quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Tragédia: Argentina legaliza o aborto, e acende alerta aos católicos da América Latina



Mesmo violando a constituição do país, mesmo com intensa movimentação e protestos dos pró-vida, até mesmo contra a maioria da população, nesta quarta-feira, 30 de dezembro, após 12 horas de debate, o Senado argentino aprovou o projeto de legalização do aborto promovido pelo governo Alberto Fernández.

O projeto de lei que entrou no Congresso Nacional em 2 de dezembro, como promessa de campanha de Fernández, obteve 38 votos a favor, 29 contra e 1 abstenção. Houve quatro senadores ausentes.

Antes da votação, a senadora pró-vida eleita por Tucumán, Silvia Elías de Pérez, indicou em 29 de dezembro que se o projeto fosse aprovado, apresentaria um recurso de “inconstitucionalidade” e o confirmou em seu discurso no plenário.

“Este projeto, infelizmente, não passa em nenhum teste de constitucionalidade e convencionalidade” já que “a Argentina teve os mais altos níveis de proteção da vida por nascer”, e que se refletem na “Constituição e tratados internacionais”, expressou a senadora na sala.

“Nosso Estado se obrigou a preservar a vida desde a concepção”, por isso é contraditório que “hoje se imponha o aborto”, acrescentou.

Do ponto de vista político, “um Estado se organiza em função da proteção dos mais vulneráveis” então, “quem pode ter esse poder” e decidir “quem é pessoa e quem não é?”, questionou Elías de Pérez.

“O direito à vida é o mais importante de todos, anterior a todos os direitos, por isso não pode ser definido por maioria circunstancial”. “Não podemos falar de uma democracia saudável se esta maioria pode avançar sobre os mais vulneráveis”, acrescentou.

“Quanta dor é necessária na Argentina para entendermos” e “aprendermos quanto vale a vida”.

“Esta lei será inconstitucional e recursos serão apresentados em toda a Argentina até que algum juiz a declare inconstitucional”, assegurou.

“Têm que saber que a verdadeira maioria” são mulheres e homens “que com seus corações celestes inundaram a Argentina e continuam apostando na vida”.

“Eu digo a eles: isso não está perdido, isso está apenas começando porque a batalha pela vida nunca se perde. A força da vida sempre ganha”, concluiu Silvia Elías de Pérez.

A senadora por Santa Cruz, María Belén Tapia, denunciou a aceleração da tramitação da lei do aborto, chegando inclusive à modificação das sessões para cumprir com os tempos do processo. Recordou que já em 2018 o Congresso havia rejeitado legalizar esta prática.

“Tinham que meter o aborto de qualquer jeito, inclusive pela janela”, expressou.

“O governo traçou a estratégia para o tratamento nas duas câmaras, para favorecer o avanço do projeto nas diferentes instâncias parlamentares”, denunciou.

As observações apresentadas ao projeto antivida também não foram consideradas, acrescentou.

“Um plano mestre” “acham que a sociedade não percebe isso?” “Aproveitaram a virtualidade e não ter ao alcance o nosso trabalho parlamentar”, “tiveram que sair para quebrar vontades e consciências para conquistar os votos”, acusou.

Enquanto isso, o senador por Jujuy, Mario Fiad, expressou que o projeto “busca avançar com uma visão tendenciosa sobre o que ocorre em nossa Argentina, que é ampla, diversa e bate com ritmo próprio a cada esquina”.

Nesse sentido, o senador afirmou que “o aborto é, sem dúvida, um drama social que se apresenta como a solução rápida e que não evitará nenhuma das problemáticas de fundo”.

“Dizem para nós que as meninas não devem ser mães, e disso não temos dúvidas, as meninas não devem ser abusadas nem violentadas. Este projeto resolve algo disso? Não, passa para a clandestinidade o estupro, o abuso, a pobreza, a violência e as desigualdades”, destacou.

Por sua vez, o senador pelo partido “Tierra del Fuego”, Pablo Blanco, recordou que o projeto de lei nega a condição de pessoa e o direito à vida do nascituro, esquece as obrigações e direitos do pai e “viola a constituição de 13 províncias”.

Além disso, assegurou que “esta não é uma decisão política”, “envolve toda a sociedade”, por isso “a consciência institucional, jurídica e ética deve levar-nos a rejeitar veementemente” este projeto.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

As 4 armadilhas da TV-lixo que você tem que saber detectar



A mídia vive, em grande parte, da desgraça alheia em todos os níveis e a sua máxima expressão parece ser, com frequência, os programas que servem como indicadores da pobreza cultural de uma sociedade.

Esses programas procuram na exploração emocional e dos instintos um poder de atração que se sustenta num princípio tão simples quanto eficaz: com sensacionalismo e baixo nível intelectual, a audiência é garantida porque, habituado, o grande público tende a não pensar nem questionar, especialmente quando não conta com opções diversificadas. E o hábito é uma força poderosa que a mídia procura consolidar: com espectadores acostumados ao lixo, ela pode gerar conteúdo abundante com o mínimo esforço e custo. É daí que vem a sua rentabilidade.

Acontece que, assim como o ouvido humano se “adapta” ao barulho, mas vai perdendo com isto a capacidade auditiva, assim também a alma humana vai perdendo a sensibilidade ao contato permanente com a banalização da tragédia e da miséria humana.

Há 4 grandes fórmulas de “sucesso” que constituem armadilhas para fisgar o telespectador. Saiba reconhecê-las:

Primeira armadilha: Explorar a miséria humana como se fosse “notícia”

Para muitos repórteres e apresentadores, tentar crescer na carreira é desculpa suficiente para insistir em matérias que atropelam a dignidade de qualquer pessoa. Eles se digladiam para ser os primeiros a explorar o divórcio de uma celebridade, a divulgar aos quatro ventos a intimidade do famoso esportista e sua namorada, o vício de Fulano, o artista que “saiu do armário”… Tudo o que é relacionado com escândalo pode dar dinheiro.

Para maior impacto, não falta quem adicione comentários maldosos que recorrem ao dissimulo, à dubiedade, à ironia e, descaradamente, à mentira pura e simples. Com astúcia, brincam com a sensibilidade do grande público alterando a sua percepção dos fatos: tanto são capazes de vender a imagem “boa e inocente” de um sequestrador quanto de destruir a imagem de algum funcionário público que esteja perturbando interesses partidaristas.

O chamado “quarto poder” é capaz de impor os seus critérios sobre o que seria “relevante”, sem se importar se isso leva ou não à dissolução das virtudes sociais e, por consequência, da própria sociedade. Um triste exemplo é o dos países com alto índice de fracasso escolar e baixo índice de leitura, nos quais a superficialidade das relações pessoais e a obsessão pelo sexo são muito mais rentáveis do que a educação das novas gerações.

Segunda armadilha: Divulgar a intimidade das pessoas como se fosse de interesse público

Com escárnio, empurra-se o dedo nas feridas da humilhação, da tragédia, do fracasso e do ressentimento das pessoas, exibindo-se a sua intimidade sem nenhum limite – pois qualquer limite reduziria o “espetáculo”. São programas cujo formato, no cúmulo do cinismo, tenta se mostrar como um “favor”, uma “ajuda” e um importante “valor” para o conjunto da sociedade.

São programas crus em que a violência verbal ilustra as infidelidades, a violência física, o abandono e tantas outras chagas de famílias machucadas, cujos membros são convidados a participar como se a sua humilhação pública os ajudasse a solucionar alguma coisa. No meio deste cenário, não faltam as armações: há gente que se presta a virar objeto de espetáculo em troca de dinheiro ou da mera oportunidade de aparecer na tela e conseguir minutos de “fama”.

O que o ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro tem a ver com o Natal?




Depois de anos sem prestar muita atenção a ele, o ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro se tornou minha imagem favorita de Natal neste Advento.

A imagem é, de fato, um ícone bizantino do século 13, que atualmente instalado na Igreja de Santo Afonso em Roma. Ele retrata a A Virgem Maria e o Menino Jesus ao centro, além dos arcanjos Miguel e Gabriel em cada lado.

Depois de anos sem prestar muita atenção a ele, o ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro se tornou minha imagem favorita de Natal neste Advento.

A imagem é, de fato, um ícone bizantino do século 13, que atualmente instalado na Igreja de Santo Afonso em Roma. Ele retrata a A Virgem Maria e o Menino Jesus ao centro, além dos arcanjos Miguel e Gabriel em cada lado.

Os anjos e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

O ícone me fez lembrar que as coisas que me desencorajaram no passado são o que me atraem agora, revelando todo o significado do Natal.  Os anjos, portanto, são lembretes do verdadeiro poder do Natal. Os dessa imagem sempre me lembravam insetos incomodando a Mãe Santíssima. Mas é claro que não são. Ao contrário: eles são mensageiros de Deus carregando uma cruz e pregos.

Além disso, Eles são lembretes de que Jesus nasceu em Belém para morrer por nós no Calvário. E sua morte não foi uma coisa fácil, porque ele era, de fato, Deus. Foi, portanto, uma coisa dolorosa que o assustou porque ele também era homem. E, como um verdadeiro homem, precisava de apoio e encorajamento. Ele herdou isso de sua mãe, e nós também podemos herdar.

Jesus

Jesus se parece com uma criança e com uma pessoa mais velha ao mesmo tempo, lembrando-nos que o Natal é para todos. No ícone, seguindo os costumes das Igrejas Orientais, não parece infantil. Este é um bom lembrete de duas coisas. Primeiro, que mesmo quando adulto, seu relacionamento com a mãe perdurou. Segundo: ele nos convida a esse relacionamento com ela, não importa nossa idade.

Da mesma forma, o filme A Paixão de Cristo expressa a mesma ideia quando a presença de Maria dá a Jesus a força para enfrentar a Paixão. Isso está especificamente em uma cena em que Maria o confortou quando criança.

No ícone ele segura a mão dela assustado com os sinais de sua Paixão, um hábito que teria começado na primeira noite de Natal – e um hábito que pode começar para nós agora mesmo.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Mensagem de Natal do Papa 2020: "Jesus nasce para todos, não só para alguns"



MENSAGEM URBI ET ORBI
DO PAPA FRANCISCO

NATAL DE 2020

Sexta-feira, 25 de dezembro de 2020
 
Queridos irmãos e irmãs, feliz Natal!

Gostava de fazer chegar a todos a mensagem que a Igreja anuncia nesta festa, com as palavras do profeta Isaías: «Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado» (Is 9, 5).

Nasceu um menino: o nascimento é sempre fonte de esperança, é vida que desabrocha, é promessa de futuro. E este Menino – Jesus – «nasceu para nós»: um «nós» sem fronteiras, sem privilégios nem exclusões. O Menino, que a Virgem Maria deu à luz em Belém, nasceu para todos: é o «filho» que Deus deu à família humana inteira.

Graças a este Menino, todos podemos dirigir-nos a Deus chamando-Lhe «Pai», «Papá». Jesus é o Unigénito; ninguém mais conhece o Pai, senão Ele. Mas Ele veio ao mundo precisamente para nos revelar o rosto do Pai celeste. E assim, graças a este Menino, todos podemos chamar-nos e ser realmente irmãos: de continentes diversos, de qualquer língua e cultura, com as nossas identidades e diferenças, mas todos irmãos e irmãs.

Neste momento histórico, marcado pela crise ecológica e por graves desequilíbrios económicos e sociais, agravados pela pandemia do coronavírus, precisamos mais do que nunca de fraternidade. E Deus no-la oferece, dando-nos o seu Filho Jesus: não uma fraternidade feita de palavras bonitas, ideais abstratos, vagos sentimentos... Não! Mas uma fraternidade baseada no amor real, capaz de encontrar o outro diferente de mim, de compadecer-me dos seus sofrimentos, aproximar-me e cuidar dele mesmo que não seja da minha família, da minha etnia, da minha religião; é diferente de mim, mas é meu irmão, é minha irmã. E isto é válido também nas relações entre os povos e as nações: todos irmãos.

No Natal, celebramos a luz de Cristo que vem ao mundo e vem para todos: não apenas para alguns. Hoje, neste tempo de escuridão e incerteza devido à pandemia, aparecem várias luzes de esperança como a descoberta das vacinas. Mas, para que estas luzes possam iluminar e dar esperança ao mundo inteiro, hão de ser colocadas à disposição de todos. Não podemos deixar que os nacionalismos fechados nos impeçam de viver como a verdadeira família humana que somos. Nem podemos deixar que nos vença o vírus do individualismo radical, tornando-nos indiferentes ao sofrimento doutros irmãos e irmãs. Não posso passar à frente dos outros, colocando as leis do mercado e das patentes de invenção acima das leis do amor e da saúde da humanidade. Peço a todos, nomeadamente aos líderes dos Estados, às empresas, aos organismos internacionais, que promovam a cooperação, e não a concorrência, na busca duma solução para todos: vacinas para todos, especialmente para os mais vulneráveis e necessitados em todas as regiões da Terra. Em primeiro lugar, os mais vulneráveis e necessitados!

Por isso, que o Menino de Belém nos ajude a estar disponíveis, a ser generosos e solidários, especialmente para com as pessoas mais frágeis, os doentes e quantos neste tempo se encontram desempregados ou estão em graves dificuldades pelas consequências económicas da pandemia, bem como as mulheres que nestes meses de confinamento sofreram violências domésticas.

Perante um desafio que não conhece fronteiras, não se podem erguer barreiras. Estamos todos no mesmo barco. Cada pessoa é um meu irmão. Em cada um vejo refletido o rosto de Deus e, nos que sofrem, vislumbro o Senhor que pede a minha ajuda. Vejo-O no doente, no pobre, no desempregado, no marginalizado, no migrante e no refugiado: todos irmãos e irmãs!

No dia em que o Verbo de Deus Se faz menino, reparemos em tantas crianças que em todo o mundo, especialmente na Síria, Iraque e Iémen, ainda estão a pagar o alto preço da guerra. Os seus rostos sensibilizem as consciências dos homens de boa vontade, para que se enfrentem as causas dos conflitos e se trabalhe com coragem para construir um futuro de paz.

Que este seja o tempo propício para aliviar as tensões em todo o Médio Oriente e no Mediterrâneo oriental.

Jesus Menino cure as feridas do amado povo sírio, que está exausto com um decénio de guerra e suas consequências, agravadas ainda mais pela pandemia. Leve conforto ao povo iraquiano e a todos os povos incluídos no caminho da reconciliação, em particular os yazidis duramente atingidos pelos últimos anos de guerra. Dê paz à Líbia e permita que a nova fase de negociações em curso ponha fim a todas as formas de hostilidade no país.

O Menino de Belém conceda fraternidade à terra que O viu nascer. Possam israelitas e palestinenses recuperar a confiança mútua para procurarem uma paz justa e duradoura através dum diálogo direto, capaz de vencer a violência e superar ressentimentos endémicos, testemunhando ao mundo a beleza da fraternidade.

A estrela que iluminou a noite de Natal sirva de guia e encorajamento para o povo libanês, a fim de não perder a esperança no meio das dificuldades que tem vindo a enfrentar com o apoio da comunidade internacional. O Príncipe da Paz ajude os responsáveis do país a deixar de lado interesses particulares e empenhar-se com seriedade, honestidade e transparência para que o Líbano possa empreender um caminho de reformas e continuar na sua vocação de liberdade e convivência pacífica.

O Filho do Altíssimo sustente o empenho da comunidade internacional e dos países envolvidos na manutenção do cessar-fogo no Nagorno-Karabakh, bem como nas regiões orientais da Ucrânia, promovendo o diálogo como único caminho que conduz à paz e reconciliação.

O Deus Menino alivie o sofrimento das populações do Burkina Faso, Mali e Níger, atingidas por uma grave crise humanitária, na base da qual estão extremismos e conflitos armados, mas também a pandemia e outros desastres naturais; Ele faça cessar as violências na Etiópia, onde muitas pessoas são forçadas a fugir devido aos confrontos; o Deus Menino dê conforto aos habitantes da região de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, vítimas da violência do terrorismo internacional; Ele incite os responsáveis do Sudão do Sul, Nigéria e Camarões a continuar pelo caminho de fraternidade e diálogo empreendido.

O Verbo eterno do Pai seja fonte de esperança para o continente americano, particularmente afetado pelo coronavírus, que exacerbou os inúmeros sofrimentos que o oprimem, muitas vezes agravados pelas consequências da corrupção e do narcotráfico. Ajude a superar as recentes tensões sociais no Chile e a pôr fim aos sofrimentos do povo venezuelano.

O Rei do Céu proteja as populações flageladas por calamidades naturais no sudeste asiático, de modo particular nas Filipinas e no Vietname, onde numerosas tempestades têm causado inundações com devastadoras repercussões sobre as famílias, que moram naquelas terras, em termos de perdas de vidas humanas, danos ao meio ambiente e consequências para as economias locais.

E pensando na Ásia, não posso esquecer o povo Rohingya: Jesus, nascido pobre entre os pobres, leve esperança às suas tribulações.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Homilia do Papa Francisco na Noite de Natal 2020



SANTA MISSA DA NOITE

SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR
HOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCO

Basílica Vaticana
Quinta-feira, 24 de dezembro de 2020


Nesta noite, cumpre-se a grande profecia de Isaías: «Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado» (Is 9, 5).

Um filho nos foi dado. Com frequência se ouve dizer que a maior alegria da vida é o nascimento duma criança. É algo de extraordinário, que muda tudo, desencadeia energias inesperadas e faz ultrapassar fadigas, incómodos e noites sem dormir, porque traz uma felicidade indescritível na posse da qual nada é demasiado pesado. Assim é o Natal: o nascimento de Jesus é a novidade que nos permite renascer dentro, cada ano, encontrando n’Ele força para enfrentar todas as provações. Sim, porque Jesus nasce para nós: para mim, para ti, para cada um. A preposição «para» reaparece várias vezes nesta noite santa: «um menino nasceu para nós», profetizou Isaías; «hoje nasceu para nós o Salvador», repetimos no Salmo Responsorial; Jesus «entregou-Se por nós» (Tit 2, 14), proclamou São Paulo; e, no Evangelho, o anjo anunciou «hoje nasceu para vós um Salvador» (Lc 2, 11). Para mim, para nós.

Mas, esta locução «para nós» que nos quer dizer? Que o Filho de Deus, o Bendito por natureza, vem fazer-nos filhos benditos por graça. Sim, Deus vem ao mundo como filho para nos tornar filhos de Deus. Que dom maravilhoso! Hoje Deus deixa-nos maravilhados, ao dizer a cada um de nós: «Tu és uma maravilha». Irmã, irmão, não desanimes! Estás tentado a sentir-te como um erro? Deus diz-te: «Não é verdade! És meu filho». Tens a sensação de não estar à altura, temor de ser inapto, medo de não sair do túnel da provação? Deus diz-te: «Coragem! Estou contigo». Não to diz com palavras, mas fazendo-Se filho como tu e por ti, para te lembrar o ponto de partida de cada renascimento teu: reconhecer-te filho de Deus, filha de Deus. Este é o coração indestrutível da nossa esperança, o núcleo incandescente que sustenta a existência: por baixo das nossas qualidades e defeitos, mais forte do que as feridas e fracassos do passado, os temores e ansiedades face ao futuro, está esta verdade: somos filhos amados. E o amor de Deus por nós não depende nem dependerá jamais de nós: é amor gratuito, pura graça. Esta noite «manifestou-se – disse-nos São Paulo – a graça de Deus» (Tit 2, 11). Nada é mais precioso!

Um filho nos foi dado. O Pai não nos deu uma coisa qualquer, mas o próprio Filho unigénito, que é toda a sua alegria. Todavia, ao considerarmos a ingratidão do homem para com Deus e a injustiça feita a tantos dos nossos irmãos, surge uma dúvida: o Senhor terá feito bem em dar-nos tanto? E fará bem em confiar ainda em nós? Não estará Ele a sobrestimar-nos? Sim, sobrestima-nos; e fá-lo porque nos ama a preço da sua vida. Não consegue deixar de nos amar. É feito assim, tão diferente de nós. Sempre nos ama, e com uma amizade maior de quanta possamos ter a nós mesmos. É o seu segredo para entrar no nosso coração. Deus sabe que a única maneira de nos salvar, de nos curar por dentro, é amar-nos. Sabe que só melhoramos acolhendo o seu amor incansável, que não muda, mas muda-nos a nós. Só o amor de Jesus transforma a vida, cura as feridas mais profundas, livra do círculo vicioso insatisfação, irritação e lamento.

Um filho nos foi dado. Na pobre manjedoura dum lúgubre estábulo, está precisamente o Filho de Deus. E aqui levanta-se outra questão: porque veio Ele à luz durante a noite, sem um alojamento digno, na pobreza e enjeitado, quando merecia nascer como o maior rei no mais lindo dos palácios? Porquê? Para nos fazer compreender até onde chega o seu amor pela nossa condição humana: até tocar com o seu amor concreto a nossa pior miséria. O Filho de Deus nasceu descartado para nos dizer que todo o descartado é filho de Deus. Veio ao mundo como vem ao mundo uma criança débil e frágil, para podermos acolher com ternura as nossas fraquezas. E para nos fazer descobrir uma coisa importante: como em Belém, também connosco Deus gosta de fazer grandes coisas através das nossas pobrezas. Colocou toda a nossa salvação na manjedoura dum estábulo, sem temer as nossas pobrezas. Deixemos que a sua misericórdia transforme as nossas misérias!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Petrópolis: Justiça proíbe Missas de Natal, Bispo responde!

Apesar de haver lei estadual garantindo o funcionamento dos templos religiosos,
juiz cancela as celebrações natalinas


Atendendo ao pedido do Ministério Público, a 2° Vara Federal da Justiça Federal em Petrópolis instaurou novas medidas de restrição na cidade e proibiu a realização de cultos religiosos, como a missa de Natal, no dia 25 de dezembro.

Na requisição, o MP alega que a cidade não possui leitos suficientes para atender as vítimas de Covid-19. A taxa de ocupação de leitos, segundo o órgão, é de 98,59%. Somente um leito estaria disponível.

Em despacho, o juiz João Paulo de Mello Castelo Branco argumentou que “em razão do risco alto em saúde pública e a inexistência de leitos de UTI Covid-19 ociosos”, a prefeitura deveria suspender o funcionamento de bares e cultos religiosos.

Ele embasa a decisão citando o Decreto Municipal n° 1.239/2020 que determina o fechamento de templos religiosos caso a ocupação dos leitos para coronavírus chegue a 70%.

“Diante do exposto, DEFIRO PARCIALMENTE, o pedido formulado no Evento 106 para que em razão do RISCO ALTO em saúde pública e da inexistência de leitos de UTI COVID-19 ociosos, o RÉU suspensa imediatamente o funcionamento de bares/congêneres bem como de templos e cultos religiosos em todo município de Petrópolis”.

Lei estadual

Uma lei sancionada pelo governo estadual na última quinta-feira (17) torna o culto religioso uma atividade essencial para a população do estado do Rio de Janeiro. De autoria do deputado estadual Márcio Guarberto (PSL), a lei 9012/2020 garante o funcionamento de templos mesmo em tempos de crises sanitárias.

“O Poder Executivo reconhece as atividades religiosas realizadas nos seus respectivos templos, e fora deles, como atividade essencial, assegurando-se aos fiéis o livre exercício de culto, ainda que em situações de calamidade pública, de emergência, de epidemia ou de pandemia.”

Comentando a decisão da Justiça para o BSM, Márcio reforça que a proibição de cultos religiosos fere princípios constitucionais.

“É uma decisão arbitrária, pois a Diocese de Petrópolis, desde o início, tomou todas as precauções de segurança e observou todas as prescrições sanitárias. A proibição proferida pelo Magistrado feriu a Constituição e a fé majoritariamente cristã do povo brasileiro. Sou coautor de uma lei, já sancionada, que repetiu o óbvio: o serviço religioso é essencial em qualquer tempo. E, para nós católicos, a Missa é imprescindível, irrenunciável, fundamental."

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Presidência da CNBB divulga nota sobre a resolução do CONANDA que trata dos adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas



O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) aprovou na última quinta-feira (17/12) resolução que estabelece uma série de diretrizes para o atendimento de adolescentes que estejam cumprindo medidas socioeducativas em meio fechado. A resolução causou polêmica por causa de uma notícia falsa divulgada em relação ao artigo 41, que trata sobre visitas íntimas. Por isso, a presidência da CNBB divulgou nota para esclarecer o que de fato foi aprovado. Veja a nota aqui ou leia o texto abaixo:
 

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz 2021: "A cultura do cuidado como percurso de paz"


MENSAGEM DO SANTO PADRE
FRANCISCO
PARA A CELEBRAÇÃO DO
54º DIA MUNDIAL DA PAZ

1º DE JANEIRO DE 2021
 
A CULTURA DO CUIDADO COMO PERCURSO DE PAZ
 
1. Aproximando-se o Ano Novo, desejo apresentar as minhas respeitosas saudações aos Chefes de Estado e de Governo, aos responsáveis das Organizações Internacionais, aos líderes espirituais e fiéis das várias religiões, aos homens e mulheres de boa vontade. Para todos formulo os melhores votos, esperando que o ano de 2021 faça a humanidade progredir no caminho da fraternidade, da justiça e da paz entre as pessoas, as comunidades, os povos e os Estados.

O ano de 2020 ficou marcado pela grande crise sanitária da Covid-19, que se transformou num fenómeno plurissectorial e global, agravando fortemente outras crises inter-relacionadas como a climática, alimentar, económica e migratória, e provocando grandes sofrimentos e incómodos. Penso, em primeiro lugar, naqueles que perderam um familiar ou uma pessoa querida, mas também em quem ficou sem trabalho. Lembro de modo especial os médicos, enfermeiras e enfermeiros, farmacêuticos, investigadores, voluntários, capelães e funcionários dos hospitais e centros de saúde, que se prodigalizaram – e continuam a fazê-lo – com grande fadiga e sacrifício, a ponto de alguns deles morrerem quando procuravam estar perto dos doentes a fim de aliviar os seus sofrimentos ou salvar-lhes a vida. Ao mesmo tempo que presto homenagem a estas pessoas, renovo o apelo aos responsáveis políticos e ao sector privado para que tomem as medidas adequadas a garantir o acesso às vacinas contra a Covid-19 e às tecnologias essenciais necessárias para dar assistência aos doentes e a todos aqueles que são mais pobres e mais frágeis.[1]

É doloroso constatar que, ao lado de numerosos testemunhos de caridade e solidariedade, infelizmente ganham novo impulso várias formas de nacionalismo, racismo, xenofobia e também guerras e conflitos que semeiam morte e destruição.

Estes e outros acontecimentos, que marcaram o caminho da humanidade no ano de 2020, ensinam-nos a importância de cuidarmos uns dos outros e da criação a fim de se construir uma sociedade alicerçada em relações de fraternidade. Por isso, escolhi como tema desta mensagem «a cultura do cuidado como percurso de paz»; a cultura do cuidado* para erradicar a cultura da indiferença, do descarte e do conflito, que hoje muitas vezes parece prevalecer.

2. Deus Criador, origem da vocação humana ao cuidado

Em muitas tradições religiosas, existem narrativas que se referem à origem do homem, à sua relação com o Criador, com a natureza e com os seus semelhantes. Na Bíblia, o livro do Génesis revela, desde o início, a importância do cuidado ou da custódia no projeto de Deus para a humanidade, destacando a relação entre o homem (’adam) e a terra (’adamah) e entre os irmãos. Na narração bíblica da criação, Deus confia o jardim «plantado no Éden» (cf. Gn 2, 8) às mãos de Adão com o encargo de «o cultivar e guardar» (Gn 2, 15). Isto significa, por um lado, tornar a terra produtiva e, por outro, protegê-la e fazê-la manter a sua capacidade de sustentar a vida.[2] Os verbos «cultivar» e «guardar» descrevem a relação de Adão com a sua casa-jardim e indicam também a confiança que Deus deposita nele fazendo-o senhor e guardião de toda a criação.

O nascimento de Caim e Abel gera uma história de irmãos, cuja relação em termos de tutela ou custódia será vivida negativamente por Caim. Depois de ter assassinado o seu irmão Abel, a Deus que lhe pergunta por ele, Caim responde: «Sou, porventura, guarda do meu irmão?» (Gn 4, 9).[3] Com certeza! Caim é o «guarda» de seu irmão. «Nestas narrações tão antigas, ricas de profundo simbolismo, já estava contida a convicção atual de que tudo está inter-relacionado e o cuidado autêntico da nossa própria vida e das nossas relações com a natureza é inseparável da fraternidade, da justiça e da fidelidade aos outros».[4]

3. Deus Criador, modelo do cuidado

A Sagrada Escritura apresenta Deus, além de Criador, como Aquele que cuida das suas criaturas, em particular de Adão, Eva e seus filhos. O próprio Caim, embora caia sobre ele a maldição por causa do crime que cometera, recebe como dom do Criador um sinal de proteção, para que a sua vida seja salvaguardada (cf. Gn 4, 15). Este facto, ao mesmo tempo que confirma a dignidade inviolável da pessoa, criada à imagem e semelhança de Deus, manifesta também o plano divino para preservar a harmonia da criação, porque «a paz e a violência não podem habitar na mesma morada».[5]

É precisamente o cuidado da criação que está na base da instituição do Shabbat que, além de regular o culto divino, visava restabelecer a ordem social e a solicitude pelos pobres (Gn 2, 1-3; Lv 25, 4). A celebração do Jubileu, quando se completava o sétimo ano sabático, consentia uma trégua à terra, aos escravos e aos endividados. Neste ano de graça, cuidava-se dos mais vulneráveis, oferecendo-lhes uma nova perspetiva de vida, para que não houvesse qualquer necessitado entre o povo (cf. Dt 15, 4).

Digna de nota é também a tradição profética, onde o auge da compreensão bíblica da justiça se manifesta na forma como uma comunidade trata os mais frágeis no seu seio. É por isso que particularmente Amós (2, 6-8; 8) e Isaías (58) erguem continuamente a voz em prol de justiça para os pobres, que, pela sua vulnerabilidade e falta de poder, são ouvidos só por Deus, que cuida deles (cf. Sal 34, 7; 113, 7-8).

4. O cuidado no ministério de Jesus

A vida e o ministério de Jesus encarnam o ápice da revelação do amor do Pai pela humanidade (Jo 3,16). Na sinagoga de Nazaré, Jesus manifestou-Se como Aquele que o Senhor consagrou e enviou a «anunciar a Boa-Nova aos pobres», «a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos» (Lc 4, 18). Estas ações messiânicas, típicas dos jubileus, constituem o testemunho mais eloquente da missão que o Pai Lhe confiou. Na sua compaixão, Cristo aproxima-Se dos doentes no corpo e no espírito e cura-os; perdoa os pecadores e dá-lhes uma nova vida. Jesus é o Bom Pastor que cuida das ovelhas (cf. Jo 10, 11-18; Ez 34, 1-31); é o Bom Samaritano que Se inclina sobre o ferido, trata das suas feridas e cuida dele (cf. Lc 10, 30-37).

No ponto culminante da sua missão, Jesus sela o seu cuidado por nós, oferecendo-Se na cruz e libertando-nos assim da escravidão do pecado e da morte. Deste modo, com o dom da sua vida e o seu sacrifício, abriu-nos o caminho do amor e disse a cada um: «Segue-Me! Faz tu também o mesmo» (cf. Lc 10, 37).

5. A cultura do cuidado, na vida dos seguidores de Jesus

As obras de misericórdia espiritual e corporal constituem o núcleo do serviço de caridade da Igreja primitiva. Os cristãos da primeira geração praticavam a partilha para não haver entre eles alguém necessitado (cf. At 4, 34-35) e esforçavam-se por tornar a comunidade uma casa acolhedora, aberta a todas as situações humanas, disposta a ocupar-se dos mais frágeis. Assim, tornou-se habitual fazer ofertas voluntárias para alimentar os pobres, enterrar os mortos e nutrir os órfãos, os idosos e as vítimas de desastres, como os náufragos. E em períodos sucessivos, quando a generosidade dos cristãos perdeu um pouco do seu ímpeto, alguns Padres da Igreja insistiram que a propriedade é pensada por Deus para o bem comum. Santo Ambrósio afirmava que «a natureza concedeu todas as coisas aos homens para uso comum. (…) Portanto, a natureza produziu um direito comum para todos, mas a ganância tornou-o um direito de poucos».[6] Superadas as perseguições dos primeiros séculos, a Igreja aproveitou a liberdade para inspirar a sociedade e a sua cultura. «As necessidades da época exigiam novas energias ao serviço da caridade cristã. As crónicas históricas relatam inúmeros exemplos de obras de misericórdia. De tais esforços conjuntos, resultaram numerosas instituições para alívio das várias necessidades humanas: hospitais, albergues para os pobres, orfanatos, lares para crianças, abrigos para forasteiros, e assim por diante».[7]