No dia da Ressurreição, à tarde, Jesus, sob as aparências de um
peregrino, junta-se aos dois discípulos que se dirigem para Emaús e falam,
entre si, dos acontecimentos surpreendentes da sexta-feira anterior, em
Jerusalém. (Lc 24, 13-35)
Os discípulos estão tristes, desanimados, decepcionados, frustrados…
Aguardavam um Messias glorioso, um Rei poderoso, um vencedor e
encontram-se diante de um derrotado, que tinha morrido na Cruz.
Aparece um peregrino, que caminha com eles… Ao longo da conversa com
Jesus os discípulos passam da tristeza à alegria, recuperam a esperança e com
isso o afã de comunicar a alegria que há nos seus corações, tornando-se deste
modo anunciadores e testemunhas de Cristo ressuscitado.
Jesus caminha junto daqueles dois homens que perderam quase toda a
esperança, de modo que a vida começa a parecer-lhes sem sentido. Compreende a
sua dor, penetra nos seus corações, comunica-lhes algo da vida que nele habita.
“Quando, ao chegar àquela aldeia, Jesus faz menção de seguir o caminho; porém
os discípulos insistiram com Jesus para que Ele ficasse com eles. Reconhecem-no
depois ao partir o pão: O Senhor, exclamam, esteve conosco! Então disseram um
para o outro: “Não estava ardendo o nosso coração quando Ele nos falava e nos
explicava as Escrituras? (Lc 24,32). Cada cristão deve tornar Cristo presente
entre os homens; deve viver de tal maneira que todos com quem tem contato
sintam o bom odor de Cristo (2 Cor 24,32); o bom odor de Cristo deve atuar de
forma que, através das ações do discípulo, se possa descobrir o rosto do
Mestre” (Cristo que passa, nº 105).
A conversa dos dois discípulos com Jesus a caminho de Emaús, resume
perfeitamente a desilusão dos que tinham seguido o Senhor, diante do aparente
fracasso que representava para eles a Sua morte.
Jesus, em resposta ao desalento dos discípulos, vai pacientemente
descobrindo-lhes o sentido de toda a Sagrada Escritura acerca do Messias: “Não
era preciso que o Cristo padecesse estas coisas e assim entrasse na Sua
glória?” Com estas palavras o Senhor desfaz a idéia que ainda poderiam ter de
um Messias terreno e político, fazendo-lhes ver que a missão de Cristo é
sobrenatural: a salvação do gênero humano.
Na Sagrada Escritura estava anunciado que o plano salvador de Deus se
realizaria por meio da Paixão e Morte redentora do Messias. A Cruz não é um
fracasso, mas o caminho querido por Deus para o triunfo definitivo de Cristo
sobre o pecado e sobre a morte (1 cor 1, 23-24).
A presença e a palavra do Mestre recupera estes discípulos desanimados,
e acende neles uma esperança nova e definitiva: “Iam os dois discípulos para
Emaús. O seu caminho era normal, como o de tantas outras pessoas que passavam
por aquelas estradas. E aí, com naturalidade, aparece-lhes Jesus e vai com
eles, com uma conversa que diminui a fadiga.
“Jesus, no caminho! Senhor, que grande és Tu sempre! Mas comoves-me
quando Te rebaixas para nos acompanhares, para nos procurares na nossa lida
diária. Senhor, conhece-nos a simplicidade de espírito, o olhar limpo, a mente
clara, que permitem entender-Te, quando vens sem nenhum sinal externo da Tua
glória!
Termina o trajeto ao chegar à aldeia e aqueles dois que, sem o saberem,
tinham sido feridos no fundo do coração pela palavra e pelo amor de Deus feito
homem, têm pena de que Ele se vá embora. Porque Jesus despede-se como quem vai
para mais longe (Lc 24,28). Nosso Senhor nunca Se impõe! Quer que O chamemos
livremente, desde que entrevimos a pureza do Amor que nos colocou na alma.
Temos de O deter à força e pedir-lhe: fica conosco, pois já é tarde e a noite
vem chegando (Lc 24,29).
Somos assim: sempre pouco atrevidos, talvez por falta de sinceridade,
talvez por pudor. No fundo pensamos: fica conosco, porque as trevas nos rodeiam
a alma e só Tu és luz, só Tu podes acalmar esta ânsia que nos consome! Porque
entre as coisas belas, honestas, não ignoramos qual é a primeira: possuir
sempre Deus” (São Gregório Nazianzeno).
Depois da escuta da Palavra e o partir o Pão, os discípulos de Emaús
sentem agora a urgência de voltar a Jerusalém!… Partem logo para anunciar a
descoberta aos irmãos e, junto com eles, proclamam a fé: “ O Senhor
ressuscitou!” É o impulso à Missão.
Os discípulos dizem: “enquanto Ele nos falava, ardia o nosso coração!”
A verdade é que: Sem a Eucaristia, sem a Palavra, os outros nos cansam,
nos assustam. Com a Palavra e com o partir o Pão, reconhecemos que Cristo está
no próximo. Reconhecemos que Cristo está do nosso lado e a presença dele é
capaz de nos reanimar.
Quando Jesus Cristo saiu, os discípulos levantaram-se e foram correndo
contar a boa nova para os outros discípulos.
Fica conosco, Senhor! Que o Senhor permaneça conosco em pleno século
XXI, porque nós queremos continuar servindo a Deus e a todas as pessoas. “Nós
queremos servir a Igreja como ela deseja ser servida”, não conforme os nossos
caprichos ou gostos pessoais.
É preciso redescobrir essa realidade: a pessoa humana como caminho da
Igreja para apresentarmos a cada ser humano o caminho que realmente é o seu,
Cristo. Precisamos compreender as pessoas, amá-las, participar das suas
alegrias e tristezas, entender o mundo no qual habitamos junto a elas,
acompanhar as situações de pobreza e de riqueza, descobrir o poder da técnica e
dos novos meios de comunicação.
Andar por um caminho que não se conhece é muito difícil! A Igreja, como
entende que o homem é caminho para ela, se sabe e se declara “mestra de
humanidade”: há dois mil anos a Igreja Católica tem acompanhado o ser humano,
ela sim entende quem é a pessoa humana e sabe o que é melhor para ela. E nós
temos que colocar todos os meios para que sejamos, na Igreja e como Igreja,
mestres em humanidade. É preciso conhecer os nossos semelhantes através da
simpatia e do amor, conduzidos pelo Espírito Santo, que nos faz apreciar
retamente todas as coisas. O Senhor continua no meio de nós.