O padre Luciano de Almeida foi acusado de racismo e preconceito por uma associação de defesa de religiões afro-brasileiras por advertir os fiéis sobre superstições e falsas doutrinas durante uma homilia no domingo do Bom Pastor, 25 de abril na paróquia Senhor Bom Jesus, em Taquara (RS). A diocese de Novo Hamburgo emitiu nota oficial em que pediu “desculpas às diversas entidades religiosas pelo acontecido e em especial às de raiz africana”. À ACI Digital, o padre disse que continuará ensinando o que afirma a doutrina católica. “Vou continuar com o mesmo jeito de pregar, porque não falo para agradar os outros, falo para agradar a Deus”.
Ao pregar sobre o Bom Pastor, padre Luciano afirmou que “o que não é de Deus, o que não é voz do Senhor, o que não conduz à eternidade não pode fazer parte da minha vida”.
“Como pode um católico querer que sua vida vá adiante, que sua casa, sua família, seu rebanho persevere, se dentro de casa tem buda, tem bruxa, tem incenso comprado em lojas de macumba para aromatizar o ambiente?”, perguntou.
O pároco disse que “dói o coração” saber que há pessoas que vão à missa, mas, durante a semana, frequentam centro espírita, acreditam em horóscopo, em astrologia, ou que têm objetos supersticiosos em casa, mas não têm “nenhuma cruz na parede”.
“Dói saber que vão ao centro espírita para poder ser enganado pelo demônio dizendo que aquele que faleceu está lá falando comigo. Mentira! O homem nasce uma vez só e morre. E o único que fala a nós é Jesus e as pessoas que Jesus permitiu que aparecessem a nós como testemunhas da sua ressurreição, e estas pessoas se resumem a uma só, a Virgem Maria”, disse. O sacerdote também citou alguns costumes de outras religiões, que envolvem sacrifício animal e o uso de sangue, e afirmou que “o único sangue que redimiu foi o de Cristo”.
Além disso, alertou os pais sobre “ideologias que muitos colégios estão colocando na cabeça dos filhos de vocês: o comunismo, o socialismo, o feminismo. Fiquem atentos!”.
Padre Luciano também perguntou: “quando é que você vai ouvir de verdade a voz de Deus?”. Em seguida, falou sobre o batismo, “que produz em nós um marca indelével”, isto é, que “ninguém pode tirar”. “Quando nós chegarmos diante do Senhor, Ele vai nos reconhecer, porque somos Dele”, disse e acrescentou que “só Jesus é capaz de nos levar ao céu, ninguém mais”.
Uma jovem começou a xingar o sacerdote ainda durante a celebração. Diante dos xingamentos, padre Luciano afirmou que o fato corroborava o que havia pregado. “Vocês estão vendo. Sou machista, sou preconceituoso... É a palavra de Deus. Vocês viram o que entrou no coração dos nossos jovens e foi muito bom que isso aconteceu, porque vemos como as coisas têm sido conduzidas. Assim, percebemos que o mal está em nossas casas”, disse.
A Associação Independente em Defesa das Religiões Afro Brasileiras (Asidrab) publicou nota de repúdio às declarações que classificou como “racistas e preconceituosas”. Afirmou ainda que as falas do pároco configuram “possível prática do crime de racismo religioso”.
“No caso ocorrido, no referido culto, há nítida incitação, por parte do padre, contra os adeptos de matriz africana e demais crenças”, disse a nota.
Além disso, a Asidrab disse que “as medidas administrativas, cíveis e criminais já estão sendo tomadas, e os envolvidos serão responsabilizados por isso”. No dia 29 de abril, a associação informou por meio de sua página no Facebook que o seu presidente, Pai Tiago de Bará, havia ido à Delegacia de Combate aos Crimes de Intolerância e registrado a ocorrência policial contra o padre Luciano de Almeida. O pároco, porém, afirmou à ACI Digital que ainda não recebeu nenhuma notificação.
O caso teve grande repercussão nas redes sociais. A celebração foi transmitida por meio do Youtube, mas, a Diocese solicitou que o vídeo fosse excluído do canal, “o que foi feito de imediato”, segundo a nota da diocese.
Padre Luciano disse ver “com muita dor” toda a repercussão do caso, “porque foram jovens da paróquia que editaram o vídeo e publicaram, jovens que são a favor de aborto, de ideologias. Eles se sentiram ofendidos com minha homilia e editaram o vídeo”, relatou.
Quanto à medida judicial tomada pela Asidrab, padre Luciano diz ter conversado com um juiz que “disse que não cometi crime algum, pois estava falando para meus fiéis católicos”.
“Eu não preguei nada diferente, foi a mesma homilia nas três missas daquele dia. Falei apenas o que ensina a doutrina. E este sempre foi o meu modo de pregar”, disse.