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Enquanto, no Oriente,
alguns sequer têm liberdade para proclamar a própria fé, o Ocidente é palco
para cristãos que dão de ombros para a Cruz |
Alguns jornais reportaram, no último mês, que "cristãos que
se recusaram a professar a fé muçulmana ou pagar resgate foram crucificados por
extremistas" na Síria [1]. A notícia, que rodou o mundo, chegou ao
conhecimento do Papa Francisco, que admitiu ter chorado pela situação. Durante
uma de suas homilias na Casa Santa Marta, o Santo Padre repudiou os que agem
"matando e perseguindo em nome de Deus" e destacou a coragem dos
cristãos que, como os apóstolos, "ficam felizes por serem julgados dignos
de sofrer ultrajes devido ao nome de Jesus" [2].
O drama dos que confessam Jesus Cristo no Oriente Médio – e em
outras regiões do mundo – é pouco exibido pelos meios de comunicação, fazendo
que a realidade de tantas pessoas nos pareça distante e, às vezes, até
ilusória. No entanto, as suas lágrimas, as suas dores e o seu sacrifício tantas
vezes cruento são páginas verdadeiramente cruéis de uma história que está longe
de seu termo final.
Pense-se, por exemplo, no sofrimento de pais de família que, antes
de doarem a própria vida, foram obrigados a entregar aqueles que mais amavam:
suas mulheres e seus filhos. Se pudessem se entregar a si mesmos para salvarem
os seus, eles o fariam. Mas, tiveram de imitar aquela judia do livro dos Macabeus,
que viu seus sete filhos pequenos morrerem, antes de ser martirizada [3]. Suas
filhas foram levadas de seus braços, ou para receberem uma fé na qual não foram
educadas e à qual não querem aderir, ou para serem assassinadas impiedosamente.
Entre as muitas histórias de perseguição que veem de todo o
Oriente Médio, situa-se a desses jovens que foram crucificados por serem
cristãos. Um deles, segundo o testemunho da irmã Raghid, ex-diretora da escola
do patriarcado grego-católico de Damasco, "foi crucificado em frente a seu
pai, que foi morto em seguida". De acordo com ela, depois dos massacres,
os jihadistas "pegaram as cabeças das vítimas e jogaram futebol com
elas". Também levarem os bebês das mulheres e "os penduraram em árvores
com os seus cordões umbilicais".
Tais relatos devem nos comover e nos fazer dobrar os nossos
joelhos por nossos irmãos perseguidos em terras estrangeiras. Afinal, somos
todos membros da mesma Igreja, as orações que fazemos têm eficácia para as
partes mais necessitadas do corpo místico de Cristo.
Mas, não apenas isso. O retrato de sangue dos cristãos martirizados precisa converter os
nossos corações. Enquanto
eles são perseguidos por viverem sua fé em lugares como Irã, Síria, Egito,
Coreia do Norte e China, tendo que se esconder em espaços subterrâneos – como
os primeiros seguidores de Cristo iam às catacumbas – ou viver debaixo da
constante ameaça de milícias terroristas, nós, no Ocidente, temos vivido a fé
de forma desleixada, transformando o dom da liberdade que recebemos em
libertinagem, em ocasião para o pecado e para a própria destruição. Temos
desperdiçado a oportunidade de participar diariamente da Santa Missa, de ter
acesso ao sacramento da Penitência e de expor publicamente a Palavra de Deus,
preferindo a isso a preguiça, a impenitência e a covardia – enquanto milhares
de pessoas mundo afora dariam a própria vida para terem a liberdade que temos e
usá-la para a maior glória de Deus.