Todos
vimos autoridades federais, estaduais e municipais ao lado do autoproclamado
bispo Edir Macedo, dono da Igreja Universal do Reino de Deus, na inauguração do
dito “Templo de Salomão”, em São Paulo. A obra não tinha sido liberada pelo Corpo
de Bombeiros (exigência legal), e há severas suspeitas de irregularidades na
concessão do alvará da Prefeitura. Mas, em tempos de eleição, os políticos
gostam de se aproximar da religião. Mormente quando se trata de mais um
empreendimento de Edir Macedo, que, a cada dia, força mais a semelhança com uma
caricatura de profeta. E não venham me patrulhar. Os evangélicos sabem o
respeito que tenho por eles. Sou um duro crítico da forma preconceituosa como
são tratados pela imprensa. Mas não gosto quando uma igreja decide ser dona de
um partido político e quando um líder religioso decide ser “governo” — pouco
importando quem esteja no poder.
Muito
bem! No caso do Templo de Salomão, as autoridades não quiseram saber em que
estágio estava o cumprimento da lei. Também o Cristo Redentor, no Rio, foi peça
de uma patranha política — esta de outra natureza. Leiam a coluna de Merval
Pereira, publicada no Globo. Volto em seguida.
*
Cúria quase perde Cristo
Chega
de Brasília uma informação que pode ser considerada bizarra, mas que também
pode ter implicações mais graves. No impasse acerca do filme de José Padilha
sobre o Rio, que a Cúria Metropolitana vetou inicialmente por considerar que a
figura do Cristo Redentor havia sido desrespeitada, mas depois liberou, a ministra
da Cultura Marta Suplicy fez chegar ao cardeal Dom Orani Tempesta uma ameaça
de, através de um decreto presidencial que já estaria pronto, retirar da Igreja
Católica a tutela sobre a imagem que está implantada no Parque Nacional da
Tijuca, sob o controle da União.
O
monumento foi erigido em área cedida pela União à Arquidiocese do Rio na década
de 1930, mas o acesso à estátua é realizado pelo Parque Nacional da Tijuca,
administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
Recentemente,
a imagem do Cristo Redentor foi eleita, em votação pela internet no mundo todo,
uma das modernas Sete Maravilhas do Mundo. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, que
também atuou para liberar o filme, disse que chegou a conversar com Dom Orani
tentando mostrar que a imagem do Cristo Redentor é um ícone da cidade do Rio, e
que como tal também deveria ser tratada e não apenas como um santuário
religioso. Mas garante que em nenhum momento soube de qualquer tentativa de
retirar da Igreja Católica os direitos sobre a imagem.
Os
direitos de uso comercial do Cristo no Corcovado pertencem desde 1980 à Mitra
Arquiepiscopal do Rio de Janeiro, e em outubro de 2006, para comemorar seus 75
anos, a estátua foi transformada num santuário católico. Há também, na base do
monumento, uma capela católica devotada a Nossa Senhora Aparecida.
A
Arquidiocese do Rio de Janeiro não autorizou o uso da imagem do Cristo no filme Inútil
paisagem,
dirigido por José Padilha, por considerá-lo inicialmente desrespeitoso. Ele é
um dos dez curtas que compõem o longa-metragem Rio, eu te
amo, da
franquia Cities of love.
Em
uma sequência do curta, o personagem interpretado por Wagner Moura, durante um
voo de asa-delta, conversa com a estátua do Cristo reclamando da vida, dos seus
dissabores e da violência da cidade que ele deveria proteger.
O
filme foi enviado para a apreciação da arquidiocese em março, tendo sido
vetado. Segundo a assessoria de imprensa da Arquidiocese do Rio na ocasião, há
cenas no filme em questão que foram consideradas ofensivas à imagem do Cristo
e, consequentemente, à casa dos católicos. É uma prática absolutamente normal
da Arquidiocese a não autorização de qualquer produto audiovisual que avance
nesse caminho .
Dias
depois, diante da reação negativa à decisão, considerada uma censura artística,
o Vicariato para a Comunicação Social e a Assessoria de Imprensa da
Arquidiocese anunciaram em nota a reversão da medida, pois haviam chegado à
conclusão de que o episódio não visou interesse religioso no trato à imagem do
Cristo Redentor, e portanto não houve desrespeito ao Cristo ou à religião
católica .
O
excesso de zelo dos encarregados pela imagem do Cristo, sem levar em conta o
lado icônico não religioso da estátua que representa a cidade do Rio de Janeiro
no mundo, pode levar a uma excessiva intervenção governamental que seria muito
bem recebida em setores da sociedade contrários a esse controle da Igreja
Católica sobre o monumento.