segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Homilética: Dedicação da Basílica do Latrão (9 de novembro): "Somos templos vivos".


No dia 9 de novembro, a Igreja celebra a festa, o aniversário, da dedicação da Basílica de Latrão, a Catedral do Papa, Bispo de Roma, chamada “a primeira entre todas as Igrejas; ou seja, a Igreja-mãe de Roma”. Surgiu no século IV e é dedicada ao divino Salvador. Foi levantada, em Roma, pelo imperador Constantino. A festa é celebrada em toda a Igreja como o sinal de unidade com o Papa. Após a paz constantiniana se tornou a moradia do Papa. Numerosos e importantes concílios ecumênicos tiveram lugar nela. A dedicação daquela Basílica marcou a passagem e a saída da assembleia cristã, do interior das catacumbas para o esplendor das basílicas.

Evidentemente, o templo é um lugar de encontro do homem com Deus, é o lugar consagrado a Deus onde os fiéis se reúnem para dar-lhe culto. O templo é tão antigo como o homem. Em todas as civilizações, em todas as culturas das que temos notícia, aparece, com toda certeza, o templo. É lógico. O homem é um ser sociável e sensível: necessita coletiva e materialmente ter um lugar onde se aproximar de Deus, um lugar no qual o seu Deus receba culto e onde pode pacífica e serenamente falar com ele. São João, cuja festa nós celebramos neste domingo, é o primeiro grande templo cristão construído em Roma pelo imperador Constantino no Latrão, depois das perseguições, no século IV; é a catedral do Papa como bispo de Roma. A Basílica de Latrão é a igreja-mãe de Roma, dedicada primeiro ao Salvador e depois também a São João Batista. Foi consagrada pelo papa Silvestre no ano 324.

As Igrejas são o lugar de reunião dos membros do novo Povo de Deus, que se congregam para rezar juntos. Mas são sobretudo o lugar em que encontramos Jesus, real e substancialmente presente na Sagrada Eucaristia; está presente com a sua Divindade e com a sua Santíssima Humanidade, com o seu Corpo e a sua Alma. “Ali nos vê e nos ouve, e nos socorre como socorria aqueles que chegavam, necessitados, de todas as cidade e aldeias” (Mc 6,32). Temos, pois, de ir à igreja com toda a reverência, já que não há nada mais respeitável do que a casa do Senhor: Que respeito devem inspirarmos as nossas Igrejas, onde se oferece o sacrifício do Céu e da terra, o Sangue de um Deus feito homem?

Na oração do Prefácio a Igreja canta: “Vós quisestes habitar esta casa de oração para nos tornarmos, pelo auxílio da vossa graça, o templo do Espírito Santo, irradiando o brilho de uma vida santa. Assim, santificando-a sem cessar, conduzis para a vossa glória a Igreja, Esposa de Cristo e mãe exultante de inúmeros filhos, simbolizada pelos templos visíveis.” (1Cor 3, 16-17)


Possa a celebração de hoje despertar em nós este anseio pela casa do Senhor, fazendo-nos compreender seu profundo significado, animando-vos a nos encontrar nela no final de uma semana de trabalho passada em nossas casas, na escola, na fábrica ou no exercício de qualquer outra profissão! A Igreja deve ser o sinal do amor mútuo entre aqueles que partem o mesmo pão. Para quem não crê ainda, este deveria ser o “chamado” mais forte para entrar na Igreja.

Demos testemunho de Deus com as nossas obras


Uma vez que o Senhor usou de tão grande misericórdia para connosco, evitando que nós, seres vivos, sacrificássemos e adorássemos a deuses mortos, e levando‑nos por Cristo a conhecer o Pai da verdade, qual será o conhecimento que a Ele conduz senão o de não negar Aquele por meio do qual conhecemos o Pai? Ele mesmo diz a este respeito: Se alguém der testemunho de Mim diante dos homens, também Eu darei testemunho dele diante do Pai. Esta será a nossa recompensa, se dermos testemunho d’Aquele por quem fomos salvos. E como daremos esse testemunho? Fazendo o que Ele nos manda e não desobedecendo aos seus mandamentos; honrando‑O não só com os lábios, mas com todo o coração e com toda a alma.

Diz o Senhor por meio de Isaías: Este povo honra‑Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim. Não nos limitemos, portanto, a chamá‑l’O «Senhor»; isso não basta para nos salvarmos. O mesmo Senhor afirma: Nem todo aquele que diz «Senhor, Senhor!» será salvo, mas sim aquele que pratica a justiça. Por isso, irmãos, demos testemunho d’Ele com as obras, amando‑nos uns aos outros, evitando a impureza, a maledicência e a inveja, e vivendo com temperança, misericórdia e bondade; devemos também inspirar o nosso comportamento na ajuda mútua e não na avidez do dinheiro.

Demos testemunho d’Ele com estas obras e não com procedimento contrário; não devemos temer os homens mas a Deus. Aos que praticam o mal diz o Senhor: Ainda que andásseis comigo, se não cumprirdes os meus mandamentos, repelir‑vos‑ei dizendo: Afastai‑vos de Mim; não sei donde sois, ó obreiros da iniquidade. Portanto, combatamos, meus irmãos, pois sabemos que estamos empenhados em nobre combate. Os que se entregam a combates corruptíveis só serão coroados se tiverem trabalhado com esforço e combatido com honra. Lutemos todos, a fim de que todos sejamos coroados.

Percorramos o reto caminho, travemos o nobre combate, caminhemos e lutemos todos para a coroa da vitória; e se não pudermos ser todos coroados, procuremos ao menos ficar muito perto da coroa. Recordemos que, se algum dos que lutam nos combates corruptíveis infringe as leis, é castigado com açoites e lançado fora do estádio. Que vos parece? Qual deverá ser o castigo de quem infringe as leis do combate incorruptível? Dos que não tiverem honrado o carácter do cristão diz o Senhor: O seu verme não morrerá, o seu fogo não se extinguirá e serão o horror de todos os homens.


Da Homilia de um autor do século II
(Cap. 3, 1 – 4, 5; 7, 1-6: Funk 1, 149-152)

Pentateuco: Livro do Deuteronômio


Das cinco narrativas históricas que integram o Pentateuco, o DEUTERONÔMIO constitui a unidade literária mais heterogênea e diferenciada. Com razão, os exegetas falam de uma nova tradição ou fonte documental, que se distingue das outras fontes do Pentateuco por motivos de estilo e de teologia e se prolonga até ao fim do 2.° Livro dos Reis, formando a “Fonte ou História Deuteronomista”.

NOME

“Deuteronômio” quer dizer “segunda Lei”. Foi o nome dado a este livro nas traduções grega e latina, porque se apresenta como a reedição ou síntese dos textos legislativos anteriores, enquadrada por um estilo diferente. Na tradição hebraica, chama-se apenas “Debarim” (Palavras), pelo modo como o texto começa: «Estas são as Palavras». Mas a designação greco-latina sintetiza bem o conteúdo deste livro, o qual, mais do que um final do Pentateuco, parece representar sobretudo o começo de uma nova maneira de escrever a História do Povo Eleito.

TEXTO E CONTEXTO

O texto deste livro teve uma história complicada. A sua origem é geralmente colocada no Reino do Norte, antes da conquista da Samaria, em 722, aquando da invasão dos assírios. Na bagagem dos levitas do Norte terá vindo uma primeira redacção do DEUTERONÔMIO, que teria como esquema base uma celebração litúrgica da Aliança (ver a aliança de Siquém: Js 24). Curiosamente, um século mais tarde, foi encontrado no templo de Jerusalém o «Livro da Lei do Senhor» ou «Livro da Aliança» (2 Rs 22,8.11; 23,2.21). O rei Josias começou imediatamente a pôr esta Lei em prática, fazendo uma reforma do culto (2 Rs 23,3-20). A relação entre esta reforma e o DEUTERONÔMIO encontra-se na insistência da centralização do culto em Jerusalém e na destruição dos cultos idolátricos.

Mas a Lei encontrada no templo poderá ter sido uma redacção posterior ao “esquema da aliança” que veio do Norte, onde a temática da Palavra, do profeta, da Aliança e do Sinai-Horeb se sobrepunham à temática do culto e do sacerdócio, que prevaleciam – como era natural – em Jerusalém. No Sul, deve ter sido feita uma primeira redacção elaborada depois da falhada reforma de Ezequias, ou seja, a meados do séc. VII a.C.. A última redacção deve ter acontecido aquando da redacção final do Pentateuco: séc. V-IV a.C.. Tudo isto denota um contexto posterior e uma finalidade catequética.

É no contexto destas diferentes etapas da redação do DEUTERONÔMIO que deve entender-se o constante vaivém do tu e do vós no discurso de Moisés, quando se dirige ao povo de Israel (ver 6,1-3). Apesar desse tu e vós parecer por vezes ilógico, na nossa tradução preferimos respeitar o estilo do texto original hebraico.

São Prosdócimo


O nome Prosdócimo, imediatamente mostra sua origem da região de Vêneto, da cidade de Pádua e, mais tarde, também de Rieti. Isso porque o culto a este santo vem de uma tradição muito antiga, do século II, que homenageia o primeiro bispo de Pádua, de Rieti e, também, padroeiro dessas duas cidades.

Segundo narram os registros oficiais da Igreja, Prosdócimo teria evangelizado também toda a Veneza ocidental, numa grande obra de difusão que fixou, definitivamente, o cristianismo no coração daquelas populações.

O nome Prosdócimo, em grego, significa "esperado". Ele foi o primeiro evangelizador dessas cidades. De fato, verdadeiramente, o esperado por elas, que ainda eram pagãs.

Nas várias regiões de Rieti e Pádua, o bispo Prosdócimo teria patrocinado prodígios e milagres, que as mais antigas tradições descrevem com toda a liberdade de expressão, reforçando ainda mais seus exemplos edificantes de fé em Cristo.

Às vezes, porém, os poucos documentos tornam mais redundantes as tradições. Como foi o caso deste bispo. Depois de sua morte, encontrou-se o registro citando que a comunidade erguera, fora das muralhas de Pádua, a igreja de Santo Prosdócimo, que mais tarde tornou-se a Basílica de Santa Justina, uma das mais belas da cidade.

A glória do bispo Prosdócimo teria sido, de fato, Justina ter sido convertida por ele. Essa nova cristã soube manter intacta a sua fé, enfrentando o martírio na perseguição de Nero. Entretanto Prosdócimo foi poupado, não havendo nenhum registro, ou tradição, que explique o porquê.

O bispo morreu naturalmente. O seu culto ainda é vigoroso, sendo venerado pelos fiéis, que rezam por sua paternal intercessão nas situações de aflição e desânimo. A Igreja confirmou a sua celebração e, no calendário litúrgico, são Prosdócimo deve ser homenageado no dia 7 de novembro.


Ó glorioso São Prosdócimo, celeste padroeiro da caridade e protetor dos infelizes, que enquanto sobre a Terra nunca faltaste aos que lhe recorrem. De onde estás vede a multidão de males e misérias que nos oprimem, corre então em nosso auxílio; alcançai junto ao Senhor nosso Deus socorro aos pobres, alívio aos enfermos, consolação a quem está aflito. Busca ó São Prosdócimo de Pádua a caridade dos ricos, a consciência pura para os transviados, o zelo aos que propagam a Fé, a tranquilidade as nações e a salvação a todos que lhe evocam.


Que todas as almas sofredoras, e bem aventuradas, possam gozar do benefício de sua intercessão junto a Santíssima Trindade. Que todos possam ser socorridos das misérias que enfrentarem nesta vida, para um dia poderem estar contigo no Céu; onde toda tristeza cessará, todas as dores se acalmarão, todas as lágrimas secarão. Um dia estaremos junto contigo, ó glorioso São Prosdócimo, nas Alturas, usufruindo do prazer, da alegria e da felicidade que fazem parte da vida eterna. Assim seja!

São Wilibrordo (Vilibrardo)


Wilibrordo nasceu na Inglaterra em 658. A família deste jovem missionário ofereceu muitos santos para a vida da Igreja na Inglaterra. 

Aos cinco anos seu pai o entregou aos beneditinos do mosteiro de York, onde foi educado. Ainda jovem demonstrou realmente vocação religiosa e aos vinte anos, seguiu para a Irlanda para aperfeiçoar seus conhecimentos teológicos. Pouco antes de completar trinta anos de idade recebeu ordenação sacerdotal. 

Em 690, Wilibrordo seguiu para a primeira e única missão. Junto com outros onze companheiros missionários, foram evangelizar as regiões no norte da Europa, povoadas pelos bárbaros pagãos. O ponto inicial foi a Holanda, que era um lugar selvagem. Com as bênçãos do papa Sérgio I, os missionários partiram para a missão, levando relíquias para serem colocadas nas igrejas nascentes. 

Ele foi um grande organizador, era um excelente líder e logo fez muitos progressos. Cinco anos depois, ele voltou e entregou ao mesmo Papa, um relatório dos resultados que conseguira. O qual em agradecimento o consagrou Bispo. Na sua diocese ele construiu a Catedral do Santíssimo Redentor. 

Morreu no seu mosteiro, no dia 07 de novembro de 739, já bem idoso. 



Deus Pai de misericórdia, que no seu projeto de amor pela humanidade, escolhestes São Wilibrordo para proclamar as maravilhas da fé, concedei-nos, por sua intercessão, conservar em nós o espírito missionário que nos leva a união com Cristo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na Unidade do Espírito Santo. Amém.

domingo, 6 de novembro de 2016

A misericórdia de Deus suscita o arrependimento dos encarcerados, diz Papa Francisco


JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA
JUBILEU DOS ENCARCERADOS

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Basílica Vaticana
Domingo, 6 de novembro de 2016


Esperança é certamente a mensagem que hoje nos quer comunicar a Palavra de Deus: uma esperança tal que não desilude.

Um dos sete irmãos condenados à morte pelo rei Antíoco Epífanes diz: «É uma felicidade perecer à mão dos homens, com a esperança de que Deus nos ressuscitará» (2 Mac 7, 14). Estas palavras manifestam a fé daqueles mártires que, apesar dos sofrimentos e torturas, têm a força para olhar mais além. Aquela fé, ao mesmo tempo que reconhece em Deus a fonte da esperança, mostra o desejo de alcançar uma vida nova.

De igual modo ouvimos, no Evangelho, como Jesus anula com uma resposta simples, mas perfeita, toda a casística banal que os saduceus tinham sujeito à decisão d’Ele. A sua afirmação – «Deus não é Deus de mortos, mas de vivos; pois, para Ele, todos estão vivos» (Lc 20, 38) – revela o verdadeiro rosto do Pai, cujo único desejo é a vida de todos os seus filhos. Assim, para ser fiéis ao ensinamento de Jesus, tudo o que somos chamados a assumir e fazer nosso é a esperança de renascer para uma vida nova.

A esperança é dom de Deus. Temos de a pedir. É colocada no mais fundo do coração de cada pessoa para poder iluminar, com a sua luz, o presente muitas vezes turvado e ofuscado por tantas situações que geram tristeza e dor. Precisamos de tornar cada vez mais firmes as raízes da nossa esperança, para podermos dar fruto. Em primeiro lugar, tenhamos a certeza da presença e da compaixão de Deus, não obstante o mal que tivermos realizado. Não há ponto do nosso coração que não possa ser alcançado pelo amor de Deus. Onde há uma pessoa que errou, aí mesmo se torna ainda mais presente a misericórdia do Pai, para suscitar arrependimento, perdão, reconciliação, paz. 

Cristo quis salvar o que estava perdido


Irmãos: Devemos acreditar em Jesus Cristo, verdadeiro Deus, juiz dos vivos e dos mortos, e tornar-nos conscientes da importância da nossa salvação. Com efeito, se damos pouca importância a estas realidades, também é pouco o que esperamos receber. Os que ouvem falar destas realidades sem lhes dar atenção, pecam; e todos nós pecamos se recusamos conhecer quem nos chama, a causa e a finalidade do seu chamamento, os sofrimentos que Jesus Cristo padeceu por nós. 

Que retribuiremos nós ao Senhor, que fruto podemos oferecer-Lhe que seja digno do que Ele nos deu? Quantos benefícios Lhe devemos! Deu-nos a existência, chamou-nos lhos como nosso verdadeiro Pai, salvou-nos quando estávamos perdidos. Que louvor ou retribuição Lhe poderemos dar para compensar tudo quanto recebemos? O nosso espírito estava tão enfraquecido que adorávamos pedras e madeiras, ouro, prata e bronze trabalhados pela mão dos homens; toda a nossa vida não era senão morte. Estávamos envoltos nas trevas e cheios de escuridão no nosso olhar; e por sua graça recuperamos a vista, fazendo desaparecer a névoa que nos rodeava. 

Vendo-nos extraviados no caminho da morte e sabendo que fora d’Ele não tínhamos esperança de salvação, compadeceu-Se de nós e salvou-nos pela sua misericórdia. Chamou-nos à vida quando não existíamos, quis que passássemos do nada à existência.

Exulta, ó estéril, que não tiveste filhos; entoa cânticos de alegria, tu que não deste à luz, porque serão mais numerosos os lhos da desamparada que os daquela que tem marido.

Ao dizer: Exulta, ó estéril, que não tiveste filhos, refere-se a nós, porque era estéril a nossa Igreja, antes de receber os seus lhos. Ao dizer: Entoa cânticos de alegria, tu que não deste à luz, exorta-nos a elevar confiadamente as nossas preces a Deus sem desfalecimento. E ao dizer: Porque serão mais numerosos os lhos da desamparada que os daquela que tem marido, quer significar que o nosso povo parecia abandonado e privado de Deus, mas agora, mediante a fé, tornamo-nos mais numerosos do que aqueles que eram considerados os adoradores de Deus. 

Também se diz noutro lugar da Escritura: Não vim chamar os justos mas os pecadores. Assim fala o Senhor para nos fazer compreender a sua vontade de salvar os que andam perdidos. O que é verdadeiramente grande e admirável não é sustentar o que está firme, mas o que ameaça ruína. Foi o que fez Jesus Cristo: quis salvar o que andava perdido e de fato salvou a muitos, quando nos veio chamar a nós que estávamos em risco de nos perdermos.



Início da Homilia de um autor do século II

(Cap. 1, 1 – 2, 7: Funk, 1, 145-149)

Pentateuco: Livro dos Números


Integrado no grande bloco da Torá ou Pentateuco, o livro dos NÚMEROS recebeu este nome na tradução grega dos Setenta, por abrir com os números do recenseamento do povo hebraico e, depois, apresentar outros recenseamentos ao longo da narrativa (cap. 1-4 e 26). Relacionados com este título podem estar ainda os números das ofertas dos chefes (cap. 7), das ofertas, libações e sacrifícios a oferecer pelo povo (cap. 15 e 28-29). Trata-se, porém, de um livro narrativo com alguns trechos legislativos, que se enlaça com o Êxodo, do qual está literariamente separado pelo código legislativo do Levítico.

CONTEÚDO E DIVISÃO

O conteúdo deste livro abrange as peripécias ou vicissitudes da caminhada pelo deserto, desde o Sinai até às margens do rio Jordão, fronteira oriental da Terra Prometida. No aspecto histórico, a narrativa pode dividir-se em três grandes sequências literárias:

I. No deserto do Sinai (1,1-10,10). Referem-se as ordens de Deus para a caminhada através do deserto com a disposição do acampamento das tribos, os deveres dos levitas e outras leis de carácter ritual.

II. Do Sinai a Moab (10,11-21,35). Os acontecimentos mais importantes desta segunda parte estão marcados por etapas geográficas, algumas das quais são difíceis de identificar. Descreve-se a caminhada directa para Cadés-Barnea, mesmo na fronteira sul de Canaã e, depois, a inflexão para oriente e a errância penosa durante quarenta anos através do deserto até à chegada a Moab, já na fronteira da Terra Prometida.

III. Na região de Moab (22,1-36,13). Começando com a bênção de Balaão, as narrativas desta terceira parte apresentam um novo recenseamento dos israelitas, descrevem a nomeação de Josué para substituir Moisés, contêm algumas prescrições de carácter cultual, narram a luta contra os madianitas e a partilha de Canaã com a instalação das tribos de Rúben, Gad e parte de Manassés em Guilead, na Transjordânia, e a recapitulação das etapas do Êxodo.

Como tal, no seu encadeamento histórico, o livro dos NÚMEROS é inseparável da epopeia do Êxodo. Mas, também nele, é preciso ter presente que as narrativas foram redigidas bastante depois dos acontecimentos históricos, à luz da perspectiva da fé e da celebração litúrgica do templo de Jerusalém, já na Terra Prometida.

A redacção definitiva deste livro deve colocar-se em data posterior ao exílio da Babilónia. Certas leis, sobretudo, são determinadas pela prática ritual estabelecida pelos sacerdotes após o Exílio (séc. VI-V). De resto, só bastante tardiamente, graças a tradições orais muito antigas de proveniência diversa e a fontes documentais variadas, transmitidas como “memória do passado histórico”, é que terá sido possível cerzir em unidade literária o conjunto das leis e a sequência dos acontecimentos.