O vice-postulador da causa de beatificação do Papa
Pio XII, Pe. Marc Lindeijer, assegura que a cada ano recebem ao menos duas
informações sobre possíveis milagres que teriam sido operados por intercessão
do falecido Pontífice e que permitiriam elevá-lo aos altares. Entretanto isso
não basta porque é preciso investigar a vida das pessoas envolvidas e elas
parecem não estar dispostas a colaborar com o processo.
Em conversação com o grupo ACI o vice-postulador da
causa explicou que “estamos esperando o milagre para a beatificação. Cada ano
recebemos ao menos duas notícias de lindos milagres, mas o problema é sempre
fazer que as pessoas colaborem. Não basta com que seja um milagre”.
“O importante é que depois haja todo um processo no
qual se recolha as provas, os testemunhos (...) Não sei por que, mas as pessoas
estão sempre amedrontadas para colaborar, possivelmente tenham medo da
imprensa”, explica.
O vice-postulador fez estas declarações no marco da
emissão da Rádio Televisão Italiana (RAI) de um documentário sobre o Pontífice
intitulado “Pio XII, homem da paz e Papa da guerra”.
O documentário foi ao ar na noite desta terça-feira
12 de janeiro em toda a Itália. Em 50 minutos conta a vida do Eugenio Pacelli
desde antes de ser eleito Pontífice até o conclave em que se converteu em
sucessor de São Pedro.
O vídeo toma relatos biográficos inéditos graças à
colaboração do postulador da causa de beatificação, Pe. Peter Gumpel, e o
vice-postulador, Pe. Marc Lindeijer. Também participam importantes
historiadores como Matteo Luigi Napolitano, Andrea Riccardi (fundador da
Comunidade de São Egidio) e Anna Foa, historiadora da Universidade La Sapienza
em Roma, quem assinala que Pio XII é um Papa que mudou “a história as relações
com os judeus”.
Este é precisamente um dos assuntos que geraram
sempre mais polêmica e controvérsia em torno de sua figura. Alguns pensam que
não se opôs o suficiente ao nazismo durante a II Guerra Mundial e inclusive o
apresentam como “amigo” das teses hitlerianas.
Entretanto, são abundantes as investigações
realizadas até agora que provam o contrário: o elogiável trabalho do Papa com
os judeus e como evitou em numerosas ocasiões que muitos deles fossem
deportados aos campos de extermínio.
Estas ações de Pio XII ficaram também registradas
em cartas e jornais em conventos nos quais as religiosas contavam como, por
ordem do Santo Padre, ajudaram a esconder judeus dentro de seus muros. É o caso
das Irmãs da Santa Maria Menina ou das monjas agostinianas do monastério de
“Santi Quatro Coronati”.
O documentário oferece detalhes a respeito que servem
também para rebater as acusações que se realizaram estes anos. Além disso,
oferece um detalhado relatório sobre o trabalho da Santa Sé para encontrar
pessoas desaparecidas depois da guerra. Até 1954 trabalharam neste projeto 885
pessoas.
O Pe. Lindeijer assegura sobre este tema que “a
oportunidade de beatificação não depende de nós, da postulação, mas sim da
Santa Sé, do Papa”.
“Até agora não temos nenhum motivo para pensar que
o Papa Francisco não o beatificará quando o milagre seja aprovado. Todas as
indicações são positivas” e de fato “ele parece estar bastante a favor da
figura de Pio XII”.
O Papa
Francisco e Pio XII
O Santo Padre defendeu Pio XII em uma entrevista
concedida ao jornalista judeu Henrique Cymerman em novembro de 2014. O
Pontífice afirmou que “uma coisa que me preocupa, e serei honesto com você, é a
imagem do Papa Pio XII”. “Desde que Rolf Hochhuth escreveu O Vigário, em 1963,
(uma peça de teatro) o Papa Pio XII foi acusado de todo tipo de coisas (entre
elas, estar ao tanto do extermínio dos judeus e não ter feito nada)”.
“Durante o Holocausto –prosseguiu o Pontífice– o
Papa Pacelli (Pio XII) deu refúgio a muitos judeus nos monastérios na Itália.
Em Castel Gandolfo (na residência do verão dos Papas e onde estão as vilas
pontifícias) nasceram 42 filhos de casais que tinham encontrado em suas salas
refúgio dos nazistas. Estas são coisas que as pessoas não sabem”.
“Quando Pio XII morreu, Golda Meir enviou uma carta
que dizia: ‘compartilhamos a dor da humanidade. Quando o Holocausto golpeou a
nosso povo, o Papa se expôs em defesa das vítimas’. Mas depois chegou este
espetáculo teatral, e todos voltaram as costas à memória do Papa Pio XII”,
afirmou o Papa Francisco.
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ACI Digital
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