Este
terceiro domingo do Advento tem um tema predominante: a alegria provocada pela
vinda do Senhor. Por isso, a cor rosa, que pode ser usada como um roxo
atenuado, melhor ainda: a mistura do roxo do Advento com o branco do Natal que
se aproxima. Alegrai-vos (Gaudete!) – convida-nos a liturgia, inspirando-se nas
palavras do Apóstolo: “Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo:
alegrai-vos! O Senhor está perto!” (Fl 4,4s).
Mas,
pensando bem: há motivos para alegria verdadeira, profunda, responsável? Ante
as lutas e fardos da vida, podemos realmente alegrar-nos? Antes as feridas e
machucaduras do nosso coração, é possível uma alegria duradoura e verdadeira? Ante
as desacertos e desvios do mundo, é realmente possível este gáudio a que nos
convida a Igreja, com as palavras de São Paulo? E, no entanto, o convite é
insistente: Alegrai-vos!
Contudo,
antes do convite à alegria, ao júbilo, à exultação, permiti-me um outro
convite: pensemos na vida de frente, como ela é, para cada um de nós e para os
outros. Faço este convite porque somente assim nossa alegria poderá ser
realista e verdadeira. Não esqueçamos que há também uma alegria boba, tola,
tonta, irresponsável, que brota da superficialidade ou da ilusão... Não é dessa
que falamos aqui...
Pois
bem! A nossa vida – a minha, a sua! - gostaríamos que ela fosse como
quiséramos, gostaríamos de controlá-la, de garantir que tudo saísse bem para
nós e para os nossos, para os nossos e para todos... E, no entanto, constatamos
com pesar que não temos em nossas mãos a nossa existência... Que duras as
palavras de Jeremias profeta: “Eu sei, Senhor, que não pertence ao homem o seu
caminho, que não é dado ao homem, que caminha, dirigir os seus passos” (10,23).
O mundo não é como gostaríamos, os nossos caros não são e não vivem como esperávamos e nós mesmos, tampouco, vivemos a vida que sonhamos...
O cristão não tem direito ao desânimo, ao desespero, ao derrotismo... Alegrai-vos! E alegrai-vos sempre! Mas, alegrai-vos no Senhor! E por quê? Porque Ele está perto! Não nos deixa nunca: ele vem sempre como Emanuel- Deus conosco!
Pensemos
nas palavras tão consoladoras das leituras deste hoje! São para a terra deserta
do coração do mundo e para o nosso: “Alegre-se a terra que era deserta e
intransitável, exulte a solidão e cresça como um lírio. Germine e exulte de
alegria e louvores! Seus habitantes verão a glória do Senhor, a majestade do
nosso Deus!”
Que cristão, que homem ou mulher de boa vontade não lamenta a situação atual da
humanidade? Quem não sente na vida a tentação de fraquejar, e a mordida do
desencanto? Quem não se condói com algumas realidades da vida da Igreja? Quem,
às vezes, não pergunta onde Deus está, que parece tão distante e ausente?
Escutai: “Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados.
Dizei às pessoas deprimidas: ‘Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é o vosso
Deus: Ele vem para vos salvar!’” É esta a esperança do santo Advento: a
esperança num Deus que não nos esquece, não nos desilude, não nos deixa
sozinhos... Um Deus que vem ao nosso encontro no Santo Messias esperado!
O profeta Isaías promete: “Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos”. E o que o profeta promete, o Senhor Jesus vem realizar: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobre são evangelizados!’
Eis aqui o motivo da nossa alegria: a certeza da fé em Jesus Cristo: Ele é a presença pessoal de Deus entre nós, Ele é aquele que cura nossas feridas, sustenta-nos na fraqueza, enche de doce presença o nosso coração solitário! Confiemos ao Senhor o mundo, a nossa vida, os nossos problemas, as coisas que nos preocupam. Lutemos e confiemos; lutemos e enchamos o coração de esperança no Senhor! A salvação que Ele trouxe haverá de se manifestar um dia: “A Vinda do Senhor esta próxima” – diz-nos São Tiago!
As
grandes tentações para o cristão de hoje são a falta de entusiasmo e de
esperança, um cansaço ante a paganização do mundo e a teimosia humana... Existe
o sério risco de ceder ao mundo, de mundanizar e adocicar nossa esperança, que
deve fundar-se somente em Cristo Jesus! A consequência do desânimo e de
apoiar-se no mundo, é a falta de uma alegria verdadeira! Procuram-se cristãos
alegres, cristãos convictos, cristãos radicais! Precisam-se urgentemente de
cristãos apaixonados, cristãos de verdade, cristãos que creiam no que
acreditam! Afinal, somente há alegria duradoura e profunda somente quando se
encontra o sentido da existência, e este sentido nos é oferecido pelo Cristo;
unicamente em Cristo! Esperemos Nele: na Sua palavra, no Seu juízo, na Sua
graça! Ele não nos esqueceu, Ele não está ausente do mundo e da nossa vida!
Recordemos a forte exortação de São Tiago: “Ficai firmes até à Vinda do Senhor!
Ficai firmes e fortalecei vossos corações, porque a Vinda do Senhor está
próxima! Irmãos, tomai como modelo de sofrimento e firmeza os profetas que
falaram em nome do Senhor!”
O
Advento não somente nos prepara para a celebração da primeira vinda do Senhor
no Natal, mas nos convida a reconhecer Suas vindas na nossa vida e a esperar
com ânsia e compromisso Sua Vinda final! Caminhemos, caríssimos, na alegria de
quem espera com certeza, ainda hoje, ainda agora, nestes tempos difíceis,
nebulosos; tempos de ruças tão espessas: “Alegrai-vos sempre no Senhor! O
Senhor está perto!”
Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares, PE
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