Grande Mistério, a Eucaristia! Mistério que
deve antes de tudo, ser bem celebrado. É preciso que a Santa Missa seja posta
no centro da vida cristã e que em cada comunidade se faça de tudo para
celebrá-la com decoro (...) com uma séria atenção também aos aspectos da
sacralidade que deve caracterizar o canto e a música litúrgica. É preciso, em
particular, cultivar, quer na celebração da missa, quer no culto eucarístico
fora da missa, a viva consciência da presença real de Cristo, tendo o cuidado
de testemunhá-la com o tom da voz, gestos, movimentos e com todo o conjunto do
comportamento. (...) o destaque que deve ser dado aos momentos de silêncio,
seja na celebração, seja na adoração eucarística. É necessário que todo modo de
tratar a Eucaristia por parte dos ministros seja marcado por um extremo
respeito (...).
A adoração eucarística fora da missa se torne, durante este ano, um
empenho especial para cada comunidade paroquial e religiosa. Permaneçamos
longamente prostrados diante de Jesus presente na Eucaristia, reparando com
nossa Fé e nosso amor os descuidos, os esquecimentos e até os ultrajes que
nosso Salvador deve sofrer em tantas partes do mundo (...).
A
Solenidade do Corpo e do Sangue do Senhor
Na Quinta-feira após a Solenidade da Santíssima Trindade, a Igreja
celebra a Solenidade do Corpo e Sangue do Senhor. A Festa, estendida em 1264
pelo Papa Urbano IV a toda a Igreja latina, por um lado, foi uma reposta de Fé
e de culto a doutrinas hereges sobre a presença real de Cristo na Eucaristia;
por outro foi a coroação de um movimento de ardente devoção para com o augusto
Sacramento do Altar.
A piedade popular, portanto, favoreceu o processo de instituição da
festa de Corpus Christi; por sua vez esta festa foi a causa e o motivo do
surgimento de novas formas de piedade eucarística no povo de Deus.
Durante séculos, a celebração de Corpus Christi foi o principal ponto
de convergência da piedade popular em relação à Eucaristia. Nos séculos
XVI-XVII, a Fé, reavivada pela necessidade de reagir às negações do movimento
protestante, e a cultura (...) concorreram para tornar vivas e significativas
muitas expressões da piedade popular para com o Mistério da Eucaristia.
A devoção eucarística, assim enraizada no povo cristão deve, contudo,
ser educada a perceber duas realidades fundamentais:
1. que o supremo ponto de referência da piedade
eucarística é a Páscoa do Senhor; de fato, a Páscoa, segundo a visão dos santos
Padres, é a Festa da Eucaristia e , por outro lado, a Eucaristia é antes de
tudo Celebração da Páscoa, isto é, da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus;
2. que toda forma de devoção cristã tem uma
intrínseca referência ao Sacrifício eucarístico, seja porque dispõe à
celebração, seja porque prolonga as orientações cultuais e existenciais por ela
suscitadas.
Por isso, o Ritual Romano adverte: “Os fiéis,
ao cultuarem o Cristo presente no Sacramento, lembrem-se de que esta presença decorre do Sacrifício e tende à Comunhão
sacramental e espiritual”.
A procissão da Solenidade de Corpus Christi é, por assim dizer, a “forma
tipo” das procissões eucarísticas. De fato, ela prolonga a Celebração da Eucaristia:
logo após a Missa, a Hóstia, que nela foi consagrada, é levada para fora do
recinto eclesial a fim de que o povo cristão “dê testemunho público de Fé e de
Veneração para com o Santíssimo Sacramento”.
Os fiéis compreendem e amam os valores presentes na procissão de Corpus Christi: eles se sentem “povo de
Deus” que caminha com o seu Senhor, proclamando a fé nele, que se tornou
verdadeiramente o “Deus conosco”.
É preciso, porém, que nas
procissões eucarísticas se observem as normas que regulam o seu desenrolar,
principalmente aqueles que garantem a sua dignidade e a reverência devida ao
Santíssimo Sacramento; e
é também necessário que os elementos característicos da piedade popular, como o
enfeite das ruas e das janelas, a homenagem das flores, os altares onde será
colocado o Santíssimo nas paradas dos percursos, os cantos e as orações, “todos
levem a manifestar a própria Fé em Cristo, unicamente voltados para o louvor do
Senhor”, e isentos de qualquer forma de competição.
As procissões eucarísticas geralmente se encerram com a Bênção do
Santíssimo Sacramento. No caso específico da procissão de Corpus Christi , a
Bênção é a conclusão Solene de toda a Celebração: no lugar da costumeira Bênção
sacerdotal é dada a Bênção com o Santíssimo Sacramento.
É importante que os fiéis entendam que a bênção com o Santíssimo
Sacramento não é uma forma de piedade eucarística por si só, mas é o momento
conclusivo de um encontro cultual suficientemente prolongado. Por isso, a norma litúrgica evita “a exposição feita
unicamente para dar a Bênção”.