Eu sou um padre católico
casado.
Já fui
ministro anglicano. Recebi a ordenação sacerdotal católica
graças à provisão pastoral criada por São João Paulo II para permitir que
ex-ministros protestantes casados fossem dispensados do voto de celibato a fim
de se ordenarem na Igreja católica.
Muitas
pessoas acham que a permissão de casamento para
os padres resolverá a crise das vocações sacerdotais. Pode até ajudar, mas não
será, necessariamente, a solução mágica. Permitir que homens casados sejam
ordenados trará tantos problemas novos quantas soluções de problemas velhos.
Para começar, a Igreja terá que avaliar muito bem se tem condições de sustentar
padres casados e suas famílias. Uma fonte confiável no Vaticano me disse, em
conversa privada, que, quando a questão dos padres casados é discutida, são
os bispos das igrejas de rito oriental, que permitem o casamento do clero, os
que na maioria das vezes mais desaconselham a mudança desta disciplina.
Num
artigo publicado recentemente pela mídia, afirmou-se que o papa Francisco teria
prometido "resolver o problema do celibato". Esta declaração, por si
só, já levanta uma série de perguntas. Em primeiro lugar, o que viria a ser
esse "problema do celibato"? O celibato já seria em si mesmo um
problema? Se a maioria dos padres católicos prometeu e viveu o celibato ao
longo dos últimos mil anos, não parece que ele seja um problema tão grande a
ponto de precisar de urgente reforma. É claro que existem os críticos do
celibato. O ex-monge Richard Sipe, por exemplo, escreveu um contundente
questionamento do celibato. O mesmo foi feito pelo dissidente católico Donald
Cozzens. Enquanto isso, o padre anglicano Ray Ryland, convertido, escreveu em
forte defesa tanto do celibato dos sacerdotes quanto da continência perfeita
dos padres já casados (ou seja, da abstenção de todas as relações sexuais).
A
primeira pergunta a ser feita, portanto, é esta: o que é esse “problema do
celibato?”. Existem muitas pressões contra o celibato em nossa sociedade altamente
sexualizada. O acesso e a aceitabilidade do "sexo livre" faz com que
o celibato pareça muito estranho neste contexto. Além disso, com a diminuição
das vocações sacerdotais, mais sacerdotes vivem o peso crescente da solidão; e
com a expectativa de vida aumentando, a perspectiva de um voto de celibato pelo
resto da vida se torna uma dificuldade maior ainda. O celibato, em si, pode não
ser um problema urgente, mas é certamente verdade que a observância do celibato
é muitas vezes bem desafiadora.
E como
poderia o papa Francisco "resolver
o problema do celibato"?