Neste domingo iniciamos o chamado Tempo Comum da liturgia. O Tempo Comum
é um período do ano litúrgico de trinta e quatro semanas, nas quais são
celebrados, na sua globalidade, os mistérios de Cristo. Comemora-se o próprio
mistério de Cristo em sua plenitude, principalmente aos domingos. Durante este tempo litúrgico o celebrante usa
o paramento de cor verde, ressaltando que os cristãos devem sempre estar na
esperança da volta do Messias.
“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Essas
palavras soam aos nossos ouvidos em cada Santa Missa ao aproximar-se um dos
momentos mais sublimes do sacrifício eucarístico, a comunhão. E nós
respondemos: “Senhor, eu não sou digno (…)”. Jesus Cristo vem a nós em cada
celebração eucarística. Não nos esqueçamos, no entanto, de que a graça da
comunicação de Deus conosco passa pelo sacrifício do seu filho, Cordeiro
oferecido ao Pai que, com a sua obediência e com o seu amor, tira o pecado do
mundo. De fato, essas palavras do Evangelho segundo S. João aludem ao
sacrifício redentor de Jesus Cristo.
A Missa é sacrifício, ou seja, uma realidade sagrada oferecida a Deus.
Não se pode negar essa verdade de fé divina e católica, quem assim o fizesse
cairia na heresia.
A Igreja Católica sempre teve essa convicção: a Missa, toda Missa, é
verdadeiro e próprio sacrifício. Essa verdade de fé foi reafirmada e
dogmatizada solenemente pelo Concilio de Trento. Em cada celebração eucarística
se oferece, verdadeiramente, Jesus Cristo ao Pai pela ação do Espírito Santo;
em cada Santa Missa há um sacrifício no sentido próprio e real que essa palavra
tem: sacrifício é oferecimento de um dom sagrado à divindade. É muito
importante que compreendamos a palavra sacrifício como oferta. Seria um
absurdo, em efeito, pensar, segundo o modelo dos antigos sacrifícios, que em
cada Missa o padre mata a Cristo e o oferece ao Pai. Isso seria um horrível
sacrilégio!
Cristo “apareceu uma só vez ao final dos tempos para destruição do
pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hb 9,26). Jesus morreu uma só vez,
ofereceu perfeitissimamente ao Pai o seu amor e a sua obediência, as suas
chagas e os seu sangue derramado para a nossa salvação. Conseguida essa
salvação, “Cristo entrou, não em santuários feito por mãos de homens, que fosse
apenas figura do santuário verdadeiro, mas no próprio céu, para agora se
apresentar intercessor nosso ante a face de Deus” (Hb 9,24). Mas, de que
maneira Cristo intercede por nós no céu? De várias maneiras, mas todas elas se
resumem no seu sacrifício. A vida santíssima, redentora e santificadora de
Jesus Cristo teve o seu momento mais alto e reunificador no Mistério Pascal,
isto é, na sua Morte, Paixão e Glorificação. Cristo nos salvou apresentando-se
ao Pai e continua salvando-nos apresentando-se ao Pai. Ele é o nosso único
Mediador.
Jesus entrou no céu com todos os méritos conseguidos na sua vida
terrenal. Esses méritos são infinitos porque são os méritos do Filho de Deus,
que é Deus. Apresentando-se ao Pai com o seu Mistério Pascal, Jesus envia desde
o santuário celeste esse mesmo Mistério, a sua Páscoa, à humanidade. Como?
Através da Missa, que é a atualização dos Mistérios de Cristo, cujo central é a
Cruz gloriosa, isto é, a sua Morte e Ressurreição, que mereceu também o envio
do Espírito Santo. Em cada Missa, faz-se presente, atual, o Mistério da Cruz
gloriosa e, ao entrarmos nesses raios divino-humanos da Eucaristia, somos
redimidos, salvos, santificados e glorificados antecipadamente.
O trecho da primeira leitura de hoje é tirado do livro do profeta Isaías
e fala das características da missão profética do Servo de Deus: Ele vai
libertar e reunir o povo de Israel e, mais ainda, Ele será luz para as nações e
portador da salvação universal de Deus. Nosso texto revela que este personagem
misterioso tem uma missão de Servo. Está a serviço de Deus. Nele Deus
manifestará a Sua glória e a glória de Deus é a liberdade de Seu povo.
Na segunda leitura, Paulo fala da vocação primeira à qual Deus nos
predestina: a vocação à santidade. Somos chamados a ser santos! Quem nos
santifica é o Filho de Deus!
No evangelho, João Batista dá testemunho de Jesus e vai crescendo no
conhecimento de Jesus. Ele é assim modelo para nossa comunidade cristã.
a) João Batista não conhecia Jesus (vv. 31.33)
Não apenas João não conhecia Jesus, mas ninguém O conhecia ainda. As
autoridades dos judeus O confundiam com o Batista (Jo 1,19-27). Eles não O
conheciam e morreram sem conhecê-lo, pois, conhecer na bíblia tem um sentido
profundo, não é apenas saber quem é, o que faz, onde mora. Conhecer Jesus é
entrar em comunhão com Ele, participar da Sua vida.
b) Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (v. 29)
João vê Jesus. O verbo ver é muito importante neste trecho do testemunho
de João Batista. Ver é condição essencial para o testemunho. O ver está na
linha do conhecer. O verbo ver aparece 4 vezes nestes 6 versículos. João vê
Jesus como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Estamos diante de uma
profunda afirmação de fé da comunidade colocada na boca do Batista. O termo usado
para cordeiro é “talya” em aramaico. Este termo significa servo e cordeiro.
Assim Jesus é visto como o Servo de Deus (cf. Is 53, 7,12), como cordeiro
expiatório (cf. Lv 14) e como cordeiro pascal (cf. Ex 12). Jesus é o
libertador. Ele liberta o homem da escravidão do pecado, ou seja, da adesão a
um sistema injusto e opressor, expressão clara da rejeição de Jesus.
c) Jesus é o Santificador, batizando no Espírito Santo.
João vê o Espírito Santo descer do Céu, como o voo de uma pomba, e
pousar sobre Jesus. Jesus é, assim, ungido pelo Espírito Santo. O Espírito de
Deus habita n’Ele. Ele possui a plenitude do Espírito. Seu batismo não será
apenas com água, como o do Batista, mas será com o Espírito Santo.
d) Jesus é o Filho de Deus (vv. 3-4)
João, que antes não conhecia Jesus, foi aos poucos vendo Jesus (v. 29),
falando sobre Ele (v. 30), vendo o Espírito Santo (v. 32), ouvindo a voz do Pai
(v. 33). Tudo isso foi dando experiência suficiente a João para, no fim,
testemunhar que Jesus é o Filho de Deus, Aquele que é capaz de revelar a nós o
amor do Pai e nos transmitir a vida divina.