terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Dolorosas ponderações...


Ó Amigo, vê bem que não podemos dizer que Deus é o Senhor e, ao mesmo tempo, vivermos do nosso modo, como se nós próprios fôssemos o nosso Deus!

Alguém que viva do seu modo,seguindo seus próprios critérios, alguém que se julgue o senhor do bem e do mal e veja, analise, julgue e aja de acordo com seus próprios pensamentos, sentimentos, gostos e prioridades, independente da vontade de Deus – e essa vontade de Deus não é teórica, distante, relativa, manipulável por quem quer que seja, mas nos aparece nas Escrituras interpretadas perenemente pela Igreja com a autoridade de Cristo – alguém assim, mesmo que dissesse que acredita, não crê de verdade, não exprime na vida que Deus é seu Senhor!

Ah, que há tantos crentes de nome e ateus de vida!

Há tantos, como diz o Apóstolo, “que se comportam como inimigos da cruz de Cristo. O seu fim será a perdição; o seu deus, é o ventre; e sua glória, eles a põem na própria ignomínia, já que só levam a peito as coisas da terra” (Fl 3,18-19). E há sempre o perigo disto em mim e em ti!
 

Cristo manifesta-Se com as suas chagas após a ressurreição


Se é pueril acreditar ao acaso e sem motivo, também é muito insensato querer examinar e inquirir tudo demasiadamente. E esta foi a sem-razão de Tomé. Perante a afirmação dos Apóstolos: Vimos o Senhor, recusa-se a acreditar: não porque descresse deles, mas porque julgava impossível o que afirmavam, isto é, a ressurreição de entre os mortos. Não disse: «Duvido do vosso testemunho», mas: Se não meter a minha mão no seu lado, não acreditarei. Jesus aparece segunda vez e não espera que Tomé O interrogue, ou Lhe fale como aos discípulos. O Mestre antecipa-se aos seus desejos, fazendo-lhe compreender que estava presente quando falou daquele modo aos companheiros. Na censura que lhe faz serve-Se das mesmas palavras e ensina como deverá proceder para o futuro. Depois de dizer: Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; mete a tua mão no meu lado, acrescenta: Não sejas incrédulo, mas crente. Tomé duvidou por falta de fé. Ainda não tinham recebido o Espírito Santo. Mas isso não voltaria a acontecer; a partir de então manter-se-iam firmes na fé. Cristo, porém, não Se ficou nesta admoestação e insistiu novamente. Tendo o discípulo caído em si e exclamado: Meu Senhor e meu Deus, disse-lhe Jesus: Porque Me viste, acreditaste. Felizes os que, sem terem visto, acreditaram. É próprio da fé crer no que não se vê. A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das que não se vêem. Com efeito, o divino Mestre chama felizes, não só os discípulos, mas também todos aqueles que no decurso dos tempos acreditarão n’Ele. Dirás talvez: Mas na verdade, os discípulos viram e creram. É certo; no entanto, não precisaram de ver para acreditarem. Sem quaisquer exigências, bastou‑lhes ver o sudário para logo aceitarem o acto da ressurreição e acreditarem plenamente, antes mesmo de verem o corpo glorioso de Jesus. Portanto, se alguém disser: «Quem dera ter vivido no tempo de Jesus e contemplado os seus milagres», recorde as palavras: Felizes os que, sem terem visto, acreditaram. E aqui surge uma pergunta: Como pôde o corpo incorruptível conservar as cicatrizes dos cravos e ser tocado por mão mortal? Não é caso para espanto, pois se trata de pura condescendência da parte de Cristo. O seu corpo era tão puro, subtil e livre de qualquer matéria, que podia entrar numa casa com as portas fechadas. Quis, porém, manifestar-Se deste modo, para que acreditassem na ressurreição e soubessem que era Ele mesmo que fora crucificado, e não outro, quem tinha ressuscitado. Por este motivo conserva, na ressurreição, os estigmas da cruz, e come na presença dos Apóstolos, circunstância esta que eles especialmente recordariam: Nós que comemos e bebemos com Ele. Quer dizer: Antes da paixão, ao vermos Jesus caminhando sobre as ondas, não considerávamos o seu corpo de natureza diferente da nossa; também agora, ao vê-l’O com as cicatrizes, após a ressurreição, devemos crer na sua incorruptibilidade.



Das Homilias de São João Crisóstomo, bispo sobre o Evangelho de São João (Hom. 87, 1: PG 59, 473-474) (Sec. IV)

Sou muçulmano, mas eis aqui porque admiro a Igreja Católica


Permitam-me começar este breve artigo confessando algo surpreendente: não sou católico e nem mesmo cristão. Em verdade sou um muçulmano secular e ávido leitor de filosofia e história, tendo um firme compromisso com a verdade sem mitigações, não importa onde ela esteja, e mais ainda se ela vai contra as crenças comuns.

Passei os últimos recentes anos pesquisando a história do Cristianismo, especialmente a Igreja Católica durante o Medievo, e fiquei chocado ao descobrir que praticamente tudo que eu tinha aprendido sobre o Catolicismo estava errado além de, aparentemente, contaminado por preconceitos. Contrariando o pensamento da maioria das pessoas no Ocidente e no Meio Oriente, a Igreja Católica e os Padres da Igreja não suprimiram a ciência, a razão e o conhecimento. Muito pelo contrário, em muitos casos eles mesmos encorajaram o avanço no estudo de matérias não religiosas e o desenvolvimento científico, estimando com generosidade a capacidade de compreensão da razão humana. Também fiquei pasmo ao descobrir que a “obscura” Idade Média não foi de modo nenhum um período intelectualmente estéril, nem uma era de profunda estagnação, superstição ou mesmo perseguição sistemática dos filósofos naturais. De fato, as universidades – sedes de debates intelectuais cultos num clima de ampla liberdade de expressão – foram fundadas na Europa durante a assim chamada Alta Idade Média. Além disso, foram cientistas católicos dos séculos XII e XIII, comprometidos com sua fé e o método empírico, que lançaram os fundamentos da Revolução Científica. Torna-se cada vez mais evidente que esta revolução, iniciada com a publicação dos livros de Copérnico, “Da Revolução dos Orbes Celestes”, e de André Vesálio, “Da Organização do Corpo Humano”, não foi uma súbita explosão de criatividade, mas a continuação de uma marcha de progresso intelectual que já vinha sendo percorrida desde o século XI. Também é igualmente causa de estupefação a importância que os teólogos e filósofos católicos medievais atribuíam às capacidades intelectuais humanas, e seu infatigável trabalho para criar uma síntese entre a fé e a razão. Em poucas palavras, anos de intense pesquisa me fizeram respeitar e mesmo admirar a Igreja Católica, muito embora, como já expliquei antes, eu descenda de uma família árabe secular que me ensinou a investigar todas as questões sem dogmatismos e a aceitar a verdade mesmo quando incongruente com o credo da maioria das pessoas.

Tenho grande respeito pelo trabalho dos monges católicos e seus mosteiros na Idade Média. Suas atividades intelectuais situam-se entre os capítulos mais luminosos na história da Igreja. Os mosteiros desempenharam um papel positivo como centros de ensino, aprendizado e cultura, e eles podem ser descritos de modo bastante exato como “proto-universidades” (Trombley, 58), transmitindo conhecimentos de gramática, lógica, retórica e, posteriormente, matemática, música e astronomia, e situando-se “entre as mais importantes bibliotecas na história do pensamento ocidental” pelos trabalhos de cópia, transcrição e armazenamento de textos de alto valor (58). Enquanto a Igreja Católica é constantemente acusada de destruir a cultura clássica ou greco-romana, o fato é que os mosteiros merecem todo o crédito pela “cuidadosa preservação dos trabalhos do mundo clássico e dos Padres da Igreja, ambos centrais para a civilização do Ocidente” (Woods 42).

Por terem emergido em um meio greco-romano, assimilando em consequência noções filosóficas, tais como as idéias de logos, sindérese, o conceito de um universo mecânico ordenado racionalmente por leis estáveis e consistentes, etc, o Cristianismo em geral e a Igreja Católica em particular não podiam suprimir ou destruir a tradição clássica, possibilitando um convívio pacífico com a filosofia grega pagã e o racionalismo – uma realização crucial que o Islam ortodoxo sunita foi incapaz de emular ao suprimir o pensamento mutazilita (assunto que, decerto, exige um longo e detalhado estudo). 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Papa Francisco é alvo de uma campanha ultraconservadora nas ruas de Roma


Se já é raro ouvir críticas públicas ao papa Francisco, encontrar cartazes nas ruas de Roma contrários às suas últimas decisões é ainda mais incomum. No domingo, alguns bairros próximos do Vaticano amanheceram forrados com uma série de cartazes nos quais se podiam ler críticas de caráter conservador contra algumas atitudes e medidas tomadas por Jorge Mario Bergoglio. Seus autores não são conhecidos, os cartazes obviamente não estavam assinados e foram colados à noite. Mas as primeiras reações em blogs e sites especializados apontaram imediatamente para os setores mais tradicionalistas da Igreja Católica.

Seus responsáveis usaram uma foto do pontífice, em que aparece um tanto carrancudo, e sobrepuseram várias críticas como um conciso manifesto. Nos cartazes, colados em paredes e quadros de anúncios de bairros como Prati e em lugares movimentados, como a entrada de um mercado, criticava-se uma lista de medidas de Francisco tratando-o de você. “France (Francisco), você interveio em congregações, removeu sacerdotes, decapitou a Ordem de Malta e os franciscanos da Imaculada, ignorou cardeais... mas onde está sua misericórdia?”. Várias horas depois de terem aparecido, os cartazes foram parcialmente cobertos com outros em branco com logotipo institucional da Prefeitura de Roma e com o texto: “Publicidade ilegal”.

O papa Francisco, o primeiro nascido fora da Europa, tem encontrado algumas resistências aos planos renovadores, de certa abertura e modernização da Igreja, que empreendeu nos últimos anos. Suas iniciativas, sempre mais próximas dos desfavorecidos e excluídos do que dos setores mais privilegiados, continuam a gerar um suave e persistente zunzum em sites e blogs especializados. As críticas ou pequenas escaramuças costumam ser soterradas e acontecem independentemente dos organismos oficiais e dos cidadãos.

Nota dos Bispos do Espírito Santo sobre o momento de violência atual


NOTA DOS BISPOS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

Caríssimos irmãos, irmãs e todos os homens e mulheres de boa vontade,

Neste momento que aflige a todos, sentimos nossa fraqueza e o perigo instaurado pelo império da violência. A segurança pública é um direito de todos, deve ser construída a partir de um amplo diálogo entre o Estado, a sociedade organizada e todos os cidadãos. Sabemos que violência gera violência mas, é verdade, que todos queremos a paz e a concórdia. 

Por isso, nós os bispos do Estado do Espírito Santo, queremos convocá-los para juntos orarmos em nossos lares pedindo a Deus que conceda serenidade, paz, proteção e justiça ao nosso Estado. Peçamos também ao Senhor que não prevaleça o poder, mas o bom senso, o diálogo, o entendimento e se chegue a uma decisão sábia que engrandeça nossa sociedade. Que Deus ilumine e dê sabedoria aos nossos governantes e às pessoas constituídas em autoridade! 

Homilética: 6º Domingo do Tempo Comum - Ano A: "Cumprir a vontade do Pai".



A verdadeira justiça: eis o tema que perpassa as leituras deste domingo. Tornamo-nos justos se seguirmos a Palavra normativa de Deus. Tornar-se justo não consiste em mérito pessoal, mas do Pai. Deus nos justifica se seguirmos sua vontade!

Este domingo das bem-aventuranças nos recorda que somos felizes por depositar nossa confiança em Deus e nossa esperança na pessoa de Jesus.

Na primeira leitura (Jr 17, 5-8), diz o Senhor: “Maldito o homem que confia no homem e faz consistir sua força na carne humana, enquanto o seu coração se afasta do Senhor; bendito o homem que confia no Senhor, cuja esperança é o Senhor.” No Evangelho ( Lc 6, 17. 20-26 ): Bem-aventurados vós, os pobres (….); mas ai de vós ricos.

Sede para mim a rocha do meu refúgio, Senhor: a humildade pessoal e a confiança em Deus caminham sempre juntas. Só o humilde procura a sua felicidade e a sua fortaleza no Senhor. Um dos motivos pelos quais os soberbos andam à cata de louvores e se sentem feridos por qualquer coisa que possa rebaixá-los na sua própria estima ou na dos outros, é a falta de firmeza interior; o seu único ponto de apoio e de esperança são eles próprios.

Não é outra a razão por que, com muita frequência, se mostram tão sensíveis à menor crítica, tão insistentes em sair-se com a sua, tão desejosos de ser conhecidos, tão ávidos de consideração. Agarram-se a si próprios como o náufrago se agarra a uma pequena tábua que não pode mantê-lo à superfície. E seja o que for que tenham conseguido na vida, sempre estão inseguros, insatisfeitos, sem paz. Um homem assim, sem humildade, que não confia nesse Deus que, como Pai que é, lhe estende continuamente os braços, habitará na aridez do deserto, em região salobra e desabitada ( Jr 17,6 ).

O cristão tem toda a sua esperança posta em Deus e, porque conhece e aceita a sua fraqueza, não se fia muito de si próprio.

A humildade não consiste tanto no desprezo próprio – porque Deus não nos despreza, somos obra saída das suas mãos –, mas no esquecimento de nós mesmos e na abertura total para Deus: “Quando pensamos que tudo se afunda sob os nossos olhos, nada se afunda, porque Tu és, Senhor, a minha fortaleza (Sl 42, 2 ). Se Deus mora na nossa alma, tudo o resto, por mais importante que pareça, é acidental, transitório. Em contrapartida, nós, em Deus, somos o permanente” ( São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, 92 ).

Os maiores obstáculos que o homem encontra para caminhar em seguimento de Cristo têm a sua origem no amor desordenado de si próprio, que o leva umas vezes a supervalorizar as suas forças e, outras, a cair no desânimo e no desalento. É uma atitude permanente de monólogo interior, em que os interesses próprios se agigantam ou se exorbitam e o eu sai sempre enaltecido.

Quem está cheio de orgulho exagera as suas qualidades, enquanto fecha os olhos para não ver os seus defeitos, e acaba por considerar como uma grande qualidade o que na realidade é um desvio do bom critério; persuade-se, por exemplo, de que tem um espírito magnânimo e generoso porque faz pouco caso das pequenas obrigações de cada dia, esquecendo que, para ser fiel no muito, tem de sê-lo no pouco. E por esse caminho chega a julgar-se superior, rebaixando injustamente as qualidades de outros que o superam em muitas virtudes.

Na segunda leitura, Paulo trata da “sabedoria misteriosa de Deus”. Esta somente   os “perfeitos” conhecem. Na linguagem de Paulo, os “perfeitos” são os amadurecidos na fé. Os maduros na fé, por sua vez, são aqueles que, alicerçados na Palavra do Senhor, abrem-se ao Espírito Santo para, iluminados por ele, compreender o Projeto de Salvação do Pai, expresso na cruz de Jesus Cristo.

No evangelho, Jesus reinterpreta o Decálogo. Ele apresenta-se como a plenitude da Lei de Deus. “Não vim abolir a Lei, mas dar pleno cumprimento” (v. 17). Jesus é a expressão do espírito da lei: ele é a sua hermenêutica! Ser discípulo de Jesus Cristo consiste em vivenciar o espírito da Palavra normativa do Pai! Sua Igreja (Povo de Deus), como germe do Reino de Deus, deve ser a hermenêutica dos mandamentos divinos.


Sereis minhas testemunhas


Quando as cruzes foram levantadas, foi coisa admirável ver a constância de todos, à qual eram exortados pelo Padre Passos e pelo Padre Rodrigues. O Padre comissário permaneceu sempre de pé, sem se mexer e com os olhos fixos no céu. O Irmão Martinho cantava salmos de ação de graças à bondade divina e juntava-lhes o versículo Nas tuas mãos, Senhor. Também o irmão Francisco Branco dava graças a Deus com voz clara. O irmão Gonçalo recitava em voz alta o «Pai Nosso» e a «Ave Maria». 

O nosso Irmão Paulo Miki, vendo-se elevado diante de todos a uma tribuna como nunca tivera, começou por afirmar aos circunstantes que era japonês e pertencia à Companhia de Jesus, que ia morrer por haver anunciado o Evangelho, e que dava graças a Deus por lhe conceder tão elevado benefício. E por fim disse estas palavras: «Agora que cheguei a este ponto extremo da minha vida, nenhum de vós há de acreditar que eu queira esconder a verdade. Declaro-vos portanto que não há outro caminho para a salvação do que aquele que possuem os cristãos. E como este caminho me ensina a perdoar aos inimigos e a todos os que me ofenderam, eu livremente perdoo ao imperador e a todos os autores da minha morte e peço a todos que se batizem».
 
Então, voltando os olhos para os companheiros, começou a animá-los. Nos rostos de todos transparecia uma grande alegria, mas Luís era aquele em que isso se via de modo mais claro: quando outro cristão o animou gritando que em breve estaria com ele no paraíso, fez com as mãos e todo o corpo um gesto tão cheio de contentamento que os olhos de todos os presentes se fixaram nele. 

António estava ao lado de Luís, com os olhos fitos no céu. Depois de invocar o Santíssimo Nome de Jesus e de Maria, entoou o salmo Louvai o Senhor, servos do Senhor, que tinha aprendido em Nagasaki no catecismo; é que no catecismo costumam ensinar alguns salmos às crianças. 

Alguns repetiam com rosto sereno: «Jesus, Maria»; outros exortavam os presentes a levarem uma vida digna de cristãos; e por estas e outras ações semelhantes demonstravam que estavam prontos para a morte. 

Então os quatro carrascos começaram a tirar as espadas daquelas bainhas que costumam usar os japoneses. Ao verem o seu aspecto terrível todos os fiéis gritaram «Jesus, Maria», e soltaram um grito de tristeza que chegou ao céu. E os carrascos, com dois golpes, em pouco tempo os mataram a todos.



Da História do martírio de São Paulo Miki e seus companheiros, escrita por um autor do tempo (Cap. 14, 109-110: Acta Sanctorum Fev. 1, 769) (Sec. XVI)

As 4 armadilhas da TV-lixo que você tem que saber detectar


A mídia vive, em grande parte, da desgraça alheia em todos os níveis e a sua máxima expressão parece ser, com frequência, os programas que servem como indicadores da pobreza cultural de uma sociedade.

Esses programas procuram na exploração emocional e dos instintos um poder de atração que se sustenta num princípio tão simples quanto eficaz: com sensacionalismo e baixo nível intelectual, a audiência é garantida porque, habituado, o grande público tende a não pensar nem questionar, especialmente quando não conta com opções diversificadas. E o hábito é uma força poderosa que a mídia procura consolidar: com espectadores acostumados ao lixo, ela pode gerar conteúdo abundante com o mínimo esforço e custo. É daí que vem a sua rentabilidade.

Acontece que, assim como o ouvido humano se “adapta” ao barulho, mas vai perdendo com isto a capacidade auditiva, assim também a alma humana vai perdendo a sensibilidade ao contato permanente com a banalização da tragédia e da miséria humana.

Há 4 grandes fórmulas de “sucesso” que constituem armadilhas para fisgar o telespectador. Saiba reconhecê-las:
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Primeira armadilha: Explorar a miséria humana como se fosse “notícia”

Para muitos repórteres e apresentadores, tentar crescer na carreira é desculpa suficiente para insistir em matérias que atropelam a dignidade de qualquer pessoa. Eles se digladiam para ser os primeiros a explorar o divórcio de uma celebridade, a divulgar aos quatro ventos a intimidade do famoso esportista e sua namorada, o vício de Fulano, o artista que “saiu do armário”… Tudo o que é relacionado com escândalo pode dar dinheiro.

Para maior impacto, não falta quem adicione comentários maldosos que recorrem ao dissimulo, à dubiedade, à ironia e, descaradamente, à mentira pura e simples. Com astúcia, brincam com a sensibilidade do grande público alterando a sua percepção dos fatos: tanto são capazes de vender a imagem “boa e inocente” de um sequestrador quanto de destruir a imagem de algum funcionário público que esteja perturbando interesses partidaristas.

O chamado “quarto poder” é capaz de impor os seus critérios sobre o que seria “relevante”, sem se importar se isso leva ou não à dissolução das virtudes sociais e, por consequência, da própria sociedade. Um triste exemplo é o dos países com alto índice de fracasso escolar e baixo índice de leitura, nos quais a superficialidade das relações pessoais e a obsessão pelo sexo são muito mais rentáveis do que a educação das novas gerações.
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