quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Vocês não aprenderam com a guerra do Iraque?


Quando, em 2003, os Estados Unidos guiaram a coalizão contra o regime de Saddam Hussein, o atual cardeal Louis Sako, hoje líder da Igreja Católica no Iraque, era pároco em Mossul. Desde então, o purpurado sempre conservou na memória as imagens da destruição e as lágrimas que a guerra produz. Por isso, ao ler as notícias divulgadas nestes dias sobre a Síria, ele não consegue esconder seu ressentimento com relação aos que escondem, atrás da bandeira da democracia e da liberdade, outros interesses.
O patriarca caldeu está certo de que, além disso, uma intervenção militar nesta região seria o estopim para um conflito confessional ainda mais destrutivo, que acabaria criando um novo Oriente Médio, dividido em pequenos estados.
Eminência, o senhor comentou várias vezes que uma intervenção militar contra a Síria seria um desastre, e convidou ao diálogo. Mas os massacres são contínuos: decapitações, sequestros, homicídios em massa, estupros... Frente a esta violência, o senhor acha que um diálogo interno na Síria ainda é possível? Que tipo de diálogo seria?

Acho que sempre é possível um diálogo corajoso, que busque o bem comum e que inclua todos na política. A solução deve ser política, não militar. A guerra é sempre um mal, complica a situação e não resolve nada. Penso que um país neutro, um grupo de políticos ou de líderes religiosos poderiam organizar este encontro, porque não têm interesses particulares.
Uma intervenção militar por parte dos EUA matará muitos inocentes e destruirá infraestruturas e casas (pense no caso do Iraque); e não sabemos suas consequências sobre a Síria e sobre os países vizinhos. Além disso, com que direito vendem armas à Síria e ao Iraque, e depois os atacam?



Além da intenção de intervir militarmente, o que o senhor recriminaria no Ocidente: o que deveriam ter feito ou o mal que estão fazendo? O que esperar exatamente dos países ocidentais?
Não entendemos a política ocidental. Não há valores! Veja a situação no Egito, Líbia, Tunísia, Iêmen e agora naSíria. Não entendemos por que querem mudar um regime ditatorial em favor de outro pior! No Egito, Mubarak foi embora e veio Morsi: que mudança! Conflitos, corrupção e mais pobreza. Acontece a mesma coisa na Líbia, no Iêmen.
O que o Ocidente está fazendo para aplicar a democracia? São apenas slogans e pretextos para fazer a guerra! Dez anos depois da invasão americana ao Iraque, ainda não temos democracia. Todos os dias há explosões, mortos e danos. Se o Ocidente quer realmente a democracia, deve educar as pessoas para a democracia e ajudá-las a vivê-la, e não criar tensões e conflitos. O Ocidente só enxerga seus próprios interesses econômicos! Que moral! As reformas só acontecem com o diálogo, e exigem tempo e boa vontade, e não bombas!
O que aconteceria no caso de uma intervenção militar? E que lição o Ocidente deve tirar do que ocorreu no Iraque? O que torna a situação Síria tão complicada?
Infelizmente, até hoje, nem o Ocidente nem o Oriente aprenderam a lição. O que os americanos aprenderam da guerra do Iraque? O que os regimes da região aprenderam para fazer as reformas?
O que torna a situação síria tão complicada é a intervenção dos governos de outros países nos assuntos internos da Síria. Os países muçulmanos, Arábia Saudita, Qatar e Turquia apoiam a oposição sunita, bem como alguns países ocidentais. No entanto, Irã, Hezbollah e Rússia estão a favor do regime. É um conflito confessional que busca um novo Oriente Médio, dividido em pequenos Estados!
Na situação Síria, há pelo menos três protagonistas: o governo de Assad, os rebeldes da Syrian Free Army e as tropas da Al-Qaeda, cada um com seus próprios apoios internacionais. Como poderiam se sentar à mesa da mediação, se suas reivindicações são tão diferentes? E como fazer que a violência pare sem o compromisso armado de terceiros?
É preciso chegar a um consenso. Quando os grandes poderes não apoiam a violência, mas incentivam o diálogo, as coisas mudam. Temos o exemplo de Gandhi na Índia e de Mandela na África do Sul. A luta de uns contra outros é pelo poder, não para ter democracia ou reformas. Então, que não lhes vendam armas!
Todos os líderes religiosos se manifestam contra uma intervenção militar externa. Mas o que pode ser feito concretamente para acabar com o conflito sírio?
Fazer manifestações e marchas em todos os países para interromper a intervenção: mobilizar a opinião pública mundial para buscar soluções civilizadas e pacíficas!
O mundo ocidental não entende por que os cristãos estão do lado do regime e, portanto, os vê como cúmplices do que o regime está fazendo. O senhor poderia nos explicar a situação dos cristãos e por que são favoráveis ao regime?
Pobres cristãos. São uma minoria sem importância que quer viver em paz e estabilidade. Os cristãos aprenderam que a primavera árabe trouxe desastres, não reformas. Os fundamentalistas aproveitaram a situação para aplicar a lei muçulmana, a sharia.
Para esses cristãos, um ditador é melhor que um regime religioso fechado que não aceita os outros. O Ocidentenão entende o discurso religioso dominante! Os muçulmanos acham que o Ocidente e os cristãos estão por trás de todas as suas desgraças e, portanto, a solução seria um Estado religioso, não laico.
Que interesses econômicos, políticos e sociais poderiam estar por trás de uma intervenção militar ocidental?

Uma intervenção militar empobrece todos e traz confusão e miséria. É preciso abrir os olhos ao nosso redor e ver a situação da Líbia, Tunísia, Iraque, Egito...


No vídeo abaixo (acrescentado pelo INFormação Católica), muçulmanos fundamentalistas matam cristãos decapitados na Síria:


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Fonte: Aleteia

A diferença que a missa faz


Ir à missa é ir para o céu, onde “Deus… enxugará toda lágrima” (Ap 21,3-4). Porém, o céu é ainda mais do que isso. O céu é onde nos colocamos sob julgamento, onde nos vemos na clara luz matinal do dia eterno e onde o justo juiz lê nossas obras no livro da vida. Nossas obras nos acompanham quando vamos à missa.

Ir à missa é renovar nossa aliança com Deus, como em uma festa de núpcias – pois a missa é o banquete das núpcias do Cordeiro. Como em um casamento, fazemos votos, comprometemo-nos, assumimos uma nova identidade. Mudamos para sempre.


Ir à missa é receber a plenitude da graça, a própria vida da Trindade. Nenhum poder no céu ou na terra nos dá mais do que recebemos na missa, pois recebemos Deus em nós mesmos.

Jamais devemos subestimar essas realidades. Na missa, Deus nos dá sua própria vida. Isso não é apenas uma metáfora, um símbolo ou uma antecipação. Precisamos ir à missa com os olhos e ouvidos, mente e coração abertos à vontade que está diante de nós, a verdade que se eleva como incenso. A vida de Deus é uma dádiva que precisamos receber apropriadamente e com gratidão. Ele nos dá graça como nos dá fogo e luz. Fogo e luz, mal usados, podem nos queimar ou cegar. De modo semelhante, a graça recebida indignamente sujeita-nos a julgamento e a consequências muito terríveis.


Em toda missa, Deus renova sua aliança com cada um de nós, colocando diante de nós a vida e a morte, a benção e a maldição. Precisamos escolher a bênção para nós e rejeitar a maldição, e precisamos fazer isso desde o início.


A partir do momento em que entra na igreja, você se coloca sob juramento. Ao mergulhar os dedos na água benta, você renova a aliança que eu iniciou com seu Batismo. Talvez você tenha sido batizado quando bebê; seus pais tomaram a decisão por você. Mas agora, com esse simples movimento, você toma a decisão por si mesmo. Toca com a água benta a fronte, o coração, os ombros e os persigna como “nome” com que foi batizado. Relacionada com esse movimento, está sua rejeição a Satanás e a todas as suas pompas e obras.


Ao fazer isso, você comprova, dá testemunho, como o faria no tribunal. No tribunal, a testemunha põe em jogo sua pessoa, sua reputação e seu futuro. Se não disser a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade, sabe que sofrerá sérias consequências.

Também você está sob juramento. Não se esqueça: a palavra latina sacramentum significa, literalmente, “juramento”. Quando faz o sinal-da-cruz, você renova o sacramento do Batismo, desse modo renovando sua obrigação de corresponder aos direitos e deveres da nova aliança. “Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com todo o teu ser, com todas as tuas forças”; “amarás o teu próximo como a ti mesmo”.


Você jura, de modo especial, dizer a verdade durante esta missa, pois este é o tribunal do céu; aqui, Deus abre o livro da vida; aqui, você ocupa o banco das testemunhas. Muitas e muitas vezes durante a missa você diz “AMÉM”, a palavra aramaica que transmite consentimento e conformidade: Sim! Assim seja! De verdade! “Amém” é mais que resposta; é compromisso pessoal. Quando diz “Amém”, você compromete sua vida, portanto é melhor ser sincero.


Assim, na missa, você não é mero espectador. É participante. É sua a aliança que Jesus

em pessoa vai renovar .

Texto retirado de uma bela obra de *Scott Hahn, chamada “O banquete do Cordeiro” na qual ele relata o começo de sua experiência ainda como calvinista quando foi a estudo participar da Santa Missa.


*HAHN, S. O banquete do Cordeiro: a missa segundo um convertido. 11ª edição. São Paulo: Ed. Loyola, 2009.



*Um dos livros de Scott Hahn, um renomado professor de teologia e de Escritura na Universidade Franciscana em Steubenville, nos Estados Unidos, fundador e dirigente do Institute off Applied Biblical Studies, é o “Banquete do Cordeiro”, no qual revela um segredo duradouro da Igreja: a chave dos cristãos para entender os mistérios da missa.

O autor explora o mistério da Eucaristia com os olhos novos e fala da missa como um poderoso dama sobrenatural, no qual o sacrifício real do Cordeiro traz o céu à terra. Hahn era protestante calvinista e quando se pôs a estudar sobre a vida dos primeiros cristãos, se aproximou da Eucaristia.
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Fonte: Aleteia

É correto que as mulheres distribuam a comunhão?


A questão sobre quem é o ministro da Eucaristia deve ser dividida em duas, pois a resposta varia segundo se trate do ministro da confecção da Eucaristia ou do ministro da distribuição da Eucaristia.
 
Antes de responder, eu gostaria de esclarecer que utilizarei o Código de Direito Canônico, pois, coincidindo com na doutrina com o Catecismo da Igreja Católica, é muito mais conciso e claro em sua formulação.

 
Sobre a confecção, a doutrina é muito clara e não admite matizes: "O ministro que, atuando na pessoa de Cristo, tem o poder de celebrar o sacramento da Eucaristia, é somente o sacerdote validamente ordenado" (cânon 900 § 1). Aqui, "o sacerdote" inclui bispos (que têm a plenitude do sacerdócio) e presbíteros. Em termos mais comuns, só eles podem celebrar validamente a Missa, que é onde se confecciona o sacramento.

 
Sobre a distribuição, o critério é mais complexo: é preciso distinguir entre o ministro ordinário e o extraordinário. Este último, como o próprio adjetivo indica, está previsto para os casos de carência ou insuficiência de ministros ordinários.

 
"O ministro ordinário da sagrada comunhão é o bispo, o presbítero e o diácono" (cânon 910 §1). A novidade, com relação à confecção, é o surgimento do diácono, que não pode celebrar a Missa, mas sim distribuir a comunhão aos fiéis, e não como ministro extraordinário, e sim ordinário.



"O ministro extraordinário da sagrada comunhão é o acólito ou outro fiel designado nos termos do cân. 230, § 3", diz o cânon 910, § 2. Parece que a leitura do terceiro parágrafo do cânon 230 vai esclarecer bastante, mas não é exatamente assim: "Onde as necessidades da Igreja o aconselharem, por falta de ministros, os leigos, mesmo que não sejam leitores ou acólitos, podem suprir alguns ofícios, como os de exercer o ministério da palavra, presidir às orações litúrgicas, conferir o Batismo e distribuir a sagrada Comunhão, segundo as prescrições do direito".

 
Ao pé da letra, parece que o acólito é quem tem certa prioridade. Mas convém entender que este não é simplesmente aquele que ajuda na Missa, mas sim quem tem uma nomeação formal como tal. De fato, quem costuma ter esta nomeação são os seminaristas, e é bastante lógica esta prioridade, tanto pela sua preparação litúrgica e doutrinal como pelo sacerdócio que estão se preparando para receber.

 
Por outro lado, a expressão "por falta de ministros" não deve ser entendida somente como ausência física, mas também por motivos como a incapacidade do ministro (por exemplo, um sacerdote lesionado que não pode usar escadas), ou a incapacidade para poder atender todos os fiéis sem alterar substancialmente a cerimônia ou sua duração.

 
O cânon seguinte, 231, pede que estes leigos tenham a formação adequada para desempenhar dignamente este ministério, algo totalmente lógico.

 
Em 1973, foi promulgada a instrução Inmensæ caritatis, que regula um pouco mais o emprego dos ministros extraordinários da comunhão, ao mesmo tempo em que deixa margem para que os bispos locais possam ditar normas em seus territórios.

 
Enfim, de qualquer maneira, fica claro que não há diferença entre homem e mulher.


 
Na hora de escolher o ministro, o critério é que se designe quem estiver melhor preparado, seja homem ou mulher. Portanto, é comum ver mulheres distribuindo a comunhão. Se houvesse um abuso no que foi estabelecido (e às vezes há), em nenhum caso o motivo seria a mulher, mas a violação do que foi estabelecido. 
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Fonte: Aleteia

A intervenção dos Estados Unidos na Síria seria uma guerra justa?


A decisão de entrar em guerra nunca é fácil. É preciso avaliar elementos morais, legais e práticos. Às vezes, não se conta com a informação necessária para tomar a decisão ou – o que é pior – se aceita como correto o que não o é.
 
Há duas tentações que podem confundir o caminho de tomada de decisão.

 
A primeira é acreditar que o recente uso de armas químicas por parte do governo sírio não deve ficar impune; e a segunda é considerar a situação como uma oportunidade de alcançar objetivos relacionados a ela, como a degradante capacidade do governo de continuar a guerra civil protegendo a reputação da América.

 
Há vários três elementos que devem ser avaliados ao analisar se deve haver uma intervenção militar na Síria, e todos estão cercados de grande confusão.

 
Uma função prática dos princípios da guerra justa é conseguir que os que têm de tomar a decisão não se distraiam com as tentações e se concentrem no verdadeiro objetivo, que é restaurar a paz justa.

 
O uso injusto da força nunca dá um bom resultado (em alguns casos, o uso justificado também acaba mal). Na situação síria, tal como se encontra, o uso da força armada por parte dos EUA viola os princípios essenciais da teoria da guerra justa e não é ético.



Em primeiro lugar, o uso da força armada por parte de uma nação deveria ser limitado. Não se pode atacar outra nação apenas por não gostar da maneira como ela usa sua força. A força armada poderia ser utilizada se houvesse ameaça iminente de vidas inocentes, mas o presidente e seus assessores militares reconheceram que não existe uma ameaça imediata. O uso da força poderia ser punitivo, mas os Estados Unidos não têm autoridade para impor um castigo.

 
Em segundo lugar, enquanto um ataque deliberado a uma população civil é um ato reprovável, não é verdade que o uso de armas químicas contra civis seja moralmente diferente do ataque com balas, bombas ou artilharia.

 
Em terceiro lugar, o uso da força armada, especialmente no começo das hostilidades, deveria ter a intenção de restaurar uma paz justa.

 
O debate público sobre a proposta americana de atacar a Síria carece de retidão de intenção ou não tem uma intenção clara. Não fica muito claro o que se pretende obter, e parece que se está dando pouca atenção às involuntárias, mas muito perigosas consequências de um ataque.

 
Certamente, o governo não defende a ideia de que um ataque, inclusive muito limitado, seja um passo construtivo rumo ao restabelecimento da paz na Síria.


 
Em resumo, o governo e o Congresso dos Estados Unidos fariam muito bem em respeitar os princípios daguerra justa ao considerar a ação contra a Síria, e não se deixar enganar pelas distrações e tentações práticas.
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Fonte: Aleteia

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Vínculo que une à Igreja é vital, destaca Papa na catequese


CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 11 de setembro de 2013


Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Retomamos hoje as catequeses sobre a Igreja neste “Ano da Fé”. Entre as imagens que o Concílio Vaticano II escolheu para fazer-nos entender melhor a natureza da Igreja, há aquela da “mãe”: a Igreja é nossa mãe na fé, na vida sobrenatural (cfr. Const. dogm. Lumen gentium, 6.14.15.41.42). É uma das imagens mais usadas pelos Padres da Igreja nos primeiros séculos e penso que possa ser útil para nós. Para mim, é uma das imagens mais belas da Igreja: a Igreja mãe! Em que sentido e de que modo a Igreja é mãe? Partamos da realidade humana da maternidade: o que faz uma mãe?

1.     Antes de tudo, uma mãe gera a vida, leva no seu ventre por nove meses o próprio filho e depois o abre à vida, gerando-o. Assim é a Igreja: nos gera na fé, por obra do Espírito Santo que a torna fecunda, como a Virgem Maria. A Igreja e a Virgem Maria são mães, todas as duas; aquilo que se diz da Igreja se pode dizer também de Nossa Senhora e aquilo que se diz de Nossa Senhora se pode dizer também da Igreja! Certo, a fé é um ato pessoal: “eu creio”, eu pessoalmente respondo a Deus que se faz conhecer e quer entrar em amizade comigo (cfr Enc. Lumen fidei, n. 39). Mas eu recebo a fé dos outros, em uma família, em uma comunidade que me ensina a dizer “eu creio”, “nós cremos”. Um cristão não é uma ilha! Nós nãos nos tornamos cristãos em laboratório, não nos tornamos cristãos sozinhos e com as nossas forças, mas a fé é um presente, é um dom de Deus que nos vem dado na Igreja e através da Igreja. E a Igreja nos doa a vida de fé no Batismo: aquele é o momento no qual nos faz nascer como filhos de Deus, o momento no qual nos dá a vida de Deus, nos gera como mãe. Se vocês forem ao Batistério de São João em Latrão, junto à catedral do Papa, em seu interior há uma inscrição em latim que diz mais ou menos assim: “Aqui nasce um povo de linhagem divina, gerado pelo Espírito Santo que fecunda estas águas; a Mãe Igreja dá à luz a seus filhos nessas ondas”. Isto nos faz entender uma coisa importante: o nosso fazer parte da Igreja não é um fato exterior e formal, não é preencher um cartão que nos deram, mas é um ato interior e vital; não se pertence  à Igreja como se pertence a uma sociedade, a um partido ou a qualquer outra organização. O vínculo é vital, como aquele que se tem com a própria mãe, porque, como afirma Santo Agostinho, a ‘Igreja é realmente mãe dos cristãos’ (De moribus Ecclesiae, I,30,62-63: PL 32,1336). Perguntemo-nos: como eu vejo a Igreja? Se agradeço aos meus pais porque me deram a vida, agradeço também à Igreja porque me gerou na fé através do Batismo? Quantos cristãos recordam a data do próprio Batismo? Gostaria de fazer esta pergunta aqui pra vocês, mas cada um responda no seu coração: quantos de vocês recordam a data do próprio Batismo? Alguns levantam a mão, mas quantos não lembram! Mas a data do Batismo é a data do nosso nascimento na Igreja, a data na qual a nossa mãe Igreja nos deu à luz! E agora eu vos deixo uma tarefa para fazerem em casa. Quando voltarem para casa hoje, procurem bem qual é a data do Batismo de vocês, e isto para festejá-la, para agradecer ao Senhor por este dom. Vocês farão isso? Amamos a Igreja como se ama a própria mãe, sabendo também compreender os seus defeitos? Todas as mães têm defeito, todos temos defeitos, mas quando se fala dos defeitos da mãe nós os cobrimos, nós os amamos assim. E a Igreja também tem os seus defeitos: nós a amamos assim como mãe, nós a ajudamos a ser mais bela, mais autêntica, mais segundo o Senhor? Deixo-vos estas perguntas, mas não se esqueçam das tarefas: procurar a data do Batismo para tê-la no coração e festejá-la.


2.     Uma mãe não se limita a gerar a vida, mas com grande cuidado ajuda os seus filhos a crescer, dá a eles o leite, alimenta-os, ensina-lhes o caminho da vida, acompanha-os sempre com a sua atenção, com o seu afeto, com o seu amor, mesmo quando são grandes. E nisto sabe também corrigir, perdoar, compreender, sabe ser próxima na doença, no sofrimento. Em uma palavra, uma boa mãe ajuda os filhos a sair de si mesmos, a não permanecer comodamente debaixo das asas maternas, como uma ninhada de pintinhos fica embaixo das asas da galinha. A Igreja, como boa mãe, faz a mesma coisa: acompanha o nosso crescimento transmitindo a Palavra de Deus, que é uma luz que nos indica o caminho da vida cristã; administrando os Sacramentos. Alimenta-nos com a Eucaristia, traz a nós o perdão de Deus através do Sacramento da Penitência, sustenta-nos no momento da doença com a Unção dos enfermos. A Igreja nos acompanha em toda a nossa vida de fé, em toda a nossa vida cristã. Podemos fazer agora outras perguntas: que relação eu tenho com a Igreja? Eu a sinto como mãe que me ajuda a crescer como cristão? Participo da vida da Igreja, sinto-me parte dela? A minha relação é uma relação formal ou é vital?


3.     Um terceiro breve pensamento. Nos primeiros séculos da Igreja, era bem clara uma realidade: a Igreja, enquanto é mãe dos cristãos, enquanto “forma” os cristãos, é também “formada” por eles. A Igreja não é algo diferente de nós mesmos, mas é vista como a totalidade dos crentes, como o “nós” dos cristãos: eu, você, todos nós somos parte da Igreja. São Jerônimo escrevia: “A Igreja de Cristo outra coisa não é se não as almas daqueles que acreditam em Cristo” (Tract. Ps 86: PL 26,1084). Então, todos, pastores e fiéis, vivemos a maternidade da Igreja. Às vezes ouço: “Eu creio em Deus, mas não na Igreja… Ouvi que a Igreja diz…os padres dizem…”. Mas uma coisa são os padres, mas a Igreja não é formada somente de padres, a Igreja somos todos! E se você diz que crê em Deus e não crê na Igreja, está dizendo que não acredita em si mesmo; e isto é uma contradição. A Igreja somos todos: da criança recentemente batizada aos Bispos, ao Papa; todos somos Igreja e todos somos iguais aos olhos de Deus! Todos somos chamados a colaborar ao nascimento à fé de novos cristãos, todos somos chamados a ser educadores na fé, a anunciar o Evangelho. Cada um de nós se pergunte: o que faço eu para que o outro possa partilhar a fé cristã? Sou fecundo na minha fé ou sou fechado? Quando repito que amo uma Igreja não fechada em seu recinto, mas capaz de sair, de mover-se, mesmo com qualquer risco, para levar Cristo a todos, penso em todos, em mim, em você, em cada cristão. Participemos todos da maternidade da Igreja, a fim de que a luz de Cristo alcance os extremos confins da terra. E viva à santa mãe Igreja!

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Fonte: Boletim da Santa Sé
      Tradução: Jéssica Marçal

Papa responde a críticas e perguntas sobre a fé

Papa Francisco responde questionamentos 
do ex-diretor do jornal “La Repubblica” sobre a fé católica 
e o convida a um caminho de reflexão juntos

Em carta publicada no jornal italiano “La Repubblica” nesta quarta-feira, 11, o Papa Francisco respondeu os questionamentos feitos pelo fundador e ex-diretor do jornal, Eugenio Scalfari, sobre a Encíclica “Lumen Fidei” e sobre a fé. Em julho e agosto deste ano, Scalfari publicou diversos artigos manifestando suas indagações sobre o assunto.

Francisco destaca que o documento é dirigido não somente aos que creem, mas também para suscitar um diálogo rigoroso, com quem, “como o senhor, se define como um não crente, que há muitos anos está interessado e fascinado pela pregação de Jesus de Nazaré”.

O Santo Padre ressaltou que a fé é uma experiência pessoal com Jesus Cristo, porém alicerçada na comunidade cristã, nos Sacramentos e ensinamentos da Sagrada Escritura. Declarou que sem a Igreja não teria encontrado Jesus, mesmo sabendo que “o dom da fé é guardado em frágeis vasos de argila”.


O jornalista questiona o Papa, sobre o que diria aos judeus sobre a promessa de Deus feita a eles, se é uma promessa vazia. Francisco destacou que mesmo em meio a tantos sofrimentos vividos pelos “irmãos judeus”, o testemunho de perseverança dado por eles, chama a todos a permanecer na espera da vinda do Senhor. “Eu posso lhe dizer, como o apóstolo Paulo, que a Fidelidade de Deus a aliança feita com Israel nunca foi esquecida”, destacou o Papa.

Ao responder se aqueles que não creem e não buscam a Deus cometem pecado, Francisco declara que ao que não crê, assim como para quem tem fé, o pecado está em ir contra a própria consciência. “Devemos levar em consideração – e isso é algo fundamental – que a misericórdia de Deus não tem limites se nos dirigimos a Ele com o coração sincero e arrependido, a questão para quem não crê em Deus está em obedecer a sua própria consciência”, ressalta.

O ex-diretor indaga ainda se com o desaparecimento do homem sobre a terra, desapareceria também a capacidade de pensar em Deus. O Pontífice esclarece que mesmo sendo a grandeza do homem “pensar em Deus”, conhecê-Lo vai além do pensamento. “Deus (…) não é uma ideia, mesmo que altíssima, fruto do pensamento do homem. Deus é uma realidade com ‘R’ masculo. Jesus O revela como um Pai de bondade e misericórdia infinita”, destaca.


O Papa convidou Eugenio Scalfari a fazer um caminho de reflexão juntos e que esperava ter respondido de modo satisfatório seus questionamentos. No final da carta, o Pontífice assegura que “a Igreja, apesar de toda sua lentidão, das infidelidades, dos erros e dos pecados que possa ter cometido, e que pode, ainda, cometer através daqueles que a compõem, não tem outro sentido que o de viver e dar testemunho de Jesus”.
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Francisco em carta a Putin apela ao G-20, abandonem a guerra


CARTA DO PAPA FRANCISCO 
AO PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO RUSSA 
VLADIMIR PUTIN, POR OCASIÃO 
DA CÚPULA DO G20 EM SÃO PETERSBURGO



A Sua Excelência Senhor Vladimir PUTIN
Presidente da Federação Russa

No ano que está a decorrer, Vossa Excelência tem a honra e a responsabilidade de presidir ao Grupo das vinte maiores economias mundiais. Estou ciente de que a Federação Russa participou neste Grupo desde a sua criação e desempenhou sempre um papel positivo na promoção da governabilidade das finanças mundiais profundamente atingidas pela crise que teve início em 2008.

O contexto actual, altamente interdependente, exige uma moldura financeira mundial, com regras justas e claras próprias, para conseguir um mundo mais equitativo e solidário, no qual seja possível eliminar a fome, oferecer a todos um trabalho digno, uma habitação decorosa e a necessária assistência no campo da saúde. A sua presidência do G20 para o ano que está a decorrer assumiu o compromisso de consolidar a reforma das organizações financeiras internacionais e de chegar a um consenso sobre os stardards financeiros adequados às actuais circunstâncias. Contudo, a economia mundial poderá desenvolver-se realmente na medida em que for capaz de permitir uma vida digna a todos os seres humanos, desde os mais idosos até às crianças ainda no seio materno, não só aos cidadãos dos países membros do G20, mas a cada habitante da Terra, até a quantos se encontram nas situações sociais mais difíceis ou nos lugares mais longínquos.


Nesta óptica, torna-se claro que na vida dos povos os conflitos armados constituem sempre a deliberada negação de qualquer concórdia internacional possível, originando divisões profundas e dilacerantes feridas que necessitam de muitos anos para se curarem. As guerras constituem a rejeição prática de se comprometer para alcançar aquelas grandes metas económicas e sociais que a comunidade internacional estabeleceu, tais como, por exemplo, oMillenium Development Goals. Infelizmente, os demasiados conflitos armados que ainda hoje afligem o mundo apresentam-nos, todos os dias, uma dramática imagem de miséria, fome, doenças e morte. Com efeito, sem paz não há qualquer tipo de desenvolvimento económico. A violência nunca leva à paz, condição necessária para este desenvolvimento.

O encontro dos Chefes de Estado e de Governo das vinte maiores economias, que representam dois terços da população e 90% do PIB mundial, não tem a segurança internacional como sua finalidade principal. Todavia, não poderá prescindir de reflectir sobre a situação no Médio Oriente e em particular na Síria. Infelizmente, é doloroso constatar que demasiados interesses particulares prevaleceram desde quando teve início o conflito sírio, impedindo que fosse encontrada uma solução que evitasse o inútil massacre ao qual estamos a assistir. Os líderes dos Estados do G20 não permaneçam inertes face aos dramas que já vive há demasiado tempo a amada população síria e que correm o risco de causar novos sofrimentos a uma região tão provada e necessitada de paz. A todos eles, e a cada um deles, dirijo um sentido apelo para que ajudem a encontrar caminhos para superar as diversas contraposições e abandonem qualquer vã pretensão de uma solução militar. Haja, antes, um novo compromisso a perseguir, com coragem e determinação, uma solução pacífica através do diálogo e da negociação entre as partes em causa com o apoio concorde da comunidade internacional. Além disso, é um dever moral de todos os Governos do mundo favorecer qualquer iniciativa que vise a promoção da assistência humanitária a quantos sofrem por causa do conflito dentro e fora do país.

Senhor Presidente, na esperança que estas reflexões possam constituir uma válida contribuição espiritual para o vosso encontro, rezo por um êxito frutuoso dos trabalhos do G20. Invoco abundantes bênçãos sobre a Cimeira de São Petersbugo, sobre todos os participantes, sobre os cidadãos de todos os Estados membros e sobre todas as actividades e compromissos da Presidência Russa do G20 no ano de 2013.

Ao pedir-lhe que reze por mim, aproveito o ensejo para lhe expressar, Senhor Presidente, a minha mais sentida estima.



Do Vaticano, 4 de Setembro de 2013

A mulher e o sacerdócio católico


A ordenação sacerdotal praticada nas confissões 
não católicas não acontecerá na Igreja

Com frequência, ouvem-se vozes pedindo mais participação da mulher não só na vida eclesial cotidiana, mas nos ministérios hierárquicos, com a possibilidade da ordenação sacerdotal, tal como ocorre em algumas confissões não católicas. Fechar esta porta às mulheres é julgado como discriminação, resistência aos novos tempos, um machismo que deveria ser superado.

É verdade que, no geral, são as mulheres quem mais participa das celebrações, das catequeses, das diversas áreas da pastoral social. São elas que mais recorrem ao sacramento da reconciliação. São elas as mais disponíveis para muitas das iniciativas paroquiais. A sua presença sempre foi profundamente significativa. Porém, não é isto o que alguns exigem. Exigem a ordenação das mulheres, não apenas para o diaconato, mas para o presbiterado e para o episcopado. Não faltou nem sequer algum padre desnorteado, seduzido pela propaganda midiática, para afirmar que “chegará o tempo em que uma mulher será papisa”.

Que as mulheres sempre realizaram variados serviços, todos constatamos. Minha avó foi uma líder religiosa na minha cidadezinha durante a minha infância. Uma tia foi a única catequista da região. Sem elas, não haveria vida e movimento em muitas das nossas paróquias. Ainda falta muita estrada para avançarmos em povoações indígenas, mas, pouco a pouco, os homens vão reconhecendo que elas também podem realizar muitas tarefas pastorais, indispensáveis para o crescimento da vida cristã nas comunidades.


A propósito, o papa Francisco afirmou em seu voo de volta do Brasil para Roma: “Uma igreja sem as mulheres é como o colégio apostólico sem Maria. O papel da mulher na Igreja não é só a maternidade, mas é mais forte ainda: é como o ícone de Nossa Senhora, aquela que ajuda a Igreja a crescer! Pensem que Nossa Senhora é mais importante que os apóstolos! É mais importante! A Igreja é feminina: é Igreja, é esposa, é mãe. Não se pode entender uma Igreja sem as mulheres, mas mulheres que sejam ativas na Igreja, dentro dos seus perfis. Na Igreja, nós temos que pensar na mulher nesta perspectiva de opções arriscadas, mas como mulheres. Isto deveria ser explicado melhor. Acredito que ainda não fizemos uma profunda teologia da mulher. Não pode ficar limitado a serem coroinhas, a ser a presidente da Cáritas, a ser catequista... Não! Tem que ter mais, mais profundamente, inclusive mais no nível místico. E, em relação com a ordenação de mulheres, a Igreja já falou e diz ‘não’. Foi dito por João Paulo II, e com uma declaração definitiva. Aquela porta está fechada. Mas, sobre isto, eu quero dizer algo. Já disse, mas repito. Nossa Senhora, Maria, era mais importante que os apóstolos, que os bispos, que os diáconos e presbíteros. A mulher, na Igreja, é mais importante que os bispos e que os presbíteros. Como? É isto o que nós temos que explicar melhor, porque acho que falta uma explicação teológica disto”.

Nós, fiéis ou pastores, devemos revisar a nossa abertura a esta participação maior das mulheres nos conselhos paroquiais, nos centros de formação teológica, na preparação dos futuros sacerdotes, em cargos pastorais não apenas paroquiais, mas também diocesanos e internacionais.

Lamentamos que haja mulheres que se recusam a receber a comunhão eucarística de mãos de outra mulher, mesmo que seja uma religiosa, aceitando-a somente das mãos de um sacerdote. Com paciência e compreensão, devemos educá-las e educar-nos no plano de Deus para a mulher, que de maneira alguma é discriminatório, embora distribua os serviços, isto sim, de forma diferenciada. Só às mulheres, por outro lado, foi confiada a grande dignidade e o enorme serviço de ser mães.

Em suma, como recordava João Paulo II, "o único carisma superior que deve ser buscado é a caridade (cf. 1 Cor 12-13). Os maiores no Reino dos céus não são os ministros, mas os santos" (22-V-1994). A ser santos todos temos que aspirar, e é mais santo quem mais ama, quem mais serve aos outros.
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Fonte: ZENIT