Um dos grandes cavalos de batalha da
militância dos arautos de Satanás, entenda-se, os neo-ateus, é a maneira como Deus é
retratado no Antigo Testamento. Segundo eles temos um Deus que manda enforcar,
saquear, fazer sacrifícios e matar crianças. Como base para tal argumentação
eles citam trechos das Esrituras como os seguintes:
Êxodo XXXII, 27: Aos quais disse: Eis aqui o que diz o Senhor Deus de Israel: Cada um
cinja a sua espada sobre a sua coxa: passai, e tornai a passar de porta a porta
pelo meio do campo; e cada qual mate a seu irmão, a seu amigo, e a seu vizinho.
Números XXV, 4: Disse a Moisés: Toma todos os príncipes do povo, e pendura-os em forcas
contra o sol: para que o meu furor se aparte de Israel.
Números XXXI, 17-18: Matai pois a todos os machos, ainda os que são crianças; e degolai as
mulheres que tiveram comércio com os homens. Mas reservai para vós as meninas e
todas as donzelas.
Deuteronômio II, 33-34: E o Senhor nosso Deus no-lo entregou: e nós
o derrotamos com seus filhos e com todo o seu povo. Tomamos-lhe ao mesmo
tempo todas as suas cidades, mortos os seus habitantes, homens mulheres e
meninos: e nela não deixamos nada.
Isaías XIII, 18: Mas eles matarão as crianças com as suas setas, e não se compadecerão
das mães em cujo ventre elas andarem, e a seus filhos não perdoará o olho
deles.
Jeremias XIX, 9: E dar-lhes-ei a comer as carnes de seus filhos, e as carnes de suas filhas:
e cada um comerá a carne de seu amigo, no cerco, e no aperto, em que os terão
encerrados os seus inimigos, e os que buscam as almas deles.
Ezequiel IX, 6: O velho, o moço e a donzela, o menino e as mulheres, todos matai, sem
que nenhum escape; mas não mateis nenhum daqueles sobre quem virdes o thau, e
começarei pelo meu santuário. Começaram pois a matança pelos homens mais velhos
que estavam diante da casa.
Melhor que tratar cada versículo de
modo específico (coisa que poderei fazer futuramente neste blog), o ideal é dar
uma visão exegética geral que engloba a eles e a muitos outros.
Em primeiro lugar, devemos saber que
a inspiração divina se dá por meio do arcabouço cultural e das limitações
pessoais do escritor sagrado. Nesse sentido, uma das características da
linguagem semita era o uso de hipérboles; dada a sua vivacidade, o israelita
era muito propenso às expressões fortes, exageradas e contrastantes.
Daí ocorrerem no Antigo Testamento,
principalmente nos Salmos, fórmulas em que o autor sagrado ou outro personagem
deseja mal àqueles que o angustiam. Diz D. Estevão Bettencourt:
“Em verdade, os autores sagrados, ao
pleitear sua causa perante o Senhor, advogavam os interesses do bem, da justiça
ou da verdadeira religião; por conseguinte, explícita ou implicitamente a sua
causa se identificava com a de Deus, e os seus inimigos vinham a ser
adversários do próprio Deus. Assim entendida a situação, não podiam ver motivo
para abrandar o rigor dos termos com que os antigos orientais, dotados de ânimo
fervido, costumavam pedir a extirpação dos adversários; não pode haver
compatibilidade entre o bem e o mal, o reino de Deus e o do pecado; a toda
instituição que se opõe a Deus, o homem justo não pode deixar de desejar
completa ruína”.
Ou seja, eles procuravam mostrar qual
o caminho reto, mas faziam isso imbuídos de toda a sua carga cultural.
Tal postura ainda é mais patente pelo fato de que não diferenciavam entre a pessoa que fazia o mal e o mal em si. Desconheciam o adágio retirado por Santo Agostinho da Lei aperfeiçoada e definitiva (o Evangelho):
“Odeia o pecado, mas ama o pecador”.
Daí, fazendo um parêntese, já se
observa que a dicotomia promovida pelos protestantes liberais entre "o
Deus do Antigo Testamento" e o "Deus revelado por Jesus" é falsa
e absurda. É falsa porque deriva de conceitos que, em geral, não têm nenhuma
relação com a religião, representando, tão somente, uma perspectiva
culturalmente fechada. É absurda porque pressupõe a possibilidade de
contradição num texto inspirado.
Isso é muito perigoso. As críticas
que se fazem em torno dessa idéia levaram alguns a negar a necessidade de
Cristo para nos salvarmos. Principiam contestando a “intolerância religiosa”
presente na Antiga Aliança e disso passam a ver negativamente a exclusividade
do culto ao Deus verdadeiro.
Mais uma ilusão dos hereges... eles
não vão "descobrir a roda" e, no mínimo, deveriam procurar saber qual
o status quaestionis antes
de abrir a boca, seja para evitar erros conceituais, seja para não cair na
posição orgulhosa de quem procura adaptar Deus a si.
A Sagrada Escritura é patrimônio da
Igreja, sua penetração, sendo função da fé na Encarnação, não pode deixar
também de estar intimamente associada à fé vivida eclesialmente. O Novo
Testamento não é “complemento” do Antigo, mas ápice. O dedo de Deus na Bíblia só se torna visível a
quem considere a direção geral da mesma ou a quem observe as fases da história
bíblica se encaminhando aos poucos para um termo único: o Messias. Isto é
particularmente belo, pois para tal convergência Deus não violenta a natureza
humana: a miséria humana atua sem pudor no Antigo Testamento, perfazendo uma
base para a plena manifestação do Bem.
O Deus do Antigo Testamento é Jesus
(que é a Revelação).
Bem, para continuar vale a leitura de
um texto do Pe. Elílio de Faria Matos Júnior que certa vez foi postado pelo
confrade Ricardo na comunidade Apologética Católica do
Orkut:
"A concepção que Israel alcançou
de Deus se deu no âmbito da história, não da reflexão filosófica. Foi a experiência
da ação de Deus em sua história que revelou o rosto de Deus ao povo,
experiência esta que se acha documentada de forma canônica nos livros bíblicos
do Antigo Testamento. O conjunto desses livros indica uma evolução que se
elaborou durante quase mil anos, e, por isso mesmo, como registro da
experiência de Deus que age poderosamente na história de Israel, não se presta
a um tratado sistemático ou catecismo sobre Deus. Tal evolução percorre um
caminho que vai desde o 'Deus da história', experimentado como aquele que age
junto de seu povo, ao 'Deus cósmico', criador do céu e da terra. No entanto, ao
estudioso perspicaz, é possível detectar certos atributos que pretendem dizer
qual é o rosto desse Deus que age na história de Israel e manifesta, no
percurso mesmo da história, sua identidade.
De acordo com os estratos mais antigos do Antigo Testamento, a experiência de Deus primeiramente se dá como uma experiência familiar: Deus é o Deus dos pais, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó. Deus escolhe a família para si e mantém relações pessoais com ela e promete-lhe descendência [Cf. Gn 46,3]. Entretanto, a experiência decisiva de fé no Antigo Testamento se dá por ocasião da libertação da escravidão do povo hebreu do Egito, da Aliança estabelecida no Sinai e da promessa da terra de Canaã. É nesse acontecimento, a libertação do Egito, a Aliança e a promessa da terra, que Israel experimenta com vigor inédito a ação de Deus em seu favor e se constitui como o povo da Aliança. O nome do Deus que liberta o povo com poder e majestade, é Iahweh [Cf. Ex 3,14]. Segundo a tradição javista, o culto a Iahweh remonta aos tempos anteriores ao dilúvio [Cf. Gn 4,26]. Pela tradição sacerdotal, Iahweh ter-se-ia dado a conhecer aos patriarcas com o nome de El-Shaddai [Cf. Gn 17,1; Ex 6,2-3] . Para o texto de Ex 3,12ss, de tradição eloísta, é no momento da libertação egípcia que Deus revela seu verdadeiro nome - Iahweh - pelo qual deseja ser reconhecido doravante pelos israelitas.
De acordo com os estratos mais antigos do Antigo Testamento, a experiência de Deus primeiramente se dá como uma experiência familiar: Deus é o Deus dos pais, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó. Deus escolhe a família para si e mantém relações pessoais com ela e promete-lhe descendência [Cf. Gn 46,3]. Entretanto, a experiência decisiva de fé no Antigo Testamento se dá por ocasião da libertação da escravidão do povo hebreu do Egito, da Aliança estabelecida no Sinai e da promessa da terra de Canaã. É nesse acontecimento, a libertação do Egito, a Aliança e a promessa da terra, que Israel experimenta com vigor inédito a ação de Deus em seu favor e se constitui como o povo da Aliança. O nome do Deus que liberta o povo com poder e majestade, é Iahweh [Cf. Ex 3,14]. Segundo a tradição javista, o culto a Iahweh remonta aos tempos anteriores ao dilúvio [Cf. Gn 4,26]. Pela tradição sacerdotal, Iahweh ter-se-ia dado a conhecer aos patriarcas com o nome de El-Shaddai [Cf. Gn 17,1; Ex 6,2-3] . Para o texto de Ex 3,12ss, de tradição eloísta, é no momento da libertação egípcia que Deus revela seu verdadeiro nome - Iahweh - pelo qual deseja ser reconhecido doravante pelos israelitas.
Iahweh, ao que tudo indica, segundo os estudiosos, é uma forma primitiva do verbo ser. A tradição o traduziu por Aquele que é. Essa designação, na tradição filosófica, se tornaria a noção mais apropriada que o homem pode aplicar a Deus, no sentido de, por ela, designar o Ser Absoluto, o Ato Puro de existir. Entretanto, certamente a designação de Deus como Iahweh não foi fruto de especulações filosóficas entre os israelitas. Há várias interpretações para o nome: indicaria a solicitude de Deus para com o povo, e, assim, deveria ser traduzido por "Eu sou aquele que é convosco"; indicaria a existência do Deus verdadeiro em contraposição ao nada dos outros deuses; ou mesmo seria um artifício para evitar nomear Deus, pois Deus não se deixa nomear pelos homens, para que o dominem. Como quer que seja, Iahweh indica positividade e concretude, porque está associado à ação divina na libertação de Israel por meio de Moisés, com os atributos divinos de bondade que supõe.
Com os profetas, os atributos de Deus, tais como o poder sobre Israel, sobre outras nações e sobre o mundo inteiro, a misericórdia, a justiça, a santidade, desenvolvem-se. A partir do século VI, por ocasião dos reveses do Exílio, a idéia do Deus único, criador e organizador da matéria afirma-se de vez. Os escritos apocalípticos vétero-testamentários enfatizam a providência de Deus, em cujas mãos está a sorte de todos os povos e o domínio direto sobre todas as coisas.
A fé vétero-testamentária no Deus único, criador do céu e da terra, ao mesmo tempo transcendente e imanente ao mundo, é o resultado da experiência histórica da ação de Iahweh, que, por sua vez, mostra-se, cada vez mais, no decorrer dos acontecimentos, o Soberano dos povos e da natureza, o Princípio último de toda realidade.
Em síntese, podemos dizer que o Antigo Testamento apresenta-nos Deus como único ["Ouve, Israel, Iahweh, nosso Deus, é o único" (Dt 6,4)], pessoal [sua personalidade não implica limitação, no sentido de ser uma entre outras pessoas, mas é experienciada como presença do Mistério no âmago da história e da vida das pessoas, Mistério este que é consciência, liberdade, vontade, palavra dirigida], transcendente, santo, eterno [Cf. Hab 1,12; Dt 32,40; Ex 15,18], imutável [Cf. Sb 7,27; Is 40,8; Sl 102,26-28], como alguém que ultrapassa os limites corpóreos ['Mesmo se a Escritura fala, várias vezes, de Deus como se ele tivesse um corpo, membros corpóreos, atribui a Deus coisas que não podem convir a um ser corpóreo: transcendência, eternidade, imutabilidade, onipresença' (Patfoort, A. O mistério do Deus vivo. Rio de Janeiro: Lumen Christi, 1983, p.43)], solícito para com os homens, benevolente, justo e sábio [Cf. Dt 10,14-15; Sl 116,6; Jr 24,6-7, Ez 11,19-20; Gn 18,25]; criador de tudo o que existe, infinito, como o Primeiro e o Último [Cf. Is 44,6; 48,12], como o Bem e a Beleza inebriante que causa gozo e admiração para quem o conhece e felicidade para quem o serve. Associado à idéia da beleza de Deus, o termo glória (kabod) é freqüentemente usado e designa propriedade exclusiva de Deus, significando a riqueza e a transcendência do divino Ser e o esplendor inebriante e terrificante de suas teofanias [Cf. Is 6,3-5; Ex 29,43; 33,18.20; 40,34ss]. O livro da Sabedoria, partindo da observação da beleza das criaturas, convida a reconhecer a fonte de toda beleza, a Beleza mesma que as criou: 'aprendam quanto lhes é superior o Senhor dessas coisas, pois foi a própria fonte da beleza que as criou' [Sb 13, 3].
Enfim, percebemos um eixo central da auto-revelação de Deus no Antigo Testamento: transcendente ao mundo, Deus interessa-se por ele em sua ilimitada autodisponibilidade, não para ter mais alguma coisa, mas para que o mundo e o homem sejam e tenham em Deus mesmo a sua plenitude."
Alguém, então, frente a esse texto, pode perguntar:
- Essa visão historicista não é perigosa? Ela não esvazia o conteúdo revelado presente nos Livros Sagrados?
Não, não esvazia.
Essa perspectiva, tão somente, leva em conta o conceito de inspiração nos Livros Sagrados. A inspiração não torna o hagiógrafo (aquele que recebe a inspiração) numa espécie de "caneta", mas respeita suas características particulares e seu arcabouço cultural.
Por exemplo, se Deus inspirasse um agricultor sertanejo, ele poderia passar a mensagem divina em forma de poesia de cordel e jamais falaria sobre a neve (já que isso não faz parte de seu imaginário).
O conteúdo espiritual, sobre fé ou moral, deve ser "peneirado" no meio disso. Historicismo seria querer ver esse conteúdo como algo condicionado (condicionada é a moldura dele).
Deus quis se acomodar na educação do seu povo. Já antes de receberem a lei de Moisés, os filhos de Israel praticavam o talião, em meio a muitas outras nações que consideravam tal praxe como normal. Pois bem, ao promulgar a Lei de Israel, o Senhor se dignou respeitar a tradição da sua gente; haveria de reformá-la, sim, mas aos poucos. Com efeito, os historiadores extrabíblicos referem que, entre os judeus próximos à era cristã, o talião podia ser susbstituído pela indenização pecuniária. É o que atesta, por exemplo, o historiador judeu Flávio Josefo no século I da nossa era (Ant. IV, 8, 35):
"Aquele que mutilar o próximo padecerá pena idêntica, sendo despojado daquilo que tiver tirado ao próximo. Dado, porém, que a pessoa lesada prefira receber uma quantia monetária, a lei lhe reconhece pleno direito de avaliar a perda sofrida, e autoriza-a a proceder assim, caso tema cometer alguma crueldade."
Por fim, o Messias, rematando o processo pedagógico do Antigo Testamento, aboliu a prática, aconselhando mesmo aos discípulos que perdoassem gratuitamente a quem os ofendessem (Mateus V, 39).
Um só tipo de talião continua em voga na legislação de Cristo:
"Quem pratica a misericórdia, obterá misericórdia." (Mateus V, 7)
"Quem não julga, não será julgado; cada qual será julgado conforme tiver ele mesmo julgado; de modo geral, a cada um será aplicada a medida que ele tiver aplicado ao próximo." (Mateus VII, 1s; Marcos IV, 24; Lucas VI, 37s)
Novamente, podemos ouvir o questionamento:
- Hum... mas permitir que se matem inocentes é um bem?
A isso eu respondo de maneira mais teórica, sem me ater ao contexto do Antigo Testamento.
Na Redenção, a grande Vítima inocente
que se imolou por nossos pecados foi Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é o
Inocentíssimo por excelência, que Se fez vítima para nos salvar. E sua imolação
foi de um valor divinamente infinito, e superabundante para resgatar os pecados
de toda humanidade passada, presente e futura. Tal não significa porém que “não
precisamos sofrer, porque Ele já sofreu por nós”. Para que os méritos infinitos
de Jesus Cristo sejam aplicados a cada um de nós individualmente, torna-se
indispensável unirmos os nossos sofrimentos aos Sofrimentos d´Ele. Daí que a
cada um de nós cabe nesta vida a sua quota de expiação e de sofrimento.
Mas aqui entra outro mistério de
nossa santa religião: o da Comunhão dos Santos. Deus convoca os justos para completar em sua
carne a quota de reparação e sofrimentos que os outros não preencheram. Por
isso se diz que os justos pagam pelos pecadores. E é uma honra fazermos isso,
pois estamos atendendo ao apelo de Deus em favor de nossos irmãos, ou seja,
“amando nosso próximo como nós mesmos”. Nessa
misteriosa substituição dos justos pelos pecadores se vislumbra a explicação
das vítimas inocentes que o Senhor suscita neste mundo. O
sofrimento de tantos inocentes (aos quais Deus muitas vezes, não revela o
motivo de seu sofrimento) não é porém sem sentido aos olhos do Criador.
Se nós sentimos comiseração por essas
vítimas inocentes, a bondade e a consideração de Deus para com elas é
infinitamente maior do que a nossa. E assim, ao permitir sofrimentos tão
dilacerantes, aufere deles mérito para a salvação de incontáveis almas. Não obstante, é preciso confessar que estamos
diante de um mistério de Deus, que só no Céu entenderemos perfeitamente.
Nesse quadro, no que se refere ao
extermínio dos inimigos, temos ainda de lembrar que o fato dos hebreus possuírem
a verdadeira religião num mundo idólatra fazia com que a sorte desse povo
viesse a ser nada menos que a do Reino
de Deus em meio do erro e do pecado.
E isso não é falar em evolução na Revelação (no que discordo do texto do Pe. Elílio). Não há “evolução” em nada. O que há é “desenvolvimento”. Evolução denota uma mudança ontológica e isso, no que tange a princípios revelados, é impossível.
Finalmente, trago uma colocação que um protestante certa vez escreveu num debate no Orkut:
- Mas Thiago, sendo Deus um pai amoroso como Ele pode permitir tantas mortes injustas nesses trechos criticados do Antigo Testamento? Nosso bem maior não é a vida?!? E a perspectiva universalista dos judeus, como interage com xenofobia demonstrada nessas passagens?
A vida não é o maior bem, o maior bem que podemos ter é a salvação. E isso, é bom lembrar, não vai de encontro ao entendimento da sacralidade da vida humana, pelo contrário, é o que dá razão a essa valorização.
A morte dos inocentes é mistério,
como já expliquei.
Não conheço nenhuma perspectiva universalista judaica, tanto hoje como nos tempos antigos. Aliás, o desvio deles em relação ao Projeto de Deus tem haver com isso: de um povo que devia servir aos outros como testemunha profética e sacerdotal, passaram a se considerar os únicos escolhidos para a Salvação.
Vamos, mais uma vez, tentar entender
um pouco melhor o quadro do Antigo Testamento.
No oriente antigo, ao povo vencedor de uma guerra reconhecia-se a faculdade de dispor das posses e da vida dos vencidos, mesmo de mulheres e crianças; felizes se poderiam considerar aqueles que, derrotados na batalha, fossem apenas despojados de suas posses e reduzidos à escravidão.
No oriente antigo, ao povo vencedor de uma guerra reconhecia-se a faculdade de dispor das posses e da vida dos vencidos, mesmo de mulheres e crianças; felizes se poderiam considerar aqueles que, derrotados na batalha, fossem apenas despojados de suas posses e reduzidos à escravidão.
Além disso, aqueles povos (e também
os de outras partes da terra) julgavam que na guerra a honra de seus deuses
estava em jogo. Uma derrota militar seria escárnio para as divindades da nação
vencida, assim como a vitória um triunfo. Por conseguinte, aos deuses do
vencedor deviam ser religiosamente imolados, por um ato de extermínio total, os
homens, as famílias, as cidades, os haveres.
Ora, tal praxe, familiar aos antigos,
foi também respeitada pela Lei de Moisés; a mentalidade rude seria
paulatinamente corrigida... Deve-se dizer que para os hebreus essa prática
(chamada herém)
se tornava particularmente necessária e imperiosa: este povo possuía a
verdadeira fé, para um dia transmiti-la ao mundo (o que esqueceram); por
conseguinte, era de sumo interesse que Israel não corrompesse sua religião.
Todavia, a fim de manter incontaminada sua crença, não havia outra alternativa
aos hebreus que a separação absoluta dos demais povos; a experiência mais de
uma vez comprovou que, ao habitar pacificamente com tribos subjugadas em
guerra, os judeus se deixaram seduzir pelas suas pompas religiosas. Em conseqüência,
era absolutamente necessário que a legislação de Israel apelasse para o hérem e
o sancionasse (repita-se: a fidelidade dos filhos de Abraão ao verdadeiro
Deus era, na história, um valor insubstituível, que não podia ficar exposto a
risco nenhum).
Apoiando-se nestas idéias, eis como o
legislador sagrado incutia o hérem a
Israel (Deuteronômio XX, 16-18):
"Quanto àquelas cidades porém, que te hão-de ser dadas, nenhum absolutamente deixarás com vida. Mas passá-los-as todos ao fio de espada; convém a saber, aos heteus e aos amorreus, e aos cananeus, aos fereseus, e aos heveus, e aos jesubeus, assim como o Senhor teu Deus te mandou: para que não suceda que vos ensinem a cometer todas as abominações, que eles mesmos fizeram a seus deuses, e venhais a pecar contra o Senhor vosso Deus. "
O fato de que os hebreus possuíam a
verdadeira religião num mundo idólatra, fazia que a sorte desse povo viesse a
ser nada menos que a do Reino de Deus em meio ao reino do erro e do pecado.
Noutros termos: já que o Senhor decretaria realizar o seu plano salvífico
através das vicissitudes de Israel, os hebreus não podiam evitar a conclusão de
que os seus sucessos militares seriam vitórias do Reino de Deus. Dentro da
mentalidade do Antigo Testamento, portanto, podia-se com toda razão dizer que o
reino das trevas triunfava sobre o Reino da Luz cada vez que Israel sucumbia na
guerra; nessas ocasiões parecia estar em perigo a causa messiânica, a salvação
do gênero humano. Eis por que os judeus diziam que os inimigos de Israel eram
inimigos de Javé e vice-versa; que as suas guerras eram “as
guerras de Javé” (Êxodo XVII, 16) ou que “Javé
combatia em favor de Israel” (Josué X, 14 e 42). Eis igualmente por que se afirmava, segundo um
modo típico, que Deus mesmo inculcava o hérem (Josué X, 40) e, caso não fosse devidamente
executado (o que geralmente se dava por desejo ganancioso que os israelitas
tinham de se aproveitar dos bens alheios), puniria os próprios judeus.
É de notar, como já foi dito, que o
extermínio dos homens e mulheres em guerra não implicava na condenação póstuma
deles; podiam estar inocentes em sua consciência e merecerem o agrado divino.
Mais uma observação se impõe: embora a legislação de Israel reconhecesse o hérem, ela o abrandava assaz, em confronto do que faziam as outras.
Os monumentos e os textos assírios
dão testemunho da maneira realmente bárbara como os soldados pagãos tratavam
seus prisioneiros de guerra: crivavam-lhes os olhos, tomavam-nos como
supedâneos para os pés dos monarcas, etc.
Na Sagrada Escritura mesma, o profeta
Amós repreende os amonitas porque, entre outros crimes cometidos, abriram os
ventres das mulheres israelitas grávidas (Amós
I, 13).
O simples fato de que o extermínio
dos inimigos figurava no catálogo das leis religiosas, devia concorrer para
coibir a eventual tendência dos chefes hebreus ao seu abuso. Assim, tolerando o hérem, mas um hérem mitigado, o
Senhor dava a entender que imperfeito era tal procedimento. Eis
alguns testemunhos:
a) O Deuteronômio (Deuteronômio XX, 10-18) muito insiste na
humanização do código militar de Israel; recomenda, por exemplo, que na
campanha de conquista da terra prometida, ao defrontar uma cidade inimiga,
não-cananéia, o povo eleito procure reduzir os seus habitantes a tributo e
serviço temperados pela benevolência, evitando o derramamento de sangue; caso,
porém, o adversário obrigue a uma campanha militar e seja derrotado, Israel
vitorioso é exortado a poupar mulheres e crianças.
O modo de tratar as cidades cananéias
seria outro, pois, estando localizadas na terra que os hebreus deviam habitar,
a coexistência oferecia grave perigo de contaminação. Não era, portanto,
permitido aos judeus abster-se do hérem ao
vencer os cananeus, como inculda Deuteronômio
VII, 2-5; XX, 15s. Isto vem confirmar a observação de
que em Israel o preceito em análise era ditado principalmente pelo idela
religioso; era em vista da fidelidade de homens rudes ao verdadeiro Deus que
ele fora sancionado.
b) A mulher não-cananéia feita
prisioneira de guerra, podia ser tomada como esposa de um judeu, que a trataria
com todo carinho; abusar de tal prisioneira era estritamente vedado (Deuteronômio XXI, 10-14).
c) Dois episódios da História Sagrada, um do período dos Juízes (Juízes XXI, 13) e o outro do reinado de Davi (II Samuel XX, 14-22), dão a ver que as exortações à brandura não ficaram sendo letra morta: em ambos os casos, os chefes israelitas entram em acordo com inimigos não-cananeus.
d) Houve também varões do povo de
Deus que espontaneamente se mostraram humanitários para com os adversários. Por
exemplo: conforme II Samuel VIII, 2, Davi, animado de louvável
compaixão, não hesitou em romper o costume de matar todos os prisioneiros; resolveu
exterminar “apenas” a metade dos cativos moabitas, metade designada pela
sorte...! Para os padrões da época isso é o que explica que, em I
Reis XX, 31, os sírios reconheçam a clemência
rara de que dão provas os reis de Israel; com efeito, diziam os soldados a seu
monarca Ben-Hadad, vencido por Acab:
"Ouve: nós temos ouvido dizer que os
reis de Israel são clementes. Ponhamos sacos sobre nossos rins e cordas ao
nosso pescoço, e vamos ter com o rei de Israel; talvez ele te poupe a
vida."
Acontecia também que os israelitas,
ao aplicarem a lei do hérem,
por vezes deixavam-se levar não pelo zelo de Deus, mas por paixão humana. É o
que se verifica, entre outros casos, na história de Jeú: este general foi, por
mandado divino, ungido rei de Israel e recebeu a incumbência de exterminar a
Casa de Acab, mas, embora intencionasse zelar pelo interesses de Javé, cedeu a
crueldade horrorosa (II Reis X, 1-17)... Ora, o feito de Jeú foi, um século mais tarde,
explicitamente repreendido pelo Senhor mesmo, mediante o profeta Oséias (Oséias I, 4s). Este episódio permite concluir que
nem tudo que a Sagrada Escritura refere ter sido mandado por Deus foi executado
de maneira correspondente à vontade divina.
Também Davi parece ter-se deixado
arrastar a excessos no episódio relatado em I
Samuel XXVII, 8-11. Certa vez, perseguido por Saul, o futuro monarca
se refugiou nas terras do rei filisteu Aquis, que o recebeu benevolamente; de
sua nova mansão, porém, Davi fazia incursões contra populações vizinhas: os
amalecitas, que Samuel condenara ao anátema (I
Samuel XV, 3); os gessuruianos e os gezrianos,
que eram provavelmente tribos amalecitas. O grande guerreiro tudo devastava,
matando homens e mulheres, roubando gado e vestes. A seguir, voltava à presença
do rei Aquis e, temendo o controle ou represálias da parte deste, dizia-lhe ter
feito expedições nas regiões do Negeb, regiões que pertenciam à tribo de Judá e
seus aliados. Tais depredações procediam realmente zelo religioso? E a mentira
subseqüente que as encobria, poderia ser justificada?
De resto, a Bíblia fornece indícios
de que os constantes derramamentos de sangue cometidos por Davi nem sempre
corresponderam ao Plano Divino; antes, desagradaram ao Senhor. Com efeito,
quando o rei de Israel desejou edificar o Templo de Javé em Jerusalém, recebeu
formal recusa de Deus, pois, como reconheceu o próprio monarca, não convinha
que o Templo, santuário da paz, fosse erguido por mãos que haviam feito correr
tanto sangue (I Crônicas XXII, 8-10; XXVIII, 3).
Era igualmente a necessidade de
manter pura a religião de Israel que fazia que o hérem fosse
praticado entre os próprios hebreus, caso um ou mais indivíduos caíssem na
idolatria ou em outro pecado grave. Tal sanção é prescrita por Moisés em Deuteronômio
XIII, 13-19; foi a aplicação da mesma que
motivou a guerra fraticida contra a tribo de Benjamim (Juízes XX, 1-48; XXI, 1-14).
À medida, porém, que ia se elevando o nível cultural e moral dos hebreus,
abrandava-se a praxe do hérem entre
conacionais; assim na época de Esdras (século V/VI), implicava não já a morte
do réu, mas a confiscação dos seus bens e sua exclusão das assembléias do povo
(Esdras X, 8).
O hérem existe
até hoje. No final do ano passado nosso país foi abalado pela notícia de um
ataque contra 80 compatriotas (alguns foram mortos e muitos ficaram feridos) no
interior do Suriname, como vingança coletiva pelo fato de um nativo daquele
país ter sido assassinado por um imigrante brasileiro.
Ainda outro elemento que deve ser
levado em conta para se entenderem devidamente as façanhas bélicas do Antigo
Testamento é a mentalidade do clã. Entre os antigos, de modo geral, o indivíduo
costumava ser prezado não somente como tal, mas também (e, não raro,
preponderantemente) como membro de uma coletividade; dava-se muita importância
à solidariedade natural que une todo homem à família, tribo ou nação. Isso se
explica, em grande parte, pelo gênero de vida nômade que levavam os primitivos.
De fato, os nômades vivem da grei, dos rebanhos que os acompanham, e isto
(dizem os psicólogos) não pode deixar de imprimir um caráter coletivista à vida
do clã, fazendo com que o indivíduo como tal desapareça na engrenagem do todo.
Ademais, nesse modo de vida é mais difícil que na vida sedentária descobrir o
autor de um crime (fora os casos de delito flagrante); por conseguinte,
julgava-se muitas vezes na antigüidade que os fatores da história não são
“este” e “aquele indivíduo”, mas “este” e “aquele clã”. Este modo de ver
implicava que, ao se cometer um crime contra determinado sujeito, todo o grupo
respectivo se julgava atingido. Por conseguinte, era a tribo inteira que se
levantava para reagir, e reagir não contra o agressor isolado, mas contra a
coletividade de que fazia parte o ofensor. É o que explica os freqüentes
choques de grupo contra grupo, choques em que nem as mulheres, nem as crianças
eram poupadas; é também este o motivo por que muitas vezes filhos, netos e
ulteriores descendentes da geração criminosa eram por um legislador condenados
à maldição.
A História Sagrada apresenta disto um
exemplo significativo em I Samuel XV, 1-3: Samuel manda a Saul que extermine
os amalecitas – homens, mulheres e crianças – e todo o seu gado, pois em três
ocasiões durante a travessia do deserto, havia mais de dois séculos, se tinham
oposto à passagem do povo de Deus (Êxodo
XVII, 8-13; Números XIV, 45; Juízes III, 13; VI, 3); Moisés, em conseqüência, os tinha condenado a
completo extermínio (Deuteronômio XXV, 17-19; Números XXIV, 20). Segundo a ordem de Samuel, pois, uma geração bem
posterior pagaria pela culpa de antepassados longínquos!
Vale notar que resquícios desse tipo de mentalidade existem até hoje no nosso país, em especial nas regiões rurais (quem nunca ouviu falar de "guerras de famílias" no Nordeste?).
Aos poucos, porém, Deus quis corrigir
também essa postura imperfeita. Acontecia no século VI que os judeus, punidos
por guerras de deportações, se queixavam de que seus pais haviam “comido uvas
amargas e os dentes dos filhos sofriam em decorrência” (um provérbio que os
exilados aplicavam a si mesmos, lançando sobre os pais a falta cujo castigo
suportavam - Ezequiel XVIII, 2; Jeremias
XXXI, 29); apoiados em tal tese, dispensavam-se
hipocritamente de qualquer propósito de penitência, pois se apregoavam
inocentes. Foi então que o Senhor se dignou explicitamente negar a veracidade
do pressuposto (Ezequiel XVIII, 4; cf, Jeremias XXXI, 30):
"Eis que todas as almas Me
pertencem: a alma do filho como a alma dói pai é minha; a alma que pecar, essa
morrerá."
Ainda mais uma vez se manifestava a
paciência divina em lenta tarefa educacional.
Os dizeres de Ezequiel e Jeremias
indicam bem que a mentalidade do clã está abolida. Não se diga, pois, que
alguém está pagando pelos pecados de seus antepassados.
Sendo assim, podemos afirmar que a mensagem revelada tinha de ser passada segundo o grau de civilização em que estavam os ouvintes ou não seria entendida.
Consideremos uma criança.
A sua consciência é rudimentar,
poucos deveres indica e poucas restrições impõe. O pequeno conhece, sem dúvida,
o preceito fundamental da lei moral: "Faze o bem, evita o mal."
Todavia, em que consiste exatamente o bem a praticar e o mal a evitar ele não
sabe dizer com clareza; poucas são as conclusões práticas que ele deduz
daqueles mandamento básico; assim o bem, para ele, vem a ser primeiramente o
que os mais velhos lhe indicam como tal; o mal será desobedecer a estes. Só aos
poucos é que o adolescente vai percebendo as conseqüências do princípio
"Faze o bem, evita o mal."
Pois bem, Deus quis que se desse com
o gênero humano inteiro algo semelhante ao que se verifica com toda criança: nos
primórdios da história, os homens tinham uma consciência moral pouco
desenvolvida, a qual através dos séculos foi se tornando mais apurada,
minuciosa.
Também os membros do Povo de Deus,
que o Criador se dignou tornar portadores da verdadeira fé, possuíam, apesar da
sua sublime vocação, uma consciência moral ainda embrionária. Percebiam bem que
é preciso "fazer o bem e evitar o mal", obedecer a tudo que vissem
ser a Vontade de Deus; mas a maioria das aplicações concretas deste princípio
escapavam à sua percepção. Não há dúvida, o Senhor poderia ter revelado tudo
que a Lei Natural nos incute; preferiu, porém, um lento desabrochar que, de
resto, mais condizia com a maneira como Ele criou e rege o mundo.
Ao chamar Abraão, Deus não quis
cortar bruscamente todas as suas tradições de família (isso seria
antipedagógico); eliminou em termos severos o que era estritamente politeísta;
quanto às outras observâncias, preferiu ir contemporanizando, tomando o
israelita como era; permitiu, pois, que o povo vivesse, em parte, à semelhança
dos demais povos orientais; às práticas antigas não politeístas, o Mestre
Divino apenas quis insuflar novo espírito, comunicando nobres idéias e
aspirações. Assim fazia com que o povo se fosse elevando espiritualmente, até
um dia poder ouvir a mensagem do Evangelho (João
XV, 12):
"Este é o meu preceito: que vos
ameis uns aos outros, como Eu vos amei."
É muito importante frisar, ainda, que
uma consciência moral ora mais, ora menos embrionária, como tinham os homens do
Antigo Testamento, não é incompatível com a santidade, e elevada santidade,
pois esta consiste em cumprir generosamente a vontade de Deus manifestada
através da consciência reta e sincera. Notemos o caso de Abraão, que não
hesitou em deixar sua terra e sua parentela para ir à região à qual Deus o
chamava (Gênesis XII, 1-4). Também não vacilou quando o Senhor lhe pediu que
oferecesse seu filhos em sacrifício (Gêneses
XXII, 1-18).
Em conclusão: a História Sagrada é,
sim, apesar de todos os escândalos e vicissitudes que os homens nela
disseminaram, um movimento ascensional contínuo, que tem por fundamento uma
mensagem perene: Cristo. Infelizmente a má vontade para se entender essas
coisas é muito grande; para tudo se tem condescendência, menos para se entender
a Palavra de Deus. Façamos a nossa parte, expliquemos a verdade para quem tem
um coração aberto, os outros que assumam a responsabilidade de sua falta de
zelo no estudo da Revelação no dia de prestarem conta a Deus.
Ó
Deus de grande Misericórdia, bondade infinita, toda a humanidade clama do
abismo da sua miséria a Vossa Misericórdia, a Vossa Compaixão. Deus clemente,
não rejeiteis a oração dos exilados desta terra. Senhor, bondade inconcebível,
que conheceis profundamente a nossa miséria e sabeis que com as nossas próprias
forças não temos condições de nos elevar até Vós, por isso suplicamos,
adiantai-vos ao nosso pedido com a Vossa graça e multiplicai em nós sem cessar
a Vossa Misericórdia, para que cumpramos a Vossa Santa Vontade durante toda a
nossa vida e na hora da morte. Que o poder da Vossa Misericórdia nos defenda
dos ataques dos inimigos da nossa salvação, para que aguardemos com confiança,
como Vossos filhos, a vossa vinda última, dia que somente a Vós é conhecido, e
esperemos que alcancemos tudo que nos foi prometido por Cristo, apesar de toda
a nossa miséria, porque Cristo é a nossa confiança; pelo seu Coração
Misericordioso, como por uma porta aberta, esperamos entrar no Céu.
Jesus Misericordioso, eu confio em Vós.
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Front Católico
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