segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Na fé e na caridade de Cristo


Procurai reunir-vos com mais frequência para celebrar a ação de graças e o louvor de Deus. Quando vos reunis com frequência, abatem-se as forças de Satanás e o seu poder destruidor é aniquilado pela concórdia da vossa fé. Nada há mais precioso do que a paz, que desarma todo o inimigo celeste ou terrestre. Nada disto vos ficará escondido, se mantiverdes de modo perfeito em Jesus Cristo a fé e a caridade, que são o princípio e o fim da vida: a fé é o princípio e a caridade é o fim. Ambas unidas são o próprio Deus; delas derivam todas as outras virtudes que conduzem à perfeição. Quem professa a fé não peca; e quem possui a caridade não odeia ninguém. Pelo fruto se conhece a árvore; do mesmo modo, os que professam ser de Cristo reconhecem-se pelas suas obras. O que interessa agora, não é apenas fazer profissão de fé, mas perseverar na prática da fé até ao fim. Melhor é calar-se e ser, do que falar e não ser. É bom ensinar, desde que se pratique o que se ensina. Um só é o mestre que disse e foi feito; mas também é digno do Pai o que Ele fez em silêncio. O que possui a palavra de Jesus é capaz de perceber também o seu silêncio e chegar à perfeição, agindo segundo a sua palavra e fazendo-se reconhecer pelo seu silêncio. Nada se pode ocultar ao Senhor, e até os mais íntimos segredos estão na sua presença. Portanto, façamos tudo com a consciência de que Ele habita em nós, para que sejamos realmente seus templos e Ele seja o nosso Deus em nós. Assim é, de fato, e assim Se há de manifestar aos nossos olhos, se O amarmos perfeitamente. Não vos iludais, meus irmãos. Os que perturbam as famílias não terão como herança o reino de Deus. Se aqueles que o fazem segundo a carne são réus de morte, quanto mais não deverão ser punidos aqueles que pelo seu ensino perverso corrompem a fé que vem de Deus, pela qual Cristo foi crucificado? Tais homens, manchados com tal delito, seguirão para o fogo inextinguível, juntamente com aqueles que lhes dão ouvidos. Se o Senhor recebeu a unção sobre a cabeça, foi para infundir sobre a Igreja a incorruptibilidade. Não vos deixeis ungir com o repugnante odor do ensino do príncipe deste mundo, para que ele não vos conduza à escravidão, para longe da vida que vos é proposta. Porque não nos tornamos todos prudentes, aceitando o conhecimento de Deus, que é Jesus Cristo? Porque havemos de nos perder insensatamente, desconhecendo o dom que o Senhor verdadeiramente nos enviou? O meu espírito é vítima destinada à cruz, que é escândalo para os incrédulos, mas para nós é salvação e vida eterna.


Da Carta de Santo Inácio de Antioquia, bispo e mártir, aos Efésios

(Nn. 13-18: Funk 1, 183-187) (Sec. I)

“Ali haverá pranto e ranger de dentes”: o Inferno na Arte e na Filosofia da Idade Média

O Juízo Final (Das Jüngste Gericht, c. 1467-1472), de Hans Memling (c. 1430-1494). Tríptico, óleo sobre madeira, 221 x 161 (painel central) e 223,5 x 72,5 (painéis laterais), Museu Nacional de Gdansk, Polônia. À esquerda de Deus (direita do espectador), o Inferno.

Temor, medo

Fill, per ço hages paor de l'infernal foc qui tots temps dura, ve a la fornal on fan lo vidre i al forn on coen lo pa, i considera per quant estaries una hora en aquell foc. On, si per tot lo món, qui el te donava, tu no estaries en aquell foc una hora, quant més deus tembre que per un delit temporal que lleugerament passa esties en lo foc infernal, qui tots temps dura!

Filho, para que tenhas temor do fogo infernal que dura eternamente, vai à fornalha onde fazem o vidro e ao forno onde cozinham o pão, e imagina ficar uma hora naquele fogo. Logo, se mesmo que eu te desse todo o mundo tu não estarias por um momento naquele fogo, mais deves temer que, por um deleite temporal que rapidamente passa, estejas no fogo infernal que dura por toda a eternidade! - RAMON LLULL. Doctrina pueril, XCIX. “Do Inferno”, 7.2

Detalhe do painel da lateral direita de O Juízo Final (Das Jüngste Gericht, c. 1467-1472), de Hans Memling (c. 1430-1494). Tríptico, óleo sobre madeira, 221 x 161 (painel central) e 223,5 x 72,5 (painéis laterais), Museu Nacional de Gdansk, Polônia. Em destaque na cena, religiosos (tonsurados) que em vida foram fornicadores: estão com suas amantes sendo pisoteados (e elas estranguladas) por terríveis e monstruosos demônios, entre labaredas incandescentes, nus. Memling imagina a cena e a representa artisticamente com tamanha força que pode-se imaginar a intensidade do calor infernal. Seu Inferno é condizente com a imagem que os religiosos de então tinham, como, por exemplo, Dionísio, o Cartuxo (1402-1471), que apresenta o Inferno exclusivamente em termos de pavor e de miséria: “Tenhamos sempre perante nosso espírito o forno mais quente e mais em brasa, e dentro dele um homem nu, que nunca mais será libertado de tal tortura (...) Quão miserável ele se nos apresenta!”, De quatuor hominum novissimis (Opera, t. XLI, p. 545).1

O filósofo catalão Ramon Llull (1232-1316) dedicou um capítulo de sua obra Doutrina para crianças (c.1274-1276) ao Inferno.3 O livro, escrito para seu filho Domingos, é uma espécie de compêndio pedagógico infantil, manual para a vida, e o temor do Inferno a baliza na qual os medievais construíam seus tratados morais.4 Nesse aspecto, eles cumpriam à risca a admoestação de Eclesiástico 7, 40 (“Em tudo o que fazes, lembra-te de teu fim e jamais pecarás”). Pensavam em seus Novíssimos – as quatro últimas coisas que, no pensamento teológico-católico-medieval, acontecem aos homens: a Morte, o Juízo, o Inferno e o Paraíso. As duas primeiras, certas e universais; as duas últimas, para eles, excludentes, pois todos morrem e são julgados, todos vão para o Inferno ou o Paraíso (os que vão para o Inferno não vão para o Paraíso e, consequentemente, os que vão para o Paraíso não vão para o Inferno).5 Sem esse incisivo pano de fundo imagético, perspectiva transcendental, não é possível compreender a mentalidade medieval.6

No entanto – e para muitos de nós, hoje, enigmático – como os medievais não duvidavam da existência de um outro mundo, celebravam a cerimônia de passagem, a morte, com convicção, com a esperança de salvação (um dos poucos a compreender a amplitude dessa concepção existencial foi o historiador Georges Duby [1919-1996]).7 Seja como for como imaginemos essas certezas e dúvidas, a visão do Inferno esteve presente em praticamente todas as manifestações imagéticas – para o papa Gregório Magno (c. 540-604), “Bíblia dos iletrados”8 – durante toda a Idade Média a recordar aos incautos o que estava reservado a eles após a morte corporal (e para gáudio dos justos que procuravam viver uma vida correta neste mundo [9]).

O Inferno. Frontispício do Beato de Santo Domingo de Silos (c. 1091-1109), folio 2. Enquanto Barrabás, na entrada do tetralóbulo infernal (à esquerda), trapaceia a pesagem das almas de São Miguel (localizado do lado de fora do tetralóbulo, na extrema esquerda da iluminura), no centro, em amarelo (cor da falsidade) está a representação de um dos sete pecados capitais, a avareza (a φιλαργυρία, philarguria, o amor ao ouro, ao dinheiro): mesmo no núcleo do Inferno, o ganancioso ainda tenta segurar os sacos de moedas. Acima, dele, amantes se abraçam na cama, embaixo das cobertas: seus antigos prazeres carnais são relembrados enquanto sofrem com as provocações de um demônio (Atimos) com uma enorme genitália verde.10

domingo, 15 de janeiro de 2017

O Verbo abreviado


Em Jesus Cristo, que era a finalidade, a antiga Lei encontrou precedentemente a sua unidade. Século após século, tudo nessa Lei convergia para Ele. É Ele que, da totalidade das Escrituras, formava já a única Palavra de Deus.

Nele, os “verba multa” (as muitas palavras) dos escritores bíblicos tornam-se para sempre “Verbum unum”(Palavra única).

Sem Ele, ao invés, o laço se dissolve: de novo a palavra de Deus se reduz a fragmentos de “palavras humanas; palavras múltiplas, não somente numerosas, mas múltiplas por essência e sem unidade possível, porque, como constata Hugo de São Vítor, “multi sunt sermones hominis, quia cor hominis unum non est” (Muitas são as palavras do homem, porque o coração do homem não é uno).

Ei-Lo, portanto, este Verbo único. Ei-Lo entre nós “que sai de Sião”. Que tomou carne no seio da Virgem. “Omnem Scripturae universitatem, omne verbum suum Deus in utero virginis coadunavit” (Todo o conjunto das Escrituras, cada sua palavra, Deus a reuniu no seio da Virgem).

Ei-Lo agora, total, único, na Sua unidade visível. Verbo abreviado, Verbo “concentrado”, não somente neste primeiro sentido que Ele, que é um Si mesmo imenso e incompreensível, que é Aquele que é infinito no seio do Pai, Se comprime no seio da Virgem ou Se reduz às proporções de um Menino na gruta de Belém...

Mas, [Verbo concentrado] também e ao mesmo tempo no sentido que o conteúdo múltiplo das Escrituras, espalhado ao longo dos séculos de expectativa vem todo inteiro comprimir-Se para Se cumprir, isto é unificar-Se, completar-Se, iluminar-Se e transcender-Se Nele. “Semel locutus est Deus” (Deus pronunciou uma só Palavra): Deus pronuncia uma só Palavra, não só em Si mesmo, na Sua eternidade sem vicissitudes, no ato imóvel com o qual gera o Verbo, como Santo Agostinho recordava; mas também, como ensinava já Santo Ambrósio, no tempo e entre os homens, no ato com o qual Ele envia o Seu Verbo para habitar a nossa terra. “Semel locutus est Deus, quando locutus in Filio est” (Deus pronunciou uma só Palavra, quando falou no Seu Filho): porque é Ele que dá o sentido a todas as palavras que O anunciavam, tudo se explica Nele e somente Nele: “Et audita sunt etiam illa quae ante audita non erant ab iis quibus locutus fuerat per prophetas” (E agora são compreendidas todas aquelas palavras que não foram entendidas antes por aqueles aos quais Ele tinha falado por meio dos profetas).
 

Roma: igreja abriga moradores de rua nas noites frias.


A Igreja de San Calisto, situada no bairro de Trastevere, em Roma, está abrindo suas portas para moradores de rua desde a noite de 7 de janeiro, quando uma onda de frio chegou à capital e as temperaturas começaram a cair abaixo de zero.

Segundo a Esmolaria vaticana, a iniciativa continuará enquanto perdurarem as baixas temperaturas em Roma. A igreja tem abrigado cerca de 30 moradores de rua diariamente, entre italianos e estrangeiros.

Acolhida começa com o jantar às 19h

No local, os sem-abrigo recebem além de uma cama e cobertores, também alimentação e produtos de higiene. Os hóspedes deixam a Igreja de San Calisto sempre por volta de 8h da manhã.

Administrada pela Comunidade de Santo Egídio, a igreja é de propriedade da Santa Sé e foi construída sobre o poço onde teria ocorrido o martírio do Papa Calisto I, morto no ano de 222 durante uma revolta popular.

Atualmente, é ligada à Paróquia de Santa Maria in Trastevere, confiada à Comunidade, que ali realiza atividades de culto e catequeses, especialmente para idosos e pessoas com deficiências. 

Na concórdia da unidade


É vosso dever glorificar em tudo a Jesus Cristo que vos glorificou a vós, para que, unidos em perfeita obediência, sujeitos ao bispo e ao presbitério, em tudo sejais santificados. 

Não vos dou ordens, como se fosse alguém. Embora prisioneiro pelo nome de Cristo, ainda não cheguei à perfeição em Jesus Cristo. Só agora começo a ser discípulo e falo-vos como a meus condiscípulos. Eu é que devia ser fortalecido pela vossa fé, exortação, paciência, equanimidade. Mas a caridade não permite calar-me a vosso respeito; por isso me adianto a exortar-vos para que vivais unânimes segundo o pensamento de Deus. Jesus Cristo, nossa vida inseparável, é o pensamento do Pai; e os bispos, constituídos em toda a terra, estão no pensamento de Jesus Cristo. 

Por isso deveis estar de acordo com o pensamento do vosso bispo, como já fazeis. O vosso memorável presbitério, digno de Deus, está em harmonia com o bispo como as cordas de uma cítara. Esta vossa concórdia e harmonia na caridade é como um hino a Jesus Cristo. Procurai todos vós formar parte deste coro, de modo que, harmonizados pela concórdia, recebendo a melodia de Deus na unidade, possais cantar em uníssono por Jesus Cristo ao Pai, a fim de que vos escute e vos reconheça, pelas vossas boas obras, como membros do seu Filho. Vale bem a pena viver em unidade irrepreensível, para poder participar sempre da vida de Deus. 

Se em tão breve espaço de tempo contraí com o vosso bispo tão íntima familiaridade, não humana mas espiritual, quanto mais ditosos vos devo considerar a vós que estais tão profundamente ligados a ele, como a Igreja a Jesus Cristo e Jesus Cristo ao Pai, na harmonia da perfeita unidade! Ninguém se engane: quem não está no recinto do altar fica privado do pão de Deus. Se a oração de um ou dois tem tanta força, quanto mais não terá a do bispo com toda a Igreja?


Da Carta de Santo Inácio de Antioquia, bispo e mártir, aos Efésios

(Nn. 2, 2 – 5, 2: Funk 1, 175-177) (Sec. I)

Igreja Católica Apostólica Romana: A única Igreja de Jesus Cristo!


Primeiramente, não existe isso de que cada um tem a sua fé. A Fé não é um sentimento subjetivo, mas um assentimento pessoal a um corpo de verdades. Ora, a verdade somente o é se for correspondente à realidade. Isto significa que entre dois religiosos cujas visões destoam um do outro, não é possível que ambos estejam corretos. Os dois podem estar errados, mas não corretos igualmente. Isso ocorre porque os erros são infinitos. A verdade, ao contrário, pela sua própria natureza, só pode ser uma.

1 - Que Jesus Cristo tenha fundado uma, e somente uma Igreja, é verdade que está muito claramente nos Santos Evangelhos. Pois todas as vezes que Jesus se referiu à sua Igreja, usou o singular. “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”.(Mt. 16,18); “quem não ouve a Igreja seja tido por gentio e publicano” ( Mt. 18,17), isto é, pecador público.

Note-se: em vão os adversários imaginam que Jesus, ao dizer: “sobre esta pedra… ”, apontava o dedo para Si mesmo. Todo o contexto desmente essa suposição. Por ex.: “dar-te-ei as chaves… ”; “tudo o que ligares… ”, etc.

2 - Também os outros livros do Novo Testamento só usam o singular. Assim S. Paulo várias vezes fala do “Corpo de Cristo que é a Igreja”(Col. 1,24; 1,18); da Igreja como sendo “a Igreja do Deus Vivo” (I Tim. 3,15); e que “a Igreja é amada por Cristo” como Esposa. (Ef. 5,25 e 29) O uso do plural só se encontra nas Epístolas, e indica “as igrejas” como comunidades locais.

3 - Outra maneira de a Bíblia dizer que a Igreja de Cristo é única é afirmar: “há um só Senhor, uma só fé, e um só batismo” (Ef. 4,5), e portanto uma só é a Religião e Igreja desse único Deus e Senhor. Assim, fora desta única Igreja não pode achar salvação quem tem meios e condições de conhecê-la. E conhecendo-a, tem obrigação de pertencer-lhe, porque é necessária para a salvação.

4 - Que essa única Igreja de Cristo seja a Igreja Católica, é fato bíblico e histórico comprovado:

A) porque Jesus mesmo garantiu a perpetuidade de sua Igreja no mundo “todos os dias até o fim dos séculos”(Mt. 28,20); e a sua invencibilidade contra as forças infernais do maligno, seus seguidores e seus erros: “As portas do inferno não prevalecerão contra Ela”. (Mt. 16,18).

B) porque, historicamente é a única Igreja que vem desde os Apóstolos, os quais foram também constituídos por Cristo, em certa medida, seus “fundamentos”. Sobretudo São Pedro (Mt. 16,18), o qual, na pessoa de seus sucessores, foi feito fundamento visível da Igreja nesse mundo e princípio de unidade. Para isso, mudou-lhe o nome de Simão para Pedro. Jesus, porém, é e será sempre o seu fundamento principal, a “Pedra Angular”. (Ef. 2,19-20) A referência à Igreja, nesse texto chamada “Família de Deus”, é patente. (Ef. 2,19).

5 – A Igreja Católica é, pois, Apostólica. Foram os Apóstolos que a estabeleceram por toda a parte, conforme a ordem e missão que Jesus lhes deu: “Ide, pois, e pregai o Evangelho a toda criatura”; “…a todas as nações”. (Mc. 16,15; Mt 28,19) A Igreja é, pois, a continuadora da obra salvífica de Cristo no mundo em todos os tempos até o fim dos séculos. (Mt. 28,20) E Ela tem realizado essa divina missão, não obstante as guerras que Lhe movem o Demônio e os seus aliados, promovendo heresias, seitas e falsas religiões que a Ela se opõem, e sempre A combateram.

sábado, 14 de janeiro de 2017

A crente quebra-santo


Não basta quebrar a imagem! Tem que filmar. E não basta filmar! Tem que postar no facebook… E o escândalo incendeia as redes sociais.

O vídeo da"pastora" evangélica quebrando a imagem de Nossa Senhora Aparecida causou espanto em muita gente, desde ontem. Eu, que já estou cansado de me espantar, simplesmente adscrevi o fato a essas boçalidades com as quais precisamos conviver dia-a-dia.

O circo em que se converteram certas "igrejas" oferece espetáculos de gosto mais que duvidoso: desde camisas e facas sujas pelo sangue do "apóstolo esfaqueado" que se transformam num Santo Graal ambulante, passando por outros que se fantasiam de Fred Flintstone para bancar "o profeta", até encenações pitorescas que os saltimbancos medievais considerariam cafonas… E o povo não cai no ridículo, gosta, paga pra ver de novo, e paga, e paga, e paga. Paga porque merece!

Qualquer padre brasileiro já está acostumado com cenas como essas. Basta o fulano se "converter" para qualquer desses grupos, e se transforma num quebra-santo. Sim, há aqueles mais educados que deixam as imagens nas portas das Igrejas ou que as jogam num lugar mais digno. Mas, parafraseando um corinho-reteté cantado nessas garagens de fogo, "a ordem é pra quebrar".

Isso não é de hoje! Desde os tempos de Lutero e Calvino os protestantes se prodigalizaram por seu ódio iconoclasta. A teologia, aqui, é totalmente descartável: vai desde a pregação de que por trás de cada imagem há um demônio, coisa que aterroriza o imaginário protestante aos arroubos (só quem é ex-protestante sabe do que estou falando), até a acusação anti-católica de que somos idólatras porque aquelas são representações de falsos deuses, deuses que a fantasia criativa desses pregadores veem projetados anti-historicamente em nossas esculturas. 

Deus justifica a todos desde o princípio pela fé

 

Confiemos firmemente na bênção de Deus e vejamos quais são os caminhos que a ela conduzem. Consideremos os acontecimentos que se verificaram desde o princípio. Por que motivo Abraão nosso pai recebeu a bênção? Não foi porque praticou a justiça e a verdade por meio da fé? Isaac, conhecendo o futuro, deixou-se conduzir confiada e voluntariamente ao sacrifício. Jacob, com humildade, afastou-se da sua terra, por causa do irmão, e partiu para junto de Labão, colocando-se ao seu serviço; e foram-lhe dados os doze cetros de Israel.

Considerando com sinceridade cada um destes dons concedidos, reconhecer-se-á a sua magnificência. De Jacob descenderam todos os sacerdotes e levitas que serviam o altar de Deus; dele descende, segundo a carne, o Senhor Jesus; dele vieram os reis, os príncipes e os chefes da tribo de Judá. Quanto às outras suas tribos, também não foi pequena a sua glória, conforme a promessa do Senhor: A tua descendência será como as estrelas do céu. Todos eles alcançaram glória e grandeza, não por si mesmos ou pelas suas obras ou pela justiça das suas ações, mas por vontade de Deus. Também nós, por sua vontade chamados em Cristo Jesus, não somos justificados por nós mesmos, nem pela nossa sabedoria, inteligência ou piedade, nem pelas obras que fizemos com santidade de coração, mas pela fé, pela qual Deus onipotente justificou a todos desde o princípio. A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

Que faremos então, irmãos? Deixaremos de fazer o bem e abandonaremos a caridade? Não permita o Senhor que tal aconteça entre nós, antes nos apressemos com diligência e fervor de espírito a praticar toda a espécie de boas obras. Imitemos o Criador e Senhor de todas as coisas, que Se alegra com as suas obras. Com o seu poder supremo fez os céus e os adornou com incompreensível sabedoria; separou a terra firme da água que a cobria e estabeleceu-a sobre o seguro fundamento da sua vontade; com uma ordem, chamou à existência os animais que se movem sobre a terra, e também, com o seu poder, criou o mar e os animais que nele vivem.

Depois de tudo isto, com as suas mãos santas e puríssimas formou o homem, o ser mais excelente e mais nobre pela dignidade da sua inteligência, imprimindo-lhe os traços da sua própria imagem. Assim disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança; e Deus criou o homem, homem e mulher os criou. Tendo concluído todas as suas obras, louvou-as e abençoou-as, e mandou aos seres vivos: Crescei e multiplicai-vos. Reparemos que todos os justos se adornaram com boas obras e o próprio Senhor Se adornou e alegrou com boas obras. Animados com este exemplo, entreguemo-nos com diligência ao cumprimento da sua vontade e com todas as forças pratiquemos as obras da justiça.


Da Epístola de São Clemente I, papa, aos Coríntios

(Nn. 31-33: Funk 1, 99-103) (Sec. I)