segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Papa pede que vejam a Igreja como companheira fiel em toda e qualquer prova


Discurso durante cerimônia de despedida no
Aeroporto Internacional da Filadélfia
Domingo 27 de Setembro de 2015

Amados Irmãos Bispos,
Queridos amigos!

Os meus dias entre vós passaram rápido, mas cheios de graça para mim e – espero – também para vós. Neste momento em que estou para partir, sabei que o faço com o coração cheio de gratidão e esperança.

Sinto-me grato a todos vós e a quantos trabalharam ardorosamente para tornar possível e preparar o Encontro Mundial das Famílias. Agradeço de modo particular ao Arcebispo Chaput e à arquidiocese de Filadélfia, às autoridades civis, aos organizadores e aos inúmeros voluntários e benfeitores que contribuíram cada qual segundo as próprias possibilidades.

Agradeço ainda às famílias que partilharam os seus testemunhos durante o Encontro. Não é fácil falar abertamente do próprio percurso na vida! Porém a sua sinceridade e humildade diante de Deus e de nós mostraram a beleza da vida familiar e toda a sua riqueza e variedade. Rezo para que estes dias de oração e reflexão sobre a importância da família para uma sociedade sadia possam encorajar as famílias a continuar a lutar pela santidade e a ver a Igreja como uma companheira fiel em toda e qualquer prova que tenham de enfrentar.

No final da minha visita, quero agradecer também a todos os que trabalharam para a minha estadia nas arquidioceses de Washington e Nova Iorque. Particularmente comovente para mim foi a canonização de São Junípero Serra, que nos lembra a todos nós a chamada para ser discípulos missionários, bem como parar pessoalmente, junto com irmãos de outras religiões, no Ground Zero, local que recorda de forma eloquente o mistério do mal; mas sabemos com toda a certeza que o mal não terá jamais a última palavra e que, no plano misericordioso de Deus, triunfarão sobre tudo o amor e a paz. 

Missa com o Papa Francisco conclui VIII Encontro Mundial das Famílias


Homilia Santa Missa no B.Franklin Parkway
Filadélfia
27 de setembro de 2015

Hoje, a Palavra de Deus surpreende-nos com uma linguagem alegórica forte, que nos faz pensar; imagens vigorosas, que questionam as nossas reflexões. Uma linguagem alegórica que nos interpela, mas que anima o nosso entusiasmo.

Na primeira Leitura, Josué diz a Moisés que dois membros do povo estão a profetizar, anunciando a palavra de Deus sem qualquer mandato. No Evangelho, João diz a Jesus que os discípulos impediram uma pessoa de expulsar os espíritos malignos em nome d’Ele. E aqui aparece a surpresa: Moisés e Jesus censuram estes colaboradores por serem de mente tão fechada. Oxalá fossem todos profetas da Palavra de Deus! Oxalá cada um fosse capaz de fazer milagres em nome do Senhor!

Por sua vez, Jesus encontra hostilidade nas pessoas que não aceitaram aquilo que fazia e dizia. Para elas, a abertura de Jesus à fé honesta e sincera de muitas pessoas, que não faziam parte do povo eleito de Deus, parecia intolerável. Entretanto os discípulos estavam a agir em boa-fé; mas a tentação de serem escandalizados pela liberdade de Deus, que faz chover tanto sobre os justos como sobre os injustos (cf. Mt 5, 45), ultrapassando a burocracia, o oficial e os círculos restritos, ameaça a autenticidade da fé e, por isso, deve ser vigorosamente rejeitada.

Quando nos damos conta disto, podemos entender por que motivo as palavras de Jesus sobre o escândalo são tão duras. Para Jesus, o escândalo intolerável consiste em tudo aquilo que destrói e corrompe a nossa confiança no modo de agir do Espírito. 

Deus, nosso Pai, não Se deixa vencer em generosidade, e semeia. Semeia a sua presença no nosso mundo, porque «é nisto que está o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou» primeiro (1 Jo 4, 10). Aquele amor dá-nos uma certeza profunda: somos procurados por Ele, Ele está à nossa espera. É esta confiança que leva o discípulo a estimular, acompanhar e fazer crescer todas as boas iniciativas que existem ao seu redor. Deus quer que todos os seus filhos tomem parte na festa do Evangelho. Não ponhais obstáculo ao que é bom – diz Jesus –, antes pelo contrário, ajudai-o a crescer. Pôr em dúvida a obra do Espírito, dar a impressão de que a mesma não tem nada a ver com aqueles que não são «do nosso grupo», que não são «como nós», é uma tentação perigosa. Não só bloqueia a conversão à fé, mas constitui uma perversão da fé. 

"Todos precisam ser purificados, eu sou o primeiro", diz Papa.


Discurso
Papa Francisco fala aos detentos na Filadélfia
Estados Unidos

Queridos irmãos e irmãs!

Obrigado pela recepção e a possibilidade de estar aqui convosco compartilhando este período da vossa vida. Um período difícil, cheio de tensões. Um período que – bem sei – é doloroso não só para vós, mas também para as vossas famílias e toda a sociedade; porque uma sociedade, uma família que não sabe sofrer com as dores dos seus filhos, que não as leva a sério, que as trata como coisas «naturais» considerando-as normais e previsíveis, é uma sociedade «condenada» a permanecer prisioneira de si mesma, prisioneira de tudo o que a faz sofrer. Vim como pastor, mas sobretudo como irmão para compartilhar a vossa situação e fazê-la minha também; vim para podermos rezar juntos e apresentar ao nosso Deus aquilo que nos dói e também o que nos encoraja, e receber d’Ele a força da Ressurreição.

Recordo o Evangelho em que Jesus lava os pés aos seus discípulos durante a Última Ceia. Uma atitude que os discípulos tiveram dificuldade em compreender, incluindo São Pedro que reage dizendo-Lhe: «Tu nunca me hás-de lavar os pés!» (Jo 13, 8).

Naquele tempo era costume, quando uma pessoa chegava a casa, lavar-lhe os pés. As pessoas eram recebidas sempre assim. Não havia estradas asfaltadas, eram estradas poeirentas, com o cascalho que se enfiava nas sandálias. Todos percorriam caminhos que os deixavam impregnados de pó, quando não se feriam em alguma pedra ou faziam qualquer corte. No Cenáculo, vemos Jesus que lava os pés, os nossos pés, os pés dos seus discípulos de ontem e de hoje.

Todos sabemos que viver é caminhar, viver é seguir por várias estradas, diferentes caminhos que deixam a sua marca na nossa vida.

Pela fé, sabemos que Jesus nos procura, quer curar as nossas feridas, curar os nossos pés das chagas dum caminho cheio de solidão, limpar-nos do pó que se foi agarrando a nós ao longo das estradas que cada um percorreu. Não nos pergunta por onde andamos, nem nos interroga sobre o que andávamos a fazer.

Pelo contrário, diz-nos: «Se Eu não te lavar, nada terás a ver comigo» (Jo 13, 8). Se não te lavar os pés, não poderei dar-te a vida que o Pai sempre sonhou, a vida para que te criou. Ele vem ao nosso encontro para nos calçar de novo com a dignidade dos filhos de Deus. Quer ajudar-nos a recompor o nosso andar, retomar o nosso caminho, recuperar a nossa esperança, restituir-nos a fé e a confiança. Quer que regressemos às estradas da vida, sentindo que temos uma missão; que este tempo de reclusão nunca foi sinônimo de expulsão. 

Discurso do Papa Francisco aos bispos no Encontro das Famílias


Discurso
Papa Francisco fala aos bispos no Encontro Mundial das Famílias
Filadélfia, Estados Unidos

Queridos Irmãos Bispos!

Sinto-me feliz por ter a oportunidade de partilhar estes momentos de reflexão pastoral convosco, na jubilosa ocasião do Encontro Mundial das Famílias.

De facto, para a Igreja, a família não é primariamente um motivo de preocupação, mas a feliz confirmação da bênção de Deus à obra-prima da criação. Cada dia, em todos os cantos do planeta, a Igreja tem motivos para se alegrar com o Senhor pelo dom daquele povo numeroso de famílias que, mesmo nas mais duras provas, honram as promessas e guardam a fé.

Assim eu diria que o primeiro impulso pastoral, que nos pede esta desafiadora transição de época, é precisamente um passo decidido na linha de tal reconhecimento. A estima e a gratidão devem prevalecer sobre o lamento, apesar de todos os obstáculos que enfrentamos. A família é o lugar fundamental da aliança da Igreja com a criação de Deus. Sem a família, a Igreja também não existiria: não poderia ser aquilo que deve ser, isto é, sinal e instrumento da unidade do gênero humano (cf. Lumen gentium, 1).

Naturalmente a compreensão que dela possuímos, plasmada com base na integração da forma eclesial da fé e da experiência conjugal da graça, abençoada pelo sacramento, não deve fazer-nos esquecer a profunda transformação do contexto atual, que incide sobre a cultura social – e agora também legal – dos laços familiares e que nos afeta a todos, crentes e não-crentes. O cristão não está «imune» das mudanças do seu tempo; e este mundo concreto, com as suas múltiplas problemáticas e possibilidades, é o lugar onde temos de viver, acreditar e anunciar.

Em tempos passados, vivíamos num contexto social em que as afinidades entre a instituição civil e o sacramento cristão eram substanciais e compartilhadas: os dois estavam interligados e apoiavam-se mutuamente. Agora já não é assim.

Para descrever a situação atual, escolheria duas imagens típicas da nossa sociedade: duma parte as conhecidas lojas, pequenos negócios das nossas terras; da outra os grandes supermercados ou centros comerciais.

Algum tempo atrás, podia-se encontrar numa mesma loja todas as coisas necessárias para a vida pessoal e familiar – é certo que expostas pobremente, com poucos produtos e, consequentemente, poucas possibilidades de escolha.

Havia uma ligação pessoal entre o vendedor e os clientes da vizinhança. Vendia-se a crédito, isto é, havia confiança, conhecimento, proximidade. Um fiava-se do outro. Tinha a coragem de fiar-se. Em muitos lugares, tal negócio era conhecido como «a venda local».

Entretanto, nas últimas décadas, desenvolveram-se e expandiram-se negócios de outro tipo: os centros comerciais, espaços imensos com grande variedade de mercadorias. O mundo parece que se tornou um grande supermercado, onde a cultura adquiriu uma dinâmica competitiva. Já não se vende a crédito, não se pode confiar nos outros. Não há ligação pessoal, relação de vizinhança. A cultura atual parece incentivar as pessoas para entrarem na dinâmica de não se prender a nada nem a ninguém. Não confiar, nem fiar-se. É que hoje a coisa mais importante parece ser esta: correr atrás da última tendência ou atividade.

E isto também a nível religioso. O consumo é que determina o que é importante hoje. Consumir relações, consumir amizades, consumir religiões, consumir, consumir… Não importa o custo nem as consequências. Um consumo que não gera ligações, um consumo que pouco tem a ver com as relações humanas. As ligações são meramente um «meio» para satisfazer as «minhas necessidades».

O próximo, com o seu rosto, com a sua história, com os seus afetos, deixou de ser importante.Este comportamento gera uma cultura que descarta tudo aquilo que já «não serve» ou «não satisfaz» os gostos do consumidor. Fizemos da nossa sociedade uma imensa vitrine multicultural, atenta apenas aos gostos de alguns «consumidores», enquanto muitos, muitíssimos outros «comem as migalhas que caem da mesa de seus donos» (Mt 15, 27).

Isto provoca uma grande ferida. Atrevo-me a dizer que uma das principais pobrezas ou raízes de muitas situações contemporâneas é a solidão radical a que se vêem forçadas muitas pessoas. E assim, indo atrás do que «me agrada», olhando ao aumento do número de «seguidores» numa rede social qualquer, as pessoas seguem a proposta oferecida por esta sociedade contemporânea. Uma solidão temerosa de qualquer compromisso, numa busca frenética de se sentir conhecido.

Devemos condenar os nossos jovens por terem crescido nesta sociedade? Devemos excomungá-los, porque vivem neste mundo? Será preciso ouvirem da boca dos seus pastores frases como estas: «dantes era melhor», «o mundo está um desastre e, se continuar assim, não sabemos como iremos acabar»? Não, não creio que seja esta a estrada. Nós pastores, seguindo os passos do Pastor, somos convidados a procurar, acompanhar, erguer, curar as feridas do nosso tempo. Olhar a realidade com os olhos de quem sabe que é chamado a mover-se, é chamado à conversão pastoral. O mundo atual pede-nos com insistência esta conversão. «É vital que hoje a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo. A alegria do Evangelho é para todo o povo, não se pode excluir ninguém» (Evangelii gaudium, 23).

Enganar-nos-íamos se interpretássemos a desafeição, que a cultura do mundo atual tem pelo matrimônio e a família, só em termos de puro e simples egoísmo. Será que os jovens deste tempo se tornaram todos irremediavelmente medrosos, frágeis, inconsistentes? Não nos deixemos cair na cilada! Muitos jovens, no quadro desta cultura dissuasiva, interiorizaram uma espécie de medo inconsciente, que os paralisa relativamente aos impulsos mais belos e mais altos, e também mais necessários. Há muitos que adiam o matrimônio à espera das condições ideais de bem-estar. Entretanto a vida é consumida, sem sabor. É que a sabedoria dos verdadeiros sabores matura com o tempo, como fruto de um generoso investimento da paixão, da inteligência, do entusiasmo.

Estamos vivendo uma cultura que impulsiona e convence os jovens a não fundar uma família, pela falta de meios e por ter tantos meios que está cômodo assim. Essa é a tentação, não fundar uma família.

Como pastores, nós bispos, somos chamados a reunir as forças e a relançar o entusiasmo pelo nascimento de famílias que correspondam mais plenamente à bênção de Deus, segundo a sua vocação. Devemos investir as nossas energias não tanto para explicar uma vez e outra os defeitos da atual condição hodierna e os valores do cristianismo, como sobretudo convidar com audácia os jovens a serem ousados na opção do matrimônio e da família. Também aqui é precisa uma santa ousadia! Quantas mulheres se lamentavam:  meu filho tem 30 anos e não se casa!. Temos que entusiasmar os jovens para que se casem.  Temos que acompanhar e fazer amadurecer o compromisso do matrimônio. Um cristianismo, que pouco «faz» na realidade e «se explica» infinitamente na formação, vive numa desproporção perigosa; diria, num verdadeiro e próprio círculo vicioso. O pastor deve mostrar que o «Evangelho da família» é verdadeiramente a «boa notícia» num mundo em que a atenção para consigo mesmo parece reinar soberana. Não se trata de fantasia romântica: a tenacidade em formar uma família e levá-la por diante transforma o mundo e a história.

O pastor anuncia serena e apaixonadamente a Palavra de Deus, encoraja os crentes a apostarem alto. Tornará os seus irmãos e irmãs capazes de acolher e praticar a promessa de Deus, que alarga a própria experiência da maternidade e da paternidade para o horizonte duma nova «familiaridade» com Deus (cf. Mc 3, 31-35). O pastor vela pelo sonho, a vida, o crescimento das suas ovelhas. Este «velar» não nasce dos discursos feitos, mas do cuidado pastoral. Só é capaz de velar quem sabe estar «no meio», quem não tem medo das perguntas, do contacto, do acompanhamento. O pastor vela, antes de tudo, com a oração, sustentando a fé do seu povo, transmitindo confiança no Senhor, na sua presença. O pastor permanece sempre vigilante, ajudando a levantar o olhar quando aparecem o desânimo, a frustração ou as quedas. Seria bom perguntar-nos se, no nosso ministério pastoral, sabemos «perder» tempo com as famílias.

Sabemos estar com elas, partilhar as suas dificuldades e as suas alegrias? Naturalmente, viver o espírito desta jubilosa familiaridade com Deus e propagar a sua emocionante fecundidade evangélica é, em primeiro lugar, o traço fundamental do estilo de vida do bispo. Assim nós mesmos, aceitando humildemente a aprendizagem cristã das virtudes familiares do povo de Deus, assemelhar-nos-emos cada vez mais a pais e mães (como Paulo; veja-se 1 Ts 2, 7.11), evitando transformar-nos em pessoas que aprenderam simplesmente a viver sem família. De fato, o nosso ideal não é viver sem afetos.

A nós pastores nos tocam duas coisas: a oração e a pregação. Qual é o primeiro trabalho do bispo? Orar, rezar. O segundo trabalho que vai junto com esse: pregar. Ajuda-nos esta definição.  O bispo tem a missão de pastorear com a oração e o anúncio.

O bom pastor renuncia a afetos familiares próprios, para destinar todas as suas forças – e a graça da sua vocação especial – à bênção evangélica dos afetos do homem e da mulher que dão vida ao desígnio da criação de Deus, a começar pelos afetos perdidos, abandonados, feridos, arrasados, humilhados e privados da sua dignidade. Esta entrega total ao amor de Deus não é, por certo, uma vocação alheia à ternura e ao bem-querer! Bastar-nos-á olhar para Jesus, para entendermos isso (cf. Mt19,12). A missão do bom pastor segundo o estilo de Deus – só Deus o pode autorizar, não a sua presunção! – imita, em tudo e para tudo, o estilo afetivo do Filho para com o Pai, que se reflete na ternura da sua entrega: em favor, e por amor, dos homens e mulheres da família humana.

Na perspectiva da fé, este é um tema precioso. O nosso ministério tem necessidade de desenvolver a aliança da Igreja e da família. Caso contrário, definha; e, por nossa culpa, a família humana distanciar-se-á irremediavelmente da Feliz Notícia dada por Deus.

Se formos capazes deste rigor dos afetos de Deus, usando infinita paciência, e sem ressentimento, com os sulcos nem sempre lineares onde devemos semeá-los, até uma mulher samaritana com cinco «não-maridos» se descobrirá capaz de dar testemunho. E, para um jovem rico que tristemente sente que deve pensar ainda com calma, um maduro publicano descerá precipitadamente da árvore e far-se-á paladino dos pobres, nos quais nunca pensara até então.


Deus nos conceda o dom desta nova proximidade entre a família e a Igreja. A necessidade da família, Igreja e pastores. A família é o nosso aliado, a nossa janela aberta para o mundo, a evidência duma bênção irrevogável de Deus destinada a todos os filhos desta história difícil e maravilhosa da criação que Deus nos pediu para servir!
___________________________________
Canção Nova

Como Adão e Eva tiveram descendentes?


Como Adão e Eva tiveram descendentes? Foi por meio de relações incestuosas?

A Bíblia não explica como se desenvolveu a descendência de Adão e Eva. Sabemos que Adão e Eva tiveram muitos filhos (Gn 5, 4), dos quais os primeiros foram Caim e Abel (Gn 4, 1-2), e conhecemos também o fato do fratricídio (Gn 4, 3-16) que levou uma descendência de Caim (malvada e irreligiosa – Gn 4, 17-24) separada da descendência de Set (boa e religiosa – Gn 5, 6-32), o filho “escolhido” por Deus (Gn 4, 25-26. 5, 3-4) para substituir Abel, do qual depois se chegará a Noé e o dilúvio.

Como se gerou essa descendência? Houve muitas hipóteses e todas acabaram encontrando o problema do incesto (relações sexuais entre parentes próximos), fruto de uma interpretação literal da Bíblia.

Para tentar mitigar o problema, foram buscadas muitas explicações: não havia uma lei contra o incesto; viviam muitos anos e casar-se com sobrinhos parece que era “menos grave” etc. Mas nenhuma delas deu uma explicação convincente.

Felizmente, os dois últimos séculos de estudos da Bíblia nos permitem compreender algumas coisas sobre ela que nos ajudam a resolver dificuldades como esta.

Sobre como se deu a descendência de Adão e Eva, é preciso dizer duas coisas:

A primeira se refere ao gênero literário dos primeiros capítulos do Gênesis. Os estudos deixam claro que Gn 1-11 não pode ser considerado uma narração histórica real. Não podemos achar que esses capítulos sejam a crônica dos primeiros anos da história humana.

Além disso, sua redação, procedente de fontes orais, aconteceu na época do exílio e pós-exílio babilônico (aprox. séc. VI-V a.C.). A intenção dos autores não era fazer história, mas contar verdades fundamentais para a relação do homem com Deus.

Mas, ao mesmo tempo, é preciso ter claro que tampouco se trata de mitologia, ainda que o texto utilize uma linguagem mítica. João Paulo II explicou isso: “O termo ‘mito’ não designa um conteúdo fabuloso, mas simplesmente um modo arcaico de expressar um conteúdo mais profundo” (Catequese de 7/11/1979).

Para compreender isso, podemos comparar o texto com as parábolas de Jesus. Está claro que tais parábolas têm uma linguagem de “conto” e que não são relatos históricos. No entanto, expressam, muito melhor que uma crônica, qual é a verdade das coisas, e assim “contam” a “verdadeira” história da humanidade (por exemplo, o filho pródigo).
 

domingo, 27 de setembro de 2015

Papa sobre abusos sexuais: Deus chora profundamente.


O Papa Francisco se reuniu com vítimas de abusos sexuais cometidos por membros da Igreja. Ele mesmo o anunciou neste domingo, 27, antes de iniciar o seu discursos aos bispos da Filadélfia, na capela do Seminário São Carlos Borromeu.

“Ficaram gravadas no meu coração as histórias de dor e sofrimento dos menores que foram abusados sexualmente por sacerdotes. Continuo a cobrir-me de vergonha porque pessoas que tinham sob a sua responsabilidade os cuidados de menores os violaram e lhes causaram graves danos. Deus chora profundamente. Os crimes e pecados dos abusos sexuais em menores não podem ser mantidos em segredo por mais tempo. Comprometo-me por uma zelante vigilância da Igreja para proteger os menores e prometo que todos os responsáveis prestarão contas”.

Depois de pronunciar estas palavras, que não estavam previstas no seu discurso, Francisco revelou que se encontrou com um grupo de pessoas abusadas, crianças que são ajudadas e acompanhadas na Filadélfia, com carinho, pelo Arcebispo Chaput.

Dom Charles Chaput foi nomeado em 2011 para assumir a Arquidiocese de Filadélfia na administração das comunidades mais feridas pelos escândalos de abusos sexuais nos EUA, naquele mesmo ano, por exemplo, 21 padres foram suspensos em decorrência do problema; a maioria dos episódios de abusos teria ocorrido entre as décadas de 1960 e 1980.
___________________________________

Canção Nova

Papa afirma que moderna tirania procura suprimir liberdade religiosa


Viagem do Papa Francisco aos Estados Unidos
Discurso durante encontro pela liberdade religiosa
com a comunidade hispânica e outros
imigrantes
Independence Mall – Filadélfia
Sábado, 26 de setembro de 2015


Queridos amigos!

Um dos momentos salientes da minha visita tem lugar aqui, diante do Independence Mall, local do nascimento dos Estados Unidos da América. Neste lugar, foram proclamadas pela primeira vez as liberdades que definem este País. A Declaração de Independência afirmou que todos os homens e todas as mulheres são criados iguais, que são dotados pelo seu Criador de alguns direitos inalienáveis e que os governos existem para proteger e defender tais direitos. Estas vibrantes palavras continuam a inspirar-nos hoje, tal como inspiraram outros povos em todo o mundo, no combate pela liberdade de viver de acordo com a sua dignidade.

Mas a história mostra também que esta verdade, como aliás qualquer verdade, deve ser constantemente reafirmada, assumida e defendida. A história desta nação é também a história dum esforço constante, até aos nossos dias, para encarnar estes altos princípios na vida social e política. Recordamos as grandes lutas que levaram à abolição da escravatura, à extensão do direito de voto, ao crescimento do movimento operário, e ao esforço progressivo por eliminar todas as formas de racismo e preconceito contra as sucessivas ondas de novos americanos. Isto demonstra que um País, quando está determinado a permanecer fiel aos seus princípios fundadores que se baseiam no respeito pela dignidade humana, torna-se mais forte e renova-se.

Todos beneficiamos quando se faz memória do nosso passado. Um povo que recorda não repete os erros do passado; pelo contrário, olha confiante para os desafios do presente e do futuro. A memória salva a alma dum povo de tudo aquilo ou de todos aqueles que poderiam tentar dominá-lo ou utilizá-lo para os seus interesses. Quando o exercício efetivo dos respectivos direitos é garantido aos indivíduos e às comunidades, estes não apenas se sentem livres para realizar as suas potencialidades mas contribuem para o bem-estar e enriquecimento da sociedade.

Neste lugar, que é um símbolo do espírito americano, quereria refletir convosco sobre o direito à liberdade religiosa. É um direito fundamental que plasma o modo como interagimos social e pessoalmente com nossos vizinhos, cujos pontos de vista religiosos são diferentes dos nossos. 

São Cosme e Damião não são 'orixás', 'ibejis' ou 'erês' – a armadilha do sincretismo religioso.

São Cosme e Damião são festejados pela Igreja em 26 de setembro

Nós, católicos, devemos cultivar gratidão e veneração pelos nossos santos, pelo exemplo de vida e de amor a Cristo que foram e são para nós (Hb 6,12; 1Cor 13,1; João 8,39), e por continuarem a interceder por nós no Céu, unindo suas orações ao único Mediador de nossa Salvação, Jesus Cristo, Senhor nosso (Ap 5,8. 6,9-10. 7,9-10. 8,4. 13-15; Hb 12,1; 1Tm 2,5).

São Cosme e São Damião foram cristãos mártires pela fé, e são cultuados há muitos séculos (desde 300/400 dC). Até hoje, seus nomes são lembrados na Liturgia da Santa Missa, e são venerados também na Igreja Ortodoxa, que os homenageia em novembro. Seus restos mortais e suas relíquias estão distribuídos em Roma e em algumas igrejas e mosteiros da Alemanha, católicos e ortodoxos.

Refletiremos neste estudo sobre a ação maléfica do sincretismo religioso, nas lendas e mitologias que cercam o culto a esses e a outros autênticos mártires da fé cristã.

Lamentavelmente, no Brasil, o culto desses santos benfeitores foi bastante deturpado através da História, no sincretismo religioso que é típico do paganismo e muito presente nos cultos africanos trazidos pelos escravos ao Brasil a partir do século  XVI.

O sincretismo, como sabemos, é a prática de se misturar elementos de  religiões diferentes, forçando uma harmonia que de fato não existe. No caso que estamos tratando, é pretender dar "aparência católica" a um sistema de crenças completamente diferente ou oposto àquilo que prega o catolicismo de fato. Ainda mais lamentável (e nocivo para as almas) é o fato de que hoje tanto a mídia secular quanto as próprias instituições católicas ajudam a promover o sincretismo como se fosse coisa muito boa, louvável, digna e justa. – Como se fosse coisa cristã. – Respeitar a liberdade religiosa e coexistir com as diferentes crenças é uma coisa. O sincretismo religioso, que é desonesto em sim mesmo, porque em sua origem já foi pensado para enganar, é outra coisa, completamente diferente.

Ocorre que na triste época da escravatura os cativos africanos criaram uma maneira engenhosa de enganar os senhores de engenho: invocavam seus deuses ou entidades espirituais/orixás, – como "Oxalá", "Ogum", "Iemanjá" e muitos outros, – simulando que rezavam para Jesus, Maria ou alguns dos santos mais reverenciados na época, como São Sebastião, São Jorge, Santa Bárbara, São Cosme e Damião, etc.

Tal situação viria a causar, posteriormente, muita confusão entre o povo católico brasileiro, especialmente entre as pessoas mais simples. Situação esta que permanece, em maior ou menor grau, até hoje. No dia da celebração de Cosme e Damião, adeptos de diversas seitas costumam distribuir doces às crianças, usando os nomes dos santos católicos para homenagear  determinadas "entidades" espirituais infantis que compõem o panteão de suas crenças. No catolicismo, S. Cosme e S. Damião não são crianças: eram irmãos gêmeos e médicos, que entregaram suas vidas como mártires. Abaixo, um resumo de sua verdadeira história.