O verdadeiro amor a Deus só existe quando é
gratuito, desinteressado; por puro desejo de agradar a Deus.
Jesus disse a seus discípulos na noite da última
Ceia: “Se me amais guardareis os meus mandamentos” (João 14,15). E no Sermão da
Montanha alertou: “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino
dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mateus
7,21).
Em outra ocasião Jesus disse a todos, algo que os
quatro evangelistas narram de modos diferentes: ”Se alguém quer vir após mim,
renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz a cada dia e siga-me; porque, quem
quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas, quem sacrificar a sua vida por amor
de mim, salvá-la-á” (Lucas 9,23; Mt 16,24; Mc 8,34; Jo 12,25).
Essas passagens mostram que Jesus nunca prometeu
riquezas, fortunas, prazer, honra, glória e outras coisas terrenas para o
cristão; ao contrário, no Sermão da Montanha deixou bem claro: “Entrai pela
porta estreita…” (Mateus 7,14).
Não sei com que base bíblica inventaram uma tal
“teologia da prosperidade”, que outros chamam de “teologia da compensação”,
“teologia da retribuição”, mas que na verdade é um “teologia de barganha”; uma
triste troca de favores com Deus. Faz-se Deus de pronto-socorro; de banco,
vai-se no bolso do Pai, como um filho interesseiro. Não se busca a sua glória,
a edificação da Igreja e a salvação das almas. É o maior desvirtuamento que já
vi do Evangelho, e que está causando escândalo.
O verdadeiro amor a Deus só existe quando é
gratuito, desinteressado; por puro desejo de agradar a Deus. Quando Satanás se
apresentou diante de Deus e o desafiou dizendo que Jó o renegaria e
blasfemaria, se Deus lhe retirasse as bênçãos: sua família numerosa, seus bens,
seu gado, etc., na verdade queria provar para Deus que ninguém seria capaz de
amá-Lo gratuitamente. “É a troco de nada que Jó teme a Deus? Mas estende a tua
mão e toca em tudo o que ele possui; juro-te que te amaldiçoará na tua face”
(Jó 1, 9-11). Assim, de certa forma, Satanás estaria se justificando por ter se
revoltado contra Deus. “Se ninguém te ama sem recompensa, então, eu estou
justificado”.
Com a autorização de Deus, Satanás fez de tudo para
que Jó blasfemasse contra Deus. Jó perdeu seus bens, seus filhos, seu gado,
etc; mas não pecou: “Nu saí do ventre de minha mãe, nu voltarei. O Senhor deu o
Senhor tirou: bendito seja o nome do Senhor! Em tudo isso, Jó não cometeu
pecado algum, nem proferiu contra Deus blasfêmia alguma” (Jó 1,21-22).
Por fim Satanás pediu a Deus autorização para tirar
a saúde de Jó, o que foi feito, ficando com uma lepra da cabeça aos pés; mas Jó
continuou firme. Sua mulher desesperou-se e blasfemou: “Persistes ainda em tua
integridade? Amaldiçoa a Deus, e morre!” (2.9). Mas Jó foi fiel até o fim e deu
a resposta da fé à esposa: “Aceitamos a felicidade da mão de Deus; não devemos
também aceitar a infelicidade? Em tudo isso, Jó não pecou por palavras” (2,10).