Hoje, o carnaval é comemorado como uma festa a mais do calendário, sem a relação com a Quaresma, que lhe dava sentido; só mantém as datas, mas não segue os motivos de antes.
Qual é a origem desta festa? Como ela foi se modificando? Que sentido tem hoje? É positivo comemorá-la? Quem conversa sobre este tema com a Aleteia é o professor de História Moderna Jesús María Usunáriz, da Universidade de Navarra.
Qual é a origem do carnaval?
É comum ouvir que sua origem se perdeu na noite dos tempos. Mas, se nos baseamos nos testemunhos, vemos que os romanos já celebravam as “saturnalias”, festas semelhantes às que conhecemos como carnaval.
Há muitos precedentes do carnaval, mas, assim como ele é entendido hoje, está inserido em uma cultura cristã, responde a certas características do mundo ocidental cristão.
Desconhecemos a data exata em que o carnaval teria começado assim, o que corresponde a uma determinada forma de entender o calendário anual. Em concreto, vem de um período que vai do final do Natal até o início da Quaresma, a Quarta-Feira de Cinzas.
De onde vem esta palavra?
“Carnaval” parece ter relação etimológica com a palavra “carne” e se refere ao momento prévio ao período de jejum e proibição de comer carne da Quaresma.
Como sua comemoração foi se transformando?
O carnaval, como conhecemos hoje, está muito estendido por todos os povos do Ocidente. Os costumes são muito similares em todos os casos. Há dias especiais até chegar à terça-feira de carnaval.
Desde os séculos XVI, XVII e XVIII, houve tentativas cada vez mais claras de controlar as manifestações de carnaval, por considerarem que ele envolve uma série de excessos que precisariam ser controlados. No século XIX, ele continua sendo comemorado, mas houve épocas em que foi taxativamente proibido.
E o que dizer do famoso carnaval do Brasil?
O carnaval do Brasil – e de boa parte da América Latina – é uma herança da cultura ocidental adaptada às circunstâncias de cada território.
No Brasil, ele tem características mais de espetáculo que de carnaval. A motivação é divertir-se, sair da rotina e aproveitar a ocasião para a crítica social, política e econômica. Alguns carnavais têm este conteúdo, mas outros às vezes são mais como festivais.
Faz sentido que um católico comemore esta festa?
Há uma frase de Júlio Caro Baroja, em seu livro “O carnaval”: “O carnaval não tem sentido sem a Quaresma”. Afinal, por que existe o carnaval? Porque existe o período da Quaresma. Eles estão unidos, fazem parte de uma maneira de entender o calendário anual, que é de tradição judaico-cristã.
Eu considero que faz sentido comemorá-lo, sim, com moderação, pois ele faz parte do calendário ocidental cristão. Outra coisa é cometer excessos nas manifestações populares.
O carnaval se adapta estética e animicamente a um determinado calendário: antes do recolhimento quaresmal, temos a explosão carnavalesca, que é, de alguma maneira, preparatória para o jejum e o recolhimento que correspondem à Quaresma e à Semana Santa. E o período festivo voltará com a Páscoa da Ressurreição.
Então o carnaval é uma festa positiva?
Depende de quem o festeja e como festeja – como tudo na vida. O futebol, por exemplo, é positivo? Sim. A violência nele? Não. Os excessos no carnaval podem ser controlados.
Mas em si é uma festa positiva, porque quebra a rotina; talvez tivesse mais sentido em outras épocas, porque há mais momentos de ruptura, de lazer... Em seu momento, tinha sua razão de ser e obedecia a certas necessidades.
E atualmente?
Eu não sei se hoje o carnaval se adapta bem aos tempos. Muitas vezes, ele responde a características de uma sociedade que já não é como a de antigamente; tornou-se uma festa turística, um negócio, um entretenimento; então, o sentido deste carnaval pode ser completamente diferente do de antes.
Hoje se faz carnaval sem Quaresma e esta é a grande diferença com relação ao carnaval de antes. Em boa parte do século XX, o carnaval estava acompanhado da Quaresma; agora ele existe, mas não se vive a Quaresma.
O que a Igreja diz sobre a diversão do carnaval?
Antigamente, tentava-se evitar os excessos. Todos nós recordamos que, nas paróquias e igrejas, rezava-se pelos excessos do carnaval.
Ao longo da história, houve medidas restritivas do carnaval, tanto por parte da autoridade eclesiástica como da civil, porque pode haver excessos que levam à desordem social, ou por desordens e críticas contra o poder eclesiástico. E isso sim se tentou controlar.
Até que ponto a autoridade eclesiástica tem competência hoje para deter excessos assim? Por outro lado, o poder civil o considera como um elemento a mais.
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Fonte: Aleteia
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