- "Como se explica que a culpa original passe para todo homem?"
(Guimarães - Altinópolis - SP).
Todo homem experimenta numerosas misérias físicas a acometê-lo: a morte com seus precursores (a doença, a fome, o frio...). Mais importantes ainda são os achaques espirituais: a concupiscência desregrada, a acentuada capacidade de errar na procura da verdade, a debilidade do querer etc. E, fora do homem, o que se verifica? A natureza não raro parece revoltada; em vez de servir ao seu senhor, esmaga-o pelos flagelos (secas e enchentes, terremotos etc.).
1) Será que esta ordem de coisas é ordinária, obra do Autor mesmo da natureza? Bem se poderia crer que não, dado o avultado número de males que afetam as criaturas (até certo grau, as falhas e os desequilíbrios não chamariam a atenção do filósofo, pois são por si inerentes à condição falível de qualquer criatura). Aliás, os povos primitivos ainda hoje existentes costumam, em suas narrativas tradicionais, atribuir a morte e as desgraças a uma violação do bem-estar inicial; os primeiros indivíduos teriam desobedecido a Deus, acarretando sobre si a triste sorte que o gênero humano padece (vejam-se tais narrativas no livro de Estêvão Bettencourt, "Ciência e Fé na História dos Primórdios", Agir, 3ª ed., pp.178-184).
Ora, a fé cristã elucida ulteriormente estas observações: ensina que o primeiro homem, Adão, de fato pecou e que a sua culpa repercutiu em seus descendentes, assim como em toda a natureza material, causando desordem.
O documento mais explícito a este propósito é o texto de São Paulo, Romanos 5,12: o Apóstolo afirma que, por obra de um homem (o primeiro Adão), o pecado (o Pecado personificado, o Pecado enquanto é um estado que afeta o gênero humano inteiro) entrou no mundo. Como sanção do pecado, entrou a morte, a qual também é universal, acometendo a todos indistintamente, "pois que - diz São Paulo - todos pecaram". Ora, já que todos morrem, mas nem todos cometem pecado pessoal (tenham-se em vista as criancinhas), a razão pela qual lhes é imposta tal sanção há de ser o pecado de Adão transmitido a seus descendentes juntamente com a natureza humana.
O Apóstolo reafirma seu pensamento no versículo 19:
- "Como pela desobediência de um só homem (Adão), a multidão (do gênero humano) foi constituída pecadora, assim pela obediência de um só (Cristo) a multidão será justificada".
A ideia de um pecado impregnado na natureza humana desde que esta seja concebida no seio materno, decorre outrossim de Efésios 2,3:
- "Por natureza, éramos filhos da ira".