quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

São Vital


Viveu entre o século VI e VII, foi monge, ermitão na região de Gaza, na Palestina. São Vital vivia o refúgio em Cristo Jesus, na oração e na penitência. Quanto mais alguém se refugia em Deus, sendo monge ou não, vai criando um coração cada vez mais dilatado pelo amor do Senhor. Por isso, vai se tornando pessoa de compaixão, que não julga, não condena; mas vai ao encontro do outro para ser sinal de Deus.

São Vital, movido de pelo Espírito [Santo], saiu da Palestina e foi para o Egito, instalando-se em Alexandria. A sociedade daquele tempo sofria com a prostituição, mas São Vital não as julgou, não as condenou nem foi buscar a santidade, pois quem, de fato, busca a santidade, busca assemelhar-se àquele. Falando para as autoridades religiosas do seu tempo, ele disse: “Os publicanos e as meretrizes os precedem”. Jesus falou isso (Mateus, 21) e os santos buscaram ser reflexo dessa misericórdia. Denuncie o pecado, mas, sobretudo, anuncie o amor que redime, que salva.

O santo buscava, num período do seu dia, arrecadar fundos e, depois, à noite, ia ao encontro das prostitutas e oferecia o dobro [em dinheiro] apenas pela atenção delas. Ele anunciava Jesus Cristo como em Lucas 15, quando o apóstolo ele demonstra um coração de Deus, como do pastor que é capaz de deixar 99 ovelhas para ir ao encontro daquela que se desgarrou.

São Vital, testemunho da misericórdia que nos converte, converteu muitas mulheres, ao ponto delas o ajudarem. Algumas senhoras “piedosas” foram se queixar desse apostolado com o bispo e São Vital foi preso. No entanto, as mulheres que iam se convertendo foram até a autoridade eclesiástica.

Os fatos foram apurados e viu-se que era uma injustiça contra o santo. Injustiça maior aconteceu quando, já solto, continuou a evangelizar com este método ousado, mas um homem que comercializava as mulheres, o apunhalou pelas costas. São Vital teve forças ainda de deixar, por escrito, esta verdade que é atual para todos nós. Ao povo de Alexandria e dos demais lugares, ele dizia: “Convertei-vos, não deixais a conversão para amanhã”. Por isso, São Vital chamava à atenção para a conversão e, ao mesmo tempo, para o dia do juízo.


Deus onipotente e misericordioso, destes a São Vital superar as torturas do martírio. Concedei que, celebrando o dia do seu triunfo, passemos invictos por entre as ciladas do inimigo, graças à vossa proteção. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.


São Vital, rogai por nós!

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Filhos de Deus não se nasce, torna-se!


Caro Amigo, tenho a imensa satisfação de oferecer-lhe este belíssimo texto do grande exegeta Pe. Ignace de La Potterie. Como é bonito um exegeta e teólogo que é fiel a Cristo e à fé da Igreja, sem escorregar nas bobagens e teorias heterodoxas de tantos “teólogos” de hoje! Este é um texto para quem gosta de refletir... Boa leitura!

A Igreja celebrou há pouco com o Santo Natal o nascimento no tempo do Unigênito eterno Filho de Deus.

Segundo uma teologia cada vez mais difusa, com a encarnação do Filho derivaria de maneira automática a atribuição imediata da filiação divina a cada homem. No sentido que todo homem, que o saiba ou não, que o aceite ou não, vive já radicalmente em Cristo. Segundo esta teologia, Cristo, ainda antes de ser o chefe da Igreja, é o chefe de toda a criação. Todo homem lhe pertence antes mesmo de ser alcançado e transformado pelo Seu Espírito.

Esta concepção pretende encontrar um aval na afirmação de São Tomás de Aquino segundo o qual “considerando a generalidade dos homens, por todo o tempo do mundo, Cristo é o chefe de todos os homens, mas segundo graus diversos” (Summa theologiae III, 8,3) retomada da constituição pastoral Gaudium et spes do último Concílio: “Com a encarnação o Filho de Deus uniu-Se de algum modo a todo homem” (22). Mas se fossem retiradas da frase da Summa theologiae e da frase da Gaudium et spes os incisos “segundo graus diversos” e “de algum modo” não se respeitariam todos os dados da fé católica.

E de fato o mesmo Concílio na constituição dogmática Lumen gentium (13), seguindo fielmente a Tradição, distingue claramente entre a chamada de todos os homens à salvação e a pertença em ato dos crentes à comunhão de Jesus Cristo. Segundo o método próprio de toda a revelação bíblica.

Se, com a encarnação do Verbo, a filiação divina fosse atribuída imediatamente a cada homem, o mistério da escolha ou eleição e portanto a fé, o batismo e a Igreja não teriam mais algum papel constitutivo para a salvação: a missão da Igreja no mundo seria apenas a de fazer todos os homens do mundo tomarem consciência desta salvação já presente no profundo de cada um. Em suma, cada homem, na virtude da encarnação do Verbo, conquistaria automaticamente, mesmo se inconscientemente, “a existência em Cristo” recebendo assim, em virtude da sua transcendência como pessoa humana, os efeitos salvíficos da redenção operada por Jesus Cristo. Seria um “cristão anônimo”.

Já Erik Peterson, o famoso estudioso alemão convertido do luteranismo ao catolicismo, no seu ensaio de 1933 Die Kirche aus Juden und Heiden (A Igreja composta por Judeus e Gentios), comentando os capítulos de 9 a 11 da carta de São Paulo aos Romanos, explicava que não pode existir um cristianismo reduzido à ordem meramente natural, no qual os efeitos da redenção operada por Jesus Cristo seriam transmitidos geneticamente, por via hereditária, a cada homem, pelo único critério de compartilhar com o Verbo encarnado a natureza humana.

A filiação divina não é o êxito automático garantido pela pertença ao gênero humano. A filiação divina é sempre um dom gratuito da graça, não pode prescindir da graça doada gratuitamente no batismo e reconhecida e acolhida na fé.


Um trecho de São Leão Magno, lido na liturgia do Advento, esclarece com precisão a relação entre a encarnação e o batismo: “Se Aquele, que é o único livre do pecado, não tivesse unido a Si a nossa natureza humana, toda a natureza humana teria permanecido prisioneira sob o jugo do diabo. Nós não poderíamos ter tido parte à gloriosa vitória dele se a vitória tivesse sido reportada fora da nossa natureza. Por causa desta admirável participação à nossa natureza resplendeu para nós o sacramento da regeneração, para que, em virtude do mesmo Espírito por obra do qual foi gerado e nasceu Cristo, também nós, que nascemos da concupiscência da carne, nascêssemos de novo de nascimento espiritual”.

E Santo Agostinho no De Civitate Dei escreve: “A natureza corrupta pelo pecado gera, portanto, os cidadãos da cidade terrena, enquanto a graça que libera a natureza do pecado gera os cidadãos da cidade celeste. Por isso os primeiros são chamados vasos de ira: os outros são chamados vasos de misericórdia. Existe um símbolo disso também nos dois filhos de Abraão. Um, Ismael, nasceu segundo a carne da escrava Agar, o outro, Isaac, nasceu segundo a promessa de Sara, que era livre. Ambos são estirpe de Abraão, mas uma relação puramente natural fez nascer o primeiro, enquanto que a promessa que é o sinal da graça doou o segundo. No primeiro caso se revela um comportamento humano, no segundo caso se revela a graça de Deus”. 

Homilética: 2º Domingo do Tempo Comum - Ano A: "Ele tira o pecado do mundo".


Neste domingo iniciamos o chamado Tempo Comum da liturgia. O Tempo Comum é um período do ano litúrgico de trinta e quatro semanas, nas quais são celebrados, na sua globalidade, os mistérios de Cristo. Comemora-se o próprio mistério de Cristo em sua plenitude, principalmente aos domingos.  Durante este tempo litúrgico o celebrante usa o paramento de cor verde, ressaltando que os cristãos devem sempre estar na esperança da volta do Messias.

“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Essas palavras soam aos nossos ouvidos em cada Santa Missa ao aproximar-se um dos momentos mais sublimes do sacrifício eucarístico, a comunhão. E nós respondemos: “Senhor, eu não sou digno (…)”. Jesus Cristo vem a nós em cada celebração eucarística. Não nos esqueçamos, no entanto, de que a graça da comunicação de Deus conosco passa pelo sacrifício do seu filho, Cordeiro oferecido ao Pai que, com a sua obediência e com o seu amor, tira o pecado do mundo. De fato, essas palavras do Evangelho segundo S. João aludem ao sacrifício redentor de Jesus Cristo.

A Missa é sacrifício, ou seja, uma realidade sagrada oferecida a Deus. Não se pode negar essa verdade de fé divina e católica, quem assim o fizesse cairia na heresia.

A Igreja Católica sempre teve essa convicção: a Missa, toda Missa, é verdadeiro e próprio sacrifício. Essa verdade de fé foi reafirmada e dogmatizada solenemente pelo Concilio de Trento. Em cada celebração eucarística se oferece, verdadeiramente, Jesus Cristo ao Pai pela ação do Espírito Santo; em cada Santa Missa há um sacrifício no sentido próprio e real que essa palavra tem: sacrifício é oferecimento de um dom sagrado à divindade. É muito importante que compreendamos a palavra sacrifício como oferta. Seria um absurdo, em efeito, pensar, segundo o modelo dos antigos sacrifícios, que em cada Missa o padre mata a Cristo e o oferece ao Pai. Isso seria um horrível sacrilégio!

Cristo “apareceu uma só vez ao final dos tempos para destruição do pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hb 9,26). Jesus morreu uma só vez, ofereceu perfeitissimamente ao Pai o seu amor e a sua obediência, as suas chagas e os seu sangue derramado para a nossa salvação. Conseguida essa salvação, “Cristo entrou, não em santuários feito por mãos de homens, que fosse apenas figura do santuário verdadeiro, mas no próprio céu, para agora se apresentar intercessor nosso ante a face de Deus” (Hb 9,24). Mas, de que maneira Cristo intercede por nós no céu? De várias maneiras, mas todas elas se resumem no seu sacrifício. A vida santíssima, redentora e santificadora de Jesus Cristo teve o seu momento mais alto e reunificador no Mistério Pascal, isto é, na sua Morte, Paixão e Glorificação. Cristo nos salvou apresentando-se ao Pai e continua salvando-nos apresentando-se ao Pai. Ele é o nosso único Mediador.

Jesus entrou no céu com todos os méritos conseguidos na sua vida terrenal. Esses méritos são infinitos porque são os méritos do Filho de Deus, que é Deus. Apresentando-se ao Pai com o seu Mistério Pascal, Jesus envia desde o santuário celeste esse mesmo Mistério, a sua Páscoa, à humanidade. Como? Através da Missa, que é a atualização dos Mistérios de Cristo, cujo central é a Cruz gloriosa, isto é, a sua Morte e Ressurreição, que mereceu também o envio do Espírito Santo. Em cada Missa, faz-se presente, atual, o Mistério da Cruz gloriosa e, ao entrarmos nesses raios divino-humanos da Eucaristia, somos redimidos, salvos, santificados e glorificados antecipadamente.

O trecho da primeira leitura de hoje é tirado do livro do profeta Isaías e fala das características da missão profética do Servo de Deus: Ele vai libertar e reunir o povo de Israel e, mais ainda, Ele será luz para as nações e portador da salvação universal de Deus. Nosso texto revela que este personagem misterioso tem uma missão de Servo. Está a serviço de Deus. Nele Deus manifestará a Sua glória e a glória de Deus é a liberdade de Seu povo.

Na segunda leitura, Paulo fala da vocação primeira à qual Deus nos predestina: a vocação à santidade. Somos chamados a ser santos! Quem nos santifica é o Filho de Deus!

No evangelho, João Batista dá testemunho de Jesus e vai crescendo no conhecimento de Jesus. Ele é assim modelo para nossa comunidade cristã.

a) João Batista não conhecia Jesus (vv. 31.33)

Não apenas João não conhecia Jesus, mas ninguém O conhecia ainda. As autoridades dos judeus O confundiam com o Batista (Jo 1,19-27). Eles não O conheciam e morreram sem conhecê-lo, pois, conhecer na bíblia tem um sentido profundo, não é apenas saber quem é, o que faz, onde mora. Conhecer Jesus é entrar em comunhão com Ele, participar da Sua vida.

b) Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (v. 29)

João vê Jesus. O verbo ver é muito importante neste trecho do testemunho de João Batista. Ver é condição essencial para o testemunho. O ver está na linha do conhecer. O verbo ver aparece 4 vezes nestes 6 versículos. João vê Jesus como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Estamos diante de uma profunda afirmação de fé da comunidade colocada na boca do Batista. O termo usado para cordeiro é “talya” em aramaico. Este termo significa servo e cordeiro. Assim Jesus é visto como o Servo de Deus (cf. Is 53, 7,12), como cordeiro expiatório (cf. Lv 14) e como cordeiro pascal (cf. Ex 12). Jesus é o libertador. Ele liberta o homem da escravidão do pecado, ou seja, da adesão a um sistema injusto e opressor, expressão clara da rejeição de Jesus.

c) Jesus é o Santificador, batizando no Espírito Santo.

João vê o Espírito Santo descer do Céu, como o voo de uma pomba, e pousar sobre Jesus. Jesus é, assim, ungido pelo Espírito Santo. O Espírito de Deus habita n’Ele. Ele possui a plenitude do Espírito. Seu batismo não será apenas com água, como o do Batista, mas será com o Espírito Santo.

d) Jesus é o Filho de Deus (vv. 3-4)

João, que antes não conhecia Jesus, foi aos poucos vendo Jesus (v. 29), falando sobre Ele (v. 30), vendo o Espírito Santo (v. 32), ouvindo a voz do Pai (v. 33). Tudo isso foi dando experiência suficiente a João para, no fim, testemunhar que Jesus é o Filho de Deus, Aquele que é capaz de revelar a nós o amor do Pai e nos transmitir a vida divina. 

Cardeal Müller apoia o Papa e condena os quatro cardeais


Em entrevista à TV italiana na noite deste domingo (8), o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé*, o cardeal alemão Gerhard Müller, que os conservadores aguardavam como um “trunfo final” contra o Papa, jogou uma pá de cal em suas pretensões. Apoiou Francisco e a Encíclica Amoris Laetitia sobre a família e enterrou a estratégia de contrapor o Papa ao emérito Bento XVI, reafirmando unidade entre eles e dizendo que a iniciativa opera “contra a fé católica”. [Se quiser, veja a íntegra da entrevista em italiano aqui]

Ele descartou por completo a ideia do cardeal americano Raymond Burke e seus três aliados (Walter Brandmüller, Carlo Caffarra e Joachim Meisner) de aplicar uma “correção formal” contra o Papa. “Não haverá nenhuma correção contra o Papa”, afirmou, completando: “Neste momento não é possível um correção ao Papa porque não há nenhum perigo para a fé”.

A entrevista foi concedida ao jornalista Fabio Ragona no programa Stanze Vaticane (Aposentos do Vaticano), do canal Tgcom24. O prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé fez um duro ataque à publicidade que os cardeais deram à sua carta ao Papa com as “dúbia”: “Qualquer um, sobretudo os cardeais da Igreja Romana, têm direito de escrever uma carta ao Papa. Mas, com efeito, me surpreendi porque ela se tornou pública, quase obrigando o Papa a dizer ‘sim’ ou ‘não’. Isto não me agrada.”

O jornalista perguntou sobre a estratégia conservadora de opor Francisco e Bento e qual seria a razão da iniciativa persistente. Müller explicou que os dois “são pessoas diversas, com histórias muito diferentes, experiências distintas, pessoas de duas culturas diversas, a cultura latino-americana e a cultura europeia, mas eu penso que é contra a fé católica fazer este contraste entre o papa emérito e o papa atual”, pois ambos são igualmente “dons de Deus para a Igreja”.] 

Dois sacerdotes foram atacados na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma


Dois sacerdotes ficaram feridos durante o ataque de um homem com antecedentes por drogas e que recentemente havia abandonado um centro de reabilitação, perpetrado dentro da Basílica Santa Maria Maior, uma das quatro basílicas papais de Roma.

A Basílica Santa Maria Maior é o lugar aonde o Papa Francisco costuma se dirigir antes e depois de suas viagens internacionais para rezar ante o ícone da devoção mariana da Salus Populi Romani, a protetora do povo romano.

O atacante, um italiano natural da cidade de Roccasecca (região de Lácio) tem 42 anos, é conhecido como Renzo Cerro. Ele invadiu a sacristia da Basílica com uma garrafa de vidro quebrada e atacou as duas vítimas sem dizer nem uma palavra diante dos fiéis e turistas que estavam dentro da igreja naquele momento.

Uma patrulha da polícia, localizada na praça de Dante, foi até a Basílica e encontrou o agressor, que apresentava uma alteração e, supostamente, sofre de problemas psicológicos.

As duas pessoas atacadas foram o Pe. Angelo Gaeta, sacristão da basílica, e o Pe. Adolfo Ralph, da Fraternidade da Imaculada.

As duas vítimas foram levadas ao Policlínico Umberto I com diversos ferimentos, alguns deles no rosto. Embora não estejam correndo perigo, estão em estado de choque. O Pe. Gaeta está em estado grave, com um corte profundo da maçã do rosto até o queixo. 

Está dentro de nós a força do amor


O amor de Deus não se aprende com normas e preceitos. Assim como não é preciso ensinar-nos a gozar da luz, a desejar a vida, a amar os pais ou educadores, assim também, e com maior razão, o amor de Deus não procede de uma disciplina exterior, mas é na própria constituição natural do homem que está inserida, como que em germe, uma força espiritual que contém em si a capacidade e a necessidade de amar. Esta força espiritual inata é depois cultivada diligentemente e alimentada sabiamente na escola dos preceitos divinos, que, com a ajuda de Deus, a conduz à perfeição.

Por isso, conhecendo o vosso desejo de chegar a esta perfeição, com a ajuda de Deus e das vossas orações nos esforçamos, na medida em que no-lo permite a luz do Espírito Santo, por avivar a centelha do amor divino escondida em vosso interior.

Digamos em primeiro lugar que Deus nos comunicou previamente a força e capacidade para cumprir todos os preceitos, e por isso não há razão para os encarar de má vontade como se de nós fosse exigido algo superior às nossas forças, nem para nos orgulharmos como se retribuíssemos mais do que aquilo que nos foi dado. Se fazemos bom uso destas energias recebidas, levaremos com amor uma vida cheia de virtudes; mas, se fazemos mau uso delas, viciamos a sua finalidade.

Nisto consiste precisamente o vício: usar mal, e contra os preceitos divinos, das faculdades que o Senhor nos concedeu para fazer o bem; ao contrário, a virtude, que é o que Deus pede de nós, consiste em usar dessas faculdades com reta consciência, segundo a vontade do Senhor.

Sendo isto assim, o mesmo podemos afirmar da caridade. Tendo recebido o preceito de amar a Deus, na nossa própria natureza possuímos a força e a faculdade de O amar; não é preciso demonstrá-lo com argumentos exteriores, mas qualquer de nós o pode experimentar por si mesmo e em si mesmo. Por instinto natural desejamos o que é bom e belo, embora nem a todos pareçam boas e belas as mesmas coisas; do mesmo modo, sem que ninguém no-lo tenha ensinado, amamos aqueles que nos são mais próximos por parentesco ou convivência e espontaneamente mostramos simpatia para com os nossos benfeitores.

Pergunto então: que há de mais admirável que a beleza divina? Que pensamento é mais agradável e suave que a magnificência de Deus? Que desejo de alma é tão forte e veemente como o que Deus infunde na alma purificada de todo o vício e que diz com verdadeiro afeto: Estou ferida de amor? Como são inefáveis e inenarráveis os esplendores da beleza divina!


Da Regra monástica maior de São basílio Magno, bispo

(Resp. 2, 1; PG 31, 908-910) (Sec. IV)

Guardai-vos dos falsos profetas! (Mt 7,15a).


Fico impressionado, ao ver um simples mortal ousar fundar uma religião e uma igreja. Parece-me até brincadeira. Com que autoridade? Com que direito? Só mesmo a soberba humana pode explicar isto.

Os fundadores de religiões são homens, na maioria das vezes problemáticos, embotados de iluminismo, exibicionismo, messianismo, às vezes charlatanismo…

Na maioria das vezes usa-se da boa fé do povo simples, que, às vezes desesperados com os seus problemas, caem nos laços desses malvados. Jesus os chamou de falsos profetas e lobos vorazes (Mt 7, 21).

Os Evangelhos narram os grandes milagres de Jesus. Assim Ele provou-nos que é Deus. Provou que é Deus e deu a maior prova de amor que alguém pode dar: deu a Sua vida por nós! Se a nossa vida não tem preço, quanto vale, então, a vida do “autor da Vida”? No entanto, essa Vida, de valor infinito, Ele a deu por nós, por mim e por você. Só Ele tem o poder e a autoridade de fundar A Religião e A Igreja. O resto é falsidade, loucura de homens que ficaram cegos pela própria soberba.


É o caso de se perguntar: Será que algum desses pretensos “iluminados” provou que era Deus e morreu pelos seus adeptos e discípulos numa cruz? Consta que Buda ressuscitou? Consta que Maomé ressuscitou? Consta que o reverendo Moon, aceitou ser pregado numa cruz? Será que o Sr. Martinho Lutero provou a sua divindade? Será que João Calvino, João Knox, John Smith, John Weley, Joseph Smith, Charles Ruzzel, Charles Parham, etc, provaram que eram deuses? Nada consta. Será que os Srs. Edir Macedo, Confúcio, Lao Tsé, Massaharu Taniguchi, Meishu Sama, David Brandt, Helena Blavastky, etc, etc, etc, podem ser comparados com Jesus Cristo?… Que loucura! Que soberba! Quanta ofensa Àquele que disse: “Eu  sou  a luz  do  mundo!” (Jo 8,12). “Antes  que Abrãao existisse, Eu Sou” (Jo 8,58).

Como dói, jovem, ver milhões e milhões enganados, saindo da Luz para viver nas trevas do erro. Ele já nos tinha avisado: “Guardai-vos dos falsos profetas. Eles vêm a vós com vestes de ovelhas, mas por dentro são lobos ferozes” (Mt 7,15). 

A água e o Espírito*


Jesus foi ter com João e recebeu dele o Batismo. Admirável realidade! O rio infinito, que alegra a cidade de Deus, com um pouco de água é batizado. A fonte inexaurível e perene, que alimenta a vida de todos os homens, imerge num pequeno e fugaz curso de água. 

Aquele que está presente sempre e em toda a parte, Aquele que é incompreensível aos Anjos e invisível aos homens, vem receber o Batismo por sua própria vontade. E eis que se Lhe abriram os céus e ouviu-se uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado, no qual pus toda a minha complacência.

O amado gera o amor, e a luz imaterial gera uma luz inacessível. Este é o que chamam filho de José e é também o meu Unigênito segundo a essência divina. 

Este é o meu Filho amado. Passa fome e dá de comer a multidões inumeráveis; fatiga-Se e reconforta os fatigados; não tem onde reclinar a cabeça e tudo sustenta com sua mão; sofre e dá remédio a todos os sofrimentos; é esbofeteado e dá ao mundo a liberdade; é ferido no seu lado e cura o lado de Adão. 

Prestai-me muita atenção: quero recorrer à fonte da vida, quero contemplar a nascente donde brotam as medicinas. 

O Pai da imortalidade enviou ao mundo o seu Filho e Verbo imortal, que veio ao encontro dos homens para os lavar com a água e o Espírito; e, para os regenerar com a incorruptibilidade da alma e do corpo, insuflou em nós o espírito de vida e revestiu-nos da armadura incorruptível. 

Portanto, se o homem se tornou imortal, também será divinizado. E se é divinizado pela regeneração do Batismo na água e no Espírito Santo, também será herdeiro com Cristo depois da ressurreição de entre os mortos. 

Por isso proclamo com voz de arauto: Vinde, todas as tribos dos povos à imortalidade do Batismo. Esta é a água unida ao Espírito, com que se rega o paraíso e se fecunda a terra, crescem as plantas e se multiplicam os animais; em resumo, esta é a água pela qual o homem regenerado recebe nova vida, com a qual Cristo foi batizado, sobre a qual desceu o Espírito Santo em forma de pomba. 

Quem desce com fé a este banho de regeneração renuncia ao diabo e entrega-se a Cristo; renega o inimigo e confessa que Cristo é Deus; renuncia à escravidão e reveste-se da adoção; sai do Batismo resplandecente como o sol, despedindo raios de justiça; e, o que é mais que tudo, volta na condição de filho de Deus e herdeiro com Cristo. 

A Ele a glória e o poder, com o seu Espírito santíssimo, bom e vivificante, agora e sempre e por todos os séculos dos séculos. Amém.


Do Sermão atribuído a Santo Hipólito, presbítero, sobre a santa Teofania 
(Nn. 2. 6-8. 10: PG 10, 854. 858-859. 862) (Sec. III)
______________________________
*Terça-feira após a Epifania do Senhor