segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Missa inculturada ou Missa avacalhada? (Parte II)


Dando continuidade ao post de ontem, vamos comentar alguns dos ritos avacalhados mais escandalosos. Esse tipo de perversão é um atentado à nossa fé, pois fere e vulgariza aquilo que o católico tem de mais sagrado e precioso: a Santa Missa.

MISSA PIMBA NA GORDUCHINHA

No ano passado, um padre holandês realizou uma “missa laranja” antes do último jogo da Copa do Mundo de Futebol para dar uma forcinha espiritual à seleção de seu país. O celebrante usou uma túnica laranja e decorou toda a Igreja – inclusive os paramentos do altar – com a mesma cor.


Não, você não está vendo coisas: as linhas na foto acima são as redes de uma trave. Afinal, se é pra esculhambar, tem que fazer direito! Descreve o site da BBC: “O padre chegou a simular um jogo de futebol dentro da igreja e, atuando como goleiro, pegou um pênalti cobrado por um fiel”. (1)

Resultado: o Santo Sacrifício do Altar foi desrespeitado, a Holanda perdeu o jogo e o padre foi suspenso pelo bispo local. Lembrando que naquele país o uso da maconha é liberado. Será que o padre…? Deixa pra lá.


MISSA O QUIOCÊ FOI FAZÊ NO MATO MARIA CHIQUINHA

Seguuuuuuuuura, cristão! Segura o Senhor Jesus, pra Ele não fugir do templo, de tanto desgosto…

Estão na moda as missas sertanejas, com padre usando chapéu de cowboy e cantando músicas típicas. Os sacerdotes mais talentosos – ou mais sem noção – arriscam até umas dedilhadas no violão.


Desde quando chapéu com abas virou paramento litúrgico? Parece um detalhe bobo, mas não é: o sacerdote está ali para representar Jesus Cristo, e não para dar entretenimento às suas fãs. Não é ele quem escolhe o que vestir, é a Igreja que determina, conforme o tempo litúrgico ou a celebração. A falta de apreço aos seus símbolos religiosos – em especial os paramentos e objetos da missa – é a uma dos sinais da decadência espiritual de uma comunidade.

E se o padre é no fundo um músico frustrado, que invista na sua carreira artística durante as festas de quermesse, as reuniões de grupos jovens e atividades afins. Mas pegar o violão e bancar o Sérgio Reis no meio da santa missa é um tanto demais, não?
Não há, ó gente, ó não… padres como esses sem noção! Não há, não há…

MISSA CHIMARRÃO

Ofertório em uma Missa
inculturada Gaúcha
As chamadas missas gaúchas, ou missas crioulas, ocorrem sobretudo durante a Semana Farroupilha, evento que homenageia os combatentes dessa famosa revolução.

Nessas missas, é comum que o simbolismo do rito romano seja ferido por paramentos sacerdotais nada ortodoxos (lenço no pescoço, por exemplo) e pela inserção de objetos nada litúrgicos, como cuia de chimarrão, erva-mate e rodas de carruagem. As orações são também bastante modificadas, pra ficar tudo beeeeem gauchesco.

E se fosse criada uma missa inculturada carioca? Se os gaúchos apresentam botas, chaleira e costela de churrasco no ofertório, nós aqui no Rio colocaríamos diante do altar uma prancha de surf, um CD de funk, uma fantasia de carnaval e uma foto da Helô Pinheiro, a eterna Garota de Ipanema! Também poderíamos inserir nossas gírias nas orações, que tal? Demorô!!!

Não, não é um baile! É uma missa avacalhada gaúcha em Foz do Iguaçu - PR

E, para falar da missa gaúcha, ninguém melhor do que um gaúcho de fato. Vejamos o que diz Rafael Vitola Brodbeck, do site Veritatis Splendor (grifos meus):

O altar onde se renova o Santo Sacrifício
é estilizado em forma de carroça.
Que LINDJO!
“A pretexto de gauchismo, desde os anos 70, se promove (…) essa empulhação travestida de tradição. (…) “A tal “Missa Crioula” dos CTGs [Centros de Tradições Gaúchos] é de uma falta de respeito que nunca vi em lugar nenhum! (…) O rito do MTG [Movimento Tradicionalista Gaúcho] é ilícito (ainda que a Missa seja válida), suas cerimônias não são coerentes com o rito romano, e sua celebração é totalmente artificial, pois partem do pressuposto de que o verdadeiro gauchismo é fazer tudo “de um modo gaúcho”: ora, isso é artificial, é um gauchismo fictício, industrializado. (…) “Não se confunda, outrossim, a Missa Crioula do MTG (…) com a belíssima Misa Criolla, de Ariel Ramirez, composição sacra com ritmos da pampa (…), toda em espanhol, para os textos do Ordinário (Kyrie, Gloria etc.), sem alterar a letra e sem palhaçadas. (…) “Creiam-me, meus caros, sou gaúcho e cultuador de nossa riquíssima tradição. Ando no dia-a-dia de bombacha, asso meu churrasco, vou a campo a cavalo. Mas cada coisa na sua hora. Como bem disse, tradição por tradição, a Missa crioula de tradicional não tem nada. É uma caricatura, um arremedo, e ouso dizer um deboche da verdadeira cultura gaúcha.”

MISSA ZUMBI DOS PALMARES

Essa é a missa preferida dos hereges da Teologia da Libertação.

Tem atabaque e berimbau? Tem, sim sinhô! Tem pipoca e cocada? Tem, sim sinhô! Tem padre caracterizado como pai de santo do Paraguai? Tem, sim sinhô! Nos dias mais animados, rola até um teatrinho e uma ginga de capoeira…


Mais uma vez, parte-se de uma caricatura: é como se os negros tivessem chegado ontem da África, e assim necessitassem de uma liturgia especialmente adaptada para que o anúncio do Evangelho se torne viável.

O que será que João Paulo II achava disso? Com a palavra, o eterno papitcho (grifos meus), falando aos bispos do Regional Sul I, em 2003:

“Certamente, não é possível descurar aqui a consideração da cultura afro-brasileira (…). Trata-se da delicada questão de aculturação, especialmente nos ritos litúrgicos, no vocabulário, a nas expressões musicais e corporais típicas da cultura afro-brasileira. (…) “É evidente, porém, que se estaria distanciando da finalidade específica da evangelização, acentuar um destes elementos formadores da cultura brasileira, isolá-lo deste processo interativo tão enriquecedor, de modo quase a se tornar necessária a criação de uma nova liturgia própria para as pessoas de cor. Seria incompreensível dar ao rito litúrgico uma apresentação externa e uma estruturação – nas vestes, na linguagem, no canto, nas cerimônias e objetos litúrgicos – baseada nos assim chamados cultos afro-brasileiros, sem a rigorosa aplicação de um discernimento sério e profundo acerca da sua compatibilidade com a Verdade revelada por Jesus Cristo. (2)

Que fique bem claro: a ideia daqueles que promovem as missas afro NÃO É convidar os não-católicos à conversão; é, sim, incentivar os feiticeiros, idólatras e macumbeiros a conciliar sem problemas a fé cristã e o culto aos Orixás. Duvida? Então veja essa declaração lamentável de Dom José Maria Pires, arcebispo emérito da Paraíba:

“Acreditamos cada vez mais fortemente que é possível o negro ser discípulo de Cristo e viver na Igreja sem deixar de ser negro, sem renunciar a sua cultura, sem ter de abandonar a religião dos Orixás.” (3)

Entendeu agora? Esses caras acham que um negro que renuncia à crença nos Orixás é “menos negro”, pois sofre um prejuízo cultural ao renegar a fé de seus “ancestrais”. Definitivamente, padres sincretistas têm pipoca no lugar do cérebro, só pode! Padre Paulo Ricardo não exagera quando diz que eles são TRAIDORES do cristianismo:

“Além do evidente abuso litúrgico que significam essas missas inculturadas (…), nós temos um grande erro moral, uma grande traição do cristianismo. (…) A evangelização supõe a conversão. Isso quer dizer que, onde quer que o cristianismo vá, ele irá necessariamente transformar as culturas, ele irá fazer necessariamente com que as mentalidade mudem. (…) “E assim todos os povos podem mudar, todas as culturas podem ser convertidas, todas as culturas – que têm algo de bom, mas também têm muita coisa de ruim – podem ser transformadas (…). Mas, você agora canonizar as culturas pagãs e dizer que elas são lindas, e assim apostatar a fé, deixando nosso senhor Jesus Cristo de lado, isso é simplesmente a traição do cristianismo.” (4)

AVISO: o vídeo a seguir contém cenas fortes. Não é recomendado para católicos fiéis com problemas cardíacos e gestantes. Tirem as crianças da sala!!!

Trata-se de uma missa afro realizada na Paróquia São José, no bairro Parque Guaraní, em São Paulo, em 2007. As cenas que aparecem a partir dos 3:45 min. são especialmente chocantes: um casal sacoleja loucamente diante do altar, ao som de “Pérola Negra”, de Daniela Mercury! De fato, uma pérola do sacrilégio nacional.


Outra característica estapafúrdia dessas missas afro é a veneração ao líder quilombola Zumbi dos Palmares. O homi é tratado como um verdadeiro santo, um “mártir da causa negra”. Mais preocupados em rebolar nas missas do que em estudar história, esses padres ignoram – ou fingem ignorar – que seu grande heroi tinha escravos. É o que constata o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil:

“Zumbi (…) mandava capturar escravos de fazendas vizinhas para que eles trabalhassem forçados no Quilombo dos Palmares. Também sequestrava mulheres, raras nas primeiras décadas do Brasil, e executava aqueles que quisessem fugir do quilombo”. (5)

Assassino, senhor de escravos, sequestrador de mulheres… Que belo exemplo para os cristãos! Viva Zumbi dos Palmares, explorador de escravos negros mais amado do braziu-ziu-ziu!

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Que Nosso Senhor Jesus Cristo ilumine os bispos do Brasil, para que sejam fiéis ao Papa e para que cumpram o seu papel de combater sem hesitação estas atrocidades, verdadeiros deboches à nossa fé católica. Os promotores das missas avacalhadas podem ser até bem-intencionados, mas, de boa intenção, o terreiro da Mãe Nonoca tá cheio.

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Agradeço ao Bruno Cezar Psico por ter me sugerido a leitura do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil.

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NOTAS:
(2) Site do Vaticano. Discurso do Papa João Paulo II aosbispos do Regional Sul I do Brasil em visita “Ad Limina Apostolorum”. 23/01/2003
(3) PIRES, Dom José Maria. O Deus da vida nas comunidades afro-americanas e caribenhas. In: ATABAQUE – Cultura Negra e Teologia/ASETT – Associação Ecumênica de Teólogos do Terceiro Mundo. Teologia Afro-Americana. II Consulta Ecumênica de Teologia e Culturas Afro-Americana e Caribenha. São Paulo: Paulus, 1997. p.31.
(4) Site do Padre Paulo Ricardo. Vídeo A Resposta Católica: “MissasInculturadas”. 13/07/2011
(5) Narloch, Leandro. Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil. São Paulo, Leya: 2011. p. 83
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Fonte: O Catequista

Orígenes e a reencarnação


Ora, entre as suas proposições pessoais, Orígenes formulou algumas que de fato vieram a ser recusadas pelo magistério da Igreja. 

Assim, inspirando-se no platonismo, derivava a palavra grega psyché (alma) de psychos (frio), e admitia que as almas humanas unidas à matéria, tais como elas atualmente se acham, são o produto de um resfriamento do fervor de espíritos que Deus criou todos iguais e destinados a viver fora do corpo; a encarnação das almas, portanto, e a criação do mundo material dever-se-iam a um abuso da liberdade ou um pecado dos espíritos primordiais, que Deus terá punido, ligando tais espíritos à matéria. Banidos do céu e encarcerados no corpo, estes sofrem aqui a justa sanção e se vão purificando a fim de voltar a Deus; após a vida presente, alguns ainda precisarão de ser purificados pelo fogo em sua existência póstuma, mas na etapa final da história todos serão salvos e recuperarão o seu lugar junto de Deus; o mundo visível terá então preenchido o seu papel e será aniquilado. 

Note-se bem: Orígenes propunha essas idéias como hipóteses, e hipóteses sobre as quais a Igreja não se tinha pronunciado (justamente porque pronunciamentos sobre tais assuntos ainda não haviam sido necessários). Não havia, pois, da parte de Orígenes a intenção de se afastar do ensinamento comum da Igreja a fim de constituir uma escola teológica própria ou uma heresia (?heresia? implica obstinação consciente contra o magistério da Igreja). 

A desgraça de Orígenes, porém, foi ter tido muitos discípulos e admiradores... Estes atribuíram valor dogmático às proposições do mestre, mesmo depois que o magistério da Igreja as declarou contrárias aos ensinamentos da fé. 


É preciso observar ainda o seguinte: Orígenes admitiu também como possível a preexistência das almas humanas. Ora esta doutrina não significa necessariamente reencarnação; apenas quer dizer que, antes de se unir ao corpo, a alma humana viveu algum tempo fora da matéria; encarnou-se depois...; daí não se segue que se deva encarnar mais de uma vez (o que seria a reencarnação propriamente dita). 

Aliás, Orígenes se pronunciou diretamente contrário à doutrina da reencarnação... Com efeito, em certa passagem de suas obras considera a teoria do filósofo Basílides, o qual queria basear a reencarnação nas palavras de São Paulo: "Vivi outrora sem lei..." (Rm 7,9). Observa então Orígenes: Basílides não percebeu que a palavra "outrora" não se refere a uma vida anterior de S. Paulo, mas apenas a um período anterior da existência terrestre que o Apóstolo estava vivendo; assim, concluía Origenes, "Basílides rebaixou a doutrina do Apóstolo ao plano das fábulas ineptas e ímpias" (cf. In Rom VIII). 

Contudo, os discípulos de Orígenes professaram como verdade de fé não somente a preexistência das almas (delicadamente insinuada por Orígenes), mas também a reencarnação (que o mestre não chegou de modo algum a propor, nem como hipótese). 
Os principais defensores destas idéias, os chamados "origenistas" foram monges que viveram no Egito, na Palestina e na Síria nos séc. IV/VI. Esses monges, como se compreende, levando vida muito retirada, entregue ao trabalho manual e à oração, eram pouco versados no estudo e na teologia; admiravam Orígenes principalmente por causa dos seus escritos de ascética e mística, disciplinas em que o mestre mostrou realmente ter autoridade. Não tendo, porém, cabedal para distinguir entre proposições categóricas e meras hipóteses do mestre, os origenistas professavam cegamente como dogma tudo que liam nos escrito de Orígenes; pode-se mesmo dizer que eram tanto mais fanáticos e buliçosos quanto mais simples e ignorantes. 

A tese da reencarnação, desde que começou a ser sustentada pelos origenistas, encontrou decididos oponentes entre os escritores cristãos mesmos, que a tinham como contrária à fé. Um dos testemunhos mais claros é o de Enéias de Gaza (? 518), autor do "Diálogo sobre a imortalidade da alma e a ressurreição", em que se lê o seguinte raciocínio: 

"Quando castigo o meu filho ou o meu servo, antes de lhe infligir a punição, repito-lhe várias vezes o motivo pelo qual o castigo, e recomendo-lhe que não o esqueça para que não recaia na mesma falta. Sendo assim, Deus, que estipula... os supremos castigos, não haveria de esclarecer os culpados a respeito do motivo pelo qual Ele os castiga? Haveria de lhes subtrair a recordação de suas faltas, dando-lhes ao mesmo tempo a experimentar muito vivamente as suas penas? Para que serviria o castigo se não fosse acompanhado da recordação da culpa? Só contribuiria para irritar o réu e levá-lo à demência. Uma tal vítima não teria o direito de acusar o seu juiz por ser punida sem ter consciência de haver cometido alguma falta?" (ed. Migne gr., t. LXXXV, 871). 

Sem nos demorar sobre este e outros testemunhos contrários à reencarnação no séc. VI, passamos imediatamente à fase culminante da controvérsia origenista. 

"Não" à reencarnação

No início do séc. VI estava o origenismo muito em voga nos mosteiros da Palestina, tendo como principal centro de propagação o mosteiro da ?Nova Laura? ao sul de Belém: aí se falava, com estima, de preexistência das almas, reencarnação, restauração de todas as criaturas na ordem inicial ou na bem-aventurança celeste... Em 531, o abade São Sabas, que, com seus 92 anos de idade, se opunha energicamente ao origenismo, foi a Constantinopla pedir a proteção do Imperador para a Palestina devastada pelos samaritanos, assim como a expulsão dos monges origenistas. Contudo alguns dos monges que o acompanhavam, sustentaram em Constantinopla opiniões origenistas; regressou à Palestina, para aí morrer aos 5 de dezembro de 532. Após a morte de S. Sabas, a propaganda origenista recrudesceu, invadindo até mesmo o mosteiro do falecido abade (a ?Grande Laura?); em conseqüência, o novo abade, Gelásio, expulsou do mosteiro quarenta monges. Estes, unidos aos da ?Nova Laura?, não hesitaram em tentar tomar de assalto a ?Grande Laura?. Por essa época, os origenistas (pelo fato de combater uma famosa heresia cristológica, dita ?monofisitismo?) gozavam de grande prestígio, mesmo em Constantinopla. Com o passar do tempo, a controvérsia entre os monges da Palestina foi-se tornando cada vez mais acesa, exigindo em breve a intervenção das autoridades. Foi o que se deu em 539: o Patriarca de Jerusalém mandou pedir ao Imperador Justiniano de Constantinopla o seu pronunciamento contra o origenismo (naquela época os temas teológicos interessavam ao Imperador tanto quanto as questões de administração pública). Justiniano, em resposta, escreveu um trato contra Orígenes, de tom extremamente violento, que se encerrava com uma série de dez anátemas contra Orígenes, dos quais merecem atenção os seguintes: 

1.                  Se alguém disser ou julgar que as almas humanas existiam anteriormente, como espíritos ou poderes sagrados, os quais, desviando-se de visão de Deus, se deixaram arrastar ao mal, e, por este motivo, perderam o amor de Deus, foram chamados almas e relegados para dentro de um corpo à guisa de punição, seja anátema. 

2.                  Se algum disser ou julgar que, por ocasião da ressurreição, os corpos humanos ressuscitarão em forma de esfera, sem semelhança com o corpo que atualmente temos, seja anátema. 

3.                  Se alguém disser ou julgar que a pena dos demônios ou dos ímpios não será eterna, mas terá fim, e que se dará uma restauração apokatástasis, reabilitação) dos demônios, seja anátema?. Justiniano em 543 enviou o seu tratado com os anátemas ao Patriarca Menas de Constantinopla, a fim de que este também condenasse Orígenes e obtivesse dos bispos vizinhos e dos abades de mosteiros próximos igual pronunciamento. Assim intimado, Menas reuniu logo o chamado ?sínodo permanente? (conselho episcopal) de Constantinopla, o qual, por sua vez, redigiu e promulgou quinze anátemas contra Orígenes, dos quais os quatro primeiros nos interessam de perto: 

4.                  Se algum crer na fabulosa preexistência das almas e na repudiável reabilitação das mesmas (que é geralmente associada àquela), seja anátema. 

5.                  Se algum disser que os espíritos racionais foram todos criados independentemente de matéria e alheios ao corpo, e que vários deles rejeitaram a visão de Deus, entregando-se a atos ilícitos, cada qual seguindo suas más inclinações, de modo que foram unidos a corpos, uns mais, outros menos perfeitos, seja anátema. 

6.                  Se alguém disser que o sol, a lua e as estrelas pertencem ao conjunto dos seres racionais a que se tornaram o que eles hoje são por se voltarem para o mal, seja anátema. 

7.                  Se alguém disser que os seres racionais nos quais o amor a Deus se arrefeceu, se ocultaram dentro de corpos grosseiros como são os nossos, e foram em conseqüência chamados homens, ao passo que aqueles que atingiram o último grau do mal tiveram como partilha corpos frios e tenebrosos, tornando-se o que chamamos demônios e espíritos maus, seja anátema?. 

O Papa Vigílio e os demais Patriarcas deram a sua aprovação a esses artigos. Como se vê, tal condenação foi promulgada por um sínodo local de Constantinopla reunido em 543, e não pelo Concílio ecumênico de Constantinopla II, o qual só se realizou em 553. Neste Concílio ecumênico, a questão da pré-existência e da sorte póstuma das almas humanas não voltou à baila; verdade é que Orígenes aí foi condenado juntamente com outros escritores cristãos por causa de erros concernentes a Cristo. 

Em conclusão, observamos o seguinte: 

a.                   A doutrina da reencarnação nunca foi comum, nem é primitiva na Igreja Católica (atestam-no os depoimentos dos antigos escritores cristãos atrás mencionados); 

b.                  Após Orígenes (séc. III), ela foi professada por grupos particulares de monges orientais, pouco versados em teologia, os quais se prevaleciam de afirmações daquele mestre, exagerando-as (daí a designação de? origenistas?, que lhes coube); 

c.                   Mesmo dentro da corrente origenista, a teoria da reencarnação não teve a voga que tiveram, por exemplo, as teses da preexistência das almas e da restauração de todas as criaturas na suposta bem-aventurança inicial;

d.                  Por isto as condenações proferidas por bispos e sínodos no séc. VI sobre o origenismo versam explicitamente sobre as doutrinas da preexistência e da restauração das almas (o que naturalmente implica a condenação da própria tese da reencarnação, na medida em que esta tese depende daquelas doutrinas e era professada pelos origenistas); 


e.                   A doutrina da reencarnação foi rejeitada não somente pelo magistério ordinário da Igreja (baseado na palavra da S. Escritura) desde os tempos mais remotos, mas também pelo magistério extraordinário nos concílios ecumênicos de Lião em 1274 (?As almas... são imediatamente recebidas no céu?) e de Florença em 1439 (?As almas... passam imediatamente para o inferno a fim de aí receber a punição?) Cf. Denzinger´Schönmetzer, Enquirídio nº 857 (464) e 1306 (693). Ver também Concílio do Vaticano II, Const. Lumen Gentium nº 48:? Terminado o único curso de nossa vida terrestre, possamos entrar nas bodas?.


D. Estevão Bettencourt 
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Disponível em: Veritatis Splendor

Lei do Karma: as pessoas sofrem por que merecem?


“Eu devo ter atirado pedra na cruz!”. Diante das numerosas mazelas, entraves e urucubacas em geral, talvez você já tenha pronunciado esta frase alguma vez na vida.

A ideia de que o sofrimento é necessariamente um castigo por algo que fizemos é partilhada por muitos. E, quando se tem a impressão de que a desgraça sofrida é bem maior do que o peso das próprias culpas, uns são tentados a pensar que Deus não é justo, enquanto outros imaginam que só os pecados cometidos em outra vida poderiam justificar tal desproporção.


Allan Kardec foi um dos principais divulgadores da ideia de que todas as pessoas carregam um karma – espécie de lei de causa e efeito –, ou seja, uma dívida gerada por atos realizados nesta vida ou em vidas anteriores. Também os hinduístas, budistas e esotéricos professam essa crença. Há um trecho do “Evangelho Segundo o Espiritismo” que resume bem este conceito:

Por que uns sofrem mais do que outros? Por que uns nascem na miséria e outros na riqueza, sem nada terem feito para justificar essa posição? (…) “As contrariedades da vida são de duas espécies (…): umas têm sua causa na vida presente, outras, não nesta vida. (…) Tal é, por exemplo, a perda de seres queridos (…); as calamidades naturais e as enfermidades de nascença (…), as deformidades (…) etc. Aqueles que nascem nessas condições seguramente não fizeram nada nesta vida para merecer uma sorte tão triste (…). “É certo que Deus não pune o bem que se faz e nem o mal que não se faz; se somos punidos, é porque fizemos o mal; se não o fizemos nesta vida, seguramente o fizemos em outra.” (A.  Kardec, O Evang. Segundo o Espiritismo. Cap. 5 – itens 3, 4 e 6).


Parece lógico, não? Porém, esta visão é parcial e enganosa. O sofrimento desta vida pode sim ser a consequência de um pecado cometido, mas NEM SEMPRE. Aceitar a doutrina do karma é crer que todas as pessoas estupradas, assassinadas, humilhadas ou exploradas estão recebendo o que merecem. E o pior: é que acreditar que Deus, invariavelmente, QUER que elas sofram. Insano!

AS CAUSAS DO SOFRIMENTO PODEM SER DIVERSAS

A questão do sofrimento é muito complexa. Na Bíblia, vemos que o sofrimento pode ter diversas causas, e o castigo por um mal feito é apenas uma entre tantas possibilidades. Uma pessoa pode sofrer por que…

1.      …está recebendo as consequências ou o castigo por suas más ações e escolhas NESTA vida (que é a única que ela tem, além da vida eterna!). Neste sentido, um exemplo bastante conhecido na Bíblia é o do Rei Davi; ele dormiu com a mulher de um de seus soldados e depois provocou a morte do homem traído. Obteve o perdão do Senhor, pois se arrependeu sinceramente, mas ainda assim teve que pagar pelos seus erros:

     Eis o que diz o Senhor: vou fazer com que se levantem contra ti males vindos de tua própria casa. (…) O Senhor perdoa o teu pecado; não morrerás. Todavia, como desprezaste o Senhor com essa ação, morrerá o filho que te nasceu. (II Samuel 12,11-14).


2.      …está sendo vítima inocente do pecado de outros homens ou da debilidade física que, mais cedo ou mais tarde, afeta qualquer ser humano (doenças, velhice, morte), seja ele inocente ou pecador.

3. …sua fé e perseverança estão sendo provadas. É o caso de Jó, que “não cometeu pecado algum” (Jó 1,22) e, ainda assim, perdeu todos os filhos, os bens e a saúde. Equivocados, seus amigos achavam que isso só poderia ser fruto dos seus pecados e dos pecados de seus filhos. Jó reafirmava a sua inocência e perguntava a Deus a razão do seu infortúnio: “…direi a Deus: Mostra-me por que razão me tratas assim” (Jó 10,2).
      
A resposta à pergunta de Jó está nas cartas de São Paulo:

…nos gloriamos até das tribulações. Pois sabemos que a tribulação produz a paciência, a paciência prova a fidelidade e a fidelidade, comprovada, produz a esperança. (Rom 5,3-4)

3.      …sofre perseguições por causa do Evangelho. Afinal, o mundo persegue aqueles que são de Cristo:

Lembrai-vos da palavra que vos disse: O servo não é maior do que o seu senhor. Se me perseguiram, também vos hão de perseguir. (Jó 15,20)

4.      …Deus a convida a se sacrificar pelo bem do próximo. O sofrimento suportado com paciência e ofertado com amor produz uma espécie de “tesouro espiritual”, que gera frutos de esperança e alegria para a Igreja e para todas as pessoas. Este é e exemplo de Jesus e de seus santos:

Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja. (Col 1,22)

5.      …por meio da sua tribulação, o Senhor deseja relevar a Sua glória ao mundo. É o caso do cego de nascença, curado por Jesus:

Caminhando, viu Jesus um cego de nascença. Os seus discípulos indagaram dele: Mestre, quem pecou, este homem ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem este pecou nem seus pais, mas é necessário que nele se manifestem as obras de Deus. (Jo 9,1-3)

Deus fez os homens para a felicidade, mas o pecado original (que nossa geração não cometeu, mas herdou) abriu as portas para o mal e para o sofrimento em geral. Porém, a causa de um sofrimento específico é sempre um mistério. Assim, é anticristão afirmar que todo sofrimento de uma pessoa é, invariavelmente, a purgação de algum mal feito por ela. Só Deus o sabe.

Ah, é bom lembrar que na doutrina católica rejeita a crença na reencarnação. Para saber mais, consulte o nosso estudo bíblico sobre os erros e heresias do espiritismo (clique aqui para baixar).

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Saiba também porque algumas pessoas nascem com deficiência física (clique aqui).
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Título original: Se correr o karma pega. Se ficar o karma come.
Subtítulo: As pessoas sofrem por que merecem?


domingo, 24 de novembro de 2013

Intercessão das almas do purgatório


Ensinamentos do Beato João Paulo II:

... Igreja do Céu, Igreja da Terra e Igreja do Purgatório estão misteriosamente unidas nesta cooperação com Cristo para reconciliar o mundo com Deus.” (Reconciliatio et poenitentia, 12)

Numa misteriosa troca de dons, eles [no purgatório] intercedem por nós e nós oferecemos por eles a nossa oração de sufrágio.”( LR de 08/11/92, p. 11)

Os nossos defuntos continuam a viver entre nós, não só porque os seus restos mortais repousam no cemitério e a sua recordação faz parte da nossa existência, mas sobretudo porque as suas almas intercedem por nós junto de Deus”. (02/11/94)

A Tradição da Igreja exortou sempre a rezar pelos mortos. O fundamento da oração de sufrágio encontra-se na comunhão do Corpo Místico... Por conseguinte, recomenda a visita aos cemitérios, o adorno dos sepulcros e o sufrágio, como testemunho de esperança confiante, apesar dos sofrimentos pela separação dos entes queridos” (LR, n. 45, de 10/11/91).

Já Santo Tomás pensa que não é possível:

Los que están en el purgatorio, aunque son superiores a nosotros por su impecabilidad, son, sin embargo, inferiores en cuanto a las penas que padecen. Según esto, no están en estado de orar por nosotros, sino más bien de que se ore por ellos.”(S. Th., II-II, q.83, a.11, ad.3)

A razão de admitir isto é:

Los que están en este mundo o en el purgatorio todavía no gozan de la visión del Verbo para que puedan conocer lo que nosotros pensamos o decimos. Y ésta es la causa de que no imploremos en nuestras oraciones sus sufragios . A los vivos, en cambio, se los pedimos en nuestras conversaciones.” (S. Th., II-II, q.83, a.4, ad.3).

Ou seja, como as almas do Purgatório não gozam da visão beatífica, não se lhes manifesta, por essa íntima união com o Verbo, as nossas petições.

Apesar disso, a Igreja não deu ainda sobre o assunto uma palavra definitiva. Outros teólogos admitem que as almas do Purgatório também intercedem por nós. Fr. Suárez e R. Belarmino admitem que é possível e lícito invocar a intercessão das almas do Purgatório. Os sínodos provinciais de Vienne (1858) e Utrecht (1865) ensinam que as almas do Purgatório podem nos ajudar com sua intercessão (Coll. I.ac. v 191, 869). Leão XIII autorizou, no ano de 1889, uma oração indulgenciada na qual se invoca a ajuda das almas do Purgatório contra os perigos do corpo e alma (ASS 22, 743 s). (Nas coleções autênticas de 1937 e 1950 não se inclui tal oração).

Temos duas hipóteses, e podemos escolher se pedimos ou não.


Nem nós como humanos temos esta visão beatífica, e contudo podemos e devemos interceder por elas, seria o mesmo caso. Santo Tomás não nega o poder de interceder dessas almas, mas sim a sua capacidade de conhecer nossas petições.

De qualquer forma, a posição contrária à de S. Tomás é dada como provável.

Se João Paulo II falou, é doutrina ao menos segura. E em face de outros teólogos, sínodos e da aprovação de Leão XIII, considera-se como sentença provável. 

A opinião de Santo Tomás é tolerada.

Os santos e Nossa Senhora como estão na presença do Senhor, consegue reconhecer nossas orações. Tomás diz o seguinte:

Os mortos, considerada sua condição natural, desconhecem o que sucede neste mundo e, sobreturdo, os movimentos interiores do coração. Mas aos bem-aventurados,, como diz São Gregório em XII Moral., se lhes manifesta no Verbo o que lhe convém conhecer de nossas coisas, e inclusive de quando se refere aos movimentos internos do coração. Contudo, o que encaixa melhor com sua excelência é que conhecem as petições a eles dirigidas de palavra ou mentalmente. E por isso se inteiram, porque Deus se lhes dá a conhecer, das petições que lhes fazemos.”(S. Th, IIaIIae, q.83, q.4, ad.2)

Quando pedimos intercessão a um santo no céu, que está na presença de Deus, o único problema é nossa oração chegar até ele (oração mal feita).

Quando pedimos intercessão a uma pessoa na terra, o problema é a oração dela chegar ao céus.

Mas se pedirmos as almas do purgatório, teremos dois problema, o de a oração chegar até lá, e da oração dele chegar até Deus.

Resumindo:

Pedido a um santo = difícil acesso (nossa oração mal feita), fácil intercessão (ele está na presença de Deus).

Pedido a uma pessoa = fácil acesso (é só falar com a pessoa), difícil intercessão (a oração dela pode ser mal feita).

Pedido a uma alma no purgatório = difícil acesso (nossa oração mal feita) e difícil intercessão (a distancia da presença de Deus, ou, pode ser mal feita a oração dela)

Só os bem-aventurados estão em estado unitivo, isto é, em união especial com a Pessoa do Verbo. E, em razão disso, conhecem o que convém conhecer, inclusive os movimentos internos do coração. Mas, no caso das almas do Purgatório, Deus pode infundir-lhes de outro modo, menos perfeito, o conhecimento de nossas petições.

Por exemplo, Onias, o sumo sacerdote, e Jeremias ainda não estavam no estado unitivo, pois estavam ainda no limbo dos patriarcas, mas Judas Macabeu teve uma visão em que eles intercediam pelo povo de Israel (2 Mac 15,12-14)

Para isso, suas almas foram dotadas, pelo poder de Deus, de uma potência superior, chamada visão beatífica, de que as almas humanas aqui na Terra não desfrutam. E, na luz da visão beatífica, têm conhecimento de todas as orações que os homens fazem na terra, pedindo sua intercessão junto a Deus.” FONTE

Esse o fundamento da resposta de Santo Tomás sobre as almas do Purgatório, pois elas não têm a visão beatífica. Mas, como vimos no que falei acima, é possível que estas também intercedam, como as almas que estavam no Limbo dos Patriarcas também intercederam:

Onias (…) estava com as mãos estendidas, INTERCEDENDO por toda a comunidade dos judeus. Apareceu a seguir um homem notável (…) Esse é aquele que MUITO ORA pelo povo e por toda cidade santa, é Jeremias, o Profeta de Deus.” (2Mac 15,12-14)

Santo Tomás não está negando que as almas possam interceder a qualquer momento uns pelos outros, e sim que as almas do Purgatório possam conhecer o momento exato dessa intercessão, ou em outras palavras, nossas petições. E se formos analisar as citações do Beato João Paulo II, estas também não tratam especificamente do fato da alma conhecer ou não as petições, mas sim de sua intercessão habitual pelos fiéis aqui da Terra.

Santa Teresa: “Tudo quanto peço a Deus por intercessão das almas do purgatório me é concedido” 

São Francisco de Salles: “No purgatório as almas estão perfeitamente conformes com a vontade de Deus. Só querem o que Deus quer.Se lhes fosse aberto o Paraíso,prefeririam precipitar-se no inferno do que apresentarem-se manchadas diante de Deus” 

 Cura dArs:  “Se soubéssemos quão grande é o poder das santas almas do purgatório e quantas graças podemos alcançar por sua intercessão não seriam elas tão esquecidas”  

Talvez as pessoas confundem as almas do Purgatórios com as 13 almas *benditas* no incêndio do edifício Joelma, que ninguém sabe se essas pessoas eram católicas ou não. Como é uma questão em aberto, tendo como base as frases dos Santos, opto na tese de que as almas do Purgatorio podem interceder por nós.

Pergunta-se: é útil recomendar-se às orações das almas do purgatório? Alguns dizem que as almas do purgatório não podem rezar por nós. São levados pela autoridade de Santo Tomás que afirma estarem aquelas almas em estado de expiação, e, por isso, inferiores a nós. Não se acham em condição de rezar por nós, mas, pelo contrário, necessitam de nossas orações.

Mas muitos outros doutores, como Belarmino, Silvio, Cardeal Gotti e outros afirmam, com muita probabilidade, que se deve crer piamente que Deus manifesta-lhes nossas orações, a fim de que aquelas santas almas rezem por nós, como nós rezamos por elas. Assim se estabelecerá entre nós e elas este belíssimo intercâmbio de de caridade. Não obsta, como dizem Silvio e Gotti, o que diz o Angélico, isto é, que as almas padecentes não se acham em estado de rezar. Uma coisa é não estar em estado de rezar e outra é não poder rezar. É verdade que aquelas almas santas não se acham em estado de orar. Como diz Santo Tomás, estando em estado de expiação, elas são inferiores a nós e por isso necessitam das nossas orações. Contudo, em tal estado, bem podem rezar, porque estão na amizade de Deus. Se um pai, apesar de seu grande amor ao seu filho, conserva-o encarcerado por alguma falta cometida, o filho, em todo o caso, não está em condições de pedir alguma coisa para si mesmo. Entretanto, por que não poderá pedir pelos outros? Por que não poderá esperar ser atendido no que pede, conhecendo o afeto que lhe tem o pai? Sendo assim, as almas do purgatório, muito mais amadas de Deus e confirmadas em graça, podem rezar por nós. Mas não é costume da Igreja invocá-las e implorar sua intercessão, porque segundo a providência ordinária, elas não têm conhecimento de nossas súplicas. Todavia, acredita-se piamente, como dissemos, que o Senhor lhes faz conhecer as nossas preces e, então, cheias de caridade não deixam de pedir por nós.


Santa Catarina de Bolonha, quando desejava alcançar alguma graça, recorria às almas do purgatório e era imediatamente atendida. Até dizia que muitas graças, que não havia obtido pela intercessão dos santos, conseguia invocando as almas do purgatório.”(Santo Afonso de Ligório, A Oração, C. I, n. 16)
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No Angelus, Francisco lembra o Holomodor, maior tragédia da História da Ucrânia.


ANGELUS
Praça São Pedro – Vaticano
Domingo, 24 de novembro de 2013


Antes de concluir esta celebração, desejo saudar todos os peregrinos, as famílias, os grupos paroquiais, as associações e os movimentos, vindos de tantos países. Saúdo os participantes do Congresso nacional da Misericórdia; saúdo a comunidade ucraniana, que recorda o 80º aniversário do Holodomor, a “grande fome” provocada pelo regime soviético que causou milhões de vítimas.

Neste dia, o nosso pensamento grato vai aos missionários que, ao longo dos séculos, anunciaram o Evangelho e espalharam a semente da fé em tantas partes do mundo; entre estes o Beato Junípero Serra, missionário franciscano espanhol, do qual recorre o centenário de nascimento.


Não quero terminar sem um pensamento a todos aqueles que trabalharam para levar adiante este Ano da Fé. Dom Rino Fisichella, que guiou este caminho: agradeço-lhe tanto, de coração, a ele e a todos os seus colaboradores. Muito obrigado!

Agora rezemos juntos o Angelus. Com esta oração, invoquemos a proteção de Maria especialmente para os nossos irmãos e as nossas irmãs que são perseguidos por causa de sua fé, e são tantos!

Angelus Domini…

Agradeço-vos pela vossa presença nesta celebração. Desejo-vos um bom domingo e bom almoço.
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Fonte: Boletim da Santa Sé

Tradução:Jéssica Marçal

Assinada a "A Alegria do Evangelho", primeira Exortação de Francisco


Na missa conclusiva do Ano da Fé, domingo, 24, Francisco fez a entrega simbólica de sua primeira Exortação Apostólica, ‘Evangelii gaudium’ (A Alegria do Evangelho).

De forma simbólica, o texto foi entregue 36 pessoas de 18 países: um bispo, um sacerdote e um diácono; além de religiosas, seminaristas, catequistas, uma família, um homem com deficiência visual (que recebeu uma versão em CD), jovens, confrarias e movimentos eclesiais. O grupo foi escolhido para evocar cada evento do Ano da Fé realizado no Vaticano.

Além destes representantes, foram também convidados dois jornalistas e dois artistas, para evidenciar “o valor da beleza como forma privilegiada de evangelização”.

A "Evangelii Gaudium", segundo o Presidente do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização, Dom Rino Fisichella, contém “uma missão que é confiada a cada pessoa batizada para se tornar evangelizador”. 

Depois da Encíclica "Lumen Fidei", publicada no início de julho, assinada por Francisco, mas escrita a ‘quatro mãos’ com Bento XVI, este é o segundo grande documento do Papa argentino.

A Exortação traz as recomendações emersas no Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização, realizado no Vaticano em outubro do ano passado, mas segundo antecipado pelo Vaticano, “terá um âmbito mais vasto”. O documento será apresentado segunda-feira, 25, à imprensa, mas a divulgação está autorizada somente a partir de terça-feira, 26 de novembro.

Na conclusão de seu encontro com os fiéis, este domingo, 24, o Papa fez uma saudação especial a todos os que trabalharam na realização do Ano da Fé:



“Uma saudação e um agradecimento de coração a Dom Rino Fisichella, que conduziu este caminho. Agradeço-lhe muito, e também a seus colaboradores”, disse Francisco. Dom Fisichella foi o responsável pela coordenação de todo o programa de eventos do Ano da Fé. 
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"Cristo: centro da criação, do povo e da história". O Papa encerra o Ano da Fé


SANTA MISSA NA CONCLUSÃO DO ANO DA FÉ
NA SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Praça de São Pedro
Domingo, 24 de Novembro de 2013


A solenidade de Cristo Rei do universo, que hoje celebramos como coroamento do ano litúrgico, marca também o encerramento do Ano da Fé, proclamado pelo Papa Bento XVI, para quem neste momento se dirige o nosso pensamento cheio de carinho e de gratidão por este dom que nos deu. Com esta iniciativa providencial, ele ofereceu-nos a oportunidade de redescobrirmos a beleza daquele caminho de fé que teve início no dia do nosso Baptismo e nos tornou filhos de Deus e irmãos na Igreja; um caminho que tem como meta final o encontro pleno com Deus e durante o qual o Espírito Santo nos purifica, eleva, santifica para nos fazer entrar na felicidade por que anseia o nosso coração.

Desejo também dirigir uma cordial e fraterna saudação aos Patriarcas e aos Arcebispos Maiores das Igrejas Orientais Católicas, aqui presentes. O abraço da paz, que trocarei com eles, quer significar antes de tudo o reconhecimento do Bispo de Roma por estas Comunidades que confessaram o nome de Cristo com uma fidelidade exemplar, paga muitas vezes por caro preço.

Com este gesto pretendo igualmente, através deles, alcançar todos os cristãos que vivem na Terra Santa, na Síria e em todo o Oriente, a fim de obter para todos o dom da paz e da concórdia.


As Leituras bíblicas que foram proclamadas têm como fio condutor a centralidade de Cristo: Cristo está no centro, Cristo é o centro. Cristo, centro da criação, do povo e da história.

1.  O Apóstolo Paulo, na segunda Leitura tirada da Carta aos Colossenses, dá-nos uma visão muito profunda da centralidade de Jesus. Apresenta-O como o Primogénito de toda a criação: n’Ele, por Ele e para Ele foram criadas todas as coisas. Ele é o centro de todas as coisas, é o princípio: Jesus Cristo, o Senhor. Deus deu-Lhe a plenitude, a totalidade, para que n’Ele fossem reconciliadas todas as coisas (cf. 1, 12-20). Senhor da criação, Senhor da reconciliação.

Esta imagem faz-nos compreender que Jesus é o centro da criação; e, portanto, a atitude que se requer do crente – se o quer ser de verdade - é reconhecer e aceitar na vida esta centralidade de Jesus Cristo, nos pensamentos, nas palavras e nas obras. uando se peE, assim, os nossos pensamentos serão pensamentos cristãos, pensamentos de Cristo. As nossas obras serão obras cristãs, obras de Cristo, as nossas palavras serão palavras cristãs, palavras de Cristo. Diversamente, qrde este centro, substituindo-o por outra coisa qualquer, disso só derivam danos para o meio ambiente que nos rodeia e para o próprio homem.

2.    Além de ser centro da criação e centro da reconciliação, Cristo é centro do povo de Deus. E hoje mesmo Ele está aqui, no centro da nossa assembleia. Está aqui agora na Palavra e estará aqui no altar, vivo, presente, no meio de nós, seu povo. Assim no-lo mostra a primeira Leitura, que narra o dia em que as tribos de Israel vieram procurar David e ungiram-no rei sobre Israel diante do Senhor (cf. 2 Sam 5, 1-3). Na busca da figura ideal do rei, aqueles homens procuravam o próprio Deus: um Deus que Se tornasse vizinho, que aceitasse caminhar com o homem, que Se fizesse seu irmão.

Cristo, descendente do rei David, é precisamente o «irmão» ao redor do qual se constitui o povo, que cuida do seu povo, de todos nós, a preço da sua vida. N’Ele, nós somos um só; um só povo unido a Ele, partilhamos um só caminho, um único destino. Somente n’Ele, n’Ele por centro, temos a identidade como povo.

3.   E, por último, Cristo é o centro da história da humanidade e também o centro da história de cada homem. A Ele podemos referir as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias de que está tecida a nossa vida. Quando Jesus está no centro, até os momentos mais sombrios da nossa existência se iluminam: Ele dá-nos esperança, como fez com o bom ladrão no Evangelho de hoje.

Enquanto todos os outros se dirigem a Jesus com desprezo – «Se és o Cristo, o Rei Messias, salva-Te a Ti mesmo, descendo do patíbulo!» –, aquele homem, que errou na vida, no fim agarra-se arrependido a Jesus crucificado suplicando: «Lembra-Te de mim, quando entrares no teu Reino» (Lc 23, 42). E Jesus promete-lhe: «Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso» (23, 43): o seu Reino. Jesus pronuncia apenas a palavra do perdão, não a da condenação; e quando o homem encontra a coragem de pedir este perdão, o Senhor nunca deixa sem resposta um tal pedido. Hoje todos nós podemos pensar na nossa história, no nosso caminho.

Cada um de nós tem a sua história; cada um de nós tem também os seus erros, os seus pecados, os seus momentos felizes e os seus momentos sombrios. Neste dia, far-nos-á bem pensar na nossa história, olhar para Jesus e, do fundo do coração, repetir-lhe muitas vezes – mas com o coração, em silêncio – cada um de nós: «Lembra-Te de mim, Senhor, agora que estás no teu Reino! Jesus, lembra-Te de mim, porque eu tenho vontade de me tornar bom, mas não tenho força, não posso: sou pecador, sou pecadora. Mas lembra-Te de mim, Jesus! Tu podes lembrar-Te de mim, porque Tu estás no centro, Tu estás precisamente no teu Reino!». Que bom! Façamo-lo hoje todos, cada um no seu coração, muitas vezes: «Lembra-Te de mim, Senhor, Tu que estás no centro, Tu que estás no teu Reino!»


A promessa de Jesus ao bom ladrão dá-nos uma grande esperança: diz-nos que a graça de Deus é sempre mais abundante de quanto pedira a oração. O Senhor dá sempre mais – Ele é tão generoso! –, dá sempre mais do que se Lhe pede: pedes-Lhe que Se lembre de ti, e Ele leva-te para o seu Reino! Jesus é precisamente o centro dos nossos desejos de alegria e de salvação. Caminhemos todos juntos por esta estrada!
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Fonte: Santa Sé

Viva Cristo Rei!


Sabe-se que a Igreja encerra seu Ano Litúrgico com a Solenidade Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. No entanto, poucos se dão conta de que se trata de uma festa relativamente recente, pois só foi instituída em 1925, portanto há menos de cem anos.

Mas o que levou o papa Pio XI a dedicar a primeiríssima encíclica de seu pontificado à criação de uma festa de Cristo Rei? (cf. carta encíclica Quas primas, 11/12/1925).

No início do século XX, o mundo, que ainda estava se recuperando da Primeira Guerra Mundial, fora varrido por uma onda de secularismo e de ódio à Igreja, como nunca visto na história do Ocidente. O fascismo na Itália, o nazismo na Alemanha, o comunismo na Rússia, a revolução maçônica no México, anti-clericalismos e governos ditatoriais grassavam por toda parte.

É neste contexto que, sem medo de ser literalmente “politicamente incorreto”, o papa Pio XI institui uma festa litúrgica para celebrar uma verdade de nossa fé: mesmo em meio a ditaduras e perseguições à Igreja, Nosso Senhor Jesus Cristo continua a reinar, soberano, sobre toda a história da humanidade.


Recordar que Jesus é Rei do Universo foi um gesto de coragem do Santo Padre. Com as revoluções que se seguiram ao fim do primeiro conflito mundial, em 1917, o título de Cristo Rei tornara-se um tanto impopular. Se o Papa tivesse exaltado Jesus como profeta, mestre, curador de enfermos, servo humilde, vá lá! Qualquer outro título teria sido mais aceitável. Mas Cristo Rei?!…


Mesmo assim, nadando contra a correnteza e se opondo ao secularismo ateu e anti-clerical, o Vigário de Cristo na terra instituiu esta solenidade para nos recordar que todas as coisas culminam na plenitude do Cristo Senhor: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim de todas as coisas” (Ap 1, . É necessário reavivar a fé na restauração e na reparação universal realizadas em Cristo Jesus, Senhor da vida e da história.