Católicos e luteranos deram mais um outro passo em
direção à comemoração conjunta do 500º aniversário da Reforma em 2017 emitindo
orientações litúrgicas comuns para as celebrações ecumênicas que marcarão a
ocasião. As orientações, publicadas em uma cartilha chamada “Common Prayer”
[orações em comum], fornece um modelo para as celebrações ecumênicas, com rezas
sugeridas, hinos e temas para os sermões.
As lideranças católicas no país natal de Lutero, a
Alemanha, onde o interesse pelo aniversário é mais forte, rejeitaram,
primeiramente, a ideia de “celebrar” o que os luteranos locais já haviam dado o
nome de “Reformationsjubiläum” (Jubileu da Reforma). Mas diálogos detalhados
entre a Federação Luterana Mundial e o Vaticano produziram um relatório com 93
páginas intitulado “Do Conflito à Comunhão” em 2013 que anunciava que as duas
tradições religiosas marcariam o aniversário conjuntamente e apresentariam a Reforma
como o começo de uma caminhada compartilhada de 500 anos, em vez de um evento
histórico singular e divisor.
As orientações dizem que todas as celebrações devem
ressaltar os conceitos de ações de graças, arrependimento e compromisso comum,
com o foco principal em Jesus. Elas foram apresentadas em 11 de janeiro pela
sede da Federação Luterana Mundial em Genebra e pelo Pontifício Conselho para a
Promoção da Unidades dos Cristãos.
A Reforma, iniciada com a publicação das 95 Teses
de Martinho Lutero em 1517, dividiu o cristianismo ocidental na medida em que
os protestantes se distanciaram do catolicismo romano e formaram as suas
próprias igrejas. Até cerca de 50 anos atrás, os dois lados viam-se com
suspeitas em uma divisão teológica profunda. Porém os debates ecumênicos
travados nas últimas décadas alcançaram uma tal reconciliação que os teólogos
recentemente sugeriram se explorar a possibilidade de uma comunhão
compartilhada, o que a Igreja Católica não se permite com outros cristãos.
Quando uma luterana casada com um católico
perguntou ao Papa Francisco sobre a comunhão compartilhada em sua visita à
comunidade religiosa dela em Roma no último mês de novembro, ele disse que não
poderia decidir a questão, mas deu a entender que a apoia. “É uma questão que
as pessoas devem responder por si mesmas (…) Há Um só batismo, um só Senhor,
uma só fé. Fale com o Senhor e, em seguida, vá para frente”, disse ele à
congregação reunida, que rompeu em aplauso.
A cartilha “Common Prayer” salienta as crenças
partilhadas entre o 1,2 bilhão de católicos romanos e os 75 milhões de
luteranos de todo o mundo, e aconselha os seus leitores a que as suas
recomendações sejam ser ajustadas de acordo com o país e o idioma em que serão
usadas.
A seção sobre o arrependimento admite que as
guerras religiosas pós-Reforma causaram “mortes de centenas de milhares de
pessoas” e enfraqueceram a mensagem evangélica. “Nós lamentamos profundamente
as coisas más que os católicos e luteranos fizeram mutualmente uns aos outros”,
lê-se.
“[A cartilha] Common Prayer marca um momento muito
especial no nosso caminho comum do conflito à comunhão”, disseram, em uma carta
conjunta que acompanhava a publicação, o Rev. Martin Junge (secretário geral da
Federação Luterana Mundial) e o Cardeal Kurt Koch (prefeito do dicastério
ecumênico do Vaticano). A cartilha sugere que os serviços religiosos ecumênicos
tenham dois presidentes, um católico e um luterano, e que conte com leitores
das orações advindos de ambas as tradições.
Devem-se usar hinos conhecidos tanto por católicos
com por protestantes, tais como “Louva ao Senhor, Potentíssimo” (originalmente
escrito para uma igreja luterana na Alemanha) ou cânticos meditativos tais como
“Veni Sancte Spiritus”, da comunidade ecumênica do Taizé, na França.
Pede-se que se citem passagens do documento “Do
Conflito à Comunhão” que explicam o porquê os católicos e luteranos deveriam se
unir em oração, e os presidentes são instruídos a conduzir uma oração que
lamenta que “até mesmo as boas ações de reforma e renovação tiveram, muitas
vezes, consequências negativas não intencionais”. Quanto às leituras do
Evangelho, sugere João 15, em que Jesus se compara a uma videira e diz que os
seus seguidores são como os seus ramos. As celebrações deverão incluir a
recitação de duas orações, o Credo dos Apóstolos e a Oração do Senhor.
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Tom Heneghan
Fonte: America
Disponível:
IHU Unisinos
Tradução:
Isaque Gomes Correa.
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