domingo, 8 de maio de 2016

Bispos expressam angústia e pedem medidas frente à crise do Rio de Janeiro




CNBB
REGIONAL LESTE 1

CARTA SOBRE MOMENTO ATUAL 
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


Queridos irmãos e irmãs do Estado do Rio de Janeiro,

A dor de qualquer ser humano clama a Deus e onera a consciência de quem se deseja humano.

1.    Nós, bispos do Regional Leste 1, que abrange as dioceses do Estado do Rio de Janeiro, movidos pela Fé e pela Esperança, manifestamos nossa angústia diante das inúmeras formas de sofrimento humano pelas quais a população do Estado vive atualmente. Como pastores, não podemos deixar de nos sentir afetados pelas lágrimas que brotam de tantas situações precárias que atingem, entre outras, as áreas da saúde, educação, alimentação, segurança, moradia, emprego, não recebimento de salários e aposentadorias.

2.    Neste sentido, não podemos deixar de exortar os que mais diretamente têm a responsabilidade de encontrar com rapidez soluções estruturais para a triste realidade que atinge nossa gente. Investidos no poder público em seus diversos âmbitos, têm diante de si, a responsabilidade moral e legal de buscar soluções, devendo fazê-lo através da união de forças, do diálogo e também da criatividade, dentro do espírito democrático e pacífico que marca nossa nação.

3.    Em momentos de grandes dores, podemos nos fechar em embates teóricos ou ideológicos, correndo até mesmo o risco de nos envolvermos em posturas que ultrapassem os limites do bom senso, ingressando nas raias da violência. Por isso, clamamos para que o empenho de cada um, desde o nível pessoal até o institucional, seja sempre marcado pela paz, pelo diálogo e pela colaboração mútua, em busca do bem comum.

4.    Reconhecemos, em tudo isso, uma situação que não podemos deixar de denominar como catástrofe social. O número de pessoas atingidas nos habilita a assim considerar o quadro que se apresenta diante de nós. Interpelados pelo Deus de Justiça, não podemos permanecer de braços cruzados e insensíveis à dor de qualquer ser humano. Temos consciência de muitas das causas da atual situação, clamamos por sua superação e consideramos urgente que se olhe para as conseqüências que ferem a dignidade dos filhos e filhas de Deus, atingidos de maneira ultrajante. Exortamos todos os católicos e as pessoas de boa vontade, que sonham com um mundo mais humano, a que assumam sua responsabilidade na busca e na concretização de soluções.

5.    As primeiras soluções voltar-se-ão para o imediato, isto é, para as dores que não podem esperar o dia de amanhã, aguardando os trâmites dos planejamentos e das burocracias. O ponto de partida encontra-se em cada pessoa cujo coração não se endureceu de tão acostumado a ouvir clamores, a enxergar lágrimas. Por isso, na criatividade tão própria do povo brasileiro, cada um encontre formas de ajudar a quem está bem próximo, ao alcance da mão e do coração.

6.    Este não é o momento de ficarmos apenas apontando responsabilidades alheias, mas de agirmos, pensando no bem comum. Por isso, ouvindo o clamor de nosso povo (cf Ex 3,7), conclamamos as comunidades católicas, paróquias, movimentos e demais associações para que abram suas portas e saiam, como uma igreja samaritana, uma igreja em campanha, uma igreja em missão, na busca de quem está sofrendo as mais diversas formas deste momento tão peculiar. Não se trata de aguardar quem venha bater à porta de nossas comunidades, mas, ao contrário, colocando tudo em comum (cf At 2,44), sair ao encontro de quem precisa, mobilizando os(as) batizados(as) a ações que, impulsionadas pela criatividade do Espírito Santo, sejam capazes de aliviar a dor e a penúria.

Ninguém subiu ao céu a não ser aquele que de lá desceu


Hoje nosso Senhor Jesus Cristo subiu ao céu; suba também com ele o nosso coração. Ouçamos as palavras do Apóstolo: Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres (Cl 3,1-2). E assim como ele subiu sem se afastar de nós, também nós subimos com ele, embora não se tenha ainda realizado em nosso corpo o que nos está prometido.

Cristo já foi elevado ao mais alto dos céus; contudo, continua sofrendo na terra através das tribulações que nós experimentamos como seus membros. Deu testemunho desta verdade quando se fez ouvir lá do céu: Saulo, Saulo, por que me persegues (At 9,4). E ainda: Eu estava com fome e me destes de comer (Mt 25,35).

Por que razão nós também não trabalhamos aqui na terra de tal modo que, pela fé, esperança e caridade que nos unem a nosso Salvador, já descansemos com ele no céu? Cristo está no céu, mas também está conosco; e nós, permanecendo na terra, estamos também com ele. Por sua divindade, por seu poder e por seu amor ele está conosco; nós, embora não possamos realizar isso pela divindade, como ele, ao menos podemos realizar pelo amor que temos para com ele.

O Senhor Jesus Cristo não deixou o céu quando de lá desceu até nós; também não se afastou de nós quando subiu novamente ao céu. Ele mesmo afirma que se encontrava no céu quando vivia na terra, ao dizer: Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu (cf. Jo 3,13).

Isto foi dito para significar a unidade que existe entre ele, nossa cabeça, e nós, seu corpo. E Ninguém senão ele podia realizar esta unidade que nos identifica com ele mesmo, pois tornou-se Filho do homem por nossa causa, e nós por meio dele nos tornamos filhos de Deus.

Neste sentido diz o Apóstolo: Como o corpo é um só, embora tenha muitos membros, e como todos os membros do corpo, embora sejam muitos, formam um só corpo, assim também acontece com Cristo (1Cor 12,12). Ele não diz: “assim é Cristo”, mas: assim também acontece com Cristo. Portanto, Cristo é um só, formado por muitos membros.

Desceu do céu por sua misericórdia e ninguém mais subiu senão ele; mas nele, pela graça, também nós subimos. Portanto, ninguém mais desceu senão Cristo e ninguém mais subiu além de Cristo.

Isto não quer dizer que a dignidade da cabeça se confunde com a do corpo, mas que a unidade do corpo não se separa da cabeça.



Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo
(Sermo de Ascensione Domini, Mai 98,1-2:PLS2,494-495)             (Séc.V)

Pio XII: Por que não avança o seu processo de beatificação?


O vice-postulador da causa de beatificação do Papa Pio XII, Pe. Marc Lindeijer, assegura que a cada ano recebem ao menos duas informações sobre possíveis milagres que teriam sido operados por intercessão do falecido Pontífice e que permitiriam elevá-lo aos altares. Entretanto isso não basta porque é preciso investigar a vida das pessoas envolvidas e elas parecem não estar dispostas a colaborar com o processo.

Em conversação com o grupo ACI o vice-postulador da causa explicou que “estamos esperando o milagre para a beatificação. Cada ano recebemos ao menos duas notícias de lindos milagres, mas o problema é sempre fazer que as pessoas colaborem. Não basta com que seja um milagre”.

“O importante é que depois haja todo um processo no qual se recolha as provas, os testemunhos (...) Não sei por que, mas as pessoas estão sempre amedrontadas para colaborar, possivelmente tenham medo da imprensa”, explica.

O vice-postulador fez estas declarações no marco da emissão da Rádio Televisão Italiana (RAI) de um documentário sobre o Pontífice intitulado “Pio XII, homem da paz e Papa da guerra”.

O documentário foi ao ar na noite desta terça-feira 12 de janeiro em toda a Itália. Em 50 minutos conta a vida do Eugenio Pacelli desde antes de ser eleito Pontífice até o conclave em que se converteu em sucessor de São Pedro.

O vídeo toma relatos biográficos inéditos graças à colaboração do postulador da causa de beatificação, Pe. Peter Gumpel, e o vice-postulador, Pe. Marc Lindeijer. Também participam importantes historiadores como Matteo Luigi Napolitano, Andrea Riccardi (fundador da Comunidade de São Egidio) e Anna Foa, historiadora da Universidade La Sapienza em Roma, quem assinala que Pio XII é um Papa que mudou “a história as relações com os judeus”.

Este é precisamente um dos assuntos que geraram sempre mais polêmica e controvérsia em torno de sua figura. Alguns pensam que não se opôs o suficiente ao nazismo durante a II Guerra Mundial e inclusive o apresentam como “amigo” das teses hitlerianas.

Entretanto, são abundantes as investigações realizadas até agora que provam o contrário: o elogiável trabalho do Papa com os judeus e como evitou em numerosas ocasiões que muitos deles fossem deportados aos campos de extermínio.

Estas ações de Pio XII ficaram também registradas em cartas e jornais em conventos nos quais as religiosas contavam como, por ordem do Santo Padre, ajudaram a esconder judeus dentro de seus muros. É o caso das Irmãs da Santa Maria Menina ou das monjas agostinianas do monastério de “Santi Quatro Coronati”.

O documentário oferece detalhes a respeito que servem também para rebater as acusações que se realizaram estes anos. Além disso, oferece um detalhado relatório sobre o trabalho da Santa Sé para encontrar pessoas desaparecidas depois da guerra. Até 1954 trabalharam neste projeto 885 pessoas.

O Pe. Lindeijer assegura sobre este tema que “a oportunidade de beatificação não depende de nós, da postulação, mas sim da Santa Sé, do Papa”.

“Até agora não temos nenhum motivo para pensar que o Papa Francisco não o beatificará quando o milagre seja aprovado. Todas as indicações são positivas” e de fato “ele parece estar bastante a favor da figura de Pio XII”. 

São Vítor


Vítor era africano. Foi batizado ainda criança e quando ficou adulto ingressou no exército do imperador Maximiano. O destacamento em de Vítor se estabeleceu em Milão, na Itália. Entretanto o imperador exigia que todos os soldados, antes de irem para a batalha, oferecessem sacrifícios aos deuses pagãos do império. Os que se recusavam eram condenados à morte. Pois Vítor se recusou, mantendo e reafirmando sua fé cristã. Ele foi levado ao tribunal e interrogado. Confessou a fé, apesar de manter fidelidade militar ao imperador. Mesmo assim foi encarcerado, permanecendo por seis dias sem comida ou água. Essa cadeia onde ficou, ao lado da Porta Romana, até hoje é tristemente conhecida como o cárcere de São Vítor. Findo esse prazo Vítor foi arrastado pelas ruas da cidade. Foi severamente flagelado, mas manteve-se firme. Levado de volta ao cárcere, teve as feridas cobertas por chumbo derretido, mas o soldado africano saiu ileso do pavoroso castigo. Rapidamente Vítor se recuperou e, na primeira oportunidade, fugiu da cadeia. Acabou descoberto, levado a uma floresta próxima e decapitado. Era dia 08 de maio de 303. No lugar de sua sepultura foi erguida uma igreja. Aliás há em Milão, várias outras igrejas e monumentos erguidos em sua homenagem. Vítor é um dos Santos mais amados e venerados pelos habitantes de Milão. É invocado como o padroeiro dos prisioneiros e exilados.


São Vítor, quanto sofrestes para testemunhar vossa fé em Cristo! Peço-Vos, após louvar vossas virtudes tão preciosas, que intercedais junto a Deus para que haja uma grande mudança em nossos sistemas penitenciários. Que a ociosidade seja completamente extinta. Concede a graça da conversão aos delegados e policiais, para que aprendam a adquirir uma escala de valores realmente cristã, e que a criminalidade seja substituída pela paz. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.

Ascensão do Senhor*


Celebrar a Ascensão de Jesus é celebrar seu modo novo de estar conosco, do Emanuel, Deus Conosco, manifestar-se em nosso meio.

Certamente esse modo novo do Senhor se manifestar entre os homens passa pela Comunidade, por suas atitudes que dão continuidade á missão do Senhor e que asseguram a continuidade da construção do Reino de Justiça e de Paz.

O Livro dos Atos dos Apóstolos, do qual é tirada a primeira leitura da solenidade de hoje, nos mostra Jesus dizendo aos seus discípulos que eles receberão o Espírito Santo e que Este os tornará suas testemunhas no mundo inteiro.

O Espírito que os discípulos receberão é o mesmo que esteve presente em Jesus. Os anjos que aparecem após a “subida” de Jesus ao Céu dizem aos discípulos para não ficarem de braços cruzados, mas agirem, isto é, continuarem a missão do Senhor. Os anjos dizem aos discípulos que Jesus vai voltar. Isso nos recorda a parábola contada pelo Senhor em que o patrão quando volta de viagem quer saber de seus servos o que fizeram, qual o produto do trabalho. Os anjos nos recordam a necessidade de deixar de ficar olhando para o céu e colocar mãos à obra, trabalhar!

O Evangelho de Mateus nos fala que o poder que Jesus recebeu do Pai e foi plenificado após sua ressurreição, é dado à Comunidade para que “Vá e faça discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que lhes ordenei!”

Batismo e catequese! Batismo é a consagração, a configuração a Jesus Cristo, o Ungido e a Catequese é a implementação da Justiça. Logo, deveremos levar as pessoas a se configurarem ao Homem Novo, de acordo com o desejo do Pai e, depois, após conscientizá-los, levá-los a praticar a justiça e as bem-aventuranças. E Mateus termina citando a certeza da presença eterna de Jesus ao nosso lado: “ Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo!”

A Ascensão de Jesus é a transformação da presença do Emanuel, do Deus Conosco. Sua presença é manifestada não através de uma figura visível, a de Jesus, mas através da ação libertadora praticada pelos membros da Comunidade.

Quando chegar o final dos tempos, a Parusia, veremos a “re-velação” do Senhor. Veremos que atrás de cada atitude cristã estava o Redentor – Cristo, o Autor de todo ato de bondade – o Pai, e nos inspirando, o Espírito de Amor.


Senhor Jesus, graças Te dou pelo alimento da Tua Palavra que me interpela a deliciar o mundo com o Teu sabor, com o sabor do fruto da Esperança! Que os meus olhos se voltem para Ti, Senhor vivo e glorioso, ressuscitado e elevado aos céus, para que do alto do Teu amor se renove a minha esperança! Que à mesa do banquete pascal Eu saboreie a alegre e reconfortante certeza de que em Ti nada me falta nem faltará, basta confiar, basta acreditar… Que eu seja fiel ao Teu mandato e pregue o Evangelho a toda a criatura para que todos sejam salvos e se deliciem em Ti, provando os doces frutos do sabor da Tua esperança! Amém!        
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*No Brasil esta solenidade é celebrada no 7º Domingo da Páscoa.                                                                   

sábado, 7 de maio de 2016

Cristãos são fortemente perseguidos no Oriente Médio, África e Ásia

 
Relatório "Perseguidos e Esquecidos?”, da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), mostra a perseguição aos cristãos entre 2013 e 2015, em 22 países onde se verifica uma maior violação à liberdade religiosa. O Cristianismo parece estar destinado a desaparecer no Oriente Médio conforme indica o documento, que mostra também um aumento da perseguição aos cristãos, entre 2013 e 2015.

No Iraque, por exemplo, o estudo conclui que, caso o êxodo de fiéis continuar a ocorrer, como vem acontecendo desde agosto de 2014, não haverá mais cristãos no país no prazo de cinco anos. No fim de outubro do ano passado, entre os dias 23 e 25, a AIS-Brasil recebeu a visita do padre iraquiano Douglas Bazi para duas celebrações no Rio de Janeiro e, durante a sua passagem, contou um pouco sobre a situação que vivem no Iraque.

"Há 14 meses, o Estado Islâmico atacou e tomou toda a região norte do país, obrigando cerca de 100 mil cristãos a abandonarem suas casas. A fuga ocorreu à noite, com milhares de pessoas andando pelas estradas em direção às cidades de Erbil e Dohuk. Desde então, eu vivo com eles em um campo de refugiados. As famílias perderam tudo e vivem em tendas ou containers de carga, desses transportados em navios, adaptados como residência. O calor chega a 51 graus, não há privacidade, trabalho e dependemos da ajuda enviada por entidades, como a AIS. Se não houver uma interferência, o povo cristão irá desaparecer em breve”, denuncia o sacerdote.

Os conflitos na Síria também foram responsáveis pela queda do número de cristãos, de 1,25 milhões, antes do início da guerra em 2011, para quase 500 mil, hoje. O relatório descreve o que chama de "limpeza étnica por motivos religiosos” dos cristãos por parte de grupos terroristas islamitas, especialmente no Iraque e na Síria, mas também em partes da África.

O relatório conclui ainda que, em 2015, a situação dos cristãos piorou em 15 dos 22 países em análise, sendo que, em 10 países, a perseguição é classificada como "extrema”. Até 2013, quatro países possuíam esta classificação. O extremismo islâmico foi apontado como a maior ameaça, mas a intolerância registrada por extremistas de outros grupos religiosos, como Hinduísmo, Judaísmo e Budismo, também aumentou em quantidade de ataques e violência.

Regimes classificados como totalitários, como o chinês, também colocam uma pressão crescente sobre a Igreja. E em países, como a Eritreia e o Vietnã, a perseguição se intensificou nos últimos dois anos. O relatório observa que, em muitos casos, os cristãos são perseguidos não por causa da crença, mas pela suposta ligação com o Ocidente, especificamente com os Estados Unidos.

O papa Francisco, ao receber uma cópia do estudo, enviou uma mensagem para a AIS oferecendo o seu apoio para as questões dos refugiados, expressada por meio de uma carta do secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin: "Desta forma, [o papa] reza para que aqueles em posições de autoridade diligentemente se esforcem não só para erradicarem a discriminação e perseguição religiosa em suas próprias nações, mas também para buscarem formas cada vez mais eficazes para promover a cooperação internacional, a fim de superar esses crimes contra a dignidade humana e da liberdade religiosa”.

Cristianismo já é maior que Islã no continente africano

 
Cristianismo em seu todo, incluindo evangélicos, católicos, coptas e outros ramos, é hoje a maior religião da África, passando à frente do Islã. Um em cada cinco cristãos do mundo vive na África.

Esta foi a conclusão de um estudo apresentado pelo sociólogo Massimo Introvigne, durante um congresso organizado pelo Centro de Estudos de Novas Religiões (CESNUR) da Universidade de El Jadida, no Marrocos.

Segundo os dados, os cristãos representam hoje 46,53% da população africana, em comparação com 40,46% de muçulmanos e 11,8% das pessoas que seguem religiões tradicionais africanas, conforme divulgou o jornal italiano La Stampa.

Também mostra que, enquanto em 1900 os cristãos da África eram 10 milhões, em 2012 as chegam a mais de 500 milhões. Em 1900 os africanos representavam 2% dos cristãos do mundo e hoje, são 20% do total dos seguidores de Cristo no mundo.

“Esses dados ainda estão sendo consolidados”, disse Introvigne, fundador da CESNUR, “mas têm grande significado histórico, cultural e político”.

Papa Francisco recebe Prêmio Carlos Magno 2016 por sua contribuição à paz




Discurso do Papa Francisco durante
cerimônia da entrega do Prêmio Carlos Magno
Sexta-feira, 06 de maio de 2016

Ilustres Senhoras e Senhores!

Dou-vos as minhas cordiais boas-vindas e agradeço a vossa presença. Sinto-me particularmente agradecido aos senhores Marcel Philipp, Jürgen Linden, Martin Schulz, Jean-Claude Juncker e Donald Tusk pelas suas amáveis palavras. Desejo reiterar a minha intenção de dedicar à Europa este prestigioso Prémio com que sou honrado: com efeito não estamos a comemorar qualquer gesto, mas queremos aproveitar o ensejo para, juntos, almejarmos um novo e corajoso impulso a este amado Continente.

A criatividade, o engenho, a capacidade de se levantar e sair dos seus limites pertencem à alma da Europa. No século passado, ela deu testemunho à humanidade de que era possível um novo começo: depois de anos de trágicos confrontos, culminados na guerra mais terrível de que se tem memória, surgiu – com a graça de Deus – uma novidade sem precedentes na história. As cinzas dos escombros não puderam extinguir a esperança e a busca do outro que ardiam no coração dos Pais fundadores do projeto europeu. Estes lançaram os alicerces dum baluarte de paz, dum edifício construído por Estados que se uniram, não por imposição, mas por livre escolha do bem comum, renunciando para sempre a guerrear-se. Finalmente, depois de tantas divisões, a Europa reencontrou-se a si mesma e começou a edificar a sua casa.

Esta «família de povos»,1 que entretanto se foi louvavelmente ampliando, nos últimos tempos parece sentir como menos suas as paredes da casa comum distanciando-se por vezes, na sua consolidação, do luminoso projeto arquitetado pelos Pais. Aquela atmosfera de novidade e aquele desejo ardente de construir a unidade aparecem sempre mais amortecidos; nós, filhos daquele sonho, somos tentados a ceder aos nossos egoísmos, tendo em vista apenas os próprios interesses e pensando em construir recintos particulares. Estou convencido, porém, de que a resignação e o cansaço não pertencem à alma da Europa e que as próprias «dificuldades podem revelar-se, fortemente, promotoras de unidade».2

No Parlamento Europeu, tomei a liberdade de falar de Europa avó. Dizia aos eurodeputados que crescia, de diferentes partes, a impressão geral duma Europa cansada e envelhecida, não fértil e sem vitalidade, onde os grandes ideais que a inspiraram parecem ter perdido o seu fascínio; uma Europa decadente que parece ter perdido a sua capacidade geradora e criativa; uma Europa tentada mais a querer garantir e dominar espaços do que a gerar processos de inclusão e transformação; uma Europa que se vai «entrincheirando», em vez de privilegiar ações que promovam novos dinamismos na sociedade; dinamismos capazes de envolver e mobilizar todos os atores sociais (grupos e indivíduos) na busca de novas soluções para os problemas atuais, que frutifiquem em acontecimentos históricos importantes; uma Europa que, longe de proteger espaços, se torne mãe geradora de processos (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 223).

Que te sucedeu, Europa humanista, paladina dos direitos humanos, da democracia e da liberdade? Que te sucedeu, Europa terra de poetas, filósofos, artistas, músicos, escritores? Que te sucedeu, Europa mãe de povos e nações, mãe de grandes homens e mulheres que souberam defender e dar a vida pela dignidade dos seus irmãos?

O escritor Elie Wiesel, sobrevivente dos campos nazistas de extermínio, dizia que hoje é de importância capital realizar uma «transfusão de memória». É preciso «fazer memória», distanciar-se um pouco do presente para ouvir a voz dos nossos antepassados. A memória permitir-nos-á não só de evitar cometer os mesmos erros do passado (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 108), mas dar-nos-á acesso também às conquistas que ajudaram os nossos povos a ultrapassar com êxito as encruzilhadas históricas que iam encontrando. A transfusão de memória liberta-nos da tendência atual, muitas vezes mais fascinante, de forjar à pressa, sobre areias movediças, resultados imediatos que poderiam produzir «ganhos políticos fáceis, rápidos e efémeros, mas que não constroem a plenitude humana» (ibid., 224).

Para isso, será útil evocar os Pais fundadores da Europa. Eles souberam procurar estradas alternativas, inovadoras num contexto marcado pelas feridas de guerra. Tiveram a audácia não só de sonhar a ideia de Europa, mas ousaram transformar radicalmente os modelos que provocavam apenas violência e destruição. Ousaram procurar soluções multilaterais para os problemas que pouco a pouco se iam tornando comuns.