A TV Globo foi alvo de
denúncia no Senado e de instauração de inquérito para apurar a ocorrência de
apologia ao crime de aborto depois que, em uma de suas telenovelas, uma
personagem grávida afirma: “Pensando bem, ainda não é um bebê, é só um embrião.
Não tem sistema nervoso, não tem coração, nem ainda é um ser humano“. O senador
Eduardo Girão (Podemos-CE) contestou, conforme divulgado pela Agência Senado:
“Em primeiro lugar, entre 14 e 21 dias de
gestação — nesse tamanhozinho aqui que cabe na palma da minha mão, não sei se a
câmera consegue mostrar —, nesse período em que a mulher ainda não tem certeza
de que está grávida, já existe um sistema cardiovascular primitivo, tornando
possível escutar através de ultrassonografia o batimento cardíaco da criança
(…) Com 18 dias da concepção, já tem um coração batendo”.
No mesmo capítulo, a
mesma personagem acrescenta, num segundo diálogo: “Aqui no Brasil é ilegal, mas
todo mundo conhece alguém que já fez. Quem tem dinheiro consegue fazer aborto
seguro; quem não tem pode até mesmo morrer ou ser presa“. O senador respondeu
dizendo que, do ponto de vista médico, não existe nenhum aborto seguro.
Segundo Girão, o promotor
da República Fernando Almeida Martins, do Ministério Público Federal, instaurou
inquérito para apurar se houve apologia ao crime nas cenas em questão. O
senador citou a portaria nacional que regulamenta a classificação indicativa
dos programas de TV, visando proteger o público infanto-juvenil no período das
6h às 20h, e afirmou que as emissoras de TV aberta devem ter mais
responsabilidade na transmissão desse conteúdo. Ele ainda elogiou o promotor e
recordou que mais de 70% da população brasileira se declara contra a
legalização do aborto.
Perda de anunciantes
A emissora carioca também
é alvo da insatisfação de anunciantes. Os grupos empresariais Condor, de
supermercados do Paraná, e Havan, de lojas de departamento de Santa Catarina
com presença em grande parte do território brasileiro, comunicaram nesta semana
que suspenderam todas as campanhas publicitárias que vinham veiculando nos
intervalos de determinados telejornais, telenovelas e programas de
entretenimento da Rede Globo por considerarem que a emissora desrespeita
valores ligados à família natural tradicional e tergiversa a objetividade do
jornalismo.
A nota da Havan, assinada
em 7 de novembro pelo proprietário Luciano Hang, afirma:
“Não compactuamos com o jornalismo
ideológico e algumas programações da Rede Globo nacional e estamos sendo
cobrados pela sociedade e nossos clientes. Enquanto esses programas prestarem
um desserviço à nação e forem contra os valores da família brasileira, não
voltaremos a anunciar (…) Por ora, manteremos nossas propagandas nas afiliadas
e jornais locais, que ainda informam a sociedade de forma mais isenta e
conservadora. Entendemos que o setor empresarial tem que ter a coragem e a
responsabilidade de não aceitar o errado como verdadeiro”.
De modo semelhante, a
rede Condor declarou em seu comunicado que continuará anunciando em programas
regionais e de “entretenimento saudável” levados ao ar pela afiliada paranaense
da TV Globo, mas que cortará a publicidade em programas da própria Globo,
especialmente jornalísticos, afirmando que a decisão “está fundamentada na
parcialidade que o jornalismo nacional da emissora vem demonstrando“.
A nota da Condor
acrescenta explicitamente que discorda das abordagens da TV Globo em relação ao
presidente da República, Jair Bolsonaro. Por sua vez, Luciano Hang não cita o
nome do presidente, mas é conhecido como seu declarado apoiador e por ter feito
intensa campanha eleitoral a seu favor.
Apesar do aberto
posicionamento político de ambas as empresas, porém, as demonstrações de
insatisfação com o posicionamento ideológico da Rede Globo no tocante a temas
ligados a valores tradicionais de família e vida vão além do espectro
partidário.