Assim como trazemos em nós a imagem do homem terreno, procuremos também trazer em nós a imagem do homem celeste; porque o primeiro homem, tirado da terra, é terreno;o segundo homem, vindo do Céu, é celeste. Procedendo assim, irmãos caríssimos, nunca mais morreremos. Ainda que este nosso corpo se dissolva, viveremos em Cristo, como Ele próprio diz: Aquele que acredita em Mim, ainda que morra, viverá.
Temos a certeza, fundada no testemunho do Senhor, de que Abraão, Isaac e Jacob e todos os santos de Deus estão vivos. É o próprio Senhor que diz a respeito deles: Para Ele todos vivem, porque Deus não é Deus de mortos mas de vivos. E falando de si próprio, o Apóstolo afirma: Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro: desejo morrer para estar com Cristo. E ainda: Enquanto habitamos neste corpo, vivemos como exi- lados, longe do Senhor, pois caminhamos à luz da fé e não da visão clara. É esta a nossa fé, irmãos caríssimos. De resto, se é só para a vida presente que temos posta em Cristo a nossa esperança, somos os mais miseráveis de todos os homens. A nossa vida terrena, como vós mesmos podeis observar, é seme- lhante à dos animais, das feras e das aves. O que é próprio do homem, o que Cristo nos deu pelo seu Espírito, é a vida eterna, desde que deixemos de pecar. Porque assim como a morte vem por causa do pecado, assim nos livramos dela por meio da san- tidade; portanto, a vida perde-se com o pecado e salva-se com a santidade. O salário do pecado é a morte; mas o dom de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor.
Foi Ele que nos resgatou, perdoando-nos, como diz o Apóstolo, todos os pecados e anulando o documento da nossa dívida, que Ele fez desaparecer, pregando-o na cruz; assim dominou os principados e as potestades, incorporando-os no seu cortejo triunfal. Ele libertou os cativos e quebrou as nossas cadeias, como David tinha profetizado: O Senhor levanta os abatidos, o Senhor dá liberdade aos cativos, o Senhor dá vista aos cegos. E noutro salmo: Quebrastes as minhas cadeias, oferecer-Vos-ei um sacrifício de louvor. Fomos efectivamente libertados das nossas cadeias, quando, pelo sacramento do baptismo, nos reunimos sob o estandarte do Senhor, libertos pelo sangue e pelo nome de Cristo.
Portanto, irmãos caríssimos, de uma vez para sempre somos purificados, de uma vez para sempre somos libertados, de uma vez para sempre somos recebidos no reino imortal; de uma vez para sempre, felizes daqueles a quem foi perdoada a culpa e absolvido o pecado. Guardai com firmeza o que recebestes, guardai-o com alegria, não pequeis mais. Conservai-vos assim puros e imaculados para o dia do Senhor.
Do Sermão de São Paciano, bispo, sobre o baptismo
(Nn. 6-7: PL 13, 1093-1094) (Sec. IV)