Uma boa definição para a mentalidade da sociedade moderna é o que a Bíblia chama de idolatria, que os profetas bíblicos descrevem melhor do que ninguém: fazer um deus sob medida, algo ou alguém que construo com os meus pensamentos, atos e palavras, que venero incondicionalmente e dou um valor absoluto.
Idolatria é um jeito de viver a relação com as coisas e as pessoas. Pode ser o trabalho, os filhos, um relacionamento afetivo, o marido, a mulher, os bens quando estão acima de tudo e de todos, e tudo sacrifico para preservá-los. É colocar acima de tudo o bem-estar material, o poder, algumas pessoas. Idolatram-se as pessoas, chefes políticos ou religiosos, quando se deposita neles a esperança de que possam resolver nossos problemas. Eles são “bons” e “capazes” de nos salvar do mal.
Os profetas bíblicos nos alertam de que podemos ter uma relação idolátrica com o próprio Deus ou na forma de praticar a religião. Em sua época, os deuses idolatrados foram o bezerro de ouro que Aarão construiu a pedido do povo no êxodo, destruído por Moisés; e Baal, deus cananeu da fertilidade e abundância. Trazendo para os dias de hoje, podemos viver a mesma relação idolátrica nas nossas práticas cultuais-religiosas.
Nascido no coração do ser humano, o ídolo orienta as escolhas concretas, distorcendo a realidade, abandonando-nos a falsas ilusões, tornando tudo vazio e inconsistente (“tem olhos, mas não vê, ouvidos, mas não ouve”). Ele parece dar segurança, está à nossa mão, próximo de nós, parece ser garantia, amigo, aliado e até cúmplice. O ídolo manipula o ser humano (“correndo atrás do nada se torna ele mesmo nulidade”). Estabelece-se com ele uma relação falsa, ilusória, vazia, sem capacidade de mudar a história.
Vivemos uma relação idolátrica quando as práticas religiosas não tocam o fundo do nosso coração, sem nos “ferir” e comover, sem nos fazer mudar o modo de ver e entender a realidade. Tornam-se práticas exteriores que não convertem, não fazem mudar de posição: do ser escravo do ídolo para a liberdade na relação com as coisas, as pessoas e o próprio Deus. Cria- -se uma dissociação entre prática religiosa e vida real.