quarta-feira, 5 de março de 2014

Guia de votação para os católicos


Este Guia oferece declarações claras e concisas acerca de cinco assuntos morais inegociáveis. Ao terminar de lê-lo, não restará dúvida ou confusão a respeito do ensino da Igreja, sobre o que ela exige de seus filhos.

Nenhuma parte deste Guia deverá ser interpretada como apoio para algum candidato ou partido político.

Como este guia do eleitor pode ajudá-lo?

Este Guia do Eleitor o ajudará a votar de modo consciente, fundamentado no ensino moral católico. Este Guia o auxiliará a eliminar aqueles candidatos que apóiam políticas irreconciliáveis com as normas de moralidade sustentadas por todo cristão.

Face à maioria dos temas apresentados pelos candidatos e legisladores, os católicos podem favorecer um ou outro, sem ter que agir contra a sua fé. Com efeito, a maioria dos assuntos não necessita de uma “postura católica”.

Porém, alguns assuntos são tão importantes, tão fundamentais, que apenas uma única ação pode estar de acordo com o ensino do evangelho cristão. Ninguém que defenda uma postura incorreta nesses assuntos pode dizer que age segundo as normas morais da Igreja.

Este Guia do Eleitor identifica os cinco assuntos “inegociáveis” e o ajuda a chega numa lista de candidatos aceitáveis, que postulam um cargo político, seja a nível nacional, estatal ou municipal.

Os candidatos que respaldarem qualquer dos cinco assuntos inegociáveis, devem ser considerados desqualificados para o desempenho de cargo público e, portanto, não devem receber o seu voto. Assim, você deverá fazer a sua escolha entre os candidatos restantes.

Seu papel como eleitor católico

Os católicos têm a obrigação moral de promover o bem comum ao exercer o seu privilégio de voto (cf. CIC, §2240). As autoridades civis não são as únicas responsáveis pelo país. “O serviço do bem comum exige dos cidadãos que cumpram com a sua responsabilidade na vida da comunidade pública” (CIC, §2239). Isto significa que os cidadãos devem participar do processo político na urna de votação.

Porém, a votação não pode ser arbitrária. “A consciência cristã bem formada não permite a alguém favorecer com o próprio voto a concretização de um programa político ou a aprovação de uma lei particular que contenham propostas alternativas ou contrárias aos conteúdos fundamentais da fé e da moral” (CVP nº 4).

Algumas questões sempre estarão erradas e ninguém poderá votar a favor delas direta ou indiretamente. Os cidadãos votam a favor desses males quando votam nos candidatos que se propõem a promovê-los. Portanto, os católicos não devem votar a favor de alguém que promove programas ou leis intrinsecamente más.


Os cinco assuntos inegociáveis

Estes cinco assuntos são chamados inegociáveis porque contêm atos que sempre são moralmente maus e nunca podem ser promovidos pela lei. É pecado grave defender ou promover qualquer destes atos e nenhum candidato que verdadeiramente deseja fomentar o bem comum pode apoiar estes cinco assuntos inegociáveis:

1.            O Aborto

Sobre uma lei que permite o aborto, a Igreja ensina que “nunca é lícito submeter-se a ela, nem participar em uma campanha de opinião a favor de uma lei semelhante, nem dar-lhe o sufrágio do próprio voto” (EV nº 73). O aborto é o assassinato intencional de um ser humano inocente e, portanto, é uma espécie de homicídio.

A criança sempre é parte inocente e nenhuma lei pode permitir que lhe seja tirada a vida. Mesmo quando uma criança é concebida em razão de estupro ou incesto, a criança não tem culpa e não deve sofrer a morte pelo pecado dos outros.

2.            A Eutanásia

Às vezes disfarçada sob a denominação de “morte misericordiosa”, a eutanásia é uma forma de homicídio. Ninguém tem o direito de tirar sua própria vida (suicídio) e ninguém tem o direito de tirar a vida de uma pessoa inocente.

Com a eutanásia, os doentes e os idosos são assassinados sob um sentido de compaixão mal fundamentado, pois a verdadeira compaixão não pode incluir o cometimento de atos intrinsecamente maus contra outra pessoa (cf. EV nº 73).

3.            As Pesquisas com Células Estaminais Fetais

Os embriões humanos são seres humanos. “O respeito pela dignidade do ser humano exclui toda manipulação experimental ou exploração do embrião humano” (CDF nº 4b).
Os recentes avanços científicos demonstram que qualquer cura que possa resultar dos experimentos com células estaminais fetais pode também ser desenvolvida a partir do uso de células estaminais adultas. As células estaminais adultas podem ser obtidas sem causar mal aos adultos das quais provêem. Portanto, já não existe um argumento médico favorável ao uso das células estaminais fetais.

4.            A Clonagem Humana

“As tentativas… para se obter um ser humano sem conexão alguma com a sexualidade, mediante ‘fissão gemelar’, clonagem, partenogênesis, devem ser consideradas contrárias à moral, porque estão em contraste com a dignidade tanto da procriação humana como da união conjugal” (RVH 1,6).

A clonagem humana também acaba sendo uma forma de homicídio porque destrói o clone “rejeitado” ou “fracassado”; no entanto, cada clone é um ser humano.

5.            O “Matrimônio” Homossexual

O verdadeiro matrimônio é a união entre um homem e uma mulher. O reconhecimento legal de qualquer outra forma de “matrimônio” menospreza o verdadeiro matrimônio e o reconhecimento legal das uniões homossexuais na realidade causa dano aos homossexuais, pois os anima a continuar vivendo sob um acordo objetivamente imoral.

“No caso de uma Assembléia Legislativa propor pela primeira vez um projeto de lei a favor da legalização das uniões homossexuais, o parlamentar católico tem o dever moral de expressar clara e publicamente seu desacordo e votar contra o projeto de lei. Conceder o sufrágio do próprio voto a um texto legislativo tão nocivo ao bem comum da sociedade é um ato gravemente imoral” (UPH nº 10).

Com quais cargos políticos devo me preocupar?

As leis são aprovadas pelo Legislativo, o Executivo as faz cumprir e o Judiciário as interpreta. Isto quer dizer que você deve se preocupar com qualquer candidato ao Legislativo, ou qualquer um que se apresente como candidato ao Poder Executivo e, [nos países onde for cabível] os que se candidatam à magistratura. E isto não apenas em nível nacional, mas também estadual e municipal.

É certo que, quando o cargo é inferior, há menor probabilidade do candidato apoiar certas causas. Por exemplo, é possível que a Câmara Municipal jamais discuta o tema da clonagem humana. Porém, é muitíssimo importante avaliar cada candidato antes das eleições, sem importar o cargo que está disputando.

Poucas pessoas alcançam um alto posto sem ter ocupado um cargo menor. Algumas poucas pessoas se convertem em deputados, em senadores ou presidentes sem ter sido antes eleitas para um cargo menor. Porém, a maioria dos deputados, senadores e presidentes começaram sua carreira política em nível local. O mesmo ocorre com os deputados estaduais; muitos deles começaram nas Câmaras Municipais e associações de bairro, galgando aos poucos a carreira política.

Os candidatos que futuramente postularão cargos superiores procederão principalmente dos atuais candidatos a cargos menores. Por isso, é prudente empregar os mesmos princípios para os candidatos municipais como para os estaduais e federais.

Se os candidatos que estão equivocados nos cinco assuntos inegociáveis fracassarem na eleição para os cargos menores, talvez não postularão cargos superiores. Isto facilitaria a eleição dos melhores candidatos para os postos de maior influência em nível estadual e nacional.

Como determinar a postura de um candidato

1.            Isto poderá se conseguir com maior facilidade quanto mais importante for o cargo. Por exemplo: apresentar estes assuntos [inegociáveis] aos deputados e senadores e determinar sua postura. O mesmo podemos fazer em nível estadual. Em ambos os casos, conhecer a postura de um candidato pode ser fácil ao ler artigos em jornais e revistas, buscar suas opiniões na Internet ou avaliar suas propostas impressas e distribuídas durante o período eleitoral.

2.            Um pouco mais difícil é conhecer as opiniões dos candidatos aos cargos municipais, porque poucos deles tiveram a oportunidade de considerar a legislação sobre temas como o aborto, a clonagem e a santidade do matrimônio. Porém, estes candidatos, por serem locais, freqüentemente podem ser contatados diretamente ou mantêm comitês eleitorais onde poderão explicar sua postura perante estes temas.

3.            Se não for possível determinar a postura do candidato por outros meios, não hesite em escrever-lhe diretamente e perguntar-lhe qual a sua posição sobre cada um dos assuntos inegociáveis.

Como não se deve votar

1. Não confie seu voto apenas à sua filiação partidária, em seus anteriores hábitos de votação ou na tradição familiar de voto. Há alguns anos, estas eram formas confiáveis para determinar em quem se poderia votar, mas hoje não são mais confiáveis. Deve-se olhar cada candidato como um indivíduo. Isto significa que você pode votar em candidatos de partidos distintos.

2. Não vote pela aparência ou personalidade do candidato ou por sua astúcia perante os meios de comunicação. Alguns desses candidatos atraentes, agradáveis e que dizem o que convém apóiam males intrínsecos quando deveriam se opor a eles, enquanto que outros candidatos, que parecem simples, cansados ou incomodados pelas câmaras defendem leis que estão de acordo com os princípios cristãos.

3.            Não vote em candidatos apenas porque se declaram católicos. Infelizmente, muitos dos candidatos que se dizem católicos rejeitam os ensinamentos básicos da moral católica. Eles apenas são “católicos” porque querem o voto dos católicos.

4.            Não selecione os candidatos baseando-se apenas no pensamento: “O que vou ganhar?”. Tome sua decisão optando pelos candidatos que pareçam mais dispostos a promover o bem comum, ainda que você não se beneficie direta ou imediatamente do ordenamento legal que propõem.


5.            Não premie com seu voto os candidatos que estejam corretos em assuntos menos importantes, mas que estão equivocados em assuntos morais fundamentais. Pode ser que um candidato adquira uma certa consideração por ter votado exatamente como você deseja, embora já tenha votado a favor – digamos – da eutanásia. Tal candidato jamais deve receber o seu voto. Os candidatos devem saber que estar equivocado em um dos cinco assuntos inegociáveis é suficiente para excluí-los da sua consideração.

Como votar

1.            Para cada cargo, determine primeiro a posição que cada candidato possui em cada um dos cinco assuntos inegociáveis.

2.            Elimine da sua relação os candidatos que estiverem equivocados em qualquer um dos assuntos inegociáveis. Não importa que tenham razão em outros assuntos; devem ser desprezados se estiverem equivocados em um só dos não negociáveis.

3.            Escolha entre os candidatos restantes, baseando-se no seu juízo sobre as posições de cada candidato em outros assuntos de menor importância.

Quando não há um candidato “aceitável”

Em alguns debates públicos, cada candidato assume uma postura equivocada em um ou mais assuntos inegociáveis. Nesse caso, você pode votar no candidato que assuma menos posturas incorretas; ou que pareça ser mais incapaz para fazer avançar a legislação imoral; ou pode, ainda, não votar em ninguém.

O papel da sua consciência

A consciência é como um alarme: o adverte quando está a ponto de cometer algum erro. Ela apenas não determina o que é bom ou mau. Para que a sua consciência funcione corretamente, deve estar bem informada. Ou seja, você deve se informar sobre o que é bom e o que é mau. Só assim sua consciência será um guia confiável.

Infelizmente, muitos católicos hoje em dia não formaram suas consciências adequadamente sobre os assuntos fundamentais da moralidade. O resultado é que suas consciências não disparam nos momentos apropriados, inclusive no dia das eleições.

Uma consciência bem formada jamais contradiz o ensino moral católico. Por essa razão, se você tem dúvidas sobre o caminho que deve trilhar a sua consciência no momento de votar, ponha sua confiança no firme ensino moral da Igreja (o Catecismo da Igreja Católica é uma excelente fonte de ensino moral autêntico).

Quando acabar de ler este Guia do Eleitor

Por favor, não pare com a simples leitura deste Guia. Leia-o, aprenda com ele e prepare a sua seleção de candidatos baseado nele. Em seguida, forneça este Guia do Eleitor a um amigo e peça-lhe que o leia e o repasse a outros. Quanto mais pessoas votarem de acordo com os princípios morais básicos, melhor será o nosso país.
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Abreviações:

CIC – Catecismo da Igreja Católica
CVP – Congregação para a Doutrina da Fé: Nota doutrinal sobre algumas questões relativas ao compromisso e a conduta dos católicos na vida política.
CDF – Pontifício Conselho para a Família: Carta dos Direitos da Família.
EV – João Paulo II: Carta Encíclica Evangelium Vitae (O Evangelho da Vida)
RVH – Congregação para a Doutrina da Fé: Instrução acerca do respeito da vida humana nascente e dignidade da procriação.
UPH – Congregação para a Doutrina da Fé: Considerações acerca dos projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais
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[Fonte: Apostolado Veritatis Splendor: Guia do eleitor católico. Disponível em http://www.veritatis.com.br/doutrina/doutrina-social/926-guia-do-eleitor-catolico, desde 07 Outubro 2010; tradução:Carlos Martins Nabeto, Revisão TS].
 Disponível em: ZENIT

(05 de Março de 2014) © Innovative Media Inc.

É possível sair do satanismo?


Existem sinais que permitem supor que uma pessoa se envolveu em ambientes satânicos, mas é possível sair desses círculos, sim. De qualquer maneira, a responsabilidade dos pais de família é crucial.
São alertas publicados na revista italiana “Famiglia Cristiana”, cujas páginas fazem um percurso pelos aspectos médicos e religiosos do fenômeno, oferecendo também testemunhos.

Psiquiatra e presidente da Associação de Psicólogos e Psiquiatras Católicos, o professor Tonino Cantelmi reconhece na revista: “Em uma pesquisa, descobrimos que 1 de cada 10 adolescentes italianos corre o risco de cair no fenômeno do satanismo”.

Em sua opinião, é uma porcentagem grande, mas há outro dado mais dramático: uma porcentagem enorme de jovens entrevistados declarou que, se Satanás pudesse lhes dar riqueza e poder, não hesitariam em aliar-se a ele.
O especialista é coautor (com a psicoterapeuta Cristina Cacace) de “O livro negro do satanismo” (“Il libro nero del satanismo”, Ed. San Paolo).
Ele advertiu sobre a invasão da cultura satânica no mundo inteiro, em livros, revistas, sites, cinema. E destaca: o satanismo “não é ausência de valores (se fosse, seria mais fácil combatê-lo), mas um contravalor, uma afirmação do valor moral do mal”.
Disse também que a expansão dos grupos satânicos é consequência da falta de valores fortes que as famílias já não transmitem porque os pais não assumem mais seu papel de educadores”. 

domingo, 2 de março de 2014

Fraternidade e tráfico humano


No dia 5 de março, em todas as paróquias do Brasil vai ser lançada a Campanha da Fraternidade com o tema “Fraternidade e tráfico humano”. Entre os objetivos está o de conscientizar a sociedade sobre a insensatez do tráfico de pessoas e sobre a sua realidade. Conforme a CNBB, o problema é difícil de ser enfrentado por causa do preconceito e do medo das vítimas, fazendo com que poucas pessoas denunciem os fatos do tráfico.

O período forte da Campanha da Fraternidade é a quaresma, que inicia na quarta-feira de cinzas e termina na Semana Santa. O convite é a conversão em vista de uma melhor vivência do evangelho. É o que expressamos no momento da imposição das cinzas, quando o ministro diz: “Convertei-vos e crede no Evangelho”!

A problemática do tráfico humano se manifesta na exploração do trabalho escravo, na prostituição, na adoção ilegal de crianças e na venda de órgãos para o transplante. O Texto Base da CNBB diz que dentre os meios usados para o tráfico de pessoas, o mais comum é o aliciamento. “A pessoa é abordada com uma oferta irrecusável, que lhe promete melhorar de vida”. Os traficantes recrutam pessoas “para atividades como modelos, talentos para o futebol, babás, enfermeiras, garçonetes, dançarinas ou para trabalhar como cortador de cana, pedreiro, peão, carvoeiro, etc.”


O tráfico humano gera uma grande renda aos traficantes, razão pela qual consegue se cercar de diversos profissionais que falsificam documentos, organizam o transporte e a hospedagem das pessoas e subornam as polícias. Se não fosse um negócio lucrativo, não teria êxito. Por isso, a CNBB afirma que “é na idolatria do dinheiro que se encontra a origem do tráfico humano”.

Como cristãos, estamos cientes de que, conforme reza o lema da Campanha da Fraternidade, “é para a liberdade que Cristo nos libertou”. Nenhum ser humano pode ser submetido à exploração ou à escravidão, uma vez que são atentados contra a dignidade da pessoa humana.

Uma das nossas maiores riquezas é a liberdade, e esta é tirada da pessoa quando aliciada pelo tráfico. A Igreja quer ajudar a proteger a liberdade das pessoas e libertar aquelas que foram raptadas ou coagidas pelas falsas promessas do tráfico humano.

Dom Canísio Klaus
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

Carnaval cristão?


Apesar de o Brasil ser um dos grandes “focos” das festividades de carnaval, a origem da festividade é grega. A festa, que surgiu em meados dos anos 600 a 520 a.C., foi adotada pela Igreja Católica no ano de 590 d.C., orientada pelo ano lunar e marcada pelo “adeus à carne”, em latim “carne vale”, que gerou o termo “carnaval”. 

O acréscimo das fantasias e desfiles, parte do carnaval moderno, surgiu no século XIX. A principal cidade que festejava o carnaval com fantasias, o que levou a ser uma “tendência” para as outras, foi Paris. Mas o Rio de Janeiro criou os famosos desfiles de escolas de samba como um estilo próprio de festejar o carnaval, inspirando assim outras cidades como São Paulo, Tóqui e Helsínquia (capital da Finlândia). Segundo o Guinness World Record, o Rio de Janeiro possui o “Maior Carnaval do Mundo”.

Antecedendo os quarenta dias de jejum propostos pela Igreja Católica como período de penitência pessoal em preparação para a Semana Santa, a festa em geral tem duração de três dias e é finalizada com a Quarta-Feira de Cinzas. O carnaval contrasta com a Quaresma; é chamado o período “gordo” que precede o tempo de penitência.

Faz sentido comemorar o carnaval hoje em dia?


Hoje, o carnaval é comemorado como uma festa a mais do calendário, sem a relação com a Quaresma, que lhe dava sentido; só mantém as datas, mas não segue os motivos de antes.
Qual é a origem desta festa? Como ela foi se modificando? Que sentido tem hoje? É positivo comemorá-la? Quem conversa sobre este tema com a Aleteia é o professor de História Moderna Jesús María Usunáriz, da Universidade de Navarra.

Qual é a origem do carnaval?

É comum ouvir que sua origem se perdeu na noite dos tempos. Mas, se nos baseamos nos testemunhos, vemos que os romanos já celebravam as “saturnalias”, festas semelhantes às que conhecemos como carnaval.

Há muitos precedentes do carnaval, mas, assim como ele é entendido hoje, está inserido em uma cultura cristã, responde a certas características do mundo ocidental cristão.

Desconhecemos a data exata em que o carnaval teria começado assim, o que corresponde a uma determinada forma de entender o calendário anual. Em concreto, vem de um período que vai do final do Natal até o início da Quaresma, a Quarta-Feira de Cinzas.


De onde vem esta palavra?

Carnaval” parece ter relação etimológica com a palavra “carne” e se refere ao momento prévio ao período de jejum e proibição de comer carne da Quaresma.

Como sua comemoração foi se transformando?

O carnaval, como conhecemos hoje, está muito estendido por todos os povos do Ocidente. Os costumes são muito similares em todos os casos. Há dias especiais até chegar à terça-feira de carnaval.

Desde os séculos XVI, XVII e XVIII, houve tentativas cada vez mais claras de controlar as manifestações de carnaval, por considerarem que ele envolve uma série de excessos que precisariam ser controlados. No século XIX, ele continua sendo comemorado, mas houve épocas em que foi taxativamente proibido.

Papa Francisco: o nosso modelo de “catolicismo evangélico”


O papa Francisco é um “católico evangélico”? Primeiro, temos que definir os termos: "evangélico", em seu sentido mais simples, se refere à "boa nova", que é o significado da palavra grega “evangelos”. Os autores dos evangelhos são chamados de "evangelistas" porque registraram por escrito a “boa nova”, o “evangelho”, de Jesus Cristo. O evangelho de Marcos começa explicando: "Início da boa nova de Jesus Cristo, o Filho de Deus".
 
No entanto, a palavra "evangélico" também é usada, hoje, para se referir aos protestantes que defendem uma compreensão conservadora (e às vezes anticatólica) da fé cristã. Os protestantes evangélicos são conhecidos pela devoção simples a Jesus Cristo, pelo zelo na difusão do evangelho e pela alegria em comunicar a mensagem básica do cristianismo ao mundo.

 
O papa Francisco é um católico evangélico. Sua amizade com o bispo Tony Palmer é uma indicação de zelo evangélico do papa e do seu interesse e aceitação dos cristãos evangélicos. O bispo inglês Tony Palmer pertence à Comunhão das Igrejas Evangélicas Episcopais. Palmer e Bergoglio se tornaram amigos quando o inglês era missionário da sua igreja na Argentina. Recentemente, Tony Palmer foi convidado a se encontrar com seu velho amigo, agora papa Francisco. Palmer contou a sua história e apresentou uma mensagem do papa Francisco gravada em vídeo para um grupo de líderes pentecostais do Texas, nos EUA.



Em sua mensagem, o papa cumprimentou calorosamente os evangélicos americanos, reconhecendo o amor por Jesus Cristo, que compartilhamos, e a necessidade de compartilharmos a boa nova com o mundo. Francisco reafirmou as próprias credenciais como católico evangélico. O livro “Catolicismo Evangélico”, de George Weigel, oferece uma boa descrição desse modo de viver a fé. Simplificando: o catolicismo evangélico une as riquezas de dois mil anos de religião católica com o zelo missionário básico, a mensagem simples do evangelho e o ministério social ativo dos evangélicos.
 
O catolicismo evangélico é "mais cristianismo", não apenas "mero cristianismo". Ele reúne as belezas do culto católico tradicional com uma compreensão histórica da fé. Ele se enraíza na erudição bíblica animada por uma mensagem social relevante e pelo ministério ativo na comunidade.

 
O bispo Tony Palmer declarou, em seu discurso aos líderes evangélicos do Texas, que ele "queria tudo": ele queria afirmar a plenitude da fé católica, mas também o zelo ardente dos carismáticos, os sonoros entendimentos bíblicos dos "crentes na bíblia" e o amor dos evangélicos pelo compartilhamento do evangelho. E perguntou aos pentecostais reunidos: "Vocês não querem Jesus mais ainda? Você não querem tudo?".
 
Eu entendo Tony Palmer porque vivi a mesma jornada. Criado em um larevangélico norte-americano, eu procurei a Igreja histórica e me tornei anglicano. Este passo me aproximou do catolicismo e acabei recebido na plena comunhão da Igreja católica. Ao trilhar essa estrada, eu afirmei toda a plenitude da fé na Igreja católica e todas as coisas boas das tradições evangélica e anglicana ao mesmo tempo. Eu não neguei as coisas boas da minha experiência evangélica e anglicana, mas, ao me tornar católico, afirmei mais ainda.

 
O catolicismo evangélico reúne três grandes correntes da vida contemporânea da Igreja: a bíblica, a carismática e a litúrgica. Elas podem ser vistas como representantes da mente, do espírito e do corpo. No catolicismo evangélico, as atividades intelectuais da teologia e da erudição bíblica são equilibradas com a fervorosa devoção e espiritualidade dos carismáticos. Estas duas dimensões são equilibradas e levadas a um nível mais profundo da experiência humana pela estabilidade da liturgia. Da mesma forma, a liturgia é aprofundada pela pregação forte, sonora e animada pela oração e pela adoração no Espírito.

 
Essas três vertentes da nossa experiência cristã são vitalmente necessárias se queremos viver a plenitude da fé cristã. Nossa cabeça, nosso coração e nosso corpo precisam estar engajados com a nossa fé. Temos que pensar, sentir e agir no mundo para ser plenamente vivos em Cristo.


 
As três características são visíveis no ministério do papa Francisco. Sua vida está enraizada na liturgia e na oração da Igreja, mas também se fundamenta na teologia e na escritura sagrada. E essas duas dimensões são vividas em seu ministério público vibrante, que proclama um evangelho radical e vive a mensagem da boa nova do amor de Deus em um mundo às escuras e profundamente necessitado.
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Fonte: Aleteia

Um ano do adeus ao Papa Bento XVI


O dia 28 de fevereiro de 2013 ficou marcado no coração daqueles que, após a renúncia de Bento XVI, acompanharam pelos meios de comunicação a comitiva que o conduziu ao Palácio Pontifício de Castel Gandolfo, onde permaneceu um tempo. Os portões da residência papal se fechando, os aplausos dos fiéis presentes, as últimas palavras do Sumo Pontífice na janela e sua última bênção como Papa fizeram daquele dia um marco na história.

“Já não sou Sumo Pontífice da Igreja Católica: até às oito horas da noite, ainda o sou; depois já não. Sou simplesmente um peregrino que inicia a última etapa da sua peregrinação nesta terra. Mas quero ainda, com o meu coração, o meu amor, com a minha oração, a minha reflexão, com todas as minhas forças interiores, trabalhar para o bem comum, o bem da Igreja e da humanidade. E sinto-me muito apoiado pela vossa simpatia. Unidos ao Senhor, vamos para diante a bem da Igreja e do mundo. Obrigado!”, disse Bento XVI na sacada da residência papal de Castel Gandolfo.

As poucas imagens divulgadas do Papa Emérito nos aproximam daquele que, há um ano, vive recluso no Mosteiro Mater Ecclesiae, dentro do Vaticano. Permanece em nós a certeza das orações silenciosas desse peregrino escondido, que acompanha e sustenta a Igreja. A missão de Bento XVI ainda não acabou, como ele mesmo afirmou antes de se recolher. Ele continua em postura vigilante de oração, apoiando a missão de seu sucessor, Francisco.



A Aleteia preparou um vídeo com as últimas imagens do Papa Emérito, como demonstração de gratidão pelos frutos colhidos na sua doação de vida. Acompanhe e relembre os últimos dias de seu pontificado, momentos inesquecíveis para a Igreja e o mundo.

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Fonte: Aleteia

Ucrânia e Venezuela: da necessidade de Deus na era digital


Não passou despercebido um traço aparentemente periférico que nas manifestações da Ucrânia e Venezuela acabou por ser característica importante: a dimensão cristã que tem acompanhado os acontecimentos. Com isso não nos referimos à motivações religiosas como motor das reivindicações ou das denúncias ante governos totalitários; nos referimos antes de mais nada ao aspecto religioso cristão como elemento de coesão tanto das multidões que enchem as ruas como daqueles que se juntam a elas por meio das redes sociais.

No Facebook, Twitter e Google+ o hashtag (etiqueta comum que facilita acompanhar conversas em torno de um tema específico) #prayforUcrania e #prayforVenezuela acabou por se tornar um ponto de encontro para aqueles que querem conhecer em tempo real o que está acontecendo em ambos países ou para aqueles que desejam solidarizar-se com a causa. Tanto usaram o hashtag milhões de usuários comuns como estrelas do espetáculo e do esporte: de Paulina Rubio a Juanes, passando por Paris Hilton, Ricardo Montaner, Ricky Martin, Alejandro Sanz ou Rihanna.

Obviamente, o “pray” ao qual se refere (“reza”, em espanhol) supõe pelo menos uma remota valorização da oração e, nesse sentido, está relacionado com Deus que é o destinatário final das orações. Mas o que acontece nas redes sociais não é um mero fenômeno que se reduz às fronteiras do digital.


As numerosas fotografias de sacerdotes ortodoxos e católicos entre a polícia e manifestantes, tentando oferecer a ambos atenção espiritual, foi uma constante nas manifestações da Ucrânia. Não poucas dessas fotos se transformaram em verdadeiros conteúdos virais que possibilitaram conhecer esse rosto, muitas vezes oculto, de entrega, do clero, em tantas ocasiões maltratado pela imprensa no geral. Alguns correspondentes da mídia internacional comentavam desde o Twitter a surpresa que era ver tantos elementos de fé nas manifestações dos cidadãos comuns (imagens da Virgem Maria nos estrados, crucifixos e ícones como bandeira que clama justiça, etc.) até chegar a dizer: “isso parece mais uma vigília de oração do que uma manifestação política”.

Na Venezuela os eventos não foram muito diferentes: jovens estudantes nas ruas carregam terços e pedem para a Igreja católica mediar o conflito entre cidadãos e governo. O assassinato e os espancamentos por soldados e policiais pró-chavistas a alguns sacerdotes tiveram como efeito a maior união do povo com a Igreja que é também atacada em seus ministros de culto.

É verdade que esses elementos também podem ser usados para interesses mesquinhos e até mesmo prostituí-los em seu sentido. Mas, mantendo-os em um plano meramente fenomenológico-sociológico não parece apressado ver em tudo isso a capacidade unificadora e de identidade que o cristianismo favorece ainda hoje, em meio a sociedades tão divididas ideologicamente. E isso leva a colocar os olhos no aspecto de transcendência que está por detrás: depois de tudo, apelar a simbologias como as referidas e amparar-se no poder da oração supõem uma perspectiva horizontal, da terra ao céu, que, em definitiva, traz consigo reconhecer a necessidade de Deus, da sua capacidade de intervenção para o bem no mundo e assim como porta de esperança... Também na era das redes sociais.


Jorge Henrique Mújica*
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* O autor é analista da Agência de Notícias ZENIT para questões relacionadas a internet e fé, comunicação institucional e jornalismo religioso.
(Trad.TS)

(27 de Fevereiro de 2014) © Innovative Media Inc.
Fonte: ZENIT