Carta
Pastoral
«Com
misericórdia olhou para ele e o escolheu»
Aos irmãos e irmãs cujas vidas estão marcadas pelo
sofrimento,
particularmente a todos os que estão privados da
liberdade nos presídios,
aos que vivem presos ao seu leito hospitalar ou
doentes em suas residências,
aos mais esquecidos das periferias de nossas
metrópoles,
aos que já não conseguem vislumbrar uma centelha da
misericórdia, vivendo fora da comunhão de Deus e da ação pastoral da Santa
Igreja,
aos que experimentam cotidianamente a violência,
aos que deixaram de acreditar no amor e na bondade,
a todos os leigos e leigas que levam adiante com
alegria a missão,
aos sacerdotes, diáconos, consagrados e consagradas
e aos irmãos bispos auxiliares,
que tanto auxiliam na minha missão na
Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro.
1. Pela quarta vez, dirijo-me aos irmãos e irmãs
desta amada Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro através de uma
Carta Pastoral. Tendo manifestado o que penso e sinto a respeito de minha
missão como pastor desta parcela da Igreja de Deus , tendo expressado a
felicidade da consagração e tendo manifestado minha alegria de que «a
esperança não decepciona» , em sintonia com o Santo Padre, o Papa Francisco,
agora quero dirigir-me a todos os homens e mulheres de boa vontade para
compartilhar minhas alegrias pelo Ano Santo Extraordinário: a misericórdia.
Vamos, intensamente, viver o ano santo que se iniciou no dia 08 de dezembro de
2015 na Basílica de São Pedro, com a abertura da Porta Santa pelo Papa
Francisco. «Atravessar hoje a Porta Santa nos compromete a adotar a
misericórdia do bom samaritano» : este é o espírito com o qual se deve viver o
Jubileu Extraordinário, afirmou o Papa Francisco ao transpor a Porta Santa da
Basílica de São Pedro, fazendo explícita ligação às comemorações dos impulsos
missionários que há cinquenta anos abriram as portas da Igreja, no espírito
samaritano, para todos os homens e mulheres de boa vontade, adotando a
misericórdia do bom samaritano, conforme nos pede o Concílio Ecumênico Vaticano
II .
2. O Papa Francisco proclamou o Ano Santo
Extraordinário da Misericórdia no dia 11 de abril passado, com a Bula
Misericordiae Vultus — «O Rosto da misericórdia do Pai é Jesus Cristo…» . O Ano
Santo já iniciado na solenidade da Imaculada Conceição será concluído na festa
de Cristo Rei, aos 20 de novembro de 2016.
3. Será muito importante que todos façam uma
leitura atenta e uma reflexão bem meticulosa da Misericordiae Vultus, bula de
proclamação do Ano Santo Extraordinário da Misericórdia . Esse é o texto-base
do Jubileu da Misericórdia onde o Papa apresenta as grandes motivações para a
celebração deste Ano Santo extraordinário, além de indicações importantes sobre
como celebrar este tempo especial da graça de Deus.
ANOS
JUBILARES
4. Anos Santos, ou Jubileus, são celebrados
ordinariamente a cada 25 anos; fora dessa sequência, eles são Jubileus
extraordinários . Por isso, o jubileu que estamos vivendo é um jubileu
extraordinário, que tem como motivo especial para a sua celebração do
cinquentenário da conclusão do Concílio Ecumênico Vaticano II, encerrado em 08
de dezembro de 1965. Além disso, o Papa Francisco coloca o Jubileu
extraordinário da Misericórdia na perspectiva da «nova evangelização», com o
objetivo de anunciar e testemunhar a misericórdia de Deus, que faz parte da
essência do Evangelho.
5. O Ano Santo, ou Jubileu, é um tempo propício
para nos voltarmos para Deus de todo coração, para louvar e agradecer com
alegria («júbilo» «yobel» ) pelas graças recebidas; mas é também um “tempo
favorável” para acolher graças especiais de Deus, através do serviço da Igreja,
e para buscar mais intensamente o encontro com Ele e com os irmãos.
6. A conclusão do Ano Jubilar, o 29º jubileu na
história da Igreja Católica, que foi marcada para a festa da solenidade de
Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, nos faz refletir a importância de
peregrinar viva e verdadeiramente este Ano Santo. Afinal, toda a nossa vida e
toda a história da humanidade estão sob o signo da misericórdia de Deus,
manifestada a nós por meio de Jesus Cristo. No final de nossa peregrinação
terrena encontraremos Jesus Cristo glorificado, Senhor e Juiz da história e
também de cada um de nós. E todos, esperamos que Ele seja um juiz clemente e
misericordioso .
7. No Ano Santo somos chamados à conversão de vida,
ao arrependimento, à reconciliação com Deus e com o próximo e a renovar-nos
espiritualmente mediante o perdão de Deus, que abre «os tesouros de sua
misericórdia» (Ef 2,4), sendo indulgente para conosco, pecadores. O
processo de conversão é amplo, mas precisa dar sinais de que está em andamento.
O QUE LEVOU
O PAPA A DECLARAR UM ANO DA MISERICÓRDIA?
8. O Papa Francisco marcou, não por acaso, o início
do Ano Jubilar extraordinário para o dia 08 de dezembro. Nesse dia, além de se
comemorar a solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, também se
recorda que há 50 anos era encerrado o Concílio Ecumênico Vaticano II pelo Papa
Paulo VI . O Santo Padre Francisco lembra-nos que o Concílio foi uma grande
bênção para a Igreja e para a humanidade e que ele já produziu muitos frutos ao
longo desses 50 anos. Portanto, temos muito a agradecer a Deus.
9. O Papa Francisco explicou que a iniciativa
nasceu da sua intenção de tornar «mais evidente» a missão da Igreja de ser
«testemunha da misericórdia» . O Papa recordou que «ninguém pode ser excluído
da misericórdia de Deus» e que a Igreja «é a casa que acolhe todos e não
recusa ninguém» . «As suas portas estão escancaradas para que todos os que são
tocados pela graça possam encontrar a certeza do perdão. Quanto maior é o
pecado, maior deve ser o amor que a Igreja manifesta aos que se convertem» .
10. O Papa Francisco quer dar importância de viver
a misericórdia de Deus através do sacramento da Reconciliação, como «sinal da
bondade do Senhor» e do «abraço» de Jesus. «Ser tocados com ternura pela
sua mão e plasmados pela sua graça permite que nos aproximemos do sacerdote sem
medo por causa das nossas culpas, mas com a certeza de ser acolhidos por ele em
nome de Deus» . O Papa sublinhou que o julgamento de Deus é o da «misericórdia»,
numa atitude de amor que «vai para lá da justiça», e desafiou os fiéis a não
ficar pela «superfície das coisas», sobretudo quando está em causa uma pessoa.
11. Deus responde com a plenitude do perdão. Esse
ano santo lembra, também, o encerramento do Concílio Ecumênico Vaticano II, há
50 anos (cinquentenário), o qual foi um verdadeiro sopro renovador do espirito
na Igreja! O Papa Francisco, assim como os seus predecessores, quer a Igreja
Católica nas trilhas do Concílio Vaticano II. Assim pronunciou São João XXIII
na abertura do Concílio: «Nos nossos dias, a Esposa de Cristo prefere usar mais
o remédio da misericórdia ao da severidade...» . O ano santo é, portanto,
um indicativo para a Igreja e todo fiel cristão agirem sempre na linha da
misericórdia em relação aos irmãos. Porquanto, «a misericórdia será sempre
maior do que qualquer pecado e ninguém pode colocar um limite ao amor de Deus
que perdoa» .
12. Na tradição atual, os Jubileus ordinários
acontecem a cada 25 anos. Na história da Igreja aconteceram 26 jubileus
ordinários e 3 jubileus extraordinários . Em 1585, o Papa Sisto V, para
inaugurar o seu pontificado convocou um jubileu que se estendeu até 1590, e
muitos o enumeram como o primeiro extraordinário. Depois tivemos os de 1933,
com o Papa Pio XI, para celebrar os 1.900 anos da redenção realizada por Jesus
na Cruz, no ano 33. O último até agora foi em 1983, com São João Paulo II, para
celebrar os 1.950 anos da redenção cristã. Temos agora o novo jubileu
extraordinário iniciando neste ano de 2015 com o Papa Francisco, para lembrar
os 50 anos do encerramento do Concílio Vaticano II (1962-1965), marco de
renovação da Igreja, que abriu seu diálogo com o mundo.
13. O Papa apresenta em poucas palavras o
fundamento e razão do ano santo: «Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do
Pai» (n.1) . A misericórdia é, pois, «o coração pulsante do evangelho» (n.12).
O lema escolhido para esse jubileu é um chamado à vivência concreta da fé e a
misericórdia: «Misericordiosos como o Pai» (Lc 6,36). O Papa estabelece que em
todas as Dioceses, Santuários, Paróquias, Comunidades cristãs aconteça a
celebração deste Ano Santo como um acontecimento extraordinário de graça e renovação
espiritual. Além disso, o santo Padre recomenda a revitalização das obras de
misericórdia corporal e espiritual fixadas pela Igreja para entrarmos no
coração do evangelho, onde os pobres são os privilegiados da misericórdia
divina. As traduções são diferentes, porém podemos assim enumerar as obras de
misericórdia corporal: dar comida aos famintos, bebida aos sedentos, vestir os
nus, acolher os peregrinos, visitar os doentes e enterrar os mortos. E também
as obras de misericórdia espiritual: «Aconselhar os indecisos, ensinar os
ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas,
suportar com paciência as pessoas inconvenientes, rezar pelos vivos e defuntos»
(n.15). Aprendamos, portanto, no Ano Santo da Misericórdia, a ser misericordiosos
uns com os outros para merecermos a misericórdia de Deus.