenha tomado a “figura de um anjo” e se gabava de ser “embaixador de Deus”. Lutero, ao contrário, não ignora que é o próprio Satanás quem lhe fala, porém o escuta, como um discípulo fiel escuta seu mestre. Simeão denuncia todos os artifícios do demônio, quando o espírito maligno lhe fala contra a ordem estabelecida na Igreja; e, Lutero, descumpre essa ordem, quando esse mesmo espírito de confusão o inspira a descumpri-la. Enfim, Simeão se serve, para expulsar o inimigo, das armas ordinárias do cristão, isto é, da oração e do sinal da cruz; e, Lutero, não tem força para fazer o mesmo, porque antes dera oportunidade ao demônio: “Nessa angústia, diz ele, e nesse combate contra o Diabo, queria repelir esse inimigo com as armas às quais me acostumara sob o papado”. Se ele tivesse sido sábio e fiel à fé, logo que o Diabo começou a falar-lhe, teria usado o escudo da fé para aparar todas as setas inflamadas desse espírito maligno[57]; teria tomado “a espada espiritual, que é a palavra de Deus”[58], para destruir tudo o que o Diabo lhe dizia; e, por fim, para expulsá-lo, teria recorrido à oração e ao nome de Jesus Cristo[59]. Porém, esse monge infeliz, esquecendo os votos que fez no batismo, de renunciar a Satanás, se deixou prender por esses discursos vãos, e, em lugar de caminhar como um filho da luz[60], seguiu cegamente pela vida pela qual o conduziu o príncipe das trevas.

Parece, pois, que o ministro inglês falsificou a história do monge Simeão relatando simplesmente que o demônio quis obrigá-lo a dizer a missa, levando à conclusão de que seria a primeira vez que a diria, em vez de esclarecer que esse santo religioso recusou-se a dizê-la, porque ainda não era padre. Prova, portanto, que o padre a dizia normalmente; e, que se o demônio queria persuadir Simeão a dizê-la, não era para fazê-lo realizar uma coisa que fosse má em si mesma, mas para levá-lo a fazer algo que ainda não lhe era permitido, porque não tinha recebido a ordem no grau que lhe daria o poder de celebrar a missa. De resto, esse altar, essa estola, essa maneira de usá-la, e todas as demais circunstâncias relatadas por Surius, provam que se dizia a missa com os mesmos paramentos que serão usados, passado muito tempo, e, do mesmo modo, sobre um altar. Vê-se, por tudo isso, que a missa não foi inventada pelo Diabo para enganar o monge Simeão; e, se quis seduzi-lo, não foi de outro modo senão compelindo esse diácono a abusar do altar e dos hábitos sacerdotais, a fim de fazer uma coisa permitida somente aos padres. Calvino, também concordava que se celebrava a missa muito antes que o demônio tivesse tentado o monge Simeão, considerando que esse monge viveu no começo do século onze[61], e Calvino disse que “desde o início da Igreja Cristã foi inventada a cerimônia do sacrifício de Jesus Cristo”[62].

Porque, indagam alguns ministros, censurar Lutero por ter mantido uma conversação com o demônio? O mesmo não ocorreu com Jesus Cristo no deserto? Comparação odiosa, falar desse modo é brincar com a Religião. É verdade que Jesus Cristo foi tentado. Porém, ele foi tentado, nos diz São Paulo, “sem estar sujeito a nenhum pecado[63], e, como ele tomou nossa natureza a fim de destruir, com a sua morte, aquele que tinha o império da morte, isto é, o Diabo”[64], quis, assim, ser tentado para nos ensinar, por seu exemplo, a resistir à tentação, e a não escutar, jamais as sugestões, ou mesmo os discursos do Diabo, que devem, sempre, ser suspeitos a um Cristão”. Jesus Cristo, premido pela fome, diz São João Crisóstomo, não fez nada daquilo que o demônio lhe sugeriu, para, dessa maneira, ensinar-nos a jamais acreditar no que nos aconselha esse inimigo. Como foi por isso que Adão ofendeu a Deus e violou sua ordem, Jesus Cristo nos faz ver ser desnecessário escutar o demônio, mesmo quando ele não vos leve a desobedecer a Deus”[65]. Santo Atanásio acrescenta que não se deve jamais escutar esse espírito maligno, mesmo se ele alegar as Escrituras para apoiar o que diz, porque sua intenção é sempre má. Ainda, diz esse Padre, que o herege empreste das Santas Escrituras o seu modo de falar, deve, sempre, ser suspeito. E, como seu espírito é corrompido, o Espírito Santo lhe dirá: “porque expões meus juízos, e porque meu testamento está na sua boca? Vê-se, assim, que Nosso Senhor fechou a boca do demônio, que se serviu das Escrituras Santas ao falar”[66].

Capítulo 4

Ao tempo da Conferência com o Diabo,
Lutero ainda estava no Seio da Igreja Católica

Se Lutero, em vez de escutar os raciocínios falsos que o demônio tirou das Escrituras, contra o sacrifício da missa, tivesse repelido esse inimigo da verdade, como fizera Jesus Cristo, não teria se transformado em autor de um cisma, que tanto mal causou à Igreja e ao Estado: e. os protestantes, participariam ainda conosco do mesmo sacrifício. O mais deplorável é que todos os doutores da nova reforma servem-se, contra a missa, de passagens das quais o demônio se serviu para obrigar Lutero a aboli-la e, da mesma maneira, acostumaram o espírito dos seus ouvintes às falsas explicações que dão dessas passagens que, quando aqueles que têm seduzido se põem a ler o relato que Lutero fez da sua conferência com o demônio, não podem deixar de dizer que o demônio tinha razão, reconhecendo-o, assim, sem se dar conta, como o primeiro reformador. Para isso, ele não teve necessidade de se transformar em anjo de luz a fim de enganá-los.

Outros ministros, para impedir que se creia que foi por conselho do demônio que Lutero iniciou sua reforma, asseguram que ele já tinha condenado as missas privadas antes que o Diabo houvesse conferenciado com ele. Pretendem prová-lo com o seu livro “La Captivité de Babylone” (“O Cativeiro da Babilônia”) [67], e aquele outro no qual confirmou aos Agostinianos de Wittemberg a idéia de abolir a missa privada, tinham aparecido muito tempo antes que ele tivesse escrito o que fala da conferência com o Diabo.

É verdade que este último livro só foi escrito muito tempo depois dos dois outros; mas, é verdade, também, que ele manteve essa conversa com o Diabo antes que tivesse pensado em escrever essas duas obras, ou qualquer outra contra as missas privadas. Porque, em primeiro lugar, ele próprio chama essa conversa de “uma disputa” [68]; e, se ele soubesse da opinião do Diabo sobre as missas privadas antes de conversar com ele, seu acordo já teria sido feito, e seria desnecessário discutir sobre esse ponto, como eles fizeram. Em segundo lugar, parece que, quando teve essa conversa, ele cria, ainda, que havia sete sacramentos, considerando que o Diabo saca um argumento contra ele:“Lá estão, disse-lhe, vossos sete sacramentos” [69]. Ora, é certo que no seu “Cativeiro da Babilônia”, não fala como homem que acreditava nos sete sacramentos, pois os nega formalmente: “Antes de tudo, é preciso que eu negue que há sete sacramentos, e que não admito, presentemente, mais que três, isto é, o batismo, a penitência, e o pão”[70]. Donde se conclui, necessariamente, que ele escreveu “Cativeiro” após sua conferência com o Diabo, porque, desde essa conferência, não acreditava em mais que três sacramentos, e o Diabo teria argumentado desnecessariamente quando alegou que ele cria em sete.

Está claro, também, que o livro que escreveu aos Agostinianos de Wittemberg só foi elaborado depois da conferência, posto que, nesse livro, ele fala contra as missas privadas, e, durante a conferência, ele as defenda, com todas as suas forças, contra o Diabo.

Parece mesmo, pelos argumentos dos quais se servem ambos, que Lutero ainda estava na Igreja. “Não teria eu recebido, desde o princípio, a unção e a consagração das mãos do bispo? Não fiz todas essas coisas por ordem dos meus superiores? (...) Por que não teria consagrado, se pronunciei, seriamente, todas as palavras de Jesus Cristo?”[71]. Isto demonstra, evidentemente, que ele ainda estava na Igreja; também o Diabo, nesse encontro, fala nestes termos: “Isto é o que nem tu, nem qualquer papista, pode negar”[72], e, noutro lugar: “Mas, tu que és ímpio, e que não conheces Jesus Cristo, estás lá de pé, sozinho, e pensas que Jesus Cristo instituiu o sacramento só para ti”[73], e um pouco mais adiante: “Todo o restante da Igreja, que não sabe mesmo que dizes a missa, nada aprende de ti, nada recebe de ti; porém, tu, sozinho no teu canto, sem dizer nada, tu comes só, bebes só” [74]. Estas palavras não mostram, claramente, que Lutero dizia, então, missas privadas? E, no fim do seu relato, ele diz:“Nessa angústia, e nesse combate com o Diabo, queria derrotar esse inimigo com as armas às quais estava acostumado sob o papado, e eu lhe objetei com a intenção e a fé da Igreja (...) Desejo, disse-lhe, que não cri como devia crer, e que me enganei; a Igreja, no entanto, creu nisto como devia crer, e não se enganou”[75].

Ele mostra que o Diabo, nesse encontro, “redobrando seus esforços, o pressionou com mais veemência que no princípio, querendo demonstrar que se Deus tinha ordenado consagrar na fé da Igreja; como ele provaria que a Igreja lhe comunicou sua intenção de uma missa privada; e, que se ele não tinha mais a palavra de Deus, era preciso que, se os homens tivessem sido ensinados sem essa palavra, sua doutrina sobre as missas privadas não passou de uma mentira” [76]. Donde se conclui que o demônio fê-lo escrupuloso sobre as missas privadas e deu-lhe os primeiros ensinamentos que lhe serviram na sua pretensão de reformar a Igreja nesse ponto.

Vimos, também, que Hospiniano [77] e o Sr. Drelincourt [78] afirmam que foi do Diabo que Lutero aprendeu “que as missas privadas eram contra as Escrituras, e que ele as deveria abolir”. Com efeito, ele não se serve, em todos os seus escritos contra as missas privadas, senão de argumentos que o Diabo lhe sugeriu nessa conferência. Assim, aqueles que veem Lutero como um dos primeiros reformadores da Igreja, devem ir mais longe, e reconhecer o Diabo como autor dessa reforma. E os senhores da pretensa religião reformada devem por bem dizer que seguem a doutrina de Lutero, porque, além de a seguirem nesse ponto, é certo que eles sempre o puseram entre seus principais reformadores, de acordo com a opinião de Calvino[79], que afiança que, quando Lutero viesse chamá-lo de “diabo”, ele o acataria como “um grande servidor de Deus”.

Aliás, a união que os calvinistas fizeram com os luteranos bem demonstra que lhes reconheceram Lutero como um homem de Deus, e que não tinham outras razões além daquelas de Calvino, que fundamenta o grande respeito que tinha por ele sobre a firmeza com que, sozinho, atacou toda a Igreja Romana [80]. Ora, é evidente que não o tinha, ainda, atacado na sua doutrina, quando teve essa conferência com o Diabo, posto que ele admitia todos os sacramentos que recebeu, e, que, ao justificar ao demônio que dizia missas privadas validamente, alegava que as dizia na fé dessa Igreja, e não tinha, ainda, escrito nenhum dos livros que publicou contra ela, e que lhe renderam, da parte de Calvino e seus seguidores, os honrosos títulos de “apóstolo e servidor de Deus” [81].

Pergunta-se, talvez, por que Lutero não falou dessa conferência na última das três obras que escreveu contra as missas privadas? É questão de fácil resposta. Ele não cuidou, quando começou a escrever contra as missas privadas, de alegar que o Diabo era o autor dessa doutrina; e, como já estivesse persuadido (como se verá adiante) de que o Diabo pudesse ensinar na Igreja e nela desempenhar o ofício de pastor, não via o mundo já disposto a receber os ensinamentos de semelhante mestre. É por isso que, quando escreveu, em 1520, seu livro “Cativeiro” [82] e, em 1521, aquela que dedicou aos Agostinianos de Wittemberg [83], nada disse sobre seu aprendizado com o Diabo sobre as razões das quais se serviu contra as missas privadas. Vê-se que ele temia que a maioria dos religiosos desse convento não pudesse suportar uma doutrina tão nova e estranha. O prefácio mostra isso bem: ele diz que poucos são capazes de “resistir à autoridade de toda a Igreja, e à prática universal de tantos séculos”; acrescenta que “teme existir entre eles muitos fracos” [84]. E, sabendo-os capazes de se amedrontar com a novidade da sua doutrina, guardou-se de informar-lhes que a obteve do Diabo.

Capítulo V

Estranho extravio de Lutero
sobre a administração dos sacramentos

Onze ou doze anos depois, quando Lutero viu tanta gente correr para ele, e já não precisava dizer mais que uma palavra para ser acreditado, redigiu seu terceiro tratado contra as missas privadas, nele inserindo o relato da sua conferência com o Diabo, comentando, para dar ao fato autoridade, que o Diabo poderia, não somente ensinar na Igreja, mas, também, administrar todos os sacramentos. Essa proposição e assombrosa [85], porém, a maneira com a qual Lutero a explica o é ainda mais: “Eu não sou, disse, da opinião dos papistas, que dizem que nenhum anjo, nem mesmo Maria podem consagrar. Eu digo ao contrário: se o Diabo viesse (... ) e que eu soubesse que se dispunha a oficiar como pastor da Igreja, tomando a figura de homem, fosse chamado a pregar, e tivesse ensinado, publicamente, na Igreja, que tivesse batizado, celebrado a missa, dado absolvição dos pecados, e desempenhado essas funções segundo a instituição de Jesus Cristo, nós seríamos obrigados a acreditar que os sacramentos não seriam, por isso, ineficazes; nós teríamos, sim, recebido um verdadeiro batismo, um verdadeiro sacramento do corpo e do sangue de Jesus Cristo. Porque nossa fé, e a eficácia dos sacramentos, não estando apoiados sobre a qualidade da pessoa, não importa se essa pessoa seja boa ou má, que tenha ou não recebido a unção, que tenha sido ou não legitimamente chamada, que seja um diabo ou um anjo”[86].

Pouco depois, acrescenta, a fim de apoiar essa opinião com um exemplo, “que ouviu dizer, certa vez, que um pregador tendo passado mal, um desconhecido o substituiu, apresentando-se no lugar do outro, o qual, após ter pregado de maneira firme e emocionante, declarou que era o diabo, e que não tinha pregado o Evangelho com tanta veemência senão para poder acusá-los no último dia com mais força”[87]. “Não verifiquei se essa historieta é verdadeira, ou se foi inventada para instruir, mas sei que ela é verossímil, isto é, que o Diabo pode atuar como ministro e pastor, dar sacramentos, etc.” [88]. Depois disso, não é de se admirar que Lutero tenha ouvido tão bem o Diabo sobre as missas privadas, tanto quanto o tenha conhecido naquilo pelo que ele é, e, se por fim declarasse que foi dele que obteve tal doutrina.

Outro meio do qual se servem os ministros é dizer que mesmo que Lutero tivesse aprendido essa doutrina com o Diabo, não seria por isso que se devesse rejeitá-la, porque o Diabo diz algo de verdade, como quando diz que Jesus Cristo é “o Filho de Deus vivo” [89], e, sobre os apóstolos, que são “os servidores do Altíssimo” [90].

De fato, não se pode rejeitar essas verdades porque o Diabo as pronunciou: mas, deve-se considerar duas coisas: uma, que quando ele falou dessa maneira, foi porque estava constrangido, como admite o próprio Calvino [91]. Além do mais, essas verdades, aliás, já eram conhecidas, sem o que não precisaria acreditar nelas, porque, como se trata do pai da mentira, seu testemunho é sempre suspeito, mesmo quando diz a verdade. “O exemplo de Jesus Cristo, diz São João Crisóstomo, nos mostra que, quando os demônios nos disserem qualquer coisa de verídico, não devemos crê-la. Ele os fez calar quando proclamaram que era o Filho de Deus; e São Paulo, também lhes impôs silêncio, se bem que falassem a verdade” [92]. Esse mesmo padre disse noutro lugar que “Jesus Cristo fez calar os demônios para nos ensinar a não nos fiarmos jamais nos seus discursos” [93]. Donde se deve concluir que, quando o Diabo é o primeiro a dizer uma coisa, sem constrangimento, deve ser uma mentira, porque ele não pode contrariar sua natureza, isto é, só pode mentir. Ora, não parece que ele estivesse constrangido a falar, como fez com Lutero, contra as missas privadas; pelo contrário, parece que ele foi o primeiro que disse que essas missas eram “uma abominação”, e, em conseqüência, tudo aquilo que ele diz não pode, e não deve, passar além de uma mentira.

Mas, diz-se, ele chegou, algumas vezes, a dizer a verdade, e a dizê-la vigorosamente, a fim de levar as almas ao desespero. E, este último motivo, que admite ter o Diabo, na verdade, ensinado Lutero, é tirado do próprio Lutero [94]. Para impedir que se risse do crédito que deu à fala do Diabo, e, para mostrar que esse espírito da mentira diz, algumas vezes, a verdade, dá o exemplo de Judas.

Diz que Satanás apresentou a esse traidor uma verdade incontestável: “que ele traiu o sangue do Justo”; mas, que o fez para levá-lo ao desespero, e, que esse espírito mau tinha a mesma intenção quando lhe fez ver a abominação das missas privadas, mas que, pela graça de Deus, ele aproveitou da verdade, sem se levar ao desespero [95].

Eis aí o que se pode dizer de mais sutil; porém, isso só pode enganar aqueles que não se acautelam que o exemplo de Judas é de todo diferente do caso em tela. Quando o Diabo lhe formulou esta grande verdade: “Tu traíste o sangue do Justo”,nada disse além do que já sabia, nem mesmo por meios que não lhe permitissem dúvidas. Dessa maneira, o Diabo não quis ensiná-lo, mas servir-se apenas daquilo que Judas sabia, para lançá-lo no desespero. Ao contrário, quando conversou com Lutero, sobre as missas privadas, propôs-lhe uma coisa nova. E Lutero, longe de mostrar sabê-la, viu-se que sustentou o contrário, que estava assim persuadido.

Não se pode alegar que o que disse o Diabo fosse do conhecimento de Lutero por outras vias, posto que este mesmo disse que toda a Igreja, cuja opinião então seguia, cria o contrário. Dessa forma, se o Diabo lhe disse a verdade, conclui-se que queria instruí-lo, e, em conseqüência, que tinha deixado de ser o pai da mentira, o que é absurdo. A alegação de que o fez entender essa verdade essencial, para desesperá-lo, não faz sentido, pois parece que durante toda a conferência o Diabo ensinou Lutero. Ele repreendeu-o por não ter bastante confiança em Jesus Cristo e, após tê-lo persuadido, o deixou [96]. De fato, falou-lhe das missas privadas como de “uma grande abominação” e “horrível idolatria”, mas isto não poderia levar Lutero ao desespero; e, se Judas se desesperou, foi porque o Diabo lhe apresentou uma verdade em toda a sua crueza, da qual já estava convencido, e contra a qual agiu. Caso Lutero não estivesse firme em sua consciência, de que não tinha agido contra ela, esta lhe teria dado ocasião, como a Judas, de se desesperar.

Mas, enfim, porque o Diabo, que deseja perder as almas, teria o trabalho de ensinar uma verdade a Lutero, cuja perda já estava certa, desde que ele estava na idolatria, que é o nome com o qual denominava as missas privadas? Nada mais teria que fazer senão deixá-lo dizer essas missas, isto é, de acordo com o que supunha, deixá-lo idolatrar. É assim que esse espírito maligno faz com os pagãos: deixa-os idolatrar, e nunca trata de levá-los ao desespero, nem cuida de fazê-los conhecer as abominações da sua idolatria, porque sabe que sua perda é infalível, deixando-os nesse desgraçado estado. O mesmo quanto a Lutero, se sua missa fosse uma idolatria. O fato de o Diabo ter sido o primeiro a dizer-lhe isto, assegura, pelo contrário, que não é. O Diabo tentou, de fato o monge, não para desesperá-lo, mas sim para induzi-lo ao erro e, com ele, tantas outras almas que o seguiram.Eis o verdadeiro objetivo da conversa que manteve com Lutero.

Parece evidente que tudo o que dizem os ministros para justificar Lutero está fora de propósito. Não se trata de verificar se o Diabo disse algo verdadeiro; sabe-se que assim fala quando é obrigado (e ainda é necessário que a verdade já seja conhecida), ou quando dela se serve para atirar as almas no desespero, como nos ensina a história de Judas.

Não cogitam, apenas, de juntar alguns exemplos de monges que foram tentados. Cuidam, somente, de mostrar que se pode, em consciência, escutar o Diabo, quando ele é o primeiro a dizer algo desconhecido a tudo aquilo que se é fiel na Igreja. Eis o que precisam dizer para justificar Lutero, o que esses ministros jamais poderão fazer, seja o que for que aleguem. É, para eles, vantajoso pregar que a missa é uma idolatria, mas não persuadirão, jamais, as pessoas de bom senso e instruídas [97], porque não se pode atentar contra o que a antiga Igreja sempre viu como uma coisa solidamente estabelecida nas Santas Escrituras [98] segundo confessa o próprio Calvino. Basta saber que o demônio foi o primeiro a persuadir Lutero a abolir esse sacrifício por estar convencido da santidade dessa ação e do erro dos pretensos reformadores que o vêem como coisa abominável. Para que os Cristãos se deixem, desgraçadamente, seduzir pelo demônio, não é necessário que esqueçam que“esse inimigo (da nossa salvação) ronda ao redor de nós rugindo como um leão, para nos devorar?”[99]. Mas, que se escute mais a Igreja Católica, posto que Jesus Cristo nos ordena escutá-la como a Ele próprio[100], que é, segundo São Paulo, “a coluna e o apoio da verdade”, sem dar ouvidos ao espírito da mentira. “Quem conhece a Deus, diz São João, nos escuta, mas aquele que não é de Deus, não nos escuta (...) assim conhecemos o espírito da verdade e o espírito da mentira" [101].

Foi, sem dúvida, esse último espírito que sugeriu a Zwinglio o que deveria responder ao chanceler de Zurique [102], cuja dissertação o havia fortemente embaraçado numa assembléia realizada a respeito da Eucaristia [103]. “Sonhei, quando dormia, diz Zwinglio, que discutia com o chanceler, e permanecia totalmente mudo sem poder expressar o que sabia ser verdade. Nesse estado, vi de repente alguém que me advertia (não sei se era branco ou negro) [104], que me disse: “Ei, pobre homem! Porque não lhe respondes o que está escrito no Êxodo: ‘é a Páscoa, i.e., a passagem do Senhor?’”. E acrescenta: “servindo-se dessa passagem das Escrituras, na assembléia que ocorrerá amanhã, todas as almas que ainda têm algum escrúpulo sobre sua doutrina, a receberão com alegria”.

Esses exemplos confirmam em detalhes o que diz o Espírito Santo pela boca de São Paulo: “nos últimos tempos, muitos abandonarão a fé, entregando-se aos espíritos dos erros e às doutrinas dos diabos” [105].
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N.d.t.: traduzimos para o português a tradução francesa deste documento, tal como foi publicado na revista “Sei de la Terre”, n°4. 
N.d.r.: publicamos aqui a tradução francesa da conferência entre Lutero e o diabo, tal como foi publicada, em 1875, por Isidore Lisieux (Paris). Trata-se de uma reedição da obra publicada, no final do século XVII, pelo padre de Cordemoy (Paris, 1681, 1684, 1701, in - 12) e reimpressa por Lenglet-Dufresnoy, em 1715, no seu “Recueil de Dissertations sur les Apparitions, les Visions et les Songes”[1] (Paris, 4 vol. in - 12). Esta última edição foi acompanhada de notas de Lenglet-Dufresnoy e comentários do padre de Cordemoy que confirmaram a veracidade deste relato e responderam à argumentação que os luteranos tentaram opor a fim de refutar o texto. Pareceu-nos que nesta época de ecumenismo e “Missa Nova”, extensamente inspirada nas idéias de Lutero, esta peça deva ser juntada ao respectivo dossiê.
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[1] “Coletânea de Dissertações sobre Aparições, Visões e Sonhos”.
[2] Os protestantes chamam de missas privadas àquelas onde só o padre comunga.
[3] P. 228 do tomo 7 das obras de Lutero, impressas em Wittemberg, 1558. - Isto não foi um sonho, posto que Lutero afirma que estava bem acordado quando teve esta conferência com o demônio.
[4] Considerando que Lutero buscava, aqui, justificar-se de idolatria, o fato confirma que não cria, então, que fosse um crime celebrar missas privadas.
[5] O Diabo, aí diz uma mentira, porque os turcos não crêem que Jesus Cristo foi crucificado. “Os judeus, diz Maomé, não crucificaram o Messias Jesus, filho de Maria, porém um deles que lhe era parecido.” Alcorão de Maomé, capítulo das mulheres.
[6] O espírito da mentira dá-se, aqui a conhecer, quando diz que os padres da Igreja Católica não têm confiança na misericórdia de Jesus Cristo; que eles não o reconhecem como mediador; que eles o têm como um juiz cruel, que eles não o chamam de mediador. E é sobre estas afirmações falsas que ele pretende que não haja verdadeira fé em Jesus Cristo na Igreja Católica. Todas as preces da missa se dirigem sempre a Deus e concluem por Jesus Cristo como mediador.
[7] O diabo ataca a invocação dos santos, supondo falsamente que a Igreja erra quanto à mediação de Jesus Cristo, quando recorre às preces daqueles; porque a Igreja crê, simplesmente, que é bom e útil suplicar aos santos, que reinam com Deus, no mesmo espírito de caridade que nos leva a pedir ajuda aos nossos irmãos que vivem na terra. Conc. Trid. Sessão 2. Sessio de Invoc. etc. Expo. do Sr. Bispo de Meaux, art. 6 da Invocação dos Santos, p. 19 e 29.
[8] O demônio tenta enganar o pobre Lutero: longe de arrancar a glória de Jesus Cristo, pelo contrário, é fazer-se merecedor dela, pois que se dirige aos santos não para se afastar ou não reconhecer a mediação de Jesus Cristo; bem ao contrário, para pedir-lhe, instantemente, por intermédio dos seus amigos, e daqueles que lhe são caros na Pátria Celeste, como o foram na terra.
[9] Essas palavras mostram que Lutero ainda se encontrava no seio da Igreja quando o diabo lhe apareceu, estimulando-o a sacudir o jugo da religião católica.
[10] Quem disse ao demônio que é proibido ao padre dar o sacramento aos fiéis? Ele devia se lembrar do Concílio de Trento, sessão 22, capítulo 6. onde o santo concílio deseja que os fiéis comunguem sacramentalmente nas missas.
[11] No original francês: “diseur”. Aqui, o diabo faz um jogo de palavras a fim de menosprezar a Santa Missa. Dizer a missa significa celebrá-la. O “dizedor” é aquele que fala muito; ou o que conta anedotas, gracejador. (N.d.t.).
[12] Mas, se ninguém se apresentou para a comunhão nas missas ditas por Lutero, esta não foi a sua falta; seria necessário, para que o diabo falasse a verdade, que ele reprovasse Lutero por ter recusado a comunhão àqueles que se apresentaram para recebê-la. De outra forma, todos esses raciocínios se tomam falsos, e não podem ser admitidos por um espírito justo.
[13] Todas essas razões são falsas, como mostramos na nota precedente, e que pode se aplicar a tudo o que está dito nas últimas páginas.
[14] Oh! Oh! Tudo bem, havia um respondedor que participava, pelo menos, das preces, e, se não participava do sacramento não era essa a falta de Lutero.
[15] Dá-se a eucaristia a todos os que se apresentam para comungar: porém, o diabo supõe, por malícia, que é proibido aos padres deixar de dá-la a alguém. Nas assembléias de protestantes e reformados, é muito necessário que todos participem da ceia. A despeito disto, os ministros se poupam de crer e dizer que sua ceia é imperfeita, porque são poucos os que participam.
[16] Quem não vê o quanto o diabo procura enganar? O dinheiro que se dá ao padre não é o preço de uma venda, mas uma esmola que ele recebe das mãos dos fiéis. O sacrifício não tem preço suficiente na terra, porém, faz-se essa caridade ao padre celebrante para ajudá-lo a subsistir, porque, segundo São Paulo, o padre vive do altar. E os próprios ministros, seja entre os protestantes, seja entre os reformados, não são pagos para exercer as funções do seu ministério? E pode-se dizer que eles vendem a palavra de Deus e fazem comércio? Caso se diga, eles lembram, para se defender, como acabamos de ver, da autoridade de São Paulo.
[17] É uma calúnia, a Igreja não batiza os sinos; ela somente os benze, como benze os ornamentos e outros objetos que servem ao culto. E isto tão somente para advertir que os objetos bentos não devem servir a usos profanos.
[18] Também não se batiza, e jamais se batizou, senão quando há um sujeito próprio para receber o sacramento do batismo. Do mesmo modo, o padre não celebra só. Ele oferece o sacrifício, tanto por ele próprio quanto pelos assistentes: orate, frates, ut meum ac vestrum sacrificium acceptabili fiat apud Deum. Esta é uma das preces do padre.
[19] Falsidade, porque o padre é, pelo menos, o ministro do sacramento, assim como é o ministro do batismo.
[20] Mas, onde está prescrito, na instituição da eucaristia, que todos os fiéis devem comungar? É aos apóstolos, como padres, que Jesus Cristo diz: “Tomai e comei, etc”. Porém, aquele que não está preparado faz muito bem em abster-se de comungar; de outro modo, come e bebe sua condenação.
[21] Essa passagem, e tudo o que se segue nesta conferência, faz ver que Lutero não tinha, ainda, deixado a Igreja, quando recebeu essa aparição do espírito maligno. Foi, no entanto, o encaminhamento.
[22] O diabo sustenta a heresia donatista, da qual se ocupa habitualmente.
[23] Tomo 6 de Lutero, fls. 82 da impressão de Iena.
[24] Hospiniano, 2a parte da sua História Sacram, p. 131 da impressão de Zurich, 1602.
[25] Just Jonam. Tomo 7, fls. 226 verso. Hospin, p. 2 Hist. Sag., 1546.
[26] Hospin, 2a parte, Hist. Sacram, fls. 131.
[27] Faux Pasteur (Falsos Pastores) sessão 48, p. 373.
[28] Défense de la Reformation (Defesa da Reforma), p. 156.
[29] Ibid, fls. 26.
[30] Hospin, ibid, fls. 131.
[31] Sínodo de Dordrecht, sessão 99.
[32] David Pareus, lib. Controvers. Eucharist. Cap. 7, p. 257.
[33] Calv., Rép. Au Liv. De Phigius, col. 311 e 312, Bèze, liv. 1. Hist. Ecclés., p. 4 Drelincourt, Faux Pasteur, sect. 3, p. 13, M. Claude. Déf de la Reform., 2 part. P. 68, etc.
[34] Kemnitius, in Libello Domini, p. 214. Oziander, Epit. Ent. 16, p. 86.
[35] Alberus, 1. Cont. Carlostadio, Z 4 e v. 2. Sleidan, 1. 5.
[36] Calvino, Rép. au 1er liv. de Phigius, 381. Drelincourt, Faux Pasteur, sect. 3, p. 11.
[37] Calvino, Rép. au liv. de Phigius 1er , … 381. Drelincourt, Faux Pasteur, sect. 3, p. 11.
[38] Rom. 1/25, 28.
[39] I. João, 4/17.
[40] Gálatas, 1/18.
[41] I, Coríntios, 2/14.
[42] Marcos, 3/23, 24, 26.
[43] Lutero, Tom. 7, fls. 212.
[44] Mateus, 16/18.
[45] Tomo7, fls. 228.
[46] Défense de la Réformation, p. 1,6.
[47] P. 137.
[48] Tomo 7, fls. 228 v.e 229.
[49] Ibid.I, fls. 230.
[50] Johannes Hussehin, chamado em francês de Oecolampade. Weisberg 1482 - Bâle 1531.Reformador suiço-alemão. Professor em Bâle, organizou a Igreja segundo os princípios da Reforma.
[51] Tomo7, fls.333.
[52] Déf. de la Réf., p. 138.
[53] S. Ant. Chron, 3, part. Tit 23, cap. 4. 6.
[54] Déf. de la Réf., p. 138.
[55] Mortomus in Apol. Anglicano, parte I, liv. 2, cap. 21. p. 351.
[56] Apud Sur., ad. 1 Jurit.
[57] Ef. 6, 16.
[58] Ef. 6, 17.
[59] Ef. 6. 18.
[60] Ef. 5, 8.
[61] Apud Surium, sub. fin.
[62] Coment. sobre vers. 28 do cap. 4 do Evang. de São João.
[63] He: 4,15.
[64] He: 2,14.
[65] S. Crisóstomo, hom. 13 in Mt.
[66] L. de Synod, Arins, e Seleuc.
[67] Liber de Captiv. Babyl. e Liber de Abroganda Missa Privata, Lutero, t. 2.
[68] T. 7. fls. 230.
[69] Ibid. fls. 229.
[70] De Captiv. Babyl, T. 2.
[71] T. 7, fls. 228.
[72] Ibid.
[73] Ibid. fls. 129.
[74] Ibid.
[75] T. 7, fls. 129.
[76] Ibid.
[77] Hospin. 2 part. Hist. Sacr. fls. 131.
[78] Faux Pasteur, sec. 48, p. 373.
[79] Soepe dicere solitus sum, etiamsi me Diabolum vocaret (Lutherus) me tamem hoc illihonoris habiturum, ut insignem Dei servum agnoscam. Calvino, na sua carta de 25 Nov. a Bulinger.
[80] Calvino, na sua defesa contra Westphal, col 1794 dos seus opusc. imp. em Genebra, 1611,por Jacob Stoër.
[81] Bèze, T. 1 da sua Hist. Ecclesiastica, p. 4; Hosp., 2 part., Hist. Sacrm., fls. 127 v.
[82] Hosp., ibid., fls. 22.
[83] Hosp., ibid., fls. 22.
[84] Lutero, De Abroganda Missa Privata, T 2.
[85] Hospiniano ficou surpreso: “Lutero, disse no seu livro Da Missa Privada e da Unção dos Padres, que “haveria um sacramento verdadeiro mesmo quando ele fosse feito pelo Diabo”. “In libro de Missa Privata et Unctione Sacerdotum, anno 1533 edito, es usque progressus est, ut diceret, “sacramentum verum futurum etiam si a Diabolo conficeretur”. “Hosp., 2 part. Hist Sacr, fls. 14 v.
[86] “Ego igitur non dicam, quod papista dicum, nullum angelorum, ne Mariam quidem ipsam, consecrare posse. Et e contra dico, se diabolus ipse veniret... ego autem pono ut postea resciscerem diabolum sic irrepsisse in officium pestoris Ecclesiae, in specie hominis vocatum esse ad proedicandum et publice in Ecclesia docuisse, baptizasse, celebrasse missam, absolvisse a peccatis, et tali munere functum esse juxta instituitionem Christi: tunc cogeremur fateri sacramento ideo non esse inefficacia, sed verum baptistum corporis et sanguinis Christi nos acupisse. Fides enim nostra, dignitas et efficacia Sacramentorum non vituntur qualitate personae, sive bona sive mala, uncta velnon uncta, vocata legitime, vel non vocata, Satan vel angelus, etc.” Lutero. De Missa Privata et Unctione Sacerdot. Tomo 7, fls. 243 v. Calvino é damesma opinião: “Confesso, disse ele, que a virtude dos sacramentos não depende da dignidade das pessoas; e acrescenta que se um diabo ministrasse a ceia, ela não seria pior, mas, ao contrário; se um anjo cantasse a missa, ela não se tomaria em nada melhor, “opusc. I, serm. Contra a idolatria, col. 957.
[87] “Ego in adolescentia mea audivi quondam hisriam, quendam concianatorem, cum jam deberet conscendere suggertum, subita oegritudine correptum, ibi supervenit quidam ignotus, et obtulit se pro ipso concionaturum: arrepto autem libro, paravit se ad concionem: it cum jam animis omnium repente permotis, tota pene in lacrymis solveretur turba auditorum. In fine autem concionis, ejusmodi dicto clausit: Vultis, inquit, Scire quis sim? Ego sum Satan, idea tam comitate vehementer apud vos de Evangelio peroravit, et eo acrius accusare vos possim in extremo die, in vestram damnationem”.
[88] “Na hoec historiola vera sit, na docendi causa conficta, nosa pugno. Hoc antem scio eamverisimilem esse, scilicet diabolum posse evangelizare, fungi officio ministri et pastoris, porrigere sacramentum, etc.”. Lutero, ibid., fls. 244
[89] Mateus 8, 29; Marcos 5, 7; Lucas 8, 28.
[90] Atos 16, 17.
[91] “Sciendum est, non tam sponte in Christi conspectum venisse (doemones), quam arcanoChristi império tractos (... ) coacti, et contumaces eorum querimonial festes sunt quam nonvoluntária fuerit eorum confessio, sed vi extorta. “ Calvino, Harmonia Evangélica sobre os 6o e 7o versículo do Cap. V de S. Marcos.
[92] S. Crisóstomo, Hom. 13 in Mat.
[93] Hom. 2 de Lázaro.
[94] “Hic respondebunt mihi patres (papistae, hic ridebunt et dicent: Tu est doctor ille celebris,et non nosti respondere diabolo: na ignoras diabolum esse mendacia non sunt simplicis artificis(... ) ipse sic adoritur, ut apprehendat aliquam et solidam veritatem, quae non potest, atque eamadeo callide et versute urget et acuit, et adeo speciose fucat suum mendacium, ut fallat, vel cautissimos. Uti cogitado illa, quae Judae cor percussit, vera erat, ‘tradidi sanguinem Justum’,hoc Judas negare non poterat. Sed hoc era mendacium: ergo est desperandum de gratia Dei.Diabolus hoc mendacium tam violenter ursit, ut Judas (... ) desperaret. “ Lutero, De Missa... , T. 7, fls. 230.
[95] “Ibi mentitur Satan, quando ultra urgent, ut desperem de gratia (...) confessus quidem Sum (lege Dei convictus) coram Diabolo, me damnatum esse ut Judam, sed verto me ad Christum “.Lutero, ibid, fls. 230 v.
[96] “Hic respondebunt mihi patres (papistae, hic ridebunt et dicent: Tu est doctor ille celebris, et non nosti respondere diabolo: na ignoras diabolum esse mendacia non sunt simplicis artificis(...) ipse sic adoritur, ut apprehendat aliquam et solidam veritatem, quae non potest. atque eam adeo callide et versute urget et acuit, et adeo speciose fucat suum mendacium, ut fallat, vel cautissimos. Uti cogitatio illa, quae Judae cor percussit. vera erat, 'tradidi sanguinem Justum',hoc Judas negare non poterat.
[97] Permitam-me registrar o que diz o ministro Pierre Poiret, que escreveu aos reformados residentes na França que não precisavam crer nos católicos idólatras adoradores da Eucaristia. Desde que eles crêem que Jesus Cristo está presente nela, realmente, não somente a devem adorar, mas cometem um grande pecado ao fazê-lo. Vão até mesmo à afirmação de que Deus é obrigado a estar presente no sacramento da missa e nesse sacramento, de acordo com as palavras do Evangelho: “que te seja feito segundo tua fé”. Poiret, La Paix de Bounes Âmes dans tous les Partis du Christianisme sur les Matières et Particulièrement sur l'Eucharistie, Amsterdã, 1687, in 12. Também acusam os reformadores os protestantes de errar aqueles que não adoram Jesus Cristo quando acreditam que ele esteja presente no sacramento, pelo menos quando usado, e no momento da comunhão, porque qualquer pedaço que seja Jesus Cristo, é adorável sempre. E os reformadores confessam que, se acreditassem em Jesus Cristo presente no sacramento, eles mesmos o adorariam sob as espécies do pão e do vinho. V. Daille, na suaApologia, Cap. 9, p. 222, e Calvino concorda em muitas passagens.
[98] Comment sur le 9e v. do 7° cap. Da Epist. Aos Hebreus.
[99] 1 Ped. 5, 8.
[100] Mat. 18, 17.
[101] 1 Jo, 4, 6.
[102] Hospin. 2 p. Hist. Sacram., fls 25: Faux Pasteur de Drelincourt, sessão 47. p. 162.
[103] Zwinglio in subsis., T. 2. fls. 249; Hospin., 2 part., Hist. Sacram., fls. 26.
[104] Isto é: “Não sei se era anjo ou demônio.”
[105] 1 Tim. 4,1.
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Texto editado originalmente pela
Revista Sel de La Terre
Avrillé/França
Tradução: Euro Barbosa de Barros
Ia. Edição - Novembro 2005 - 3000 exemplares
Editor: Francisco Almeida Araújo
Obs: O título para este livro foi dado pelo editor.
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Fonte: http://sherlockspipe.blogspot.com.br/2012/11/dialogo-ecumenico-entre-lutero-e-o-diabo.html


Orar ou rezar?



Quantas vezes você já não ouviu esse paralelo ignorante que alguns protestantes fazem em relação a essas palavras? Quantas vezes você já não foi questionado a respeito de seu uso e desuso e, por fim, quantos de nós católicos também caem nessa falácia de que uma difere e profana a outra. ESTUPIDEZ e IGNORÂNCIA. Veremos que isso nada tem haver com que uma grande parte da população atual menciona como certo e errado.

Isso vale aqueles que, destituídos de um mínimo de cultura ou honestidade intelectual, fazem das duas palavras, “oração” e “reza”, um cavalo de batalha. “Nós oramos os católicos rezam: logo, os católicos estão errados”. Os desinformados e/ou desonestos precisam saber que “oração”, “orar” (sem necessidade de remontar ao hebraico “Or” (Luz)), são palavras originadas do latim, língua de Roma e, portanto, língua legítima da Igreja Católica: Oratio, orare. Até a aparição dos primeiros protestantes (1520), foram de exclusividade nossa, na liturgia da Igreja Ocidental. Querer vender-nos o que é nosso é crime de estelionato!
Sendo um pouco mais específico Orar vem do latim orare; e rezar, do latim recitare, que também deu em português recitar. Já em latim, os verbos orare e recitare têm sentidos muito próximos: o primeiro significa “pronunciar uma fórmula ritual, uma oração, uma defesa em juízo”; o segundo, “ler em voz alta e clara” (portanto, o mesmo que em português recitar). Entretanto, para orare prevaleceu na latinidade e nas línguas românicas o sentido de rezar, isto é, dizer ou fazer uma oração ou súplica religiosa (cfr. A. Ernout–A. Meillet,Dictionnaire étymologique de la langue latine — Histoire des mots, Klincksieck, Paris, 4ª ed., 1979, p. 469). 

Nós, católicos, damos ao verbo rezar um sentido bastante amplo e genérico, e reservamos a palavra oração mais especialmente — mas não exclusivamente — para os diversos gêneros de oração mental, como a meditação, a contemplação etc. Não há razão, portanto, para fazer dessa ligeira diferença, comum nos sinônimos, um tema de disputas.

Os protestantes, entretanto, salientam a diferença por dois motivos. Primeiro, porque para eles serve de senha. Com efeito, acentuando arbitrariamente essa pequena diferença de matiz entre as palavras, eles utilizam orar em vez de rezar, e assim imediatamente se identificam como crentes (como diziam até há pouco) ou evangélicos (como preferem dizer agora). Isso tem a vantagem, para eles, de detectar entre os circunstantes os outros protestantes que ali estejam. É um expediente ao qual recorrem todas as seitas dotadas de um forte desejo de expansão, como é o caso dos protestantes no Brasil.

Por outro lado, a oração, para os protestantes, não tem o mesmo alcance que para nós, católicos. Enquanto para nós o termo oração engloba todos os gêneros de oração — desde a oração de petição até as orações de louvor e glorificação de Deus — os protestantes esvaziam a necessidade da oração de petição, que para eles tem pouco ou nenhum sentido. Com efeito, como nós, católicos, sabemos, a vida nesta Terra é uma luta árdua, em que devemos pedir a Deus em primeiro lugar os bens eternos, e depois os bens terrenos de que temos necessidade. É o que ensinou Nosso Senhor Jesus Cristo.

Até ontem, quando a Missa era em latim, assim como ainda hoje em boa língua portuguesa, o termo clássico era de uso comum, esses ignorantes deveriam verificar entre qualquer Igreja Católica, durante a Missa e ouvirão, mais de uma vez, o convite do celebrante: “Oremos!” E, uma vez o solene: “Orai irmãos para que nosso sacrifício seja aceito por Deus Pai, Todo Poderoso”. Dizer que a Igreja não ora é no mínimo preguiça de pesquisar a verdade, a Igreja nunca fez distinção entre uma coisa e outra, pois via e continua a ver o mesmo significado em ambas as palavras, o que sempre foi real, os santos e santas que nos antecederam assim já nos demonstravam:

“Depois que ficava em oração, via que saia dela muito melhorada e mais forte.” (Santa Teresa d’Ávila).

“Assim como necessitamos continuamente da respiração, assim também temos necessidade do auxílio de Deus; porém se queremos, facilmente podemos atraí-lo pela oração.” (São João Crisóstomo).

“Ora et Labora!” - "Reza e trabalha!" São Bento.

“Sabe viver bem quem sabe rezar bem.” (Santo Afonso Maria de Ligório).

“A oração consiste em tratar a Deus como um pai, um irmão, um Senhor e um Esposo.” (Santa Teresinha).

“Quem começou a rezar não deve interromper a oração, em que pesem os pecados cometidos.”

“Com a oração poderá logo soerguer-se, ao passo que sem ela ser-lhe-á muito difícil. Não deixe que o demônio o tente a abandonar a oração por humildade” (Santa Teresinha).

Podemos perceber então que tal distinção não fazia e nunca fez parte da vida religiosa dos santos e santas da Igreja, como então continuarmos com esse paralelismo que, até entre os católicos hoje existe? Basta parar de acreditar na primeira besteira que se ouve e buscar a sabedoria da Igreja de dois mil anos, que tem todas as respostas necessárias.

Ainda neste contexto perceberemos que nem mesmo o Catecismo da Igreja Católica difere uma coisa da outra, pois ao utilizar ambas demonstra que não existe e nunca existiu diferentes significados, podendo assim serem usadas sem problema algum de cometer um dito “erro”, vejamos:

“A Oração é a elevação da alma a Deus ou o pedido a Deus nos bens convenientes. De onde falamos nós, ao rezar?…” (CIC 2559).

“[...] Os Salmos alimentam e exprimem a oração do povo de Deus como assembléia, por ocasião das grandes festas em Jerusalém e cada sábado nas sinagogas. [...] Rezados e realizados em Cristo, os Salmos são sempre essenciais à oração de Sua Igreja.” (CIC 2586).

“A oração não se reduz ao surgir espontâneo de um impulso interior; para rezar é preciso querer. Não basta saber o que as Escrituras revelam sobre a oração; também é indispensável aprender a rezar, E é por uma transmissão viva (a Sagrada Tradição) que o Espírito Santo, na ‘Igreja crente e orante’, ensina os filhos de Deus a rezar.” (CIC 2650).

Fica evidente então a Sabedoria da Igreja e a Verdade que nela, através de Nosso Senhor, se expressa.
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Fonte: http://www.realidadecristo.com.br/2012/11/oracao-ou-reza.html
(tema nosso).

sábado, 8 de dezembro de 2012

Homilética: 2º domingo do Advento - Ano C: "Todos os Homens encontrarão o Deus que salva".


Neste segundo domingo do advento, a liturgia da Palavra nos faz um apelo à conversão, à renovação, no sentido de eliminar todos os obstáculos que impedem a chegada do Senhor ao nosso mundo e ao coração dos homens. Esta missão é uma exigência que é feita a todos os batizados, chamados a dar testemunho da salvação que Jesus Cristo veio trazer.

Lançando inicialmente um olhar para a primeira leitura, retirada do livro do Profeta Baruc, seu conteúdo sugere que o “caminho” de conversão é um verdadeiro êxodo da terra da escravidão para a terra da felicidade e da liberdade. Durante o percurso, somos convidados a despir-nos de todas as cadeias que nos impedem de acolher a proposta de uma vida nova que Deus nos faz. Somos convidados a viver este tempo numa serena alegria, confiantes no Senhor que não desiste de nos apresentar uma proposta de salvação, apesar dos nossos erros e dificuldades.

O Evangelho apresenta o profeta João Batista, a nos convidar a uma transformação total quanto à forma de pensar e de agir, quanto aos valores e às prioridades da vida. Para que Jesus possa caminhar ao encontro da humanidade é necessário que os corações estejam livres e disponíveis para acolher a Boa Nova do Reino. É esta missão profética que Deus continua, hoje, a confiar-nos.

Enquanto prosseguimos o caminho do Advento, enquanto nos preparamos para celebrar o Natal de Cristo, ressoa também em nós esta chamada de João Baptista à conversão: “Arrependei-vos, dizia, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 3,1-2). É um convite urgente a abrir o coração e a acolher o Filho de Deus que vem entre nós.  O Pai, escreve o evangelista João, não julga ninguém, mas confiou ao Filho o poder de julgar, porque é Filho do homem (cf. Jo 5, 22.27). E é hoje, no presente, que se decide o nosso destino futuro; é com o comportamento concreto que temos nesta vida que decidimos o nosso destino eterno. No findar dos nossos dias na terra, no momento da morte, seremos avaliados com base na nossa semelhança ou não com o Menino que está para nascer na pobre gruta de Belém, porque é Ele o critério de medida que Deus deu à humanidade. O Pai celeste que no nascimento do seu Filho Unigênito nos manifestou o seu amor misericordioso, nos chama a seguir os seus passos fazendo da nossa existência um dom de amor.

Mediante o Evangelho, João Batista continua a falar através dos séculos, a cada geração. As suas palavras claras e duras ressoam também para os homens e as mulheres do nosso tempo. A “voz” do grande profeta pede que preparemos o caminho ao Senhor que vem, nos desertos de hoje, desertos exteriores e interiores, sequiosos da água viva que é Cristo.

Escutemos o convite de Jesus no Evangelho e nos preparemos para reviver com fé o mistério do nascimento do Redentor, que encheu o universo de alegria; preparemo-nos para acolher o Senhor no seu incessante vir ao nosso encontro nos acontecimentos da vida, na alegria ou no sofrimento, na saúde ou na doença; preparemo-nos para o encontrar na sua vinda última e definitiva.


Continuemos o nosso caminho ao encontro do Senhor que vem, permanecendo prontos para o receber no coração e na vida inteira, o Emanuel, o Deus que vem habitar conosco. Confortados pela sua palavra, invoquemos a proteção materna de Maria, Virgem da esperança, que ela nos guie a uma verdadeira conversão interior, para que possamos sintonizar os nossos pensamentos e ações com a mensagem do Evangelho, para que assim possamos preparar dignamente a vinda do Senhor que está para chegar.  

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A Imaculada Conceição e o Plano de Deus


Celebramos hoje a festa da Imaculada Conceição, ou seja, o privilégio que a Virgem Maria recebe, no momento mesmo de sua concepção no seio de sua mãe, Santa Ana, de ver-se livre do pecado original. Este dogma celebra, pois, a primeira vitória total contra o pecado, porque significa isenção de todo o poderio do pecado e do demônio sobre a alma bem-aventurada de Maria; vitória de Cristo, único Salvador do gênero humano, pois a Imaculada Conceição foi concedida a Maria em vista dos méritos de Cristo em sua Paixão e morte.

Gostaria de considerar, por ocasião desta festa, dois pontos: em primeiro lugar, o aspecto combativo e atual deste dogma; em segundo, como, por este dogma, se nos revela o grandioso plano de Deus de redimir o gênero humano por um Homem e uma Mulher.
  
1º Aspecto combativo e atual da Imaculada Conceição.

Em 1917, a Maçonaria celebrou em Roma seu segundo centenário. Por todas as partes, apareceram bandeiras e cartazes que representavam o Arcanjo São Miguel vencido e derrubado por Lúcifer; e, na mesma praça S. Pedro, podia-se escutar o seguinte slogan: « Satanás reinará no Vaticano, e o Papa tomará parte em seu corpo de guarda! ».

O irmão Maximiliano Kolbe, franciscano conventual polaco, era então estudante de teologia na Gregoriana de Roma. Ante essas demonstrações de audácia do inimigo, pergunta-se: « Por que os católicos tem de ser tão pusilânimes na defesa de sua fé, enquanto os inimigos são tão audazes em atacá-la? Não possuímos nós armas mais eficazes que eles, o Céu e a Imaculada?» E meditando nas Sagradas Escrituras e nos Santos Padres, inspirando-se nos escritos dos santos marianos, especialmente São Luís Maria de Montfort; considerando o dogma da Imaculada e as aparições de Nossa Senhora de Lurdes, e a extensão prática de todas estas verdades, chega a esta conclusão: « A Virgem Imaculada, vitoriosa contra todas as heresias, não cederá ante seu inimigo que levanta a cabeça; se encontrar servidores fiéis, dóceis às suas ordens, logrará novas vitórias, muito maiores do que poderíamos imaginar...».

E funda assim, em 16 de outubro de 1917, três dias apenas após o milagre de Fátima, a Milícia da Imaculada. O emblema desta nova milícia será a Medalha Milagrosa. Sua exigência, a consagração total à Imaculada Mãe de Deus, para viver praticamente esta consagração. Seu fim, arrancar as massas das garras de Satanás e pedir à Imaculada a conversão dos inimigos da Igreja, especialmente os mações.

Se São Maximiliano Kolbe dá a sua Milícia o nome de Milícia da Imaculada, é também, e é preciso sabê-lo, porque a definição do dogma da Imaculada Conceição, em 1854, por Pio IX, apresenta um aspecto combativo que os inimigos da Igreja souberam discernir em seguida, e que nós não devemos esquecer. Com efeito, em 1854, estão em plena circulação todos os princípios do Contrato Social de Rousseau, que iriam levar ao estabelecimento universal desta grande mentira que é a democracia e os direitos humanos. Qual é o cimento de todas estas fábulas, de todas estas mentiras em que, de tão boa fé, crê o homem moderno? Um só: o dogma da imaculada conceição... do gênero humano. Postula-se que o homem é bom por natureza, que o homem nasce bom e que é a sociedade quem o corrompe. Sem este postulado latente, todo o sistema social revolucionário cai.

Ora, Pio IX, com sua definição dogmática, o põe por terra. Pois, ao definir a Imaculada Conceição de Maria, não faz senão assentar o seguinte: a imunidade do pecado original, longe de ser uma lei geral, válida para todos os homens, é, ao contrário, o privilégio único e exclusivo de uma única criatura, que é a Santíssima Virgem Maria. E que, portanto, para os demais homens, segue vigente o pecado original, com todas as conseqüências que ele implica: a necessidade de um Redentor, a que devem submeter-se todos os homens; a necessidade da autoridade, da graça, dos sacramentos, da Igreja, da educação, da família e da necessidade, enfim, da ordem social cristã, concebida e construída especialmente para curar os homens que nascem sob o pecado original... A necessidade, pois, de tudo o que pretendiam negar os revolucionários.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Encontro para Campanha da Fraternidade 2013



Nos dias 26 e 27 de Novembro de 2012, aconteceu na Arquidiocese de São Luís, o Encontro de Capacitação para os Multiplicadores Paroquiais, que farão o repasse em suas respectivas paróquias, da temática que será abordada na Campanha da Fraternidade de 2013, que tem como tema: Fraternidade e Juventude e Lema: Eis- me aqui (Is 6,8).

O Encontro aconteceu no Salão Paroquial da Igreja São José e São Pantaleão-Centro, com a participação das nove Foranias da Ilha, totalizando um número de 250 participantes, o mesmo foi realizado sob a organização da Equipe Arquidiocesana de Campanhas e assessorado pelo jovem Delso de Jesus, da Paróquia Nossa Senhor da Glória e São Judas Tadeu-Alemanha e membro da Equipe Regional e Arquidiocesana de Campanhas. A Oração dos dois dias do encontro foi conduzida pelo Setor Arquidiocesano da Juventude.
“A Campanha da Fraternidade do ano de 2013, que retorna o tema Juventude, se propõe olhar a realidade dos jovens, acolhendo-os com a riqueza de suas diversidades, propostas e potencialidades; entendê-las e auxiliá-los neste contexto de profundo impacto cultural e de relações midiáticas;fazer-se solidária em seus sofrimentos e angústias, especialmente junto aos que mais sofrem com os desafios”. (TB-CF 2013).

O Encontro foi trabalhado a partir da apresentação da Campanha de um modo geral, a introdução e seus objetivos: geral e os específicos; obedecendo a metodologia do texto-base:


• Primeira parte – Fraternidade e Juventude abordando os assuntos que falam sobre o impacto da mudança de época; a cultura midiática e o fenômeno juvenil.


• Segunda parte – “Eis-me aqui, envia-me!” com os seguintes assuntos: jovens nas Sagradas Escrituras; jovens na história da Igreja, jovens seguidores de Cristo, jovem no coração da Igreja e protagonismo dos jovens.


• Terceira parte – Indicações para ações transformadoras onde foram abordados os assuntos: Converter-se aos jovens; abrir-se ao novo e o lema: Eis-me aqui, envia-me.


• Quarta parte – foi trabalhado o gesto concreto: Delso fez uma explanação sobre prestação de contas, falando sobre a importância das transparências que devem ter os projetos que são elaborados e enviados para os fundos: Fundo Diocesano de Solidariedade e Fundo Nacional de Solidariedade –(CARITAS).


O Tema foi muito bem trabalhado pelos participantes. No final houve trabalhos de grupos por Foranias e cada uma fez a sua proposta para serem desenvolvidas dentro das suas realidades.

São Luís, 03 de Dezembro de 2012.

Vera Lúcia Silva Brito.
Secretária Arquidiocesana de Pastoral.