Caros candidatos à ordenação! Caros irmãos e irmãs
no Senhor!
É o mesmo evangelista João, com as primeiras
palavras do Evangelho de hoje, a nos oferecer a chave para entender o
misterioso relato das núpcias de Caná. Inicia, de fato, dizendo que
aconteceram “no terceiro dia”. Os conhecedores da Terra Santa dizem que lá,
segundo um costume que pode chegar à época de Jesus, o dia habitualmente
escolhido para as núpcias era o terceiro dia da semana, a terça-feira, assim
como para nós geralmente é o sábado. E assim essa notícia nos diz antes de tudo
algo de muito comum: como de costume, as núpcias aconteceram no terceiro dia.
Todavia, em João, até mesmo as coisas habituais e
simplesmente humanas deixam transparecer o que há de mais elevado, o mistério
de Deus e de Jesus Cristo. E assim as palavras sobre esse usual “terceiro dia”
são esclarecedoras, levando-nos antes de tudo à Antiga Aliança, onde, sobretudo
na relação do Sinai, o terceiro dia é o dia da teofania, do manifestar-se de
Deus, do ingresso da sua glória na história dos homens. E em segundo lugar se
começa a entrever a luz do Mistério Pascal, que a cristandade, desde o tempo da
Igreja primitiva, confessa com essas palavras: “no terceiro dia ressuscitou dos
mortos”. A cristandade está persuadida de que só com o Mistério Pascal ocorreu
a autêntica, verdadeira e própria teofania de Deus neste mundo, o ingresso da
Sua potência e da Sua glória: a Sexta-feira Santa, com a humildade do seu amor
que se esquece de si até o abandono total; e o Domingo de Páscoa, com a
potência deste amor que destroça as portas da morte e apaga, assim, a lei
primária deste mundo, a lei do Stirb und Werde (a “morte como criação” de
Goethe), por meio da potência de uma vida não voltada para a morte. O primeiro
sinal de Jesus aponta para este Mistério Pascal. Indica o sinal por excelência,
que ao mesmo tempo é uma realidade nova que transforma o mundo.
Com este episódio e com a imagem que ele nos
oferece, João nos põe diante daquilo que Marcos, ao início do seu Evangelho,
sintetiza com poucas palavras, quando diz: “O tempo se completou e o Reino de
Deus está próximo: convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1, 14 s.). Núpcias,
comida e vinho são sinais do Mistério Pascal e, por isso, sinais do Reino de
Deus. As núpcias e a comida significam que o mundo está em festa, que vem
abaixo a cotidianidade cinza. Ocorre a irrupção de um amor que renova as
barreiras entre os homens e libera o caminho para uma nova liberdade, para uma
nova forma de estar juntos. E o vinho significa a superação das mesmas
barreiras do humano, a remoção das barreiras existentes entre o homem e o
mundo, assim como indica a riqueza e o refinamento dos dons. Em tudo isso se
percebe que haverá um dia a festa de Deus com este mundo.
Na descrição do episódio do Evangelho de hoje é
importante também um outro sinal: a abundância. Segundo o que nos indica João,
Jesus colocou à disposição dos convidados entre quinhentos e setecentos litros
de vinho; portanto, muito mais do que podia ser necessário naquele ponto
avançado da festa. Entretanto, exatamente nisto se faz evidente a lei de Deus, a
lei do amor: abundância que não tem medida, que não faz cálculos e não se
pergunta ainda por quanto seria necessário, mas doa com as mãos cheias, sem
perguntar, tornando assim evidente a grandeza, a liberdade festiva do amor. A
superabundância é a lei de Deus, a lei do amor e aquela da Nova Aliança. A Nova
Aliança inicia só onde cresce uma disposição parecida, que não faz cálculos,
não mede, não pesa dizendo: “o que devo fazer ainda para que seja suficiente?
”.